Opinião
- 24 de julho de 2024
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A alegria e a responsabilidade de ser avós
Como compreender e construir o lugar dos avós dentro do sistema familiar para que o seu papel seja desenvolvido de forma saudável?
Por Silas e Márcia Tostes
Vovô e vovó é para levar para passear de carro, brincar, desenhar, tomar sorvete e isso traz felicidade.
- Juliana Brandão Tostes, 5 anos
Essa foi a frase construída a partir de uma conversa com a nossa netinha Juliana, de 5 anos, sobre o porquê era bom ter vovô e vovó – a quem também recorremos para nos ajudar a responder ao convite da Ultimato para escrever sobre a experiência de sermos avós. De fato, Deus nos presenteou de uma forma surpreendente com quatro netinhos. Em um prazo de dois anos e meio fomos promovidos de avós de uma netinha para avós também de um netinho e mais duas netinhas.
Fomos agraciados com a primeira netinha, a Juliana, uma linda menina de olhos pretos e vivaz, que aos seus quase três aninhos, ganhou um irmãozinho e duas irmãzinhas de uma vez só. Fomos todos surpreendidos com a bênção trabalhosa de recebermos em nossa família os trigêmeos – Levi, Luana e Ana Letícia – e com o coração cheio de gratidão testemunhamos hoje que com toda a dor, lágrima e orações envolvidas nessa experiência, temos sido recompensados com a alegria vivida a cada dia com essas crianças que enchem os nossos dias de amor.
Sim, aos avós cabe uma forma especial de amor, diferente da dos pais, uma graça imerecida de sermos amados sem o esforço envolvido na rotina de cuidado do dia a dia. Esses “serzinhos” nos amam “do nada”, somos “ocitocinados” o tempo todo e o nosso coração transborda de um amor que é também singular, totalmente diferente tornando esse sentimento único.
Deus em sua imensa graça e sabedoria, criou esse amor tão especial, em uma fase da vida onde os desafios são muitos e nem sempre muito felizes e assim a alegria é sempre bem-vinda. Os netos vêm ocupar novamente o ninho vazio, mesmo não sendo inquilinos permanentes! E também porque os avós têm um papel importante no crescimento e na formação das crianças. Com a experiência que eles acumulam, oferecem uma visão mais ponderada sobre a vida e são capazes de transmitir segurança. A relação próxima com os netos contribui para dar mais estabilidade emocional para os pequenos. Avós são um porto seguro, que em momentos de tempestade podem oferecer aquele lugar que garante tranquilidade e segurança.
Dentro da configuração familiar, por serem os pais da mãe e do pai, eles contribuem para o senso de pertencimento do que se entende por família extensa, contribuindo de forma significativa para a referência e continuidade familiar, contextualizando o momento atual, de forma lúdica e cheia de afeto, em uma história que colabora para o desenvolvimento individual, social e intelectual das crianças de uma forma saudável.
Contudo, essa relação traz em si também conflitos no sistema familiar, pedindo de todos os envolvidos, sabedoria, disposição e abertura para que os netos, em especial, possam usufruir da bênção que é ter avós presentes.
Por um lado, temos os avós que após terem criado seus próprios filhos, têm uma bagagem de conhecimento e experiência; por outro, os pais iniciando a sua jornada neste novo papel para o qual precisam de autoafirmação. Essas duas forças, se bem engrenadas e não antagonizadas, trarão muitos benefícios, por isso se faz necessário muita disposição de ambos os lados para aprenderem a viver seus novos papéis, encontrando um caminho do meio que colabore para diminuir as discordâncias, desentendimentos, choque de opiniões que muitas vezes acontecem.
E então, como podemos compreender e construir o lugar dos avós dentro do sistema familiar para que o papel dos avós seja desenvolvido de forma saudável?
Vamos compartilhar aqui alguns de nossos aprendizados.
Intercessão
Quando a família aumenta, além de toda a alegria, traz também momentos difíceis, em que sentimos a urgência de interceder e proteger aqueles a quem Deus nos confiou. Bebezinhos e crianças não podem clamar por si próprios, assim nós, como avós, e aqui estendemos também aos tios e a toda a família, somos sua voz diante do Senhor. Isso segue por todas as fases do ciclo do desenvolvimento humano. E quanta respostas recebidas!
Apoio
Apesar dos avós não serem os responsáveis primários pela educação, sustento e direção dos netos, o apoio é sempre bem-vindo e nas diferentes formas que se fizer necessário. Apoio logístico, financeiro – se preciso e dentro das condições dos avós –, afetivo para os nossos filhos, no caso os pais dos nossos netos, tudo isso regado com respeito, sem abusos, de ambas as partes.
Compreensão do seu papel
É importante que os avós compreendam a sua importância na vida dos netos, exercendo, assim, o que a eles é cabido e esperado, respeitando, porém os limites, tanto de um lado como do outro. Esse é um desafio a ser aprendido no dia a dia dessa linda jornada, lembrando que assim como os pais, avós também estão aprendendo a arte de serem avós, com seus desafios e delícias.
Papel dos avós segue pelo ciclo do desenvolvimento da família
Em cada uma das fases do ciclo do desenvolvimento humano há necessidades específicas que precisam ser contempladas. Vamos pensar, começamos com a notícia dos netinhos que vão chegar, aí vem a gravidez, que requer cuidados, o nascimento, a primeira fase da vida dos bebês e, aos poucos, o crescimento, a sociabilidade, a escolarização, a infância, adolescência, juventude e formação da sua própria família. Em cada uma dessas fases os avós podem e devem cumprir o seu papel, sendo o porto seguro. Felizes os avós cujos netos pensam em suas casas como aquele lugar gostoso, aconchegante e seguro onde podem ir caso precisem de um abraço, um conselho, uma oração e de um bolo delicioso!
Avós como líderes espirituais
Na Bíblia há uma linda menção a uma avó, feita por Paulo na segunda carta enviada a Timóteo: “Recordo-me da sua fé não fingida, que primeiro habitou em sua avó Loide e em sua mãe Eunice, e estou convencido que habita em você”(2Tm 1.5).
Uma fé geracional e poderosa, semeada e colhida na vida da filha e do neto. Timóteo era filho de pai grego e de mãe judia. Sua avó Loide e sua mãe Eunice plantaram em seu coração a lei de Deus, que germinara no Evangelho.
Como avós, temos o privilégio e a responsabilidade de plantar a boa semente do Evangelho nos nossos filhos e, através deles, nos nossos netos. Em nossos netos, diretamente, através das nossas escolhas, posturas, acompanhamento, disponibilidade para ouvir, orar por eles. De forma orgânica e intencional podemos guiá-los para serem discípulos de Jesus – que de tanto amá-lo também se envolverão no alcance de outros, de perto e de longe, para o Senhor.
Felizes são os netos que encontram em seus avós essa força espiritual e abençoados são os avós que veem cumpridas nas suas gerações a promessa de que Deus trata com bondade até mil gerações aos que amam e obedecem aos seus mandamentos. (Êx 20.6).
Avós missionários e avós de filhos de missionários
Nos dois casos há algumas peculiaridades que têm a ver com a distância e a separação. No caso dos missionários que se tornam avós, a fase do ciclo vital quando os netos começarão a surgir, coincidirá com a fase de transição no campo missionário, muitas vezes com o retorno ao país de origem, para onde nem sempre os filhos, agora casados, voltarão.
No caso de avós de filhos de missionários, a peculiaridade está na grande renúncia de viver longe de seus netos, o que é difícil para eles e também para os netos, e só Deus pode recompensar.
Por isso a importância de aproveitar todos os momentos disponíveis, ser criativo e manter tradições. Como por exemplo, todas as vezes que os netos visitarem o país de origem, fazer de sua casa um local que marque a identidade dos netos e construa memórias afetivas.
É importante manter tradições e outro ponto é o idioma. Os pais desses netos precisam atentar à importância dos seus filhos aprenderem o idioma dos avós.
Avós são abençoadores
Como é linda a história de restauração do relacionamento familiar na vida de José e de seus irmãos e, em especial, o tempo que Deus deu a Jacó para ver os seus netos, filhos de José. Já no final de sua vida, como relatado em Gênesis 48 seu filho José foi avisado que seu pai Jacó estava doente e foi vê-lo, levando consigo seus dois filhos, Manassés e Efraim. Já fraco, Jacó reuniu suas forças e abençoou a seu filho José, dizendo que ele seria prolífero e o multiplicaria.
E, então, reconheceu aos seus netos Efraim e Manassés, dizendo-lhes, “vocês serão meus” – maravilhado pelo fato de, além de ter visto José novamente, ter sido surpreendido por ver também os seus netos. E os abençoou: “Que o Deus, a quem serviram meus pais Abraão e Isaque, o Deus que tem sido o meu pastor em toda a minha vida por até o dia de hoje, o Anjo que me redimiu de todo mal, abençoe esses meninos. Sejam eles chamados pelo meu nome e pelos nomes dos meus pais Abraão e Isaque, e cresçam muito na terra”. (G 48.15-16)
Que bênção, amigos, é preciso dizer mais?
Que o Senhor Deus capacite a todos nós, avós, a sermos esses que, sendo abençoados, abençoam também aos nossos netos e aos seus pais, no caso, os nossos filhos. Aos pais e avós honra, aos filhos e netos bênção!
Avós têm posição estratégica, mas também precisam de cuidado
Apesar de que o estereótipo dos avós idosos, de cabelos brancos e bengalas, esteja sendo renovado – pois os 60+ têm se mostrado cada vez mais atuantes, tendo nesses anos a oportunidade de se reinventarem em novas carreiras, em que podem ainda ser produtivos de uma forma mais leve –, conforme o tópico sobre o envelhecimento no recém lançado Relatório de Status da Grande Comissão do Movimento Lausanne em que há uma citação contida na revista The Economist, no início de 2023, “A era dos avós chegou.” 1
Existem 1,5 bilhão de avós no mundo, um aumento dos 500 milhões desde 1960. Como proporção da população, eles aumentaram de 17 para 20 por cento. A proporção de avós para crianças com menos de 15 anos disparou de 0,46 em 1960 para 0,8 hoje.
Certamente, os avós podem ser tanto parte da solução para os desafios do envelhecimento global quanto qualquer outra; por exemplo, é comum que as avós cuidem regularmente de seus netos. Além disso, a atuação dos avós como mentores continua a se mostrar benéfica.
A população mundial está envelhecendo e assim são necessárias respostas em todas as esferas, incluindo a teológica e missiológica. A pergunta é: Como cuidar e alcançar essa população idosa? Para isso, é preciso ter atenção para alguns fatores nesta fase do ciclo do desenvolvimento humano.
- Solidão e isolamento – Essa é uma triste realidade para qual precisamos voltar o nosso olhar. A solidão pode levar a outras doenças mentais e físicas, sendo a depressão um dos desafios nessa fase da vida.
- Apoio espiritual – De forma geral os idosos valorizam mais a espiritualidade, mas isso em si mesmo não é a solução. Idosos precisam de acompanhamento intencional, estruturado e com perseverança em todas as áreas, e também na área espiritual. Programas de discipulado podem e devem ser desenvolvidos para esta fase de uma forma adaptada.
- Ministérios voltados para o envelhecimento – Segundo o Relatório do Movimento Lausanne, mencionado acima, a promessa de frutificação na velhice é frequentemente negligenciada e é indicado que o ministério para e pelos mais velhos deve ocupar igualmente um lugar central na vida da igreja de tal forma que uma compreensão das necessidades intergeracionais seja ampliada no Corpo de Cristo.
Enfim, lembrando, a frase de Juliana – Vovô e vovó é para levar para passear de carro, brincar, desenhar, tomar sorvete e isso traz felicidade – voltemos ao ofício de ser avô e avó, e aqui me incluo. Vamos diminuir a marcha intencionalmente, dedicar tempo para estar com esses “serzinhos” tão fofos, tão lindos ( Você já ouviu falar de neto feio?). Vamos passear, brincar, desenhar, tomar sorvete. Vamos aproveitar os dias com eles pois a vida passa rápido, os dias se vão e, no final, quando tudo se for, o imperecível será o que tivermos semeado nos nossos filhos e netos, em termos de afeto, orações, exemplo e bênçãos.
E que, como Fineias, filho de Eleazar, neto do sacerdote Arão, nossos netos possam também ouvir do Senhor em algum momento de suas vidas: “Vocês foram zelosos, com o mesmo zelo que tenho por vocês, e por isso eu estabeleço uma aliança de paz com vocês, abençoando também a sua descendência”.
Assim seja, amém!
Nota
1. Envelhecimento global da população, site Movimento Lausanne
REVISTA ULTIMATO | PARA QUE SERVE A TEOLOGIA?
A resposta à pergunta “Para que serve a teologia?” revela que ela serve a Deus, exaltando-o como Senhor. Serve a igreja, ajudando-a a conhecer e a adorar seu Deus. Serve o mundo, revelando a verdadeira fonte de sabedoria, beleza, sentido e salvação.
A teologia é resultado de esforço acadêmico e também do convívio singular entre cristãos; envolve profundo estudo, mas também ocorre na singela e comprometida leitura das Escrituras. Depende do Espírito, por isso implica humildade. Ajuda a conhecer a Deus e a amá-lo.
É disso que trata a matéria de capa da edição 408 da revista Ultimato. Para assinar, clique aqui.
Saiba mais:
» A Vida em Cristo, John Stott
» Acontece nas Melhores Famílias - Famílias da Bíblia à luz da terapia familiar, Carlos "Catito" Grzybowski e Jorge Maldonado
» Envelhecemos. A arte de continuar, edição 404 de Ultimato
» Movimento Cristão 60+ anuncia a programação do seu 4° Encontro
Por Silas e Márcia Tostes
Vovô e vovó é para levar para passear de carro, brincar, desenhar, tomar sorvete e isso traz felicidade.
- Juliana Brandão Tostes, 5 anos
Essa foi a frase construída a partir de uma conversa com a nossa netinha Juliana, de 5 anos, sobre o porquê era bom ter vovô e vovó – a quem também recorremos para nos ajudar a responder ao convite da Ultimato para escrever sobre a experiência de sermos avós. De fato, Deus nos presenteou de uma forma surpreendente com quatro netinhos. Em um prazo de dois anos e meio fomos promovidos de avós de uma netinha para avós também de um netinho e mais duas netinhas.
Fomos agraciados com a primeira netinha, a Juliana, uma linda menina de olhos pretos e vivaz, que aos seus quase três aninhos, ganhou um irmãozinho e duas irmãzinhas de uma vez só. Fomos todos surpreendidos com a bênção trabalhosa de recebermos em nossa família os trigêmeos – Levi, Luana e Ana Letícia – e com o coração cheio de gratidão testemunhamos hoje que com toda a dor, lágrima e orações envolvidas nessa experiência, temos sido recompensados com a alegria vivida a cada dia com essas crianças que enchem os nossos dias de amor.
Sim, aos avós cabe uma forma especial de amor, diferente da dos pais, uma graça imerecida de sermos amados sem o esforço envolvido na rotina de cuidado do dia a dia. Esses “serzinhos” nos amam “do nada”, somos “ocitocinados” o tempo todo e o nosso coração transborda de um amor que é também singular, totalmente diferente tornando esse sentimento único.
Deus em sua imensa graça e sabedoria, criou esse amor tão especial, em uma fase da vida onde os desafios são muitos e nem sempre muito felizes e assim a alegria é sempre bem-vinda. Os netos vêm ocupar novamente o ninho vazio, mesmo não sendo inquilinos permanentes! E também porque os avós têm um papel importante no crescimento e na formação das crianças. Com a experiência que eles acumulam, oferecem uma visão mais ponderada sobre a vida e são capazes de transmitir segurança. A relação próxima com os netos contribui para dar mais estabilidade emocional para os pequenos. Avós são um porto seguro, que em momentos de tempestade podem oferecer aquele lugar que garante tranquilidade e segurança.
Dentro da configuração familiar, por serem os pais da mãe e do pai, eles contribuem para o senso de pertencimento do que se entende por família extensa, contribuindo de forma significativa para a referência e continuidade familiar, contextualizando o momento atual, de forma lúdica e cheia de afeto, em uma história que colabora para o desenvolvimento individual, social e intelectual das crianças de uma forma saudável.
Contudo, essa relação traz em si também conflitos no sistema familiar, pedindo de todos os envolvidos, sabedoria, disposição e abertura para que os netos, em especial, possam usufruir da bênção que é ter avós presentes.
Por um lado, temos os avós que após terem criado seus próprios filhos, têm uma bagagem de conhecimento e experiência; por outro, os pais iniciando a sua jornada neste novo papel para o qual precisam de autoafirmação. Essas duas forças, se bem engrenadas e não antagonizadas, trarão muitos benefícios, por isso se faz necessário muita disposição de ambos os lados para aprenderem a viver seus novos papéis, encontrando um caminho do meio que colabore para diminuir as discordâncias, desentendimentos, choque de opiniões que muitas vezes acontecem.
E então, como podemos compreender e construir o lugar dos avós dentro do sistema familiar para que o papel dos avós seja desenvolvido de forma saudável?
Vamos compartilhar aqui alguns de nossos aprendizados.
Intercessão
Quando a família aumenta, além de toda a alegria, traz também momentos difíceis, em que sentimos a urgência de interceder e proteger aqueles a quem Deus nos confiou. Bebezinhos e crianças não podem clamar por si próprios, assim nós, como avós, e aqui estendemos também aos tios e a toda a família, somos sua voz diante do Senhor. Isso segue por todas as fases do ciclo do desenvolvimento humano. E quanta respostas recebidas!
Apoio
Apesar dos avós não serem os responsáveis primários pela educação, sustento e direção dos netos, o apoio é sempre bem-vindo e nas diferentes formas que se fizer necessário. Apoio logístico, financeiro – se preciso e dentro das condições dos avós –, afetivo para os nossos filhos, no caso os pais dos nossos netos, tudo isso regado com respeito, sem abusos, de ambas as partes.
Compreensão do seu papel
É importante que os avós compreendam a sua importância na vida dos netos, exercendo, assim, o que a eles é cabido e esperado, respeitando, porém os limites, tanto de um lado como do outro. Esse é um desafio a ser aprendido no dia a dia dessa linda jornada, lembrando que assim como os pais, avós também estão aprendendo a arte de serem avós, com seus desafios e delícias.
Papel dos avós segue pelo ciclo do desenvolvimento da família
Em cada uma das fases do ciclo do desenvolvimento humano há necessidades específicas que precisam ser contempladas. Vamos pensar, começamos com a notícia dos netinhos que vão chegar, aí vem a gravidez, que requer cuidados, o nascimento, a primeira fase da vida dos bebês e, aos poucos, o crescimento, a sociabilidade, a escolarização, a infância, adolescência, juventude e formação da sua própria família. Em cada uma dessas fases os avós podem e devem cumprir o seu papel, sendo o porto seguro. Felizes os avós cujos netos pensam em suas casas como aquele lugar gostoso, aconchegante e seguro onde podem ir caso precisem de um abraço, um conselho, uma oração e de um bolo delicioso!
Avós como líderes espirituais
Na Bíblia há uma linda menção a uma avó, feita por Paulo na segunda carta enviada a Timóteo: “Recordo-me da sua fé não fingida, que primeiro habitou em sua avó Loide e em sua mãe Eunice, e estou convencido que habita em você”(2Tm 1.5).
Uma fé geracional e poderosa, semeada e colhida na vida da filha e do neto. Timóteo era filho de pai grego e de mãe judia. Sua avó Loide e sua mãe Eunice plantaram em seu coração a lei de Deus, que germinara no Evangelho.
Como avós, temos o privilégio e a responsabilidade de plantar a boa semente do Evangelho nos nossos filhos e, através deles, nos nossos netos. Em nossos netos, diretamente, através das nossas escolhas, posturas, acompanhamento, disponibilidade para ouvir, orar por eles. De forma orgânica e intencional podemos guiá-los para serem discípulos de Jesus – que de tanto amá-lo também se envolverão no alcance de outros, de perto e de longe, para o Senhor.
Felizes são os netos que encontram em seus avós essa força espiritual e abençoados são os avós que veem cumpridas nas suas gerações a promessa de que Deus trata com bondade até mil gerações aos que amam e obedecem aos seus mandamentos. (Êx 20.6).
Avós missionários e avós de filhos de missionários
Nos dois casos há algumas peculiaridades que têm a ver com a distância e a separação. No caso dos missionários que se tornam avós, a fase do ciclo vital quando os netos começarão a surgir, coincidirá com a fase de transição no campo missionário, muitas vezes com o retorno ao país de origem, para onde nem sempre os filhos, agora casados, voltarão.
No caso de avós de filhos de missionários, a peculiaridade está na grande renúncia de viver longe de seus netos, o que é difícil para eles e também para os netos, e só Deus pode recompensar.
Por isso a importância de aproveitar todos os momentos disponíveis, ser criativo e manter tradições. Como por exemplo, todas as vezes que os netos visitarem o país de origem, fazer de sua casa um local que marque a identidade dos netos e construa memórias afetivas.
É importante manter tradições e outro ponto é o idioma. Os pais desses netos precisam atentar à importância dos seus filhos aprenderem o idioma dos avós.
Avós são abençoadores
Como é linda a história de restauração do relacionamento familiar na vida de José e de seus irmãos e, em especial, o tempo que Deus deu a Jacó para ver os seus netos, filhos de José. Já no final de sua vida, como relatado em Gênesis 48 seu filho José foi avisado que seu pai Jacó estava doente e foi vê-lo, levando consigo seus dois filhos, Manassés e Efraim. Já fraco, Jacó reuniu suas forças e abençoou a seu filho José, dizendo que ele seria prolífero e o multiplicaria.
E, então, reconheceu aos seus netos Efraim e Manassés, dizendo-lhes, “vocês serão meus” – maravilhado pelo fato de, além de ter visto José novamente, ter sido surpreendido por ver também os seus netos. E os abençoou: “Que o Deus, a quem serviram meus pais Abraão e Isaque, o Deus que tem sido o meu pastor em toda a minha vida por até o dia de hoje, o Anjo que me redimiu de todo mal, abençoe esses meninos. Sejam eles chamados pelo meu nome e pelos nomes dos meus pais Abraão e Isaque, e cresçam muito na terra”. (G 48.15-16)
Que bênção, amigos, é preciso dizer mais?
Que o Senhor Deus capacite a todos nós, avós, a sermos esses que, sendo abençoados, abençoam também aos nossos netos e aos seus pais, no caso, os nossos filhos. Aos pais e avós honra, aos filhos e netos bênção!
Avós têm posição estratégica, mas também precisam de cuidado
Apesar de que o estereótipo dos avós idosos, de cabelos brancos e bengalas, esteja sendo renovado – pois os 60+ têm se mostrado cada vez mais atuantes, tendo nesses anos a oportunidade de se reinventarem em novas carreiras, em que podem ainda ser produtivos de uma forma mais leve –, conforme o tópico sobre o envelhecimento no recém lançado Relatório de Status da Grande Comissão do Movimento Lausanne em que há uma citação contida na revista The Economist, no início de 2023, “A era dos avós chegou.” 1
Existem 1,5 bilhão de avós no mundo, um aumento dos 500 milhões desde 1960. Como proporção da população, eles aumentaram de 17 para 20 por cento. A proporção de avós para crianças com menos de 15 anos disparou de 0,46 em 1960 para 0,8 hoje.
Certamente, os avós podem ser tanto parte da solução para os desafios do envelhecimento global quanto qualquer outra; por exemplo, é comum que as avós cuidem regularmente de seus netos. Além disso, a atuação dos avós como mentores continua a se mostrar benéfica.
A população mundial está envelhecendo e assim são necessárias respostas em todas as esferas, incluindo a teológica e missiológica. A pergunta é: Como cuidar e alcançar essa população idosa? Para isso, é preciso ter atenção para alguns fatores nesta fase do ciclo do desenvolvimento humano.
- Solidão e isolamento – Essa é uma triste realidade para qual precisamos voltar o nosso olhar. A solidão pode levar a outras doenças mentais e físicas, sendo a depressão um dos desafios nessa fase da vida.
- Apoio espiritual – De forma geral os idosos valorizam mais a espiritualidade, mas isso em si mesmo não é a solução. Idosos precisam de acompanhamento intencional, estruturado e com perseverança em todas as áreas, e também na área espiritual. Programas de discipulado podem e devem ser desenvolvidos para esta fase de uma forma adaptada.
- Ministérios voltados para o envelhecimento – Segundo o Relatório do Movimento Lausanne, mencionado acima, a promessa de frutificação na velhice é frequentemente negligenciada e é indicado que o ministério para e pelos mais velhos deve ocupar igualmente um lugar central na vida da igreja de tal forma que uma compreensão das necessidades intergeracionais seja ampliada no Corpo de Cristo.
Enfim, lembrando, a frase de Juliana – Vovô e vovó é para levar para passear de carro, brincar, desenhar, tomar sorvete e isso traz felicidade – voltemos ao ofício de ser avô e avó, e aqui me incluo. Vamos diminuir a marcha intencionalmente, dedicar tempo para estar com esses “serzinhos” tão fofos, tão lindos ( Você já ouviu falar de neto feio?). Vamos passear, brincar, desenhar, tomar sorvete. Vamos aproveitar os dias com eles pois a vida passa rápido, os dias se vão e, no final, quando tudo se for, o imperecível será o que tivermos semeado nos nossos filhos e netos, em termos de afeto, orações, exemplo e bênçãos.
E que, como Fineias, filho de Eleazar, neto do sacerdote Arão, nossos netos possam também ouvir do Senhor em algum momento de suas vidas: “Vocês foram zelosos, com o mesmo zelo que tenho por vocês, e por isso eu estabeleço uma aliança de paz com vocês, abençoando também a sua descendência”.
Assim seja, amém!
Nota
1. Envelhecimento global da população, site Movimento Lausanne
- Silas Tostes é pastor, missiologo e presidente da Missão Antioquia. Marcia Tostes é psicóloga, terapeuta familiar e precursora do movimento de Cuidado Missionário no Brasil. Silas e Márcia são pais de André e Lucas Tostes, e avós de Juliana (5 anos), Levi, Luana e Ana Letícia (2 anos e 4 meses).
REVISTA ULTIMATO | PARA QUE SERVE A TEOLOGIA?
A resposta à pergunta “Para que serve a teologia?” revela que ela serve a Deus, exaltando-o como Senhor. Serve a igreja, ajudando-a a conhecer e a adorar seu Deus. Serve o mundo, revelando a verdadeira fonte de sabedoria, beleza, sentido e salvação.
A teologia é resultado de esforço acadêmico e também do convívio singular entre cristãos; envolve profundo estudo, mas também ocorre na singela e comprometida leitura das Escrituras. Depende do Espírito, por isso implica humildade. Ajuda a conhecer a Deus e a amá-lo.
É disso que trata a matéria de capa da edição 408 da revista Ultimato. Para assinar, clique aqui.
Saiba mais:
» A Vida em Cristo, John Stott
» Acontece nas Melhores Famílias - Famílias da Bíblia à luz da terapia familiar, Carlos "Catito" Grzybowski e Jorge Maldonado
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