Opinião
- 27 de agosto de 2020
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Tempo de permanecer
Por Vacilius Santos
Estamos em “tempos difíceis”, e agora com um peso maior sobre “os últimos dias”. Há um tom apocalíptico no ar. Os dias são mais cinzas, a esperança parece desvanecer, e para muitas famílias ela já não existe.
Como pastorear nestes últimos dias de tempos difíceis?
“Tu, porém, sê sóbrio em todas as coisas, suporta os sofrimentos, faze a obra dum evangelista, desempenha bem o teu ministério” (2 Tm 4:5).
As palavras acima, que desafiam o pastor à sobriedade em meio ao sofrimento, emergem junto de uma lista de pecados que marcam um estilo de vida irreverente e sem temor, no capítulo anterior. Capítulo esse que começa com a expressão: “...nos últimos dias, sobrevirão tempos difíceis”.
É neste ambiente com tons apocalípticos e de sofrimento que deve florescer a perseverança. A perseverança que não considera uma esperança imediatista. A perseverança que não é a teimosia em velhos hábitos, de quem ainda não discerniu as épocas.
O estilo de vida de nossos primeiros irmãos e também os primeiros pastores da Igreja mostram-nos o caminho da perseverança (Atos 2.42-47). Antes de termos uma carta pastoral que fala sobre o sofrimento (2 Tm. 4:5), já havia uma igreja experimentada no sofrimento e que desfrutou da bênção ensinada pelo próprio Jesus alguns anos antes: “Aquele que permanece em mim, e no qual eu permaneço, dá muito fruto, pois sem mim nada podeis fazer” (João 15:5)
Em tempos de tribulações, de anormalidades, de desafios, de incertezas, de angústias, de perdas... é preciso permanecer nEle e em sua vontade. Não é simplesmente acreditar que “vai ficar tudo bem”.
E a perseverança que resulta disso tem lugar na doutrina, na comunhão, no partir do pão e na oração.
O que esta perseverança requer do pastor a priori? Falamos que requer de nós, os pastores, porque é na simbiose do relacionamento que as ovelhas passam a viver, pois assim vive o pastor. Ou seja, a perseverança daqueles que são o modelo acaba por ser a marca também da comunidade dos discípulos. Juntos perseveram. E é disso que precisamos nestes dias.
O caminho da perseverança passa pelo zelo no ensino e na pregação. “Eles perseveravam na doutrina”. A Palavra de Deus, a Bíblia, é que será o alimento diário do povo. E nossa era digital alia-se a esta tarefa. Podemos enviar reflexões bíblicas. E, se o fazemos de forma criativa, podemos provocar a interação e um alcance ainda mais significativo.
Eles também “perseveravam na comunhão”. Estavam juntos. E agora? Como cultivar o “estar juntos”? Graças ao Pai, ainda podemos, respeitadas as orientações básicas dos órgãos competentes. Não podemos evitar os encontros de edificacão e serviço mútuo, quando é possível ser cuidado e também cuidar. Quem sabe um tempo de café, quando podemos partilhar os temores e os próximos passos a dar como comunidade e família.
Precisamos atender, especialmente, ao grupo de risco. As cartas pastorais dão atenção aos idosos. Eles precisam ser incluídos na comunhão, ainda que seja mais trabalhoso uma atenção particularizada.
A comunhão se estende não só no partir do pão, da comunhão da Ceia, mas para além dela. O partir do pão que é fruto de comunhão e que provoca o estender a mão. Quantas pessoas carecem da nossa perseverança para ter a oportunidade de comer!
Enfim, eles “perseveravam na oração”. Antes de a oração ser parte do trabalho pastoral, ela é uma graça renovadora que deve ser provocada na comunidade. Duplas rotativas, grupos que gravam áudios de oração, grupos online. A Igreja ora mais!
A oração demonstra que o pastor não depende de si mesmo. A oração é a prova de que ele depende do Sumo-pastor.
Quando a Igreja ora, e ora mais, e de forma mais entregue, as ovelhas aprendem que as coisas não dependem de um só homem.
A oração também revela e nutre o coração do pastor com uma presença que não permite pensar que ele esteja a labutar sozinho. Se a instrumentalidade da oração não desse jeito em muitas coisas, já serviria para dizer ao pastor: “Você não está sozinho!”.
Como vai o seu coração, pastor? Como vai a sua vida de perseverança? Tem permanecido em Jesus e em sua Palavra? Então, não há o que temer, e os frutos certamente virão.
• Vacilius Santos é missionário da Sepal em Portugal.
>> Conheça o livro Refeições Diárias — No partir do pão e na oração, de Elben César
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