Opinião
- 26 de setembro de 2006
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Teologia Política
Repugnância, nojo, desencanto, desânimo, desilusão são algumas palavras que exprimem o sentimento da maior parte dos brasileiros com o atual quadro político
Christian Gillis
Realmente dá para ficar desmotivado em participar de algo funesto. Por isso alguns falam em anular o voto ou abster-se como forma de protesto.
Mas qual é o dever do cristão para com a sociedade e o Estado no qual se encontra? Diante das eleições surge a pergunta sobre como agir nesse momento.
A Bíblia trata da participação do crente na sociedade e na política:
No AT: José, Moisés, Josué, os Juízes, Davi, os Profetas, Ester, Daniel, Neemias, Esdras, etc.
No NT: Rm 13.1-7: Reconhecer que autoridade é instituída por Deus; At 5.29: Desobediência responsável; Lc 20.22: Legitimidade do Estado e dever de pagar tributo; I Tm 2.1-2: Intercessão; Ap 13: Crítica profética.
O Apocalipse tem uma densa teologia política: Foi escrito a cristãos que se encontravam debaixo de perseguição por parte do Império (para os cristãos era uma questão religiosa; para o Estado uma questão política). O livro é uma denuncia contra o totalitarismo e tirania: nenhum poder terreno é absoluto e só Deus é o soberano final, aquele que vai julgar o mundo. O Cordeiro é apresentado como aquele que derrota aos poderes políticos hostis desse mundo.
Paradoxalmente, os cristãos em geral, negligenciam sua responsabilidade política. Quais as razões?
1. Crença de que a política seja em si mesmo suja;
2. Pessimismo diante da maldade e corrupção humana;
3. Exagero na ênfase na moral individual e subjetiva;
4. Falta de entendimento do processo político;
5. Equívoco quanto a separação entre Estado e Igreja;
6. Apoio tácito à manutenção da ordem vigente;
Sempre houve tensão entre a participação e a separação da sociedade e da política. 1º Alguns optaram por uma ruptura total, isto é, sair do mundo. 2º Outros escolheram um modelo de imersão total e acabaram sendo assimilados pelo mundo. A 3º via é uma postura de participação crítica. I Pd 2.11-17 explicita o que é "Participação Crítica".
Proposição
Deus deseja que cada cristão ajude a construir uma sociedade melhor. Para isso são definidas duas Posturas Sociais básicas.
1ª Postura: Sujeitar-se a toda Instituição Humana (2:13)
As igrejas às quais I Pd se dirige estavam sofrendo uma série de acusações e a tendência natural seria a retração social. Os cristãos são chamados a ter um comportamento social exemplar. Como se dá
esse comportamento exemplar?
Sujeitar (hypotagete) significa colocar-se debaixo, submeter-se, cooperar com a missão; sendo diferente de obedecer (hypakuete). Trata-se de submissão, é voluntária - como livres que sois (2:16) - e que não significa concordância cega com o governo: deve ser consciente. Significa respeitar e apoiar o ordenamento sócio-político.
Submeter-se a instituições humanas. Que tipo de instituições? Instituições para Pedro é a monarquia e as autoridades governamentais (2:13), o trabalho (2:18), a família (3:1) e a Igreja (5.5). São esses os temas que são abordados aqui. No Brasil, o poder emana do povo e a Constituição Federal é o poder final.
Assim, submissão às instituições significa respeitar aquilo que foi constituído pelos homens para organizar a sociedade. No Brasil quer dizer respeitar a democracia, a constituição, a divisão de poderes, o voto. (Numa monarquia envolveria outros valores).
É respeitar o sistema político, mas sempre discernindo se os atos dos que ocupam o posto visam o bem (autoridades estabelecidas para promover o bem e reprimir o mal).
Então Pedro está dizendo aos cristãos que não deveriam alienar-se da sociedade ou provocar uma ruptura, mas, pelo contrário, deveriam livremente participar positivamente da mesma.
O motivo da submissão às instituições é por causa do Senhor. Assim, por causa da lealdade a Jesus é que devemos nos portar bem diante do Estado (e não por que as autoridades são carismáticas ou tragam benefícios a nós). Isso quer dizer que a nossa postura pública não é por causa das instituições em si (como se fossem em si divinas - são humanas), mas por uma causa externa a elas, Jesus Cristo nosso modelo. Isso torna relativo todo poder humano.
Talvez alguém pense que participar da sociedade e da política seja mau. Não é essa a compreensão de Pedro. Ele diz que devemos nos abster das paixões carnais (festas a ídolos, orgias, sexo cultual, etc.) (2:11) - isso sim é o mal - e não a vida em sociedade: do voto, do discernimento político, do uso dos recursos, da informação e do dever de interferir no destino político.
Esse é o paradigma que nós herdamos da Reforma Protestante. Tanto Lutero como Calvino, explicaram o evangelho com forte ênfase em questões sociais (Educação, por exemplo). Os pietistas (1650 ss), que ensinavam a necessidade de uma fé pessoal (conversão), construíam asilos e hospitais, fundavam universidades e enviavam missionários. Os metodistas, descendentes do movimento pietista, pregaram o evangelho e revolucionaram pacificamente ao Inglaterra. O Pr. Batista Martin Luther King foi defensor e militante dos direitos nos EUA.
2ª Postura: Prática Ativa do Bem (2:15)
A ênfase é de comportamento exemplar, boas obras e prática do bem nas relações sociais! Somos designados por servos de Deus. Não há ingenuidade em relação a hostilidade da sociedade. No contexto os
cristãos estavam sendo acusados de más obras:
* Recusa em pronunciar juramentos e saudações;
* Perturbação por ensinar outros costumes;
* Sacrilégio e Ateísmo por não oferecer culto aos ídolos.
A resposta do cristão à acusação de praticar más obras é fazer boas obras. A identidade do cristão deve estar associada com a causa do bem (não com o "mensalão" ou máfia das sanguessugas).
Hoje muitos crentes são reconhecidamente apáticos (nos condomínios, no bairro, nas escolas, etc): não são conhecidos pelo mal, mas também não são referências de bondade, como Jesus deseja (infelizmente alguns são antipáticos).
Somos sal da terra (impedir o progresso do mal) e luz do mundo (proclamadores da verdade) para que os homens vejam as nossas boas obras e glorifiquem a Deus (Mt 5:16).
Onde praticar o Bem? Primeiro num plano particular, procurando fazer o bem, agindo no nosso microcosmo positivamente. Depois, num plano coletivo, articulando-se para promover o bem e a justiça e o que for saudável para a sociedade maior (macrocosmo).
As eleições são uma oportunidade para promover o bem, já que são os deputados que fazem as leis (leis = estrutura). Se algo está ruim não é assim por natureza - alguém estruturou assim e alguém vai ter que fazer ficar diferente. O presidente e os governadores administram dentro dessa estrutura criada, embora, segundo as suas prioridades.
Quando os cristãos se alienam, favorecem o progresso do mal. Por causa da nossa fé em Deus devemos buscar o bem por todos os meios disponíveis, inclusive o voto. A participação consciente é fundamental para fazermos progredir o bem e construirmos uma sociedade mais justa.
Devemos, então, procurar votar bem, não buscando apenas os nossos interesses, mas os interesses da coletividade, à luz dos valores do Reino de Deus. Se não votamos bem desvalorizamos o voto e estimulamos algo tipo ditadura: concentração de poder. Depois de votar, orar e acompanhar seu representante.
Conclusão
Participe criticamente votando bem!
Mas como votar bem?
Ter atitude positiva e desejarmos mudanças: a nossa escolha fará diferença! Valorize o voto e motive a todos a votar bem. Vote em quem defende valores construtivos para a sociedade (não interesses de certos grupos): Votamos em programas (ser crente ou honesto não é programa de governo, é obrigação).
Pense em quais foram as razões para a candidatura e que idéias defende:
Recorde o passado: contribuição ou corrupção?
Avalie as promessas (quanto custa e donde vem o dinheiro?) e as Denúncias (há provas, documentos, testemunhas? O que diz o acusado?).
A qual partido pertence o candidato? Quem são os componentes? Com quem anda?
Devemos procurar consistência e coerência partidária.
Christian Gillis é pastor da Igreja Batista da Redenção em Belo Horizonte, MG.
Christian Gillis
Realmente dá para ficar desmotivado em participar de algo funesto. Por isso alguns falam em anular o voto ou abster-se como forma de protesto.
Mas qual é o dever do cristão para com a sociedade e o Estado no qual se encontra? Diante das eleições surge a pergunta sobre como agir nesse momento.
A Bíblia trata da participação do crente na sociedade e na política:
No AT: José, Moisés, Josué, os Juízes, Davi, os Profetas, Ester, Daniel, Neemias, Esdras, etc.
No NT: Rm 13.1-7: Reconhecer que autoridade é instituída por Deus; At 5.29: Desobediência responsável; Lc 20.22: Legitimidade do Estado e dever de pagar tributo; I Tm 2.1-2: Intercessão; Ap 13: Crítica profética.
O Apocalipse tem uma densa teologia política: Foi escrito a cristãos que se encontravam debaixo de perseguição por parte do Império (para os cristãos era uma questão religiosa; para o Estado uma questão política). O livro é uma denuncia contra o totalitarismo e tirania: nenhum poder terreno é absoluto e só Deus é o soberano final, aquele que vai julgar o mundo. O Cordeiro é apresentado como aquele que derrota aos poderes políticos hostis desse mundo.
Paradoxalmente, os cristãos em geral, negligenciam sua responsabilidade política. Quais as razões?
1. Crença de que a política seja em si mesmo suja;
2. Pessimismo diante da maldade e corrupção humana;
3. Exagero na ênfase na moral individual e subjetiva;
4. Falta de entendimento do processo político;
5. Equívoco quanto a separação entre Estado e Igreja;
6. Apoio tácito à manutenção da ordem vigente;
Sempre houve tensão entre a participação e a separação da sociedade e da política. 1º Alguns optaram por uma ruptura total, isto é, sair do mundo. 2º Outros escolheram um modelo de imersão total e acabaram sendo assimilados pelo mundo. A 3º via é uma postura de participação crítica. I Pd 2.11-17 explicita o que é "Participação Crítica".
Proposição
Deus deseja que cada cristão ajude a construir uma sociedade melhor. Para isso são definidas duas Posturas Sociais básicas.
1ª Postura: Sujeitar-se a toda Instituição Humana (2:13)
As igrejas às quais I Pd se dirige estavam sofrendo uma série de acusações e a tendência natural seria a retração social. Os cristãos são chamados a ter um comportamento social exemplar. Como se dá
esse comportamento exemplar?
Sujeitar (hypotagete) significa colocar-se debaixo, submeter-se, cooperar com a missão; sendo diferente de obedecer (hypakuete). Trata-se de submissão, é voluntária - como livres que sois (2:16) - e que não significa concordância cega com o governo: deve ser consciente. Significa respeitar e apoiar o ordenamento sócio-político.
Submeter-se a instituições humanas. Que tipo de instituições? Instituições para Pedro é a monarquia e as autoridades governamentais (2:13), o trabalho (2:18), a família (3:1) e a Igreja (5.5). São esses os temas que são abordados aqui. No Brasil, o poder emana do povo e a Constituição Federal é o poder final.
Assim, submissão às instituições significa respeitar aquilo que foi constituído pelos homens para organizar a sociedade. No Brasil quer dizer respeitar a democracia, a constituição, a divisão de poderes, o voto. (Numa monarquia envolveria outros valores).
É respeitar o sistema político, mas sempre discernindo se os atos dos que ocupam o posto visam o bem (autoridades estabelecidas para promover o bem e reprimir o mal).
Então Pedro está dizendo aos cristãos que não deveriam alienar-se da sociedade ou provocar uma ruptura, mas, pelo contrário, deveriam livremente participar positivamente da mesma.
O motivo da submissão às instituições é por causa do Senhor. Assim, por causa da lealdade a Jesus é que devemos nos portar bem diante do Estado (e não por que as autoridades são carismáticas ou tragam benefícios a nós). Isso quer dizer que a nossa postura pública não é por causa das instituições em si (como se fossem em si divinas - são humanas), mas por uma causa externa a elas, Jesus Cristo nosso modelo. Isso torna relativo todo poder humano.
Talvez alguém pense que participar da sociedade e da política seja mau. Não é essa a compreensão de Pedro. Ele diz que devemos nos abster das paixões carnais (festas a ídolos, orgias, sexo cultual, etc.) (2:11) - isso sim é o mal - e não a vida em sociedade: do voto, do discernimento político, do uso dos recursos, da informação e do dever de interferir no destino político.
Esse é o paradigma que nós herdamos da Reforma Protestante. Tanto Lutero como Calvino, explicaram o evangelho com forte ênfase em questões sociais (Educação, por exemplo). Os pietistas (1650 ss), que ensinavam a necessidade de uma fé pessoal (conversão), construíam asilos e hospitais, fundavam universidades e enviavam missionários. Os metodistas, descendentes do movimento pietista, pregaram o evangelho e revolucionaram pacificamente ao Inglaterra. O Pr. Batista Martin Luther King foi defensor e militante dos direitos nos EUA.
2ª Postura: Prática Ativa do Bem (2:15)
A ênfase é de comportamento exemplar, boas obras e prática do bem nas relações sociais! Somos designados por servos de Deus. Não há ingenuidade em relação a hostilidade da sociedade. No contexto os
cristãos estavam sendo acusados de más obras:
* Recusa em pronunciar juramentos e saudações;
* Perturbação por ensinar outros costumes;
* Sacrilégio e Ateísmo por não oferecer culto aos ídolos.
A resposta do cristão à acusação de praticar más obras é fazer boas obras. A identidade do cristão deve estar associada com a causa do bem (não com o "mensalão" ou máfia das sanguessugas).
Hoje muitos crentes são reconhecidamente apáticos (nos condomínios, no bairro, nas escolas, etc): não são conhecidos pelo mal, mas também não são referências de bondade, como Jesus deseja (infelizmente alguns são antipáticos).
Somos sal da terra (impedir o progresso do mal) e luz do mundo (proclamadores da verdade) para que os homens vejam as nossas boas obras e glorifiquem a Deus (Mt 5:16).
Onde praticar o Bem? Primeiro num plano particular, procurando fazer o bem, agindo no nosso microcosmo positivamente. Depois, num plano coletivo, articulando-se para promover o bem e a justiça e o que for saudável para a sociedade maior (macrocosmo).
As eleições são uma oportunidade para promover o bem, já que são os deputados que fazem as leis (leis = estrutura). Se algo está ruim não é assim por natureza - alguém estruturou assim e alguém vai ter que fazer ficar diferente. O presidente e os governadores administram dentro dessa estrutura criada, embora, segundo as suas prioridades.
Quando os cristãos se alienam, favorecem o progresso do mal. Por causa da nossa fé em Deus devemos buscar o bem por todos os meios disponíveis, inclusive o voto. A participação consciente é fundamental para fazermos progredir o bem e construirmos uma sociedade mais justa.
Devemos, então, procurar votar bem, não buscando apenas os nossos interesses, mas os interesses da coletividade, à luz dos valores do Reino de Deus. Se não votamos bem desvalorizamos o voto e estimulamos algo tipo ditadura: concentração de poder. Depois de votar, orar e acompanhar seu representante.
Conclusão
Participe criticamente votando bem!
Mas como votar bem?
Ter atitude positiva e desejarmos mudanças: a nossa escolha fará diferença! Valorize o voto e motive a todos a votar bem. Vote em quem defende valores construtivos para a sociedade (não interesses de certos grupos): Votamos em programas (ser crente ou honesto não é programa de governo, é obrigação).
Pense em quais foram as razões para a candidatura e que idéias defende:
Recorde o passado: contribuição ou corrupção?
Avalie as promessas (quanto custa e donde vem o dinheiro?) e as Denúncias (há provas, documentos, testemunhas? O que diz o acusado?).
A qual partido pertence o candidato? Quem são os componentes? Com quem anda?
Devemos procurar consistência e coerência partidária.
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