Opinião
- 29 de março de 2021
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A celebração da Páscoa: drama e transformação
Por Rubem Amorese
Tempos de quarentena e de Páscoa são tempos, também, de celebração. Neste ano de 2021, tempos de triste celebração, sob pesado clima de despedida, como o foi entre Jesus e seus discípulos.
Estranha coincidência. Vivemos uma dupla quaresma, ou quarentena. Uma que lembra a paixão e morte de Cristo e outra imposta pela pandemia que assola o mundo. Vivemos a quaresma dentro de uma longa quarentena.
Mais peculiar ainda é a palavra empregada: celebração. Como se houvesse motivo para isso! Sim, a expressão religiosa usada era “celebração da Páscoa”. Ou ainda “festa da Páscoa”.
O problema se elucida, entretanto, com a ampliação do significado da palavra celebração. Notemos que é usada, hoje em dia, tanto para aniversário quanto para funeral; tanto para casamento quanto para divórcio. Isso porque, palavra-chave na dimensão simbólica das atividades humanas, ela fala de drama, de dramatizar.
Dramatizar é uma atividade que desenvolvemos desde tenra idade. A criança brinca de ser a princesa, o rei, a mulher maravilha; e constrói enredos e histórias para serem representadas; atuando sozinha ou, melhor ainda, junto com outras crianças. Neste caso, distribuem-se os papéis e as funções na história. “Aí, eu subia na torre e você esperava eu pular...” E assim, por meio do lúdico, elas vivenciam seus pequenos dramas inventados. Tudo fica tão real que os pais precisam tomar cuidado para que o Batman não pule do alto da escada.
Jesus conhecia esse fenômeno do espírito humano. E se vale dele para deixar lições preciosas e indeléveis. Sabendo que a celebração dramatiza conteúdos conhecidos e também auxilia na fixação de novos elementos, ele se reúne com seus discípulos para um tempo de dramas e subdramas. O grande conteúdo é a libertação do Egito e de sua escravidão. Lá, eles imolaram um cordeiro, passaram seu sangue nas vergas das portas (para que o anjo da morte soubesse que ali uma morte já havia acontecido) e se alimentaram dele, em silêncio. Paradoxalmente, instituiu-se, perpetuamente, uma festa de libertação.
Então, Jesus introduz nessa celebração elementos novos. Ao dizer que estarão bebendo, agora, o sangue de uma nova aliança, ele transfere conteúdos tradicionais para aquela dramatização. Estão dramatizando a antiga aliança; mas o cordeiro pascal, agora, está ali, diante deles; e o pão que repartem é o seu corpo, entregue por eles.
Como se não bastasse, Jesus introduz um subdrama nessa celebração já tão densa: com bacia e toalha, lava os pés dos discípulos. E pergunta: compreendem o conteúdo desta dramatização? Não compreendiam, inteiramente. Mas compreenderiam depois. Por enquanto, que obedecessem à recomendação do Mestre: “Façam isto em memória de mim, até que eu volte”. Ao celebrar a Páscoa, preservamos até os conteúdos que não compreendemos bem... ainda.
Lembro-me do recurso dramático usado pelo pai do filho que voltava, maltrapilho e quebrantado: matou um novilho cevado e deu uma festa para seus vizinhos. Quem aceitasse comer com ele possivelmente aceitaria, também, de volta o rapaz.
>> Conheça o livro Os Últimos Dias de Jesus, de N. T. Wright e Craig A. Evans
Tempos de quarentena e de Páscoa são tempos, também, de celebração. Neste ano de 2021, tempos de triste celebração, sob pesado clima de despedida, como o foi entre Jesus e seus discípulos.
Estranha coincidência. Vivemos uma dupla quaresma, ou quarentena. Uma que lembra a paixão e morte de Cristo e outra imposta pela pandemia que assola o mundo. Vivemos a quaresma dentro de uma longa quarentena.
Mais peculiar ainda é a palavra empregada: celebração. Como se houvesse motivo para isso! Sim, a expressão religiosa usada era “celebração da Páscoa”. Ou ainda “festa da Páscoa”.
O problema se elucida, entretanto, com a ampliação do significado da palavra celebração. Notemos que é usada, hoje em dia, tanto para aniversário quanto para funeral; tanto para casamento quanto para divórcio. Isso porque, palavra-chave na dimensão simbólica das atividades humanas, ela fala de drama, de dramatizar.
Dramatizar é uma atividade que desenvolvemos desde tenra idade. A criança brinca de ser a princesa, o rei, a mulher maravilha; e constrói enredos e histórias para serem representadas; atuando sozinha ou, melhor ainda, junto com outras crianças. Neste caso, distribuem-se os papéis e as funções na história. “Aí, eu subia na torre e você esperava eu pular...” E assim, por meio do lúdico, elas vivenciam seus pequenos dramas inventados. Tudo fica tão real que os pais precisam tomar cuidado para que o Batman não pule do alto da escada.
Jesus conhecia esse fenômeno do espírito humano. E se vale dele para deixar lições preciosas e indeléveis. Sabendo que a celebração dramatiza conteúdos conhecidos e também auxilia na fixação de novos elementos, ele se reúne com seus discípulos para um tempo de dramas e subdramas. O grande conteúdo é a libertação do Egito e de sua escravidão. Lá, eles imolaram um cordeiro, passaram seu sangue nas vergas das portas (para que o anjo da morte soubesse que ali uma morte já havia acontecido) e se alimentaram dele, em silêncio. Paradoxalmente, instituiu-se, perpetuamente, uma festa de libertação.
Então, Jesus introduz nessa celebração elementos novos. Ao dizer que estarão bebendo, agora, o sangue de uma nova aliança, ele transfere conteúdos tradicionais para aquela dramatização. Estão dramatizando a antiga aliança; mas o cordeiro pascal, agora, está ali, diante deles; e o pão que repartem é o seu corpo, entregue por eles.
Como se não bastasse, Jesus introduz um subdrama nessa celebração já tão densa: com bacia e toalha, lava os pés dos discípulos. E pergunta: compreendem o conteúdo desta dramatização? Não compreendiam, inteiramente. Mas compreenderiam depois. Por enquanto, que obedecessem à recomendação do Mestre: “Façam isto em memória de mim, até que eu volte”. Ao celebrar a Páscoa, preservamos até os conteúdos que não compreendemos bem... ainda.
Lembro-me do recurso dramático usado pelo pai do filho que voltava, maltrapilho e quebrantado: matou um novilho cevado e deu uma festa para seus vizinhos. Quem aceitasse comer com ele possivelmente aceitaria, também, de volta o rapaz.
>> Conheça o livro Os Últimos Dias de Jesus, de N. T. Wright e Craig A. Evans
Rubem Amorese é presbítero emérito na Igreja Presbiteriana do Planalto, em Brasília. Foi professor na Faculdade Teológica Batista por vinte anos e consultor legislativo no Senado Federal. É autor de, entre outros, Fábrica de Missionários e Ponto Final. Acompanhe seu blog pessoal: ultimato.com.br/sites/amorese.
- Textos publicados: 36 [ver]
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Site: http://www.amorese.com.br
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