Opinião
- 10 de setembro de 2009
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Uma arca abarrotada de ouro na curva do Rio Jordão
Derval Dasilio
Essa é a mensagem da bandeira do Estado de Israel na fachada da Catedral da IURD? Solidariedade explicita ao massacre sistemático de muçulmanos inocentes no Oriente Médio? O sionismo neoevangélico é uma boa caricatura do que acontece neste Brasil evangélico estranhamente solidário a Israel. Há uma febre judaizante. Restaria saber se os demais apóstolos (alguns, judeus palestinos) aceitariam o “evangelho” turístico neopentecostal. O grande sonho da elite evangélica é ir passear em Jerusalém: território que aponta para Sião, “nossa santa e bela cidade”, com pedrinhas de brilhantes “só pra ver Jesus passar”... Quem sabe não passa mesmo? Mas a escala em Paris e Veneza é obrigatória. Romance embalado com o gospel milionário e meloso no iPod (descubra as raízes da fé cristã: visite Yardenit, onde Jesus foi batizado por João Batista), como na novela sobre a Índia brasileira da Globo, para milionários, fundo musical em “jazz” de Frank Sinatra.
Daí se construiu toda uma ideologia idolátrica e romântica da Terra Santa: lá o batismo é mais santificado, a água é mais poderosa (embora a ideal, importada, seja mais cara que champanhe Don Pérignon Brut ou Vintage Rosé, 1996, mil reais a garrafa). Lá as pedras são sagradas, as folhas das árvores despoluídas espiritualmente. Faz um bem danado ao crente rebatizado! A água do Jordão, não a champanhe. Até o evangélico Bush foi lá, como bom fundamentalista, renascido, como carismáticos da Renascer em Cristo, dos famosos Hernandez e suas algemas eletrônicas, e do craque do Real Madri, Kaká, que pretende ser um de seus pastores ao aposentar-se do futebol. Tal e qual sua esposa, pastora Caroline Celico, que acaba de fundar uma comunidade/comodities em Madri (dinheiro é bom, principalmente na nossa mão...). A justiça norte-americana bloqueou bens do casal Hernandez, como a mansão em Boca Raton, avaliada em 495 mil dólares. Mas não alcança a fazenda em Mairinque, comprada por 1,8 milhões de reais. Meros sinais da teologia da prosperidade (deles)? Que água consomem ali, naquele paraíso? Aquela que passarinho não bebe?
Muita gente ganha dinheiro com esse comércio imoral e pagão (cf. Simão o mágico, At 8.9-24), vendendo porções de “terra santa” e garrafinhas de água do Rio Jordão com propriedades milagrosas, depois de pregações sionistas em templos evangélicos. Um subproduto desta bobagem é o "apoio incondicional a Israel" (palavras dos pastores). Afinal, foi dito a Abraão: "Abençoarei os que te abençoarem". “E não há nenhum esforço para ver qual a diferença entre Ariel Sharon e Abraão” (Gedeon Alencar). E mesmo para identificar islâmicos como ramos da mesma e abençoada árvore abraâmica.
Na realidade, há árabes cristãos, libaneses, drusos e judeus sefaradies que não assimilaram a cultura sionista apreciada por neoevangélicos. Por sua vez, o termo “israelita” é aplicado aos seguidores do culto, e o “israelense” aos cidadãos do Estado de Israel. Todos esqueceram que, desde Esdras e Neemias, o termo adequado seria “judeu”, exterminada a religião de Javé, com o exílio babilônico (e só profetas anteriores falam do “resto de Israel”) e na diáspora. Jesus, saudoso do “resto javista” original, combateu vigorosamente os resultados dos últimos trezentos anos sob gregos e romanos e seu “helenismo” introdutor do capitalismo imperial monetarista, opressor e escravagista, no mundo mediterrânico. Má geografia, péssima memória histórica, em competições de estupidez teológica.
De fato, hoje, entre judeus históricos e israelenses são mais de 80% o grupo nacional formado por ateus ou agnósticos. Há apenas cidadãos de um Estado e seguidores de uma cultura, mas não praticantes de uma religião bíblica. Israelenses islâmicos, cristãos e drusos, embora registrados como cidadãos e portadores do passaporte de Israel, vêm, a seguir, em ordem decrescente pirâmide abaixo, de patins: drusos, árabes-cristãos (grego-ortodoxos, sírio-ortodoxos, armênios, coptas, uniatas, latinos, protestantes). Mais recentemente, tem surgido, segundo Robinson Cavalcanti, uma reduzidíssima expressão: judeus messiânicos, evangélicos judeu-cristãos. Árabes-islâmicos (com suas clássicas divisões) compõem o cenário. Miríade pluralista que não perde para o cristianismo brasileiro.
• Derval Dasilio é pastor da Igreja Presbiteriana Unida do Brasil. www.derv.wordpress.com
Essa é a mensagem da bandeira do Estado de Israel na fachada da Catedral da IURD? Solidariedade explicita ao massacre sistemático de muçulmanos inocentes no Oriente Médio? O sionismo neoevangélico é uma boa caricatura do que acontece neste Brasil evangélico estranhamente solidário a Israel. Há uma febre judaizante. Restaria saber se os demais apóstolos (alguns, judeus palestinos) aceitariam o “evangelho” turístico neopentecostal. O grande sonho da elite evangélica é ir passear em Jerusalém: território que aponta para Sião, “nossa santa e bela cidade”, com pedrinhas de brilhantes “só pra ver Jesus passar”... Quem sabe não passa mesmo? Mas a escala em Paris e Veneza é obrigatória. Romance embalado com o gospel milionário e meloso no iPod (descubra as raízes da fé cristã: visite Yardenit, onde Jesus foi batizado por João Batista), como na novela sobre a Índia brasileira da Globo, para milionários, fundo musical em “jazz” de Frank Sinatra.
Daí se construiu toda uma ideologia idolátrica e romântica da Terra Santa: lá o batismo é mais santificado, a água é mais poderosa (embora a ideal, importada, seja mais cara que champanhe Don Pérignon Brut ou Vintage Rosé, 1996, mil reais a garrafa). Lá as pedras são sagradas, as folhas das árvores despoluídas espiritualmente. Faz um bem danado ao crente rebatizado! A água do Jordão, não a champanhe. Até o evangélico Bush foi lá, como bom fundamentalista, renascido, como carismáticos da Renascer em Cristo, dos famosos Hernandez e suas algemas eletrônicas, e do craque do Real Madri, Kaká, que pretende ser um de seus pastores ao aposentar-se do futebol. Tal e qual sua esposa, pastora Caroline Celico, que acaba de fundar uma comunidade/comodities em Madri (dinheiro é bom, principalmente na nossa mão...). A justiça norte-americana bloqueou bens do casal Hernandez, como a mansão em Boca Raton, avaliada em 495 mil dólares. Mas não alcança a fazenda em Mairinque, comprada por 1,8 milhões de reais. Meros sinais da teologia da prosperidade (deles)? Que água consomem ali, naquele paraíso? Aquela que passarinho não bebe?
Muita gente ganha dinheiro com esse comércio imoral e pagão (cf. Simão o mágico, At 8.9-24), vendendo porções de “terra santa” e garrafinhas de água do Rio Jordão com propriedades milagrosas, depois de pregações sionistas em templos evangélicos. Um subproduto desta bobagem é o "apoio incondicional a Israel" (palavras dos pastores). Afinal, foi dito a Abraão: "Abençoarei os que te abençoarem". “E não há nenhum esforço para ver qual a diferença entre Ariel Sharon e Abraão” (Gedeon Alencar). E mesmo para identificar islâmicos como ramos da mesma e abençoada árvore abraâmica.
Na realidade, há árabes cristãos, libaneses, drusos e judeus sefaradies que não assimilaram a cultura sionista apreciada por neoevangélicos. Por sua vez, o termo “israelita” é aplicado aos seguidores do culto, e o “israelense” aos cidadãos do Estado de Israel. Todos esqueceram que, desde Esdras e Neemias, o termo adequado seria “judeu”, exterminada a religião de Javé, com o exílio babilônico (e só profetas anteriores falam do “resto de Israel”) e na diáspora. Jesus, saudoso do “resto javista” original, combateu vigorosamente os resultados dos últimos trezentos anos sob gregos e romanos e seu “helenismo” introdutor do capitalismo imperial monetarista, opressor e escravagista, no mundo mediterrânico. Má geografia, péssima memória histórica, em competições de estupidez teológica.
De fato, hoje, entre judeus históricos e israelenses são mais de 80% o grupo nacional formado por ateus ou agnósticos. Há apenas cidadãos de um Estado e seguidores de uma cultura, mas não praticantes de uma religião bíblica. Israelenses islâmicos, cristãos e drusos, embora registrados como cidadãos e portadores do passaporte de Israel, vêm, a seguir, em ordem decrescente pirâmide abaixo, de patins: drusos, árabes-cristãos (grego-ortodoxos, sírio-ortodoxos, armênios, coptas, uniatas, latinos, protestantes). Mais recentemente, tem surgido, segundo Robinson Cavalcanti, uma reduzidíssima expressão: judeus messiânicos, evangélicos judeu-cristãos. Árabes-islâmicos (com suas clássicas divisões) compõem o cenário. Miríade pluralista que não perde para o cristianismo brasileiro.
• Derval Dasilio é pastor da Igreja Presbiteriana Unida do Brasil. www.derv.wordpress.com
É pastor emérito da Igreja Presbiteriana Unida do Brasil e autor de livros como “Pedagogia da Ganância" (2013) e "O Dragão que Habita em Nós” (2010).
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