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Vulneráveis a duras penas

A pesquisadora da Universidade de Houston Brené Brown obteve mais de 5 milhões de “hits” com uma palestra sobre a importância da vulnerabilidade. Confesso que não me impressionei quando a ouvi. A palavra “vulnerável” pra mim tinha um significado negativo. Ser vulnerável é ser fraco, estar exposto. Sempre gostei dos super-heróis da Marvel. O Super-Homem, Thor, o Homem de Ferro são imunes, couraças impenetráveis. Quem quer ser frágil?
 
Na minha convivência fora do Brasil percebi que a palavra “vulnerável” é usada positivamente. Como líder você tem de ser transparente em relação a suas fraquezas e lutas. Ser vulnerável é baixar as defesas, não desconfiar quando confia, expor sem medo as misérias da alma. Segundo a pesquisadora, as pessoas que vivem assim são mais felizes.
 
Porém, gato escaldado tem medo de água fria. Se eu expuser o que sinto, os problemas que tenho, serei julgado; meu poder social será anulado. Aos olhos dos outros, me tornarei o pecado que confessei.
 
Meu marido teve de estudar o tema da vergonha em um curso de mestrado em aconselhamento cristão. A resistência contra a vulnerabilidade começa no conceito de vergonha. Em sua pesquisa ele aprendeu que a maioria das culturas do mundo -- inclusive a brasileira -- é baseada na vergonha. O oposto seria a cultura da culpa, que ainda prevalece nos países protestantes, mas está perdendo força. O cristianismo ensinou a psicologia coletiva da culpa, absorvida pelo indivíduo, mas eximida individual e socialmente.
 
A diferença entre vergonha e culpa é grande. Quando sinto culpa, reconheço um comportamento errado que pode ser mudado. A vergonha diz respeito a quem eu sou. Ter culpa corresponde a dizer: “Perdoe-me, eu cometi um erro”. Ter vergonha, no entanto, é como dizer: “Perdoe-me, eu sou um erro”.
 
Na cultura brasileira, o maior mecanismo social de restrição de comportamento é a vergonha. O problema começa em casa com a maneira como educamos os filhos: “Papai do céu está olhando”; “Não me faça passar vergonha”; “Menino, você é um problema”. Segundo estudos, a diferença entre estas afirmações e as que reconhecem a culpa pelo ato não é meramente linguística. O “você é ... X você fez ...” está diretamente ligado ao rendimento escolar, uso de drogas na adolescência e até mesmo a crimes. A criança educada num lar onde prevalece a punição da vergonha tem mais propensão aos problemas.
 
O problema claro é que ninguém é perfeito, porém mesmo assim fomos feitos para sermos amados e aceitos. Como conciliar a necessidade de aceitação com a inevitável imperfeição humana? Evite a vergonha. Como evitar a vergonha? Nunca se exponha. Nunca apareça como é nem diante dos mais íntimos. Conviva com a dor de nunca se tornar conhecido e, portanto, nunca ser amado como realmente é.
 
A cultura da vergonha, por usar o descrédito público e a dor da humilhação social para reprimir, não permite a redenção. Uma vez envergonhada, a pessoa jamais recupera sua influência. A alternativa é cultivar aparências. Dos líderes, então, exigimos que sejam heróis, perfeitos. Talvez por isso acabamos iludidos por tiranos. Colocamos o líder acima do povo, numa posição sobre-humana, e assim ele se torna aos seus próprios olhos.
 
O desafio de Brené Brown acabou me conquistando. A dor de se esconder é pior do que a vergonha de se expor. O evangelho verdadeiro me ensina que das minhas culpas eu me arrependo e sou liberta. E, porque não sou o pecado que cometo, posso expor as minhas imperfeições. O amor que Cristo tem por mim não é condicional a uma pretensa perfeição religiosa. Adeus super-mulher e super-missionária. Você tem direito de errar.

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Bráulia Ribeiro trabalhou na Amazônia durante trinta anos. Hoje mora em Kailua-Kona com sua família e está envolvida em projetos de tradução da Bíblia nas ilhas do Pacífico. É autora de Chamado Radical.
 
Equipe Editorial Web
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