Opinião
- 13 de maio de 2022
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A alegria na dor
Por Marta Kerr Carriker
Nossa aluna do Centro de Treinamento de Missionários ia muito bem. No seu último ano de curso, já estava fazendo estágio em uma das igrejas locais e, depois de merecido descanso após a formatura, havia combinado de voltar e trabalhar numa congregação perto de nossa casa.
Depois das férias, chegou cheia de disposição e energia. Mas, a igreja que a estava sustentando começou a dar desculpas. Não estavam prontos, não era o momento... resumindo: nossa aluna ficou sem trabalho. Foi difícil. Ficou magoada, imaginando que o problema fosse com ela, não conseguia compreender.
Mas, resolveu voltar para sua cidade e seguir em frente. Mais tarde descobrimos que seu pai adoeceu e ela foi a peça principal do seu cuidado. Não, ele não era um pai que havia sido um bom pai. Por causa da bebida, havia deixado corações partidos na família. Mas Deus, rico em misericórdia, permitiu à nossa ex-aluna se reconciliar com o pai e gastar com ele muitas horas de cuidado amoroso. E assim ela o convidou a vir a Cristo e se alegrou com sua resposta positiva. Sua tristeza temporária de perder o emprego abriu portas para um novo relacionamento com seu pai antes que este morresse, o que acabou sendo logo a seguir, e para a esperança de reencontrá-lo na vida eterna.
No momento da dor, a alegria pode parecer mais uma paz. É a paz de confiarmos que Deus vai cuidar de nós. Ou ela pode mesmo trazer um sorriso aos nossos lábios e o coração em festa ao percebermos que Deus não nos esquece, está sempre ao nosso lado, que ele alivia nosso sofrimento através de muitos sinais da sua atenção e da ajuda que vem muitas vezes de quem não esperamos.
Há dores e dores, as temporárias e as mais permanentes, as mais leves e as mais profundas. Elas apontam para a falta, para o desejo não satisfeito, para a perda. São os sofrimentos da vida, pelos quais todos acabamos passando. A dor da alma pode ser tão forte que adoecemos ou até pode nos matar.
Embora a dor seja muito pessoal e íntima, é importante sabermos que não estamos sós na dor. Deus se importa com a nossa dor. A Bíblia descreve em Isaías o servo sofredor, que muitos atribuem a uma figura de Cristo como “homem de dores e que sabe o que é padecer”. No mesmo capítulo, no versículo 4, ela afirma que “ele [Jesus] tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre si...” Ele, que não merecia a dor e o sofrimento pelo pecado, pagou pelos nossos, e carregou as nossas dores.
Podemos entregar nossas dores a Deus através da oração. Expressar a dor é uma forma de passar pelo luto e podemos ser bem sinceros, como fazia Davi nos Salmos, por exemplo o Salmo 42, que diz “O meu coração está profundamente abatido...”. Podemos falar, chorar, gritar na presença de Deus porque Jesus, Deus encarnado, compreende perfeitamente o que é sofrer. Podemos também ajudar uns aos outros a suportar a dor. A igreja, corpo de Cristo deve estar atenta para aliviar o sofrimento ao seu redor. A melhor forma de fazer isso não é citar versículos bíblicos ou dizer que tudo vai passar. É a nossa presença e o nosso cuidado prático que fazem a diferença.
Temos em nossa igreja uma linda mulher que infelizmente tem esclerose lateral amiotrófica (ELA). Promotora de justiça, antes de adoecer já havia feito muito bem através de sua profissão. Somos desafiados por sua atitude diante dessa dificuldade tão grande. Ela foi quem promoveu a criação da ARELA, uma associação para ajudar outros pacientes com ELA. Nós a chamamos de nossa missionária porque seu testemunho tem sido constante. E muitas pessoas têm participado de sua vida através de fisioterapia, visitas, orações e amizade. Não queremos soltar sua mão e oramos por ela, que Deus alivie sua dor a cada dia. Uma benção de Deus durante este tempo foi ter se tornado avó bem jovem ainda. Sua linda netinha, além de toda sua família, lhe traz muita alegria.
Reconhecer as bênçãos de Deus no meio da dor não é negar nossa dor, é ter olhos para ver que o milagre pode estar tanto na cura, no cessar do sofrimento, quanto no ser carregado por Deus através do processo do sofrimento. Como diz Deuteronômio 33.27: “O Deus eterno é a tua habitação, e, por baixo de ti, estende os braços eternos...”
- Marta Kerr Carriker tem três filhos e três netos. É autora de O Que Rouba a Sua Alegria?, missionária e mestre em linguística aplicada. Começou seu ministério participando de Vencedores por Cristo, cantando e compondo. Junto com seu marido, Timóteo Carriker, serviu em Goiás, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, São Paulo, Santa Catarina e Ceará, participando na plantação de igrejas e no ensino missiológico desde 1978.
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