Opinião
- 11 de julho de 2016
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Você não é melhor que ninguém!
Diga-me se você já não se sentiu tentado a imaginar-se melhor que os demais. Mais sábio, mais humilde (que bela contradição) ou talvez “com mais clareza a respeito de meus pequenos, mas desculpáveis erros, assim como das enormes e indesculpáveis hipocrisias dos demais”.
Jesus, como sempre, rompe esses nossos esquemas mentais. Contra todas as expectativas dos religiosos da época, ele mostrou que, por exemplo, inclusão, perdão e transformação são possíveis. Vejamos duas breves histórias, dois encontros, que nos revelam com uma simplicidade surpreendente a maneira como o Senhor nos chama, nos inclui, como ele nos restaura, nos transforma para uma nova vida e propósito. Uso essas três palavras e conceitos de uma maneira consciente: inclusão (ou alcance do evangelho, chegando aos que em verdade precisam dele, os que se reconhecem perdidos); perdão (restaurando, não só internamente, mas também aos olhos dos demais) e transformação (um encontro com Jesus que sempre nos leva a ser diferentes do que éramos antes).
Um publicano chamado Levi (Lucas 5.27-32) e o chefe dos publicanos, Zaqueu (Lucas 19.1-10):
1. Um publicano chamado Levi
Concordemos que se Jesus quisesse popularizar e expandir uma fé entre o povo judeu pareceria que enveredou por uma estratégia absurdamente equivocada. Ele não só parece tolerar como se alia em intimidade com os vilões, com os traidores, com os que expropriam o povo para manter o domínio do império.
Aliar-se e comer com eles era tudo o que os judeus esperariam que o seu Messias não faria. Agora, vem algo mais. Mesmo para os seus discípulos seria difícil entender a lógica de chamar a Levi para segui-lo. Imaginem a cena. Às margens do lago de Genesaré, em Cafarnaum, está uma barraca de cobrança de impostos, que beneficiavam a Herodes Antipas (governador da Galiléia e Peréia) – o mesmo que havia sido responsável pela decapitação de João Batista.
Levi era do tipo mais odiado de cobradores de impostos: um coletor de ‘impostos da agricultura’. Sua posição lhe permitia ser mais arbitrário e, com frequência, mais desonesto. Alguns dos discípulos mais próximos, chamados por Jesus para segui-lo, eram pescadores. Pescadores que estariam pagando impostos justamente através de alguém como Levi.
Taxas aplicadas ao indivíduo, à comunidade, alfandegárias, de todo tipo. Por isso os cobradores de impostos eram mal vistos. Não só ajudavam o país dominador, como também tinham a fama de embolsar algo por fora (soa familiar?). Por isso os líderes dos judeus os consideravam impuros. Cobradores de impostos apareciam na literatura rabínica listados ao lado de assassinos e adúlteros.
2. Zaqueu: mais odiado ainda
Daí chegamos a Zaqueu. Dentre o odiado grupo dos cobradores de impostos, ele estava um degrau acima: ele era um chefe, o responsável por toda uma rede de coleta de impostos. Zaqueu seria o tipo de pessoa rejeitada e ridicularizada pelo povo. Fazer um pixuleco dele seria pouco. Ficar cantando “Zaqueu, o baixinho” também seria apenas uma pequena porção da possível zombaria e desprezo direcionados a ele.
Se muitas vezes eram os líderes dos religiosos que reclamavam da falta de cuidado de Jesus sobre com quem ele andava, agora foi uma reclamação generalizada, ‘todo o povo’. Talvez Zaqueu merecesse esse tratamento. Ele não era ingênuo. Não só havia decidido trabalhar para os poderosos romanos, como se aproveitou dessa situação para roubar e ficar rico.
Se Levi foi surpreendido pelo convite, já Zaqueu buscou a Jesus. Mas ambos ilustram muito bem a atitude desses que recebem perdão e salvação. Levi: levantou-se, deixou tudo, seguiu-o e ofereceu um grande banquete. Zaqueu: queria ver, correu, subiu numa figueira, levantou-se e fez declarações, deu (metade dos bens aos pobres) e devolveu (quatro vezes do que extorquiu).
Mania de restaurar as pessoas
Se Jesus chama, se Jesus vai ao encontro, esse encontro e intimidade produzem transformação na vida dessas pessoas. Jesus tinha essa mania de restaurar as pessoas. Parece que esse ‘hábito’ de Jesus incluía não se importar com o passado dessas pessoas, nem com o seu ‘lugar social’, sua reputação diante dos demais, nem mesmo se importando, ao menos à primeira vista, com os erros dessas pessoas, como se eles pudessem impedir que Jesus se aproximasse e tivesse comunhão íntima com elas. Surpreendente, não? Ser publicano, um representante do império? Ser visto como escória e traidor? Ser um ladrão? Jesus não se impressiona, não deixa de ir até a sua casa e de dividir a mesa com eles.
Assim é o ministério redentivo, perdoador e restaurador de Jesus. Pecadores são perdoados, doentes são sanados e perdidos são encontrados. Se Jesus convida, inclui, perdoa e podemos ver que ele também está interessado em restaurar. Essa restauração passa por uma completa reorientação de suas vidas. Foi assim com Levi, com essa nova identidade. É impressionante ver em quem um odiado cobrador de impostos se transforma: em Mateus, um dos doze discípulos mais próximos de Jesus, um dos apóstolos, o autor da mais longa biografia de Jesus. Levi, que seria também Mateus, um novo nome que poderia apontar para essa restauração, conversão, uma completa nova orientação de vida.
E com Zaqueu? Restauração também com frequência inclui reparação de erros passados. Isso não é sinônimo de penitência, como se fosse possível pagar por seus pecados, nada disso. Apenas significa que justiça muitas vezes inclui um conceito de restituir e reparar, quando possível, o que foi tirado, roubado. É o que acontece na história de nosso ‘chefe da máfia’ dos cobradores de impostos. Quando Zaqueu anuncia os efeitos práticos de sua reparação, a resposta de Jesus é que “hoje entrou salvação nessa casa”. Interessante observar que Jesus decide ir à casa de Zaqueu e jantar com ele antes que ele tomasse essas decisões. Ou seja, Zaqueu não se ‘torna digno’ do convite de Jesus por causa do que faz. Pelo contrário, a misericórdia chega primeiro a Zaqueu, ela é oferecida em primeiro lugar. Logo a misericórdia e a graça de Jesus se transformam em perdão e restauração. Como evidências dessa restauração, surgem as ações de reparação e restituição. Jesus provoca transformação e não há outra maneira de sair da presença de Jesus que não seja transformado pela sua graça.
Como estamos quando nos encontramos com Jesus?
1. Jesus nos aceita, nos convida. Assim não podemos perder a oportunidade desse convite que ele nos faz para uma nova vida. Ele quer se encontrar com cada um de nós, e não coloca condições para esse encontro.
2. É preciso aprender a receber esse perdão de Deus em nossas vidas. O perdão de Deus nos ajudará a perdoar a nós mesmos (o que muitas vezes é o passo mais difícil) e nos ajudará também a ser mais misericordiosos e perdoadores com os demais. Se Jesus me estende da sua graça, quem sou eu para retê-la e não oferecê-la a quem está ao meu redor?
3. Ele nos chama para restauração, para mudança, para transformação. Não sei o que talvez você precise abandonar, renunciar, entregar. Eu sempre tenho uma lista grande em oração – isso talvez seja um sinal de que transformações levam tempo. Mas é um bom caminho ter os ouvidos abertos a esse convite, um coração sedento para receber esse perdão, e pés ligeiros rumo à transformação e à nova vida.
Humildemente, te animo: pare de se achar melhor que os demais e não perca essa oportunidade!
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Foto: Daniel Andres/Freeimages.com
Jesus, como sempre, rompe esses nossos esquemas mentais. Contra todas as expectativas dos religiosos da época, ele mostrou que, por exemplo, inclusão, perdão e transformação são possíveis. Vejamos duas breves histórias, dois encontros, que nos revelam com uma simplicidade surpreendente a maneira como o Senhor nos chama, nos inclui, como ele nos restaura, nos transforma para uma nova vida e propósito. Uso essas três palavras e conceitos de uma maneira consciente: inclusão (ou alcance do evangelho, chegando aos que em verdade precisam dele, os que se reconhecem perdidos); perdão (restaurando, não só internamente, mas também aos olhos dos demais) e transformação (um encontro com Jesus que sempre nos leva a ser diferentes do que éramos antes).
Um publicano chamado Levi (Lucas 5.27-32) e o chefe dos publicanos, Zaqueu (Lucas 19.1-10):
1. Um publicano chamado Levi
Concordemos que se Jesus quisesse popularizar e expandir uma fé entre o povo judeu pareceria que enveredou por uma estratégia absurdamente equivocada. Ele não só parece tolerar como se alia em intimidade com os vilões, com os traidores, com os que expropriam o povo para manter o domínio do império.
Aliar-se e comer com eles era tudo o que os judeus esperariam que o seu Messias não faria. Agora, vem algo mais. Mesmo para os seus discípulos seria difícil entender a lógica de chamar a Levi para segui-lo. Imaginem a cena. Às margens do lago de Genesaré, em Cafarnaum, está uma barraca de cobrança de impostos, que beneficiavam a Herodes Antipas (governador da Galiléia e Peréia) – o mesmo que havia sido responsável pela decapitação de João Batista.
Levi era do tipo mais odiado de cobradores de impostos: um coletor de ‘impostos da agricultura’. Sua posição lhe permitia ser mais arbitrário e, com frequência, mais desonesto. Alguns dos discípulos mais próximos, chamados por Jesus para segui-lo, eram pescadores. Pescadores que estariam pagando impostos justamente através de alguém como Levi.
Taxas aplicadas ao indivíduo, à comunidade, alfandegárias, de todo tipo. Por isso os cobradores de impostos eram mal vistos. Não só ajudavam o país dominador, como também tinham a fama de embolsar algo por fora (soa familiar?). Por isso os líderes dos judeus os consideravam impuros. Cobradores de impostos apareciam na literatura rabínica listados ao lado de assassinos e adúlteros.
2. Zaqueu: mais odiado ainda
Daí chegamos a Zaqueu. Dentre o odiado grupo dos cobradores de impostos, ele estava um degrau acima: ele era um chefe, o responsável por toda uma rede de coleta de impostos. Zaqueu seria o tipo de pessoa rejeitada e ridicularizada pelo povo. Fazer um pixuleco dele seria pouco. Ficar cantando “Zaqueu, o baixinho” também seria apenas uma pequena porção da possível zombaria e desprezo direcionados a ele.
Se muitas vezes eram os líderes dos religiosos que reclamavam da falta de cuidado de Jesus sobre com quem ele andava, agora foi uma reclamação generalizada, ‘todo o povo’. Talvez Zaqueu merecesse esse tratamento. Ele não era ingênuo. Não só havia decidido trabalhar para os poderosos romanos, como se aproveitou dessa situação para roubar e ficar rico.
Se Levi foi surpreendido pelo convite, já Zaqueu buscou a Jesus. Mas ambos ilustram muito bem a atitude desses que recebem perdão e salvação. Levi: levantou-se, deixou tudo, seguiu-o e ofereceu um grande banquete. Zaqueu: queria ver, correu, subiu numa figueira, levantou-se e fez declarações, deu (metade dos bens aos pobres) e devolveu (quatro vezes do que extorquiu).
Mania de restaurar as pessoas
Se Jesus chama, se Jesus vai ao encontro, esse encontro e intimidade produzem transformação na vida dessas pessoas. Jesus tinha essa mania de restaurar as pessoas. Parece que esse ‘hábito’ de Jesus incluía não se importar com o passado dessas pessoas, nem com o seu ‘lugar social’, sua reputação diante dos demais, nem mesmo se importando, ao menos à primeira vista, com os erros dessas pessoas, como se eles pudessem impedir que Jesus se aproximasse e tivesse comunhão íntima com elas. Surpreendente, não? Ser publicano, um representante do império? Ser visto como escória e traidor? Ser um ladrão? Jesus não se impressiona, não deixa de ir até a sua casa e de dividir a mesa com eles.
Assim é o ministério redentivo, perdoador e restaurador de Jesus. Pecadores são perdoados, doentes são sanados e perdidos são encontrados. Se Jesus convida, inclui, perdoa e podemos ver que ele também está interessado em restaurar. Essa restauração passa por uma completa reorientação de suas vidas. Foi assim com Levi, com essa nova identidade. É impressionante ver em quem um odiado cobrador de impostos se transforma: em Mateus, um dos doze discípulos mais próximos de Jesus, um dos apóstolos, o autor da mais longa biografia de Jesus. Levi, que seria também Mateus, um novo nome que poderia apontar para essa restauração, conversão, uma completa nova orientação de vida.
E com Zaqueu? Restauração também com frequência inclui reparação de erros passados. Isso não é sinônimo de penitência, como se fosse possível pagar por seus pecados, nada disso. Apenas significa que justiça muitas vezes inclui um conceito de restituir e reparar, quando possível, o que foi tirado, roubado. É o que acontece na história de nosso ‘chefe da máfia’ dos cobradores de impostos. Quando Zaqueu anuncia os efeitos práticos de sua reparação, a resposta de Jesus é que “hoje entrou salvação nessa casa”. Interessante observar que Jesus decide ir à casa de Zaqueu e jantar com ele antes que ele tomasse essas decisões. Ou seja, Zaqueu não se ‘torna digno’ do convite de Jesus por causa do que faz. Pelo contrário, a misericórdia chega primeiro a Zaqueu, ela é oferecida em primeiro lugar. Logo a misericórdia e a graça de Jesus se transformam em perdão e restauração. Como evidências dessa restauração, surgem as ações de reparação e restituição. Jesus provoca transformação e não há outra maneira de sair da presença de Jesus que não seja transformado pela sua graça.
Como estamos quando nos encontramos com Jesus?
1. Jesus nos aceita, nos convida. Assim não podemos perder a oportunidade desse convite que ele nos faz para uma nova vida. Ele quer se encontrar com cada um de nós, e não coloca condições para esse encontro.
2. É preciso aprender a receber esse perdão de Deus em nossas vidas. O perdão de Deus nos ajudará a perdoar a nós mesmos (o que muitas vezes é o passo mais difícil) e nos ajudará também a ser mais misericordiosos e perdoadores com os demais. Se Jesus me estende da sua graça, quem sou eu para retê-la e não oferecê-la a quem está ao meu redor?
3. Ele nos chama para restauração, para mudança, para transformação. Não sei o que talvez você precise abandonar, renunciar, entregar. Eu sempre tenho uma lista grande em oração – isso talvez seja um sinal de que transformações levam tempo. Mas é um bom caminho ter os ouvidos abertos a esse convite, um coração sedento para receber esse perdão, e pés ligeiros rumo à transformação e à nova vida.
Humildemente, te animo: pare de se achar melhor que os demais e não perca essa oportunidade!
Leia também
Orgulho – o caminho mais curto para o tombo
Como se livrar da culpa e da mancha
A falência dos deuses – a idolatria moderna e a missão cristã
Uma Criança os Guiará
Foto: Daniel Andres/Freeimages.com
É casado com Ruth e pai de Ana Júlia e Carolina. Integra o corpo pastoral da Igreja Metodista Livre da Saúde, em São Paulo (SP), serve globalmente como secretário adjunto para o engajamento com as Escrituras na IFES (International Fellowship of Evangelical Students) e também apoia a equipe da IFES América Latina.
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