Opinião
- 31 de janeiro de 2020
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A contrição é o oposto da autonomia
Por Luiz Fernando dos Santos
“Confessei-te o meu pecado e a minha iniquidade não mais ocultei. Disse: confessarei ao Senhor as minhas transgressões; e tu perdoaste a iniquidade dos meus pecados”(Sl 32.5).
A Bíblia ensina que Deus ama o homem de coração contrito, que Ele habita com o homem de coração quebrantado e que volta o seu olhar sobre aquele que geme e sofre pelo fato de ter pecado. A nossa cultura não favorece esse movimento do coração. Nossa sociedade desenvolveu uma mentalidade de autonomia e autossuficiência a tal ponto que reconhecer o pecado é sinal de fraqueza, de mediocridade e, na maioria dos casos, de moralismo hipócrita.
A base estruturante da filosofia que permeia a nossa cultura é a do relativismo. Nessa maneira de ver e entender o mundo, não existem verdades absolutas, princípios ou valores inamovíveis, tudo o que há é o momento, a oportunidade, a conveniência. Assim, definir o que é pecado é uma tarefa sem o menor sentido, pois o que pode ser pecado para alguns, não é em absoluto para outros. Essa maneira de ver as coisas infelizmente faz parte também da vida de muitos cristãos e às vezes, de igrejas (denominações) inteiras.
O pecado não é um equívoco e o chamado à contrição não é um “convite”.
A mensagem de arrependimento, conversão, purificação e vergonha pelo pecado quase já não se pode ser ouvida de muitos púlpitos. Há mesmo quem ensine de muitos púlpitos que a denúncia, o confronto e o tratamento que deve ser dado ao pecado é inapropriado, é hipócrita, é farisaico. Outros ensinam ainda que considerar o pecado, que levá-lo a sério, que sentir dor e aflição por ele é escrúpulo masoquista, um sentimento derrotista e doentio. Ensinam que não podemos nos levar tão a sério e que temos que aprender a rir, inclusive do fato.
Contudo, o chamado à contrição não é um convite: “No passado Deus não levou em conta essa ignorância, mas agora ordena que todos, em todo lugar, se arrependam” (At 17.30). O arrependimento, a dor no coração pelo pecado é uma ordem dada pelo próprio Deus, é uma exigência que Ele faz a todos os homens sem exceção. E porque Deus exige tal coisa? Por aquilo que o pecado é em si mesmo. Pecado não é simplesmente um erro, um tropeço, um equívoco. A natureza do pecado é maliciosa, é um ataque a autoridade do Senhor, é uma afronta a sua vontade, é um ato de rebeldia deliberada contra a seu senhorio. Todo pecado se traduz em desprezo pela santidade do Senhor, um ato de reprovação ao caráter justo e perfeito de Deus.
Passos para a contrição
Para os cristãos a contrição possui alguns passos fundamentais para continuar gozando dos privilégios da intimidade do Senhor e usufruir de suas bênçãos e de sua amizade. O primeiro passo é o reconhecimento de ter pecado, de ter feito o mal aos olhos de Deus e ter ofendido a majestade nos céus. Não importa se o pecado foi cometido no meu corpo, ou contra o próximo, sua honra, seus bens ou seu corpo. Todo pecado é contra Deus, sua Lei moral e sua santidade em última instância.
Reconhecido o pecado, o segundo passo é deixar-se tomar pela tristeza de ter pecado. Chorar o pecado é garantia de ter reconhecido a natureza vil do ato e a injustiça criminosa contra Deus. Chorar o pecado é uma prova inconteste de amor pelo Senhor que nos amou por primeiro gratuitamente e que não merecia ser ultrajado e desprezado em minha desobediência.
Chorado o pecado, agora é preciso confessá-lo. Pecado tem nome e se faz necessário nominá-lo diante de Deus e acusar-se, isentando Deus de qualquer cumplicidade e assumir a autoria sem transferência de culpa: “Pois eu mesmo reconheço as minhas transgressões, e o meu pecado sempre me persegue. Contra ti, só contra ti, pequei e fiz o que tu reprovas, de modo que justa é a tua sentença e tens razão em condenar-me” (Sl 51,3-4).
Confessado o pecado é preciso abandoná-lo e pedir a Deus a graça de não mais voltar a cometê-lo, a resolução de não mais pecar está no centro da contrição, faz parte de sua essência. E por último, se faz necessário reparar o mal feito, isto é, um ato de bondade, justiça e de amor, sobremaneira quando o pecado envolve o irmão. Todos esses passos que envolvem a contrição do coração são inócuos, para não dizer, impossível ao crente (a qualquer um na verdade), se a boa graça de Deus não nos mover a isso. Pedir a Deus que nos quebrante, que seu Espírito e nos conduza também aqui, é um gesto de extrema necessidade: “Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração, prova-me e conheces os meus pensamentos; vê se há em mim algum caminho mau e guia-me pelo caminho eterno” (Sl 139. 23-24).
>> Conheça o livro Salmos Favoritos - Inspiração e Sabedoria nos Salmos, John Stott
“Confessei-te o meu pecado e a minha iniquidade não mais ocultei. Disse: confessarei ao Senhor as minhas transgressões; e tu perdoaste a iniquidade dos meus pecados”(Sl 32.5).
A Bíblia ensina que Deus ama o homem de coração contrito, que Ele habita com o homem de coração quebrantado e que volta o seu olhar sobre aquele que geme e sofre pelo fato de ter pecado. A nossa cultura não favorece esse movimento do coração. Nossa sociedade desenvolveu uma mentalidade de autonomia e autossuficiência a tal ponto que reconhecer o pecado é sinal de fraqueza, de mediocridade e, na maioria dos casos, de moralismo hipócrita.
A base estruturante da filosofia que permeia a nossa cultura é a do relativismo. Nessa maneira de ver e entender o mundo, não existem verdades absolutas, princípios ou valores inamovíveis, tudo o que há é o momento, a oportunidade, a conveniência. Assim, definir o que é pecado é uma tarefa sem o menor sentido, pois o que pode ser pecado para alguns, não é em absoluto para outros. Essa maneira de ver as coisas infelizmente faz parte também da vida de muitos cristãos e às vezes, de igrejas (denominações) inteiras.
O pecado não é um equívoco e o chamado à contrição não é um “convite”.
A mensagem de arrependimento, conversão, purificação e vergonha pelo pecado quase já não se pode ser ouvida de muitos púlpitos. Há mesmo quem ensine de muitos púlpitos que a denúncia, o confronto e o tratamento que deve ser dado ao pecado é inapropriado, é hipócrita, é farisaico. Outros ensinam ainda que considerar o pecado, que levá-lo a sério, que sentir dor e aflição por ele é escrúpulo masoquista, um sentimento derrotista e doentio. Ensinam que não podemos nos levar tão a sério e que temos que aprender a rir, inclusive do fato.
Contudo, o chamado à contrição não é um convite: “No passado Deus não levou em conta essa ignorância, mas agora ordena que todos, em todo lugar, se arrependam” (At 17.30). O arrependimento, a dor no coração pelo pecado é uma ordem dada pelo próprio Deus, é uma exigência que Ele faz a todos os homens sem exceção. E porque Deus exige tal coisa? Por aquilo que o pecado é em si mesmo. Pecado não é simplesmente um erro, um tropeço, um equívoco. A natureza do pecado é maliciosa, é um ataque a autoridade do Senhor, é uma afronta a sua vontade, é um ato de rebeldia deliberada contra a seu senhorio. Todo pecado se traduz em desprezo pela santidade do Senhor, um ato de reprovação ao caráter justo e perfeito de Deus.
Passos para a contrição
Para os cristãos a contrição possui alguns passos fundamentais para continuar gozando dos privilégios da intimidade do Senhor e usufruir de suas bênçãos e de sua amizade. O primeiro passo é o reconhecimento de ter pecado, de ter feito o mal aos olhos de Deus e ter ofendido a majestade nos céus. Não importa se o pecado foi cometido no meu corpo, ou contra o próximo, sua honra, seus bens ou seu corpo. Todo pecado é contra Deus, sua Lei moral e sua santidade em última instância.
Reconhecido o pecado, o segundo passo é deixar-se tomar pela tristeza de ter pecado. Chorar o pecado é garantia de ter reconhecido a natureza vil do ato e a injustiça criminosa contra Deus. Chorar o pecado é uma prova inconteste de amor pelo Senhor que nos amou por primeiro gratuitamente e que não merecia ser ultrajado e desprezado em minha desobediência.
Chorado o pecado, agora é preciso confessá-lo. Pecado tem nome e se faz necessário nominá-lo diante de Deus e acusar-se, isentando Deus de qualquer cumplicidade e assumir a autoria sem transferência de culpa: “Pois eu mesmo reconheço as minhas transgressões, e o meu pecado sempre me persegue. Contra ti, só contra ti, pequei e fiz o que tu reprovas, de modo que justa é a tua sentença e tens razão em condenar-me” (Sl 51,3-4).
Confessado o pecado é preciso abandoná-lo e pedir a Deus a graça de não mais voltar a cometê-lo, a resolução de não mais pecar está no centro da contrição, faz parte de sua essência. E por último, se faz necessário reparar o mal feito, isto é, um ato de bondade, justiça e de amor, sobremaneira quando o pecado envolve o irmão. Todos esses passos que envolvem a contrição do coração são inócuos, para não dizer, impossível ao crente (a qualquer um na verdade), se a boa graça de Deus não nos mover a isso. Pedir a Deus que nos quebrante, que seu Espírito e nos conduza também aqui, é um gesto de extrema necessidade: “Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração, prova-me e conheces os meus pensamentos; vê se há em mim algum caminho mau e guia-me pelo caminho eterno” (Sl 139. 23-24).
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Luiz Fernando dos Santos (1970-2022), foi ministro presbiteriano e era casado com Regina, pai da Talita e professor de teologia no Seminário Presbiteriano do Sul e no Seminário Teológico Servo de Cristo.
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