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- 11 de janeiro de 2019
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A beleza e a moda da época medieval
Por Rute Salviano Almeida
O ideal de beleza das heroínas medievais, descrito nos romances, era: pele clara, rosto alongado, cabelos louros, boca pequena, olhos azuis e sobrancelhas bem desenhadas. Com exceção do rosto, as partes do corpo feminino raramente foram descritas. A maioria dos autores omitiu castamente tudo o que se encontrava abaixo do pescoço.
"No entanto, mulheres que possuíam convicções espirituais consideravam que o valor social do vestuário era uma ameaça para a integridade de sua alma, como acreditava uma mãe do século 13 que alertou sua jovem filha sobre o perigo das roupas finas: “Odeia, portanto, bela filha, e despreza, no teu íntimo, as roupas e as elegâncias do mundo, visto que as tens por vezes que usar”."[1]
Outro exemplo é o da esposa de Jacopone da Todi, que, apesar de usar os adornos como símbolo da posição da família, vestia por baixo uma camisa de crina para proteção do seu espírito. Para ela, a camisa de crina constituía um modo secreto de impedir que as marcas coletivas e públicas do vestuário queimassem a sua carne e corrompessem a sua alma. Somente após sua morte, essa sua prática foi descoberta, servindo para conversão de seu esposo.
Os eclesiásticos combatiam firmemente o uso de maquiagem e vestes suntuosas:
"A mulher maquiada e vestida com sumptuosidade privilegia, contrariamente à ordem querida por Deus, a vil exteriorização do seu corpo em relação à preciosa interioridade da sua alma; o excessivo agrado que mostra por uma roupa que lhe envolve o corpo, pela cor de um tecido que a valoriza ou por um penteado que lhe fica bem, trai um interesse todo voltado para o cuidado exterior do corpo, que não deixa espaço nem tempo para o cuidado amoroso da virtude. A cosmética, em especial, revela uma soberba sem limites: a mulher que pinta as suas faces de vermelho ou que altera a cor dos cabelos ou que esconde os sinais de envelhecimento sob cosméticos e perucas é uma mulher que, a par de Lúcifer, contesta e pretende melhorar a imagem que Deus lhe deu, chegando até a se julgar capaz de intervir nas leis da temporalidade governadas por Ele."[2]
As mulheres medievais não deixaram também de sofrer pela beleza. À época, o penteado alto estava na moda e, para o conseguir, fazia-se necessário uma depilação:
"As damas de Salerno fazem um unguento chamado silotre, por meio do qual conseguem fazer desaparecer os pelos, os cabelos ou o que quer que seja. Elas juntam meia tigela de cal bem seca e peneirada e colocam num saco. Em seguida, depositam esta cal num recipiente cheio de água, fervendo e mexendo até misturar. Para saber se está no ponto, colocam uma asa de pássaro dentro do líquido, até que as penas se soltem. Então, esfregam com as mãos o líquido quente sobre os pelos, e depois enxugam. Podereis proceder do mesmo modo, mas é bom tomar cuidado e não deixar por muito tempo, porque ele esfolará a pele."[3]
A moda medieval mostra como as mulheres sofreram em prol da aparência, em detrimento da essência, mas a ditadura da beleza não foi exclusividade daquela época. Atualmente, mais perigoso ainda, mulheres estão submetendo-se às cirurgias arriscadas por causa da excessiva vaidade.
Referências
[1] HUGHES, Diane Owen. As modas femininas e o seu controle, in: DUBY, George, PERROT, Michelle. História das mulheres no Ocidente, p. 204.
[2] CASAGRANDE, Carla. A mulher sob custódia. Tradução de Egito Gonçalves, in: DUBY, George, PERROT, Michelle. História das mulheres no Ocidente, p. 126.
[3] RUELLE, Pierre. (Ed.). Ornatus mulierum, XXV, p. 46, citado por MACEDO, José Rivair. A face das filhas de Eva, p. 46.
Nota: Artigo originalmente publicado no livro Uma voz feminina calada pela Inquisição, de Rute Salviano, Editora Hagnos, 2012.
Nota: Artigo originalmente publicado no livro Uma voz feminina calada pela Inquisição, de Rute Salviano, Editora Hagnos, 2012.
Mestre em teologia e pós-graduada em história do cristianismo, é autora de Vozes Femininas nos Avivamentos (Ultimato), além de Vozes Femininas no Início do Cristianismo, Uma Voz Feminina Calada pela Inquisição, Uma Voz Feminina na Reforma e Vozes Femininas no Início do Protestantismo Brasileiro (Prêmio Areté 2015).
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