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Uma celebração de histórias na Copa do Mundo para Moradores de Rua

Por Paula Mazzini

A Homeless World Cup (Copa do Mundo para Moradores de Rua - homelessworldcup.org) é uma fundação criada em 2003 com o intuito de inspirar pessoas a mudar de vida através do contato com o esporte. É uma rede internacional que conta com mais de 70 parceiros a fim de realizar um torneio anual de futebol para pessoas em situação de risco social. Já foi realizado em cidades como Paris, Santiago do Chile, Cidade do Cabo e Rio de Janeiro.

A primeira vez que ouvi falar em uma Copa do Mundo para Moradores de Rua fiquei um pouco confusa. Mas após ver de perto, a confusão se transformou em admiração. A última edição aconteceu em Oslo, Noruega, e contou com 72 equipes de 54 países. Mais de 400 partidas foram jogadas entre homens e mulheres, jovens e idosos. 

A equipe brasileira, formada por 8 jovens de comunidades como Complexo do Alemão (RJ) e São Sebastião (DF), chegou a final invicta e conquistou pela terceira vez o título de campeã. Os jovens fazem parte do projeto Futebol Social (www.futebolsocial.org.br), um movimento que atua em periferias e grupos socialmente excluídos.

Outro parceiro da Homeless World Cup (HWC) é o Exército de Salvação da Noruega. Apesar de ser um país altamente desenvolvido, a Noruega conta com um elevado índice de consumo de drogas e por isso o Exército de Salvação investe em clínicas de recuperação e hospitais. Parte do programa de recuperação envolve o esporte – e o time de futebol que atua em torneios como a HWC.

Além de patrocinar a equipe de futebol, o Exército de Salvação formou também uma equipe multicultural de capelania com representantes de países como Romênia, Nigéria, México e Inglaterra para atuar entre os times e na tenda de oração montada exclusivamente para o evento.

Como capelã da equipe brasileira, tive boas oportunidades de conversa e apoio prático (traduzindo, torcendo, enchendo garrafas d´água etc.). O que não imaginava é que seria tão impactada pelo “espírito” do evento. Por exemplo, ao entrar em contato com o time do Camboja, formado por meninos que ganham a vida catando lixo na rua, um dos meninos do Brasil resolveu dar um de seus uniformes para um dos jogadores, que estava jogando com uma calça de moletom. Na equipe brasileira o trato era não fazer mais de 8 gols no adversário. E em um dos jogos, o goleiro resolveu fazer uma falta proposital, para que o time adversário tivesse a chance de fazer pelo menos um gol.

Logo se percebe que as histórias de superação vividas pelos mais de 300 jogadores, cada um com suas cicatrizes e seus sonhos, fazem surgir laços que se sobrepõem ao patriotismo.

No fim das contas – e diferente de uma Copa do Mundo convencional, o “espírito do evento” não aponta para uma premiação ou troféu. Pouco importa a bandeira sob a qual se joga - o verdadeiro jogo foi ganho por cada um que conseguiu chegar até ali.

A HWC na verdade não é uma competição, e sim uma grande celebração de histórias. Como disse o fundador Mel Young para os jogadores, ao receber uma homenagem na festa de encerramento: “Os verdadeiros heróis são vocês”. E todos nós aplaudimos.

• Paula Mazzini é membro do Exército da Salvação.

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