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23 de março de 2021
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Uma breve história da cristandade a partir da atuação do Espírito Santo na Igreja, segundo Charles Williams
Resenha
Por César Moisés Carvalho
Livro: A Descida da Pomba
Charles Williams
Mundo Cristão

Uma história da cristandade
E foi justamente este símbolo do Espírito Santo, que o romancista, poeta, crítico literário, historiador e teólogo inglês, Charles Williams (1886-1945), utilizou não apenas como título de sua obra-prima — A Descida da Pomba —, que seria, inicialmente, Uma História da Cristandade, mas sim como leitmotiv, isto é, como motivo condutor, para contar a formação da cristandade ao longo dos seus primeiros vinte séculos. Obviamente que, como qualquer autor que se propõe a escrever a trajetória de uma religião tão diversificada, antiga e numerosa quanto à cristã, ao se eleger um fio de Ariadne, privilegia-se determinados acontecimentos em detrimento de outros. Sendo assim, até mesmo pela quantidade de páginas da obra (288 p.), lançada em 2019 pela Mundo Cristão, o leitor não deve esperar nada mais que “uma breve história do Espírito Santo na Igreja”.
O despretensioso subtítulo, não apenas pelo adjetivo “breve”, já dá o tom de honestidade historiográfica que todo autor responsável tem, pois Williams não escreveu a história, mas uma história em nove capítulos, ou seja, a sua perspectiva acerca da atuação do Espírito Santo na Igreja. Só por esses aspectos, dignos de destaque, sua obra já merece crédito, todavia, o grande mérito de seu trabalho é o fato de o autor privilegiar a terceira pessoa da Santíssima Trindade como curso orientador de sua narrativa, mesmo não tendo ele pertencido a uma tradição, ou expressão, carismática da fé.
Engana-se, porém, quem pensa que se deparará somente com mais um livro didático de história cujo objetivo geralmente resume-se a fornecer datas, locais e personagens, fazendo o leitor não especializado entediar-se rapidamente. Longe disso! Ao ler Charles Williams, o leitor se certificará que sua prosa é construída com invulgar capacidade, própria dos grandes literatos (não à toa ele fora elogiado pelo poeta e crítico norte-americano T. S. Eliot). Aliás, ele, ao lado do conhecidíssimo C. S. Lewis — sobre quem exerceu enorme influência — e J. R. R. Tolkien, formavam o The Inklings, um grupo de discussão sobre literatura. Sinceramente não conhecia Charles Williams e penso que a maioria dos leitores brasileiros também não o conhece, pois esta é a sua primeira obra traduzida para o nosso vernáculo. Contudo, asseguro aos leitores que tanto apreciam o autor de Cristianismo Puro e Simples, que podem comemorar o fato de contar com mais um autor anglicano cujo estilo em nada deixa a dever ao “mais relutante dos convertidos”.
A coinerência
A comunidade cristã brasileira, seja evangélica ou não, quer carismática ou não, ganha com a publicação desta obra, posto ela marcar o pioneirismo da literatura cristã na abordagem de um dos temas mais negligenciados do edifício teológico que é a doutrina do Espírito Santo (pneumatologia). Não apenas isso, mas a forma muito original e sutil de tratar da atuação da “Pomba”, e o quanto Ela parece ser uma presença inconveniente e propositalmente esquecida, despertam-nos para a verdade de que, mesmo tendo decorrido mais de oitenta anos desde a publicação da primeira edição de A Descida da Pomba, a obra permanece atual, pois ainda são muito tímidas as produções exclusivamente dedicadas a terceira Pessoa da Trindade. Tal observação reveste-se de particular relevância vinda de um pentecostal que faz mea-culpa a respeito deste déficit.

NOTA
1 CONGAR, Yves. Revelação e Experiência do Espírito. 2.ed. São Paulo: Paulinas, 2009, p. 34 (Coleção Creio no Espírito Santo 1).
• César Moisés Carvalho, pastor assembleiano, pós-graduado em Teologia pela PUC-Rio e mestrando em História pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Autor de, entre outros, Pentecostalismo e Pós-Modernidade (CPAD).
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