Opinião
- 19 de agosto de 2024
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A abertura dos jogos olímpicos: Afinal, o autor está morto?
O significado de um texto ou obra artística está no que o leitor e observador entendem da obra ou está no que o autor ou artista pretendeu?
Por William Lane
A recente polêmica sobre a abertura dos Jogos Olímpicos em Paris levanta, a meu ver, uma sugestiva discussão sobre a morte do autor.
Grupos cristãos viram naquela cena uma alusão à Última Ceia de Jesus com os discípulos e, consequentemente, uma afronta à fé cristã. Grupos cristãos repudiaram a apresentação. Isso levou o Comitê Olímpico a se pronunciar e pedir desculpas por ter ofendido alguém. O diretor da cerimônia se justificou dizendo que quis comunicar inclusão, segundo o espírito dos jogos olímpicos. Ainda outros, saindo em defesa do espetáculo, apontaram para a associação não com a Ceia de Jesus, mas com a festa dos deuses da mitologia grega antiga, e com o quadro do holandês Jan Van Bijlert, chamado A festa dos deuses. Houve ainda quem sugerisse, que ver naquela cena alguma alusão à Ceia de Jesus e se sentir agredido por isso é coisa de desconhecedores da história que não conseguem apreciar a arte, cultura e história.1
Afinal, qual é o sentido daquela cena, a que o seu produtor pretendeu ou a que o público percebeu? Essa é, de fato, uma questão recorrente no estudo da hermenêutica moderna. O significado de um texto ou obra artística está no que o leitor e observador entendem da obra ou está no que o autor ou artista pretendeu?
Curiosa ou ironicamente foram justamente intelectuais franceses que há 60 anos articularam a ideia de que uma vez escrito um texto o seu autor não tem mais domínio sobre o seu significado. Isso é na hermenêutica geralmente chamada de “a morte do autor”. Não é mais possível, nem desejável, saber ou investigar qual foi a intenção do autor.
Nessa perspectiva é possível sustentar que “uma das coisas mais mágicas da arte é que sua interpretação nunca é exatamente sobre a obra em si. A arte deixa de ser sobre o que a pessoa escreveu e passa a ser sobre o que as pessoas leram. As memórias e significados que nós damos para cada filme que assistimos, para cada música que ouvimos e cada obra de arte que admiramos se tornam muito maiores que as iniquidades das pessoas que as fizeram”.2
A hermenêutica bíblica e teológica resiste a essa ideia, pois tanto a interpretação histórico gramatical, mais ortodoxa e afirmativa do texto bíblico, quanto a interpretação histórico-crítica, mais dependente de reconstruções históricas e literárias, se esforçam em buscar o sentido do texto na intenção do autor original e no ambiente em que surgiu a obra.
Nesse episódio, parece ter havido uma inversão dos papéis. Religiosos lendo um deboche à fé cristã e pensadores, artistas e autoridades seculares defendendo a intenção do criador da peça artística.
Afinal, o autor está morto mesmo?
Notas
1. ‘A Última Ceia’ ou ‘A Festa dos Deuses’? Conheça quadros ligados à polêmica das Olimpíadas. Estadão. Acesso em 15 ago. 24
2. A morte dos autores. Espaço do conhecimento UFMG. Acesso em 15 ago. 24.
REVISTA ULTIMATO | PARA QUE SERVE A TEOLOGIA?
A resposta à pergunta “Para que serve a teologia?” revela que ela serve a Deus, exaltando-o como Senhor. Serve a igreja, ajudando-a a conhecer e a adorar seu Deus. Serve o mundo, revelando a verdadeira fonte de sabedoria, beleza, sentido e salvação.
A teologia é resultado de esforço acadêmico e também do convívio singular entre cristãos; envolve profundo estudo, mas também ocorre na singela e comprometida leitura das Escrituras. Depende do Espírito, por isso implica humildade. Ajuda a conhecer a Deus e a amá-lo.
É disso que trata a matéria de capa da edição 408 da revista Ultimato. Para assinar, clique aqui.
Saiba mais:
» O Evangelho em uma Sociedade Pluralista, Lessline Newbigin
» O Mundo – Uma missão a ser cumprida, John Stott e Tim Chester
» A Grande História – Um Convite para Professores Cristãos, Rick Hove, Heather Holleman
Por William Lane
A recente polêmica sobre a abertura dos Jogos Olímpicos em Paris levanta, a meu ver, uma sugestiva discussão sobre a morte do autor.
Grupos cristãos viram naquela cena uma alusão à Última Ceia de Jesus com os discípulos e, consequentemente, uma afronta à fé cristã. Grupos cristãos repudiaram a apresentação. Isso levou o Comitê Olímpico a se pronunciar e pedir desculpas por ter ofendido alguém. O diretor da cerimônia se justificou dizendo que quis comunicar inclusão, segundo o espírito dos jogos olímpicos. Ainda outros, saindo em defesa do espetáculo, apontaram para a associação não com a Ceia de Jesus, mas com a festa dos deuses da mitologia grega antiga, e com o quadro do holandês Jan Van Bijlert, chamado A festa dos deuses. Houve ainda quem sugerisse, que ver naquela cena alguma alusão à Ceia de Jesus e se sentir agredido por isso é coisa de desconhecedores da história que não conseguem apreciar a arte, cultura e história.1
Afinal, qual é o sentido daquela cena, a que o seu produtor pretendeu ou a que o público percebeu? Essa é, de fato, uma questão recorrente no estudo da hermenêutica moderna. O significado de um texto ou obra artística está no que o leitor e observador entendem da obra ou está no que o autor ou artista pretendeu?
Curiosa ou ironicamente foram justamente intelectuais franceses que há 60 anos articularam a ideia de que uma vez escrito um texto o seu autor não tem mais domínio sobre o seu significado. Isso é na hermenêutica geralmente chamada de “a morte do autor”. Não é mais possível, nem desejável, saber ou investigar qual foi a intenção do autor.
Nessa perspectiva é possível sustentar que “uma das coisas mais mágicas da arte é que sua interpretação nunca é exatamente sobre a obra em si. A arte deixa de ser sobre o que a pessoa escreveu e passa a ser sobre o que as pessoas leram. As memórias e significados que nós damos para cada filme que assistimos, para cada música que ouvimos e cada obra de arte que admiramos se tornam muito maiores que as iniquidades das pessoas que as fizeram”.2
A hermenêutica bíblica e teológica resiste a essa ideia, pois tanto a interpretação histórico gramatical, mais ortodoxa e afirmativa do texto bíblico, quanto a interpretação histórico-crítica, mais dependente de reconstruções históricas e literárias, se esforçam em buscar o sentido do texto na intenção do autor original e no ambiente em que surgiu a obra.
Nesse episódio, parece ter havido uma inversão dos papéis. Religiosos lendo um deboche à fé cristã e pensadores, artistas e autoridades seculares defendendo a intenção do criador da peça artística.
Afinal, o autor está morto mesmo?
Notas
1. ‘A Última Ceia’ ou ‘A Festa dos Deuses’? Conheça quadros ligados à polêmica das Olimpíadas. Estadão. Acesso em 15 ago. 24
2. A morte dos autores. Espaço do conhecimento UFMG. Acesso em 15 ago. 24.
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A resposta à pergunta “Para que serve a teologia?” revela que ela serve a Deus, exaltando-o como Senhor. Serve a igreja, ajudando-a a conhecer e a adorar seu Deus. Serve o mundo, revelando a verdadeira fonte de sabedoria, beleza, sentido e salvação.
A teologia é resultado de esforço acadêmico e também do convívio singular entre cristãos; envolve profundo estudo, mas também ocorre na singela e comprometida leitura das Escrituras. Depende do Espírito, por isso implica humildade. Ajuda a conhecer a Deus e a amá-lo.
É disso que trata a matéria de capa da edição 408 da revista Ultimato. Para assinar, clique aqui.
Saiba mais:
» O Evangelho em uma Sociedade Pluralista, Lessline Newbigin
» O Mundo – Uma missão a ser cumprida, John Stott e Tim Chester
» A Grande História – Um Convite para Professores Cristãos, Rick Hove, Heather Holleman
Pastor presbiteriano e doutor em Antigo Testamento, é professor e capelão no Seminário Presbiteriano do Sul, e tradutor de obras teológicas. É autor do livro O propósito bíblico da missão.
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