Opinião
- 22 de fevereiro de 2017
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Vamos nos permitir?
Por Luiz Fernando dos Santos
Liberdade: o maior dom e o maior desafio
“Portanto, se o Filho os libertar, vocês de fato serão livres” (Jo 8.36).
Parece estranho, mas não sabemos ser livres. Queremos, mas não sabermos ser. Não nos sentimos confortáveis com a liberdade e raras vezes sabemos desfrutar dela com proveito. A liberdade é o nosso maior dom e também o nosso maior desafio.
Comumente pensamos em liberdade como a remoção de todos os entraves éticos e de todos os contornos de moralidade. Julgamos que livre é aquele que faz o que quer, quando quer, como quer sem prestar contas ou dar maiores satisfações. Liberdade parece ser não deixar-se definir ou moldar por coisa alguma, é não possuir padrões ou referenciais absolutos. Por isso mesmo, liberdade virou sinônimo de “politicamente correto”, de “vivo e deixo viver”, “meu corpo, minhas regras”, “eu me defino sexualmente”, “se é comum é porque é normal”, e etc.
Escravos do relativismo
Nessa exacerbação do que se pensa como liberdade há uma escravidão e uma ditadura em voga, que absurdamente todos parecem cegos para ela, é a ditadura do relativismo. Relativismo é aquela doutrina filosófica e aquele estilo de vida que nos força a viver apenas do momento, da lógica da conveniência, pois o que pode ser certo para mim, pode muito bem não ser o correto pra você. E assim, todos estão certos e ninguém tem razão e cada um leva a vida do jeito que achar melhor, não importando com o que é verdadeiro.
Qual a origem desse estado de coisas? Claro, o mau uso que Adão e Eva fizeram de sua imensa liberdade no paraíso. Uma liberdade nunca mais desfrutada pelo homem, até que fosse redimido por Cristo e até que entre na glória. Adão e Eva eram livres, mas nunca foram infinitamente livres. Não é possível que haja dois seres infinitamente livres, se não, os dois seriam deuses. E, como há um só Deus, esse sim libérrimo, Adão e Eva como criaturas, gozavam uma liberdade imensa sim, com o limite de não poderem comer da arvore da ciência do bem e do mal. Aqui estava o limite para aquela imensa liberdade. Essa liberdade incluía também, a faculdade para não pecar e também, para fazê-lo. Livremente escolheram transgredir, desejaram ser mais livres do que eram, desejaram a liberdade que é própria e somente de Deus. Você sabe as consequências disso. Seus descendentes (nós) passaram a ter dificuldades noéticas*, espirituais, morais e físicas quanto à noção de liberdade. Logo se acharam escravos do pecado e de suas paixões caídas.
Mais tarde, para restringir o mal, assinalar a malignidade do pecado, instruir as mentes e provocar “desespero” pela salvação e a necessidade de um Salvador, todos foram como que escravizados, submetidos sob Lei.
Escravos da Lei
A Lei não foi dada para salvar, antes apontava para a presença do pecado na carne, na mente, no coração, na alma. Assim, a Lei também apontava para um padrão de vida onde haveria verdadeira liberdade, no coração entregue a Deus em amor e submissão, na recusa aos ídolos, na guarda de um dia santificado, no respeito amoroso e voluntário para com as autoridades, no amor generoso cuidador para com o próximo e a sacralidade de seus bens e seus corpos. A lei queria indicar que na prática constante e fiel dessas coisas, o homem experimentaria de novo, harmonia, paz e relações adequadas com Deus, com os homens e o restante da criação, em plena liberdade. A Lei apontava para tal, mas a sua observância era impossível, exatamente porque não éramos livres para obedecer, nossos pecados nos arrastavam após si para fazermos o que desagradava a Deus e a nós mesmos, sem poder evitar, sem liberdade para isso.
Agora, em Cristo, estamos livres outra vez. Agora, pela obra de Cristo e pelo transbordamento de sua graça, temos liberdade para evitar o mal, fazer o que é bom, justo, honroso, que mereça louvor, que dê gozo verdadeiro á nossa alma, que glorifique a Deus, que ame os irmãos e cuide e proteja a ordem social e a natureza.
Afinal, o que é liberdade?
E como sabemos que coisas são essas? Voltando para a Lei! Ela nos dá o exato padrão da liberdade. Ela nos instrui e nos ensina que ser livres não é fazer o que queremos e o que sentimos vontade, a despeito do julgamento alheio. Liberdade é fazer o que é justo, certo, verdadeiro e adequado, a despeito dos meus desejos e das minhas inclinações.
Nossa liberdade em Cristo não nos deixa escravizar por qualquer coisa que ofenda a Deus, nem mesmo aquelas com aparência de piedade ou de religião, que na verdade não passam da imaginação de homens que não sabem o que fazer com a própria liberdade. Não há maior escravidão do que fazer somente aquilo para o qual se é inclinado, sem poder resistir, sem ter a vontade de não fazê-lo. Venha para a liberdade dos filhos de Deus.
Nota:
*Disciplina que estuda os fenômenos subjetivos da consciência, da mente, do espírito e da vida a partir do ponto de vista da ciência.
Leia mais
A tragédia da liberdade [Alderi Souza de Matos]
Igualdade ou liberdade? [Bráulia Ribeiro]
Escravos modernos [Ricardo Barbosa]
Culpa e Graça [Paul Tournier]
Foto: Pixabay.com.
Liberdade: o maior dom e o maior desafio
“Portanto, se o Filho os libertar, vocês de fato serão livres” (Jo 8.36).
Parece estranho, mas não sabemos ser livres. Queremos, mas não sabermos ser. Não nos sentimos confortáveis com a liberdade e raras vezes sabemos desfrutar dela com proveito. A liberdade é o nosso maior dom e também o nosso maior desafio.
Comumente pensamos em liberdade como a remoção de todos os entraves éticos e de todos os contornos de moralidade. Julgamos que livre é aquele que faz o que quer, quando quer, como quer sem prestar contas ou dar maiores satisfações. Liberdade parece ser não deixar-se definir ou moldar por coisa alguma, é não possuir padrões ou referenciais absolutos. Por isso mesmo, liberdade virou sinônimo de “politicamente correto”, de “vivo e deixo viver”, “meu corpo, minhas regras”, “eu me defino sexualmente”, “se é comum é porque é normal”, e etc.
Escravos do relativismo
Nessa exacerbação do que se pensa como liberdade há uma escravidão e uma ditadura em voga, que absurdamente todos parecem cegos para ela, é a ditadura do relativismo. Relativismo é aquela doutrina filosófica e aquele estilo de vida que nos força a viver apenas do momento, da lógica da conveniência, pois o que pode ser certo para mim, pode muito bem não ser o correto pra você. E assim, todos estão certos e ninguém tem razão e cada um leva a vida do jeito que achar melhor, não importando com o que é verdadeiro.
Qual a origem desse estado de coisas? Claro, o mau uso que Adão e Eva fizeram de sua imensa liberdade no paraíso. Uma liberdade nunca mais desfrutada pelo homem, até que fosse redimido por Cristo e até que entre na glória. Adão e Eva eram livres, mas nunca foram infinitamente livres. Não é possível que haja dois seres infinitamente livres, se não, os dois seriam deuses. E, como há um só Deus, esse sim libérrimo, Adão e Eva como criaturas, gozavam uma liberdade imensa sim, com o limite de não poderem comer da arvore da ciência do bem e do mal. Aqui estava o limite para aquela imensa liberdade. Essa liberdade incluía também, a faculdade para não pecar e também, para fazê-lo. Livremente escolheram transgredir, desejaram ser mais livres do que eram, desejaram a liberdade que é própria e somente de Deus. Você sabe as consequências disso. Seus descendentes (nós) passaram a ter dificuldades noéticas*, espirituais, morais e físicas quanto à noção de liberdade. Logo se acharam escravos do pecado e de suas paixões caídas.
Mais tarde, para restringir o mal, assinalar a malignidade do pecado, instruir as mentes e provocar “desespero” pela salvação e a necessidade de um Salvador, todos foram como que escravizados, submetidos sob Lei.
Escravos da Lei
A Lei não foi dada para salvar, antes apontava para a presença do pecado na carne, na mente, no coração, na alma. Assim, a Lei também apontava para um padrão de vida onde haveria verdadeira liberdade, no coração entregue a Deus em amor e submissão, na recusa aos ídolos, na guarda de um dia santificado, no respeito amoroso e voluntário para com as autoridades, no amor generoso cuidador para com o próximo e a sacralidade de seus bens e seus corpos. A lei queria indicar que na prática constante e fiel dessas coisas, o homem experimentaria de novo, harmonia, paz e relações adequadas com Deus, com os homens e o restante da criação, em plena liberdade. A Lei apontava para tal, mas a sua observância era impossível, exatamente porque não éramos livres para obedecer, nossos pecados nos arrastavam após si para fazermos o que desagradava a Deus e a nós mesmos, sem poder evitar, sem liberdade para isso.
Agora, em Cristo, estamos livres outra vez. Agora, pela obra de Cristo e pelo transbordamento de sua graça, temos liberdade para evitar o mal, fazer o que é bom, justo, honroso, que mereça louvor, que dê gozo verdadeiro á nossa alma, que glorifique a Deus, que ame os irmãos e cuide e proteja a ordem social e a natureza.
Afinal, o que é liberdade?
E como sabemos que coisas são essas? Voltando para a Lei! Ela nos dá o exato padrão da liberdade. Ela nos instrui e nos ensina que ser livres não é fazer o que queremos e o que sentimos vontade, a despeito do julgamento alheio. Liberdade é fazer o que é justo, certo, verdadeiro e adequado, a despeito dos meus desejos e das minhas inclinações.
Nossa liberdade em Cristo não nos deixa escravizar por qualquer coisa que ofenda a Deus, nem mesmo aquelas com aparência de piedade ou de religião, que na verdade não passam da imaginação de homens que não sabem o que fazer com a própria liberdade. Não há maior escravidão do que fazer somente aquilo para o qual se é inclinado, sem poder resistir, sem ter a vontade de não fazê-lo. Venha para a liberdade dos filhos de Deus.
Nota:
*Disciplina que estuda os fenômenos subjetivos da consciência, da mente, do espírito e da vida a partir do ponto de vista da ciência.
Leia mais
A tragédia da liberdade [Alderi Souza de Matos]
Igualdade ou liberdade? [Bráulia Ribeiro]
Escravos modernos [Ricardo Barbosa]
Culpa e Graça [Paul Tournier]
Foto: Pixabay.com.
Luiz Fernando dos Santos (1970-2022), foi ministro presbiteriano e era casado com Regina, pai da Talita e professor de teologia no Seminário Presbiteriano do Sul e no Seminário Teológico Servo de Cristo.
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