Opinião
- 01 de abril de 2019
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Um dilema moderno: ciência versus sapiência
Por Paulo F. Ribeiro
Lemos na Bíblia que devemos buscar a sabedoria a todo custo, pois uma das consequências e promessas (tentadoras) será uma vida longa. Mas como obter sabedoria para os desafios de hoje?
Lemos na Bíblia que devemos buscar a sabedoria a todo custo, pois uma das consequências e promessas (tentadoras) será uma vida longa. Mas como obter sabedoria para os desafios de hoje?
A seguir, listo 10 proposições que espero nos ajude nessa busca.
1. Informação e conhecimento. Necessários, mas não suficientes para garantir sabedoria. Precisamos de Ciência, mas bem mais de Sapiência (sabedoria metafísica). Homo Sapiens tem se tornado Homo Science. O filósofo francês Maritain disse: ciência sem sapiência é cega e a salvação da cultura humana em sua totalidade consiste em nunca perder de vista a sabedoria metafísica. Prudência e justiça são virtudes para todo tempo e lugar, enquanto conhecimento científico é subordinado à racionalidade moral.
2. Visão cósmica coerente para entender melhor a vida. O caos intelectual e moral do nosso tempo tem sido uma consequência, em parte, da transformação do sistema educacional (do primário à universidade) num supermercado - que supre as necessidades específicas de curto prazo sem a preocupação com valores morais e permanentes. Contudo o desejo de mudança tem intoxicado a tecnologia e a educação a buscar inovações (falsas), de forma a mostrar que emula o paradigma científico.
3. Fragmentação da educação. E também a especialização nos ensinou a olhar para as coisas de maneira analítica linear, reducionista. Nós nos concentramos em encontrar uma solução rápida, eficiente, pragmática, a mais econômica .. para o curto prazo. A obsessão com os meios, com a utilidade, com a tecnologia, com a exclusão dos fins e propósitos são hoje a essência tanto da educação como da maneira de agir na sociedade.
4. Pensar de maneira sistêmica, racional, normativa. Pensar considerando todas as consequências de longo prazo que podem resultar de nossas escolhas, decisões e riscos envolvidos. Precisamos lembrar que a validade do pensamento racional e argumentos são pressuposições nos quais o pensamento científico se baseia, mas não são científicos eles mesmos: eles são filosóficos. Ciência depende de filosofia para validar termos, procedimentos. Dizer que só o que factual é válido não é somente dogmático mas contraditório, uma vez que esta declaração não é factual.
5. Uma visão mais ampla. Quando não olhamos para as coisas através de múltiplos ângulos e perspectivas, negligenciamos resultados negativos não intencionais. E isso é importante quanto mais complexos os sistemas-projetos-relacionamentos-decisões se tornam.
6. É preciso assumir responsabilidades. Precisamos aceitar a responsabilidade pelas consequências negativas não intencionais das nossas ações baseadas apenas no conhecimento específico de um aspecto. Precisamos lembrar que a ciência-tecnologia é um bom servo, mas um mau mestre, um bom método para investigar e desenvolver o mundo material, mas não para decidir o que fazer com o conhecimento e poder adquiridos.
7. Reconhecer os limites. Precisamos lembrar que a resiliência, a confiabilidade e a estabilidade de tudo tem a tendência de diminuir com o tempo. A visão intoxicante de que "conhecimento é poder" desregulada pela consciência cientificista e tecnocrata tem produzido muitos desastres em todo o mundo. Precisamos identificar as limites, fronteiras e interfaces e entender profundamente os problemas que estamos tentando resolver. Quando não reconhecemos estes limites, o sistema / natureza fará isso por nós. Mariana e Brumadinho nunca mais – esperamos todos.
8. Tudo pode mudar. Para melhorar a qualidade das nossas decisões, precisamos reunir todas as informações e não apenas determinados parâmetros e elementos relacionados às nossas responsabilidades; e, também, não esperar por soluções mágicas. Como nos dizia Lewis: "Há algo que une magia e ciência aplicada, separando ambos da sabedoria de idades anteriores. Para os sábios do passado, o problema Cardeal tinha sido como conformar a alma à realidade, e a solução tinha sido o conhecimento, a autodisciplina e a virtude. Para a magia e a ciência aplicada, o problema é como subjugar a realidade aos desejos dos homens: e a solução é a tecnologia."
Portanto precisamos lembrar que os parâmetros são importantes para nos ajudar a avaliar o desempenho de um sistema ou uma decisão, mas apenas a curto prazo, pois as condições podem mudar abruptamente. Mas não podemos reagir de forma emotiva e impulsiva.
9. Pensamento sistêmico. Devemos lembrar de que o pensamento holístico e sistêmico é uma mudança paradigmática na qual passamos a olhar a realidade de forma holística em termos específicos de planejamento, filosofia, operação, controle de nossas ações e realidade contextual. E essa visão requer moderação (Filipenses 4.5). Um exemplo de aplicação desta perspectiva sistêmica e consistente é nos dada por Owen Barfield que, quando perguntado sobre o sucesso das palavras do seu amigo C.S. Lewis, disse: “De alguma forma o que ele acreditava estava secretamente presente no que ele dizia sobre qualquer coisa.” Que possamos desenvolver tal disposição de ousar e expressar tal consistência em nossas vidas e decisões.
10. Adquirir a sabedoria. Em Provérbios lemos: “Adquire a sabedoria, adquire a inteligência e não te esqueças nem te apartes das palavras da minha boca. Não desampares a sabedoria, e ela te guardará; ama-a, e ela te conservará. A sabedoria é a coisa principal; adquire, pois, a sabedoria; sim, com tudo o que possuis, adquire o conhecimento. Exalta-a, e ela te exaltará; e, abraçando-a tu, ela te honrará”. Infelizmente achamos que conhecemos todas as respostas – até que a realidade da vida nos confronta de forma inequívoca e trágica. Portanto,precisamos seguir o conselho de Tiago 1.5 que nos lembra, assim como Salomão, de pedirmos por sabedoria – e Aquele que é a fonte de toda sabedoria nos dará liberalmente.
Aprendi muito quando jovem com um pescador que já estava quase cego quando o conheci. Irmão Baca, como todos o chamavam, era uma fonte de sabedoria. O sol causticante da costa nordestina durante muitos anos de trabalho tinham tirado a sua visão. Mas, tenho certeza que as longas horas de espera em alto mar davam a ele a oportunidade de meditar na Palavra – a fonte de sua sabedoria. Que em 2019 possamos fiar-nos na recomendação do Salmo 90.12: Ensina-nos a contar os nossos dias para que o alcancemos corações sábios.
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Doutor em Engenharia Elétrica pela Universidade de Manchester, na Inglaterra, foi Professor em Universidades nos Estados Unidos, Nova Zelândia e Holanda, e Pesquisador em Centros de Pesquisa (EPRI, NASA). Atualmente é Professor Titular Livre na Universidade Federal de Itajubá, MG. É originário do Vale do Pajeú e torcedor do Santa Cruz.
>> http://lattes.cnpq.br/2049448948386214
>> https://scholar.google.com/citations?user=38c88BoAAAAJ&hl=en&oi=ao
Pesquisa publicada recentemente aponta os cientistas destacados entre o “top” 2% dos pesquisadores de maior influência no mundo, nas diversas áreas do conhecimento. Destes, 600 cientistas são de Instituições Brasileiras. O Professor Paulo F. Ribeiro foi incluído nesta lista relacionado a área de Engenharia Elétrica.
>> http://lattes.cnpq.br/2049448948386214
>> https://scholar.google.com/citations?user=38c88BoAAAAJ&hl=en&oi=ao
Pesquisa publicada recentemente aponta os cientistas destacados entre o “top” 2% dos pesquisadores de maior influência no mundo, nas diversas áreas do conhecimento. Destes, 600 cientistas são de Instituições Brasileiras. O Professor Paulo F. Ribeiro foi incluído nesta lista relacionado a área de Engenharia Elétrica.
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