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Opinião

Teus altares (Salmo 84)

Jorge Camargo

O Salmo 84 é um de meus textos preferidos das Escrituras. De sua leitura constante até a canção foi um salto. 

O ano em que escrevi essa melodia, coincidentemente, foi 1984. 

Lembro-me vividamente de estar sentado sobre o tapete da sala, que também foi meu quarto por muitos anos. À medida que a melodia se encaixava na harmonia simples, a emoção aumentava, e lágrimas corriam por minha face. 

A batida que eu utilizava me fazia lembrar "Meu bem querer", do Djavan, que fazia muito sucesso na época, inspiração que a princípio rejeitei. (Bobagens estéticas e religiosas -- a música do Djavan é tão linda e inspiradora quanto o Salmo). 

Meus pais, de origem humilde, abrigaram minha avó materna, dona Olga, uma mulher de olhos claros, azuis como o mar de Maceió, de gênio forte, marcada pela dor e pela luta. Filha de italianos, era ex-funcionária de fábrica no tradicional bairro do Brás, em São Paulo, por muito tempo reduto da comunidade italiana da cidade. Até os 35 anos havia tido dez filhos e perdido oito deles antes dos dois anos de idade. 

Como morávamos os quatro em uma casa de apenas um quarto, minha avó e eu dividíamos a sala, ela em sua cama, eu no sofá. 

Foi assim até sua morte em 1980, quando eu tinha 17 anos. A partir de então, ganhei meu quarto-sala, espaço onde nasceram minhas primeiras canções e a adaptação desse Salmo. 

A linguagem piedosa do texto -- "o meu coração e a minha carne exultam pelo Deus vivo"; "mais vale um dia nos teus átrios do que mil nas tendas da perversidade"; "porque o Senhor Deus é sol e escudo; o Senhor dá graça e glória, nenhum bem sonega aos que andam retamente" -- cativou meu coração. 

Durante muito tempo eu quis ser como o salmista, como se isso fosse possível. Eu ainda não havia lido "...o qual, passando pelo vale árido...". 

Hoje esta é a parte do Salmo que mais aprecio. Ela faz com que eu me sinta mais conectado com o personagem e com o texto como um todo. 

No ano seguinte (1985), passei a conviver regularmente com Guilherme Kerr, que escreveu a adaptação da terceira estrofe (Pois o Senhor é sol e escudo). O resto... é história. 

Talvez esta seja minha canção mais conhecida Brasil afora, e uma de minhas preferidas. 


Jorge Camargo é intérprete, compositor, músico, poeta, tradutor e mestre em ciências da religião.
Mestre em ciências da religião, é intérprete, compositor, músico, poeta e tradutor.
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