Opinião
- 18 de agosto de 2023
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Transformações diaconais – cristãos em ação
Por Bebeto Araújo
Quanto mais eu conheço Jesus, mais eu descubro o desejo intenso de Deus de transformar o mundo.
Este mundo quebrado, marcado por tantos conflitos, injustiça, desigualdade, opressão, pobreza, indiferença e morte continua sendo o mundo amado por Deus. O mundo pelo qual Deus não desistiu de lutar por sua renovação. Jesus disse: “Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também.” (Jo 5.17). O apóstolo Paulo, escrevendo aos coríntios, diz que o trabalho do Pai - ou a sua Missão – é, por meio de Cristo, reconciliar com ele mesmo toda a sua criação, o que obviamente inclui a humanidade. Mas isso não é tudo! O texto nos diz que, além de nos reconciliar com ele, Deus nos confiou “o ministério (em grego: diakonia) da reconciliação” (2Co 5.18-19).
Percebam que a Missão de Deus tem em Jesus de Nazaré o seu centro, mas não o seu fim. Jesus liberta e restaura pessoas, integra essas pessoas em comunidades de fé e envia essas pessoas como agentes da missão de Deus no mundo. Gente que foi transformada e que se junta a outros para transformar tudo aquilo que contraria os propósitos de Deus para a vida em sociedade e para toda a sua criação.
Eu tive acesso a Bíblia aos 22 anos de idade. Depois de oito meses lendo e relendo os evangelhos eu tive uma experiência pessoal com Cristo que começou a mudar minha maneira de ler a vida, as pessoas e a própria razão da minha existência no mundo. Pasmem, passei a enxergar a pessoas que viviam nas ruas da cidade. Ao vê-las uma pergunta vinha à mente: “o que Jesus faria por essas pessoas se ele estivesse aqui?”. Logo brotava uma resposta: “ele faria algo prático para que essas pessoas pudessem experimentar o amor de Deus por elas”.
Então eu convidei um amigo e nós preparamos café com leite e pão com queijo para oferecer para algumas pessoas nas ruas. Oramos e saímos, sem muitos planos, apenas com o desejo de fazer conexões, dizer para essas pessoas que elas importam para Deus, afirmar a sua dignidade e tomar um café com elas. Nas ruas, em um lugar nada atrativo, tive algumas experiências que transformaram a minha vida e me ensinaram lições que eu carrego até hoje.
A primeira pessoa que eu conheci foi um senhor que estava se preparando para dormir na calçada. Me aproximei, perguntei o seu nome e lhe disse: “o senhor aceita um café com leite e um pão com queijo?”. Antes de dizer “sim” ou “não”, aquele homem olhou nos meus olhos e disse: “Irmão, foi Deus quem mandou você aqui”. Foi a primeira vez que alguém me chamou de “irmão”. Então eu me sentei no chão com aquele homem e lhe perguntei: “por que o senhor está dizendo que “foi Deus que enviou aqui”? Ele prontamente me respondeu: “eu estava pedindo a Deus para não dormir mais uma noite com fome e ele ouviu a minha oração”. Logo eu aprendi que a resposta de Deus para que está com fome não é um sermão ou um culto, é comida.
Depois de ouvir a história de dores daquele homem e orar com ele, quando estava saindo ele me disse: “irmão, você veio aqui porque Deus não esqueceu de mim...”. Ao contrário do que muitos cristãos que conheço pensam, aquele pão, para o Francisco, não alimentou apenas o seu corpo, alimentou também a sua fé e esperança de que ele poderia sair daquela situação em que se encontrava porque Deus estava com ele. O Salmo 146. 6 e 7 diz que o Criador dos céus e da terra “Faz justiça aos oprimidos e alimenta os famintos. O Senhor liberta os prisioneiros.”
Deus faz justiça aos oprimidos, alimenta os famintos e liberta os cativos. Uma pergunta básica que precisamos fazer é: Como? Como Deus faz isso? A resposta também é básica: através de pessoas imperfeitas e limitadas, como eu e você. A grande maioria dos cristãos do mundo sabe disso, a questão é: o que fazemos com aquilo já sabemos que é vontade de Deus?
Na condição de discípulo de Jesus eu entendi que não bastava saber que algo poderia ser feito em relação as pessoas que estão sofrendo e cruzavam o meu caminho, eu precisava fazer algo que pudesse trazer algum alívio e esperança para essas pessoas. Estou convencido de que o mundo não precisa de uma igreja composta de pessoas que apenas sabem o que deve fazer, o mundo precisa de uma igreja composta de homens e mulheres que sabem o que devem fazer e fazem o que precisa ser feito para que mais e mais pessoas possam experimentar de maneira prática o grande amor de Deus por elas. À luz do ensino do Novo Testamento, esta maneira prática de demonstrar ou encarnar o amor de Deus no mundo é diaconia1.
Costumamos afirmar que Deus é o Senhor da Missão, mas ele também é o “Engenheiro da Missão”. Ele nos indica como devemos fazer o que ele espera. Portanto, nós precisamos perguntar para ele o que o Senhor exige de nós, seus colaboradores?
1º Que sejamos solidários, pois, para os que temem a Deus, a solidariedade não é uma escolha, mas um mandamento.
Os seres humanos têm a obrigação de zelar por seus semelhantes. Deus determina: “Cada um ame o seu próximo como a si mesmo” (Lv 19.18). Deus espera dos seus filhos e filhas uma conduta ativa de ajuda ao que sofre: “Não fiquem de braços cruzados quando a vida do seu próximo correr perigo” (Lv 19.16).
Toda situação de sofrimento representa um apelo de Cristo para agirmos de forma transformadora a partir da nossa fé, conforme atesta o evangelista Mateus:
Pois eu tive fome, e vocês me deram de comer; tive sede, e vocês me deram de beber; fui estrangeiro, e vocês me acolheram; necessitei de roupas, e vocês me vestiram; estive enfermo, e vocês cuidaram de mim; estive preso, e vocês me visitaram’. Então os justos lhe responderão: ‘Senhor, quando te vimos com fome e te demos de comer, ou com sede e te demos de beber? Quando te vimos como estrangeiro e te acolhemos, ou necessitado de roupas e te vestimos? Quando te vimos enfermo ou preso e fomos te visitar?’ O Rei responderá: ‘Digo-lhes a verdade: o que vocês fizeram a algum dos meus menores irmãos, a mim o fizeram’.
(Mt 25.35-40)
No judaísmo, a palavra que denomina solidariedade é tzedaka, que quer dizer “fazer justiça”. Ou seja, a nossa prática diaconal deve ter em seu horizonte ações que confrontam e denunciam a concentração de poder, bens e recursos nas mãos de alguns e que estão gerando, para muitos, desigualdade, sofrimento, pobreza e morte. Eu estou cada dia mais convencido que o maior problema do mundo não é a pobreza, o maior problema do mundo é a ganância.
3º Que lutemos, juntos, contra toda forma de opressão, pois a pobreza não vai desaparecer espontaneamente...
... Por isso Deus levantou os profetas no Antigo Testamento - para denunciar o pecado estrutural que estava minando as próprias bases da sociedade judaica. O profeta Isaías levanta a sua voz denunciando a espiritualidade estéril de Israel, uma espiritualidade que não produzia frutos de justiça. Além da denúncia, ele aponta para o tipo de espiritualidade que Deus espera do seu povo: liberte os pobres da opressão, compartilhe o pão com os famintos, abrigue os desamparados e vista o que está nu (Is 58).
... Por isso Jesus veio e anunciou libertação e vida digna para todos aqueles que estavam oprimidos - quer seja esta opressão de natureza política, econômica ou espiritual (Lc 4.18).
... Por isso a igreja nasce como um movimento de pessoas simples e corajosas que, guiadas pelo Espírito Santo, saíram pelo mundo anunciando a todos que o Reino de Deus é um reino de justiça, paz e alegria (Rm 14.17). Um Reino onde aquele que tem muito, não constrói muros, aquele que tem muito aumenta o tamanho da sua mesa, para que assim "haja igualdade" (2Co 8.14).
Concluo fazendo-os lembrar que Jesus Cristo afirmou que os seus seguidores são como lâmpadas: “Vocês são a luz do mundo” (Mt 5.14). Observem que, curiosamente, essas palavras são uma descrição e não um desafio. Jesus não nos chama para ser luz; em vez disso, ele diz que somos luz. As nossas obras de misericórdia e justiça testemunham que este mundo, por mais sombrio e escuro que esteja, é o mundo que Deus ama e que ele irá restaurar por completo. A prática das boas obras revela o caráter de Cristo, abençoa as pessoas e resulta em glória para o nosso Pai celestial. Definitivamente, um mundo em trevas não precisa de lâmpadas escondidas dentro dos templos.
Nota
1. Diaconia é uma palavra utilizada cerca cem vezes no Novo Testamento. A Diaconia tem em Jesus de Nazaré o seu modelo e exemplo (Mc 10.45; Jo 13.14,15). Ele cuidou das pessoas, curou os enfermos, mostrou o caminho aos perdidos, ministrou aos pobres, tocou nos impuros, libertou os oprimidos, abraçou os marginalizados e confrontou a injustiça. A diaconia é a resposta bíblica a situações concretas de sofrimento, necessidade e injustiça; é o cumprimento do mandamento do amor e, em tudo isso, é uma expressão do que a igreja crê e confessa: a graça de Deus para a cura do mundo.
Nota
1. Diaconia é uma palavra utilizada cerca cem vezes no Novo Testamento. A Diaconia tem em Jesus de Nazaré o seu modelo e exemplo (Mc 10.45; Jo 13.14,15). Ele cuidou das pessoas, curou os enfermos, mostrou o caminho aos perdidos, ministrou aos pobres, tocou nos impuros, libertou os oprimidos, abraçou os marginalizados e confrontou a injustiça. A diaconia é a resposta bíblica a situações concretas de sofrimento, necessidade e injustiça; é o cumprimento do mandamento do amor e, em tudo isso, é uma expressão do que a igreja crê e confessa: a graça de Deus para a cura do mundo.
REVISTA ULTIMATO | MAMOM VERSUS DEUS
Ao todo, Jesus contou 38 parábolas. Mais de um terço delas trata de assuntos ligados a posses e riquezas. Há cerca de quinhentos versículos sobre oração na Bíblia. Sobre dinheiro e posses são mais de 2.300.
As Escrituras se ocupam desse assunto porque ele é crucial para a fé. Trata-se de onde colocamos nossos afetos e a quem seguimos. Jesus adverte: “Onde estiver o seu tesouro, aí estará também o seu coração” (Mt 6.21).
Saiba mais:
» Caminhos de Um Evangelho Integral - Um roteiro teológico, Valdir Steuernagel (editor)
» A Igreja, o País e o Mundo - Desafios a uma fé engajada, Robinson Cavalcanti
» O Discípulo Radical, John Stott
» A diaconia como púlpito do evangelho de Jesus Cristo e engrandecimento de Deus no Brasil
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