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- 07 de dezembro de 2015
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Tão grande nuvem de testemunhas
Recentemente participamos de um evento sobre biografias, parte da Semana Acadêmico-Cultural de 2015 da Universidade Federal de Sergipe, em Aracaju. Mais especificamente, foram tematizadas as biografias de Tomás de Aquino, Francisco de Assis, Pilgram Marpeck e Johann Sebastian Bach. Os quatro foram cristãos, e através das palestras apresentadas ficou evidente que sua fé condicionou decisivamente suas vidas, atuação e impacto.
Na mesma linha temática do encontro na capital sergipana, Stephan Lorenz, oficial general (hoje aposentado) da Força Aérea dos Estados Unidos, sempre enfatizou o aprender com biografias. “Estude... e leia, especialmente biografias,” escreveu, pois um enfoque biográfico é especialmente interessante na busca de conhecimento de liderança, enfatiza a prática e comunica exemplos de solução para problemas específicos.
Para o cristão, muito mais ainda do que para o acadêmico e para o oficial em geral, a ocupação com biografias é muito importante. Lemos na carta aos Hebreus: “Portanto, visto que nós também estamos rodeados de tão grande nuvem de testemunhas, deixemos de lado todo peso, e o pecado que tão de perto nos rodeia, e corramos com perseverança a carreira que nos está proposta, olhando para Jesus, o autor e consumador da nossa fé.” Para reforçar nosso foco em Jesus, somos encorajados a aprender com o testemunho de outros cristãos, testemunho que fica evidente de forma mais abrangente e completa em suas biografias.
Aprender dessa forma é, portanto, importante para aplicação direta em nossas vidas. Mas não é só isso. Torna-nos também imunes a falsos ensinos e resistentes à manipulação ideológica. Vejamos um exemplo. Uma das acusações contra os cristãos, ouvida com alguma frequência, é que a fé cristã seria obscurantista. Biografias de grandes cientistas – desde os primórdios da ciência até hoje – desautorizam a acusação. Referimo-nos a biografias de cristãos como Kepler, Pascal, Joule, Pasteur, Mendel, Faraday, Maxwell e Planck, para citar uns poucos. Mas a desinformação da acusação não provém só da ausência de conhecimento das biografias de grandes cientistas; estende-se também à ausência de conhecimento das biografias de grandes artistas, especialmente músicos. Pois a cultura musical ocidental existe graças às realizações monumentais de gênios como Bach, Händel, Haydn, Mendelssohn, Bruckner, Messiaen e Poulenc, todos eles motivados e movidos por sua fé cristã.
Assim, fica ainda mais evidente a importância de conhecermos biografias de cristãos que se destacaram em suas áreas de atuação. E há ótimas biografias a serem lidas, por exemplo o excelente e compacto “Paulo”, de Hernandes Dias Lopes (Editora Hagnos), Sou Eu, Calvino, de Elben César (Editora Ultimato), ou ainda “A depressão de Spurgeon”, de Zack Eswine (Editora Fiel), que nos esclarece sobre a problemática da depressão usando um enfoque biográfico.
Ao mergulhar nas biografias é preciso ter cuidado. Biógrafos contemporâneos têm, frequentemente, omitido informações importantes, consideradas irrelevantes ou não pertinentes pelo biógrafo, muitas vezes à revelia do que o biografado claramente expressou em vida. A título de ilustração, consideremos duas biografias de James C. Maxwell (1831-1879), pai da teoria eletromagnética. Sua primeira biografia, de 1882, retrata o cristão e cientista Maxwell. Uma biografia publicada em 2003 mal transmite a noção de que Maxwell foi presbiteriano, concentrando-se somente no cientista Maxwell, ainda que o título do livro tenha sido escolhido como “O homem que mudou tudo” (“The man who changed everything”, o grifo é nosso). Dessa forma, muitas vezes o leitor recebe informação incompleta ou até mesmo deturpada acerca de cristãos que impactaram sua geração.
É o que acontece também com os leitores do livro “Os cientistas e seus experimentos de arromba”, da Cia. das Letras, destinado ao público juvenil. O texto apresenta retratos grotescos e incompletos de cristãos como Mendel e Pasteur, desencorajando o interesse do leitor pela fé cristã e advogando incompatibilidade entre fé cristã e ciência. Felizmente existe antídoto para tal influência: referimo-nos, por exemplo, ao site Fé e Ciência, em que a relação de fé cristã e ciência é discutida, com detalhes.
No caso de alguns filósofos, ou mesmo de homens de fé que se destacaram por sua exclusiva atuação religiosa, outro tipo de seletividade também é usada, especificamente para dar ao biografado a imagem que a mentalidade “moderna” consegue compreender de suas vidas, e não o contrário, que seria mais desejável: que o leitor contemporâneo pudesse se esforçar para compreender como podem ter sido as vidas de Tomás de Aquino, Francisco de Assis ou Joana d’Arc, por exemplo, a fim de aprender algo que vai além da mentalidade moderna.
Para termos uma ideia de quanto essa mentalidade pode ser seletiva, vejamos “o problema de Francisco de Assis”, que o biógrafo G.K. Chesterton enfatiza. Francisco é constantemente referido como amante da natureza, como um poeta romântico, como um homem de incomparável bondade social. Mas o simpatizante moderno de Francisco não se esforça para entender porque seu amor da natureza estava enraizado num profundo sentimento do sobrenatural e do Criador da natureza, de como seu romantismo alegre e comunitário podia exigir às vezes longos dias de recolhimento, jejum e oração, e de como sua bondade social era fruto, não de uma inclinação natural à compaixão, mas de um implacável senso de obediência e coragem, de enfrentar seus verdadeiros medos, como o medo que tinha de se aproximar de um leproso, e que precisou vencer. Nestes casos, também, não podemos retirar do biografado apenas aquilo que a mentalidade da nossa época está disposta a compreender, mas, ao contrário, aprender com a biografia sobre as limitações de nossa própria época.
Cabe, assim, juntamente com o encorajamento “leia biografias,” a recomendação “escolha com cuidado”. Felizmente a oferta de boas biografias é grande, e sua leitura, pelos motivos expostos, extremamente recompensadora. Vá em frente, e boa leitura!
• Arthur Grupillo tem doutorado em Filosofia pela UFMG, com estágios de pesquisa nas universidades de Kassel e Frankfurt am Main, Alemanha. É professor de Filosofia e Ciências da Religião na Universidade Federal de Sergipe. Escreve sobre “fé, razão e arte” no blog O Urinol de Voltaire.
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Na mesma linha temática do encontro na capital sergipana, Stephan Lorenz, oficial general (hoje aposentado) da Força Aérea dos Estados Unidos, sempre enfatizou o aprender com biografias. “Estude... e leia, especialmente biografias,” escreveu, pois um enfoque biográfico é especialmente interessante na busca de conhecimento de liderança, enfatiza a prática e comunica exemplos de solução para problemas específicos.
Para o cristão, muito mais ainda do que para o acadêmico e para o oficial em geral, a ocupação com biografias é muito importante. Lemos na carta aos Hebreus: “Portanto, visto que nós também estamos rodeados de tão grande nuvem de testemunhas, deixemos de lado todo peso, e o pecado que tão de perto nos rodeia, e corramos com perseverança a carreira que nos está proposta, olhando para Jesus, o autor e consumador da nossa fé.” Para reforçar nosso foco em Jesus, somos encorajados a aprender com o testemunho de outros cristãos, testemunho que fica evidente de forma mais abrangente e completa em suas biografias.
Aprender dessa forma é, portanto, importante para aplicação direta em nossas vidas. Mas não é só isso. Torna-nos também imunes a falsos ensinos e resistentes à manipulação ideológica. Vejamos um exemplo. Uma das acusações contra os cristãos, ouvida com alguma frequência, é que a fé cristã seria obscurantista. Biografias de grandes cientistas – desde os primórdios da ciência até hoje – desautorizam a acusação. Referimo-nos a biografias de cristãos como Kepler, Pascal, Joule, Pasteur, Mendel, Faraday, Maxwell e Planck, para citar uns poucos. Mas a desinformação da acusação não provém só da ausência de conhecimento das biografias de grandes cientistas; estende-se também à ausência de conhecimento das biografias de grandes artistas, especialmente músicos. Pois a cultura musical ocidental existe graças às realizações monumentais de gênios como Bach, Händel, Haydn, Mendelssohn, Bruckner, Messiaen e Poulenc, todos eles motivados e movidos por sua fé cristã.
Assim, fica ainda mais evidente a importância de conhecermos biografias de cristãos que se destacaram em suas áreas de atuação. E há ótimas biografias a serem lidas, por exemplo o excelente e compacto “Paulo”, de Hernandes Dias Lopes (Editora Hagnos), Sou Eu, Calvino, de Elben César (Editora Ultimato), ou ainda “A depressão de Spurgeon”, de Zack Eswine (Editora Fiel), que nos esclarece sobre a problemática da depressão usando um enfoque biográfico.
Ao mergulhar nas biografias é preciso ter cuidado. Biógrafos contemporâneos têm, frequentemente, omitido informações importantes, consideradas irrelevantes ou não pertinentes pelo biógrafo, muitas vezes à revelia do que o biografado claramente expressou em vida. A título de ilustração, consideremos duas biografias de James C. Maxwell (1831-1879), pai da teoria eletromagnética. Sua primeira biografia, de 1882, retrata o cristão e cientista Maxwell. Uma biografia publicada em 2003 mal transmite a noção de que Maxwell foi presbiteriano, concentrando-se somente no cientista Maxwell, ainda que o título do livro tenha sido escolhido como “O homem que mudou tudo” (“The man who changed everything”, o grifo é nosso). Dessa forma, muitas vezes o leitor recebe informação incompleta ou até mesmo deturpada acerca de cristãos que impactaram sua geração.
É o que acontece também com os leitores do livro “Os cientistas e seus experimentos de arromba”, da Cia. das Letras, destinado ao público juvenil. O texto apresenta retratos grotescos e incompletos de cristãos como Mendel e Pasteur, desencorajando o interesse do leitor pela fé cristã e advogando incompatibilidade entre fé cristã e ciência. Felizmente existe antídoto para tal influência: referimo-nos, por exemplo, ao site Fé e Ciência, em que a relação de fé cristã e ciência é discutida, com detalhes.
No caso de alguns filósofos, ou mesmo de homens de fé que se destacaram por sua exclusiva atuação religiosa, outro tipo de seletividade também é usada, especificamente para dar ao biografado a imagem que a mentalidade “moderna” consegue compreender de suas vidas, e não o contrário, que seria mais desejável: que o leitor contemporâneo pudesse se esforçar para compreender como podem ter sido as vidas de Tomás de Aquino, Francisco de Assis ou Joana d’Arc, por exemplo, a fim de aprender algo que vai além da mentalidade moderna.
Para termos uma ideia de quanto essa mentalidade pode ser seletiva, vejamos “o problema de Francisco de Assis”, que o biógrafo G.K. Chesterton enfatiza. Francisco é constantemente referido como amante da natureza, como um poeta romântico, como um homem de incomparável bondade social. Mas o simpatizante moderno de Francisco não se esforça para entender porque seu amor da natureza estava enraizado num profundo sentimento do sobrenatural e do Criador da natureza, de como seu romantismo alegre e comunitário podia exigir às vezes longos dias de recolhimento, jejum e oração, e de como sua bondade social era fruto, não de uma inclinação natural à compaixão, mas de um implacável senso de obediência e coragem, de enfrentar seus verdadeiros medos, como o medo que tinha de se aproximar de um leproso, e que precisou vencer. Nestes casos, também, não podemos retirar do biografado apenas aquilo que a mentalidade da nossa época está disposta a compreender, mas, ao contrário, aprender com a biografia sobre as limitações de nossa própria época.
Cabe, assim, juntamente com o encorajamento “leia biografias,” a recomendação “escolha com cuidado”. Felizmente a oferta de boas biografias é grande, e sua leitura, pelos motivos expostos, extremamente recompensadora. Vá em frente, e boa leitura!
• Arthur Grupillo tem doutorado em Filosofia pela UFMG, com estágios de pesquisa nas universidades de Kassel e Frankfurt am Main, Alemanha. É professor de Filosofia e Ciências da Religião na Universidade Federal de Sergipe. Escreve sobre “fé, razão e arte” no blog O Urinol de Voltaire.
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Mochila nas Costas e Diário na Mão
Tem doutorado em Engenharia Elétrica pela Escola Politécnica Federal de Zurique, Suíça. É professor de engenharia em São José dos Campos (SP). É editor do blog Fé e Ciência.
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