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- 20 de dezembro de 2011
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Lixo pode sepultar a humanidade segundo professor da USP
(ALC) Se medidas urgentes não forem tomadas, o que a humanidade descarta como lixo poderá sepultar e envenená-la, afetando-a de modo sem precedentes. É preciso repensar o estilo de vida e tratar de reduzir o consumo, reutilizar e reciclar materiais descartáveis.
O alerta é do antropólogo social e professor da Universidade de São Paulo, Maurício Waldman, em entrevista ao Instituto Humanitas, de São Leopoldo. Os habitantes do planeta movimentam cerca de 48 bilhões de toneladas por ano, dos quais 30 bilhões viram lixo.
A temática do lixo está visceralmente associada ao modo de vida moderno. “Vivemos numa sociedade que – como dizia o pensador francês Abraham Moles – produz para consumir e cria para produzir, num ciclo em que a noção fundamental é a velocidade e a descartabilidade dos materiais enquanto vetor fundamental”, disse o antropólogo.
A sociedade moderna, admoestou Waldman, é a primeira na qual o lixo tornou-se eminentemente artificial. Ele é formado por substâncias e materiais de difícil absorção pelos ciclos naturais, quando não representam um perigo real para todas as formas de vida.
Waldman arrolou as três substâncias mais perigosas conhecidas pela ciência e que são resíduos: as dioxinas, que resultam da combustão do lixo, o chorume, que provém da degradação úmida do lixo urbano, e o plutônio, que é o lixo nuclear.
A era do obsoletismo tem que acabar, proclama o professor da USP, conclamando a indústria para que faça a sua parte. Em 1997, exemplificou, a vida útil de um computador era, em média, de seis anos. Hoje, a validade desses produtos foi abreviada para algo em torno de dois anos.
Os restos eletrônicos são um estorvo ambiental de primeira linha. “Um simples monitor pode requerer 300 anos para se decompor”, afirmou, destacando que a sucata eletrônica perfaz cerca de 70% dos metais pesados presentes no solo.
Está em formação um continente artificial de plástico no Oceano Pacífico, conhecido como Grande Vórtice de Lixo do Pacífico. Esse território é constituído por 100 milhões de toneladas de refugos, numa extensão duas vezes maior que a superfície do Brasil, metade da África ou 8% do Pacífico.
No Brasil, as classes abastadas geram entre 1,5 a 2,0 quilos de lixo por habitante, por dia, enquanto nos segmentos mais pobres esse índice cai para 0,3 quilos/habitante/dia ou até menos, destacou o antropólogo.
Waldman descartou a relação mecânica de crescimento populacional e geração de lixo. As 13 cidades mais populosas do país, arrolou, contam com um quinto da população brasileira que geram 31,9% do lixo residencial. Já os 200 municípios mais populosos – 3,59% do total de municípios – são responsáveis por 60% do lixo urbano.
São Paulo, capital, só fica atrás de Nova Iorque e Tóquio na produção de lixo e ela não é a terceira cidade mais rica do planeta. A paulicéia tem o décimo PIB urbano mundial. Dentro desse foco relacional, a população brasileira representa 3% do total da população da Terra, seu PIB corresponde a 3,5% da riqueza global, mas descarta 5,5% dos resíduos planetários, comparou.
Waldman frisou, ainda, que as espécies estão ameaçadas porque a civilização moderna consome, como nunca o fez na história, os recursos dos ambientes onde insetos, aves, peixes, anfíbios, répteis e mamíferos vivem e se reproduzem. O professor da USP é autor do livro “Lixo: cenários e desafios”.
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