Opinião
- 12 de fevereiro de 2021
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Um tempo desafiador e, quem sabe, de revisão de vida
Por Taís Machado
Nestes tempos pandêmicos assistir filmes e séries é algo que muita gente tem feito, às vezes, com maior frequência. E o documentário Dilema das Redes (Netflix) é um que tem sido bastante comentado. Nele, um ex-funcionário do Facebook diz: “As melhores cabeças da minha geração estão pensando em como fazer as pessoas clicarem em anúncios”. Aí, o jovem historiador holandês, Rutner Bregmnan, acrescentou: “Você tem essas pessoas muito inteligentes que estudaram nas melhores universidades, e nós pagamos caro pela educação brilhante deles, mas então eles se formam e vão trabalhar nesses empregos estúpidos. Eles fazem isso por 20 anos, ficam muito ricos e daí tem uma crise da meia-idade. Ficam completamente deprimidos porque a alma deles foi destruída. E então eles decidem que querem se tornar professores... Ué, por que não fizeram isso lá atrás?”, e arremeta: “A escola do futuro não deveria preparar as pessoas só para ganhar tanto dinheiro quanto possível, mas para viver uma vida bem vivida, para tentar acrescentar algo à sociedade”. Pois é, com a pandemia nos deparamos com revelações do tipo, “há coisas destruindo minha alma”, e “o que é ter uma vida bem vivida”, ou seja, tivemos que rever nossos valores pessoais, mas também como sociedade, ponderá-los. Todos fizeram isso? Não. Mas, muitos fizeram, e tem conversado a respeito. O pessoal da área da saúde, da ciência, os professores, artistas, coletores de lixo etc., fazem parte daquilo que seriam trabalhos essenciais, sobretudo, em meio a uma crise como essa. Passaremos a valorizá-los mais?
Tenho me lembrado muito da conversa da jornalista, Eliane Brum, que há anos faz uma reportagem, que deve virar livro (e quem não assistiu ao documentário “Eu + 1”, vale a pena), e relata a conversa com famílias ribeirinhas ali do Rio Xingu, onde perguntou a elas: “O que é uma pessoa rica? E ouviu como resposta: “é quem não precisa de dinheiro”. Então, perguntou: “E o que é ser pobre?”, e responderam: “é não ter escolha”. Acompanhando os estragos que tantas famílias viveram e vivem com a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, ela nos provoca a pensar a vida, nossos valores e o que chamamos de riqueza.
Vivendo situações de crise, somos ainda mais desafiados a refletir sobre nossas escolhas e a vida que buscamos. Lembro-me também da fala do teólogo e professor José Grau: “Não podemos dar-nos ao luxo de pensar pouco. Este luxo tem um preço demasiado terrível: a perda da liberdade”. Situações mais difíceis exigem reflexões mais profundas e, para nós, claro, ouvir melhor a Deus. Foi o que o apóstolo Paulo fez lá em Mileto, ao chamar os presbíteros e contar o que tinha ouvido de Deus, e então, comunicar sua decisão, que implica em uma despedida definitiva: “Agora, impelido pelo Espírito, vou a Jerusalém. Não sei o que me espera ali, senão que o Espírito Santo me diz, em todas as cidades, que tenho pela frente prisão e sofrimento. Mas minha vida não vale coisa alguma para mim, a menos que eu a use para completar minha carreira e a missão que me foi confiada pelo Senhor Jesus: dar testemunho das boas-novas da graça de Deus” (Atos 20.22-24).
É bonito ver que mesmo tendo ouvindo do Espírito de Deus que o que lhe aguardava logo à frente seria “prisão e sofrimento”, ainda assim, não apenas não desiste, quanto se apressa em ir para lá. E que entendia que sua vida só fazia sentido se fosse para cumprir a missão que tinha, e para tal vivia: espalhar mais da graça de Deus pelo mundo. Notícias pouco animadoras num futuro próximo não o parou. Não optou por uma situação mais confortável, antes, por obedecer ao seu chamado. Que o Espírito de Deus nos auxilie a ouvir melhor sobre o que realmente importa e a missão que temos à frente.
• Taís Machado, psicoterapeuta e pastora em São Paulo.
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