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Uma canção de luto: histórias de refugiados ucranianos por Brian Stiller, embaixador global da WEA
Por Ultimatoonline
Balançando-se para frente e para trás sobre os calcanhares, um menino, de 4 ou 5 anos, sozinho, cantava baixinho uma música de sua terra natal, Ucrânia. Seu corpo movia-se lentamente ao ritmo da canção. Eu o vi quando estava saindo de um centro de refugiados na Romênia.
Durante toda a semana, Ruslan Maliuta, líder de discipulado da WEA, – ele próprio de Kiev – e eu encontramos refugiados da Ucrânia em países a oeste: Polônia, Hungria, Eslováquia e Romênia. Vimos caminhões e vans parados para serem carregados, depois seguirem para o leste para entregar comida, remédios e água necessários para aqueles que estavam enclausurados nos corredores do metrô, presos sob prédios em escombros ou escondidos dentro dos banheiros das casas, rezando por todos enquanto os mísseis e bombas não os alcançavam.
Sentamos com mães e crianças que aguardavam em lares e centros de refugiados e se perguntavam se algum dia voltariam a ver seus maridos e pais. Eles queriam muito voltar para sua casa e amigos, mesmo considerando silenciosamente sobre o que eles sentiam ser uma traição brutal por parte de seus companheiros eslavos (e, em muitos casos, de famílias extensas) ao leste. A nuvem do mal pairava sobre o maior dos otimistas. O flagrante abuso da integridade territorial e do bem-estar pessoal virou esta parte do mundo de cabeça para baixo.
Meu jovem amigo cantor, vestido com uma jaqueta azul com capuz, tomou conta do meu coração e, em um momento, resumiu o horror mais amplo que lembraremos para sempre como “2022 – o ano da Ucrânia”. Imagine este menino e sua mãe, dias antes de fugir da Ucrânia, deixando para trás marido e pai. Amigos, a referência para a experiência de uma criança, agora não estavam em lugar algum. Sua cidade natal, um lugar de segurança e bem-estar, havia sido bombardeada. Todas as noções de segurança e normalidade se despedaçaram. A memória da escola, livros e brinquedos deixados para trás. Até a linguagem é diferente. Comer a comida de outras pessoas simplesmente não é como comer a comida da mãe. À noite, ele olha nos olhos dela e vê que por mais que tente equilibrar os solavancos e mostrar força, ela não consegue esconder o medo e a incerteza. Sim, sua vida nunca mais será a mesma.
Outra história da Ucrânia capturou o enorme desgaste emocional e físico que a guerra traz. Uma família - uma mãe e duas filhas - chegou a um centro de refugiados e, enquanto acertava os detalhes de sua estadia, o diretor notou que as meninas estavam agitadas e angustiadas. Ele perguntou à mãe se havia algo de errado.
Ela disse que dois dias antes, quando corriam para pegar um ônibus para deixar a Ucrânia, outra mãe e seu bebê juntaram-se a elas. Em meio à aglomeração e confusão de soldados e gritando ordens, um soldado russo tirou o bebê de sua mãe, atirou em sua cabeça e lhe devolveu a criança ensanguentada. As meninas viram tudo. Uma memória lancinante que não poderá ser esquecida.
Em meio a todo esse sofrimento horrível, anjos da misericórdia acolhem os fugitivos, oferecendo um lar, amizade, comida e conselhos para a jornada. Esses agentes do amor percorrem ruas onde reina o medo, trazendo proteção e consolo. Mãos fortes tratam feridas. Homens e mulheres deixam seu conforto e, como o bom samaritano da história de Jesus, vão onde os feridos precisam da presença amorosa da amizade. Em todos os lugares que fomos encontramos pessoas que doavam e ajudavam.
Mas não demorou muito para que os suprimentos acabassem e, quando tornou-se necessário dinheiro para reabastecer o estoque de suprimentos, cristãos do Canadá me disseram: “Aqui está um pouco de dinheiro, você pode garantir que ele chegue até os necessitados?”. A generosidade deles foi instantânea e sem que houvesse pedido. Eles foram movidos pela necessidade desesperada, e sua fé e preocupação iniciaram um fundo especial: o TRUST (The Response-Ukraine Special Taskforce) e, além dos recursos desses doadores, agora recebemos também recursos da Europa, Estados Unidos e Ásia.
Ao pensar no meu amiguinho curvado, cantando sua canção, você pode ouvir uma voz em seu interior e sua doação se tornará sua voz falando com ele. Seu presente é como se você estivesse lá, ajudando a mãe dele a encontrar o suficiente para o jantar. Ou veja de outra forma: sua doação colocará combustível em uma van da igreja marcada em que uma mãe e seus filhos podem confiar, livrando-os do medo de traficantes sexuais predatórios.
Durante toda a semana de nossa viagem, Ruslan e eu analisamos orçamentos, examinamos planos e assistimos a reformas sendo feitas para atender as pessoas em movimento. Trabalhamos ao lado de pessoas maravilhosas que estão fazendo exatamente o que Jesus nos chamou para fazer. Mas nada capturou melhor a tragédia e a tristeza de uma guerra sem razão ou propósito daquele menino cantando. Na esteira de tanques estrondosos e bombas ensurdecedoras, cerca de 6 milhões de crianças deslocadas cujas vidas foram arrancadas e marcadas para sempre, precisam de nós.
Que com o tempo possamos fazer esta canção de lamento se transformar em uma canção de alegria. Existem muitas maneiras de participar.
Brian C. Stiller, embaixador global da Aliança Evangélica Mundial
Publicado originalmente em World Evangelical Alliance. Reproduzido com permissão.
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