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Talvez: palavra fora de moda

Os neopentecostais aposentaram o advérbio “talvez”. E muitos tradicionais estão fazendo o mesmo. É claro que as promessas de Deus são para valer. A questão é que as promessas de Deus são condicionais e nunca se sabe com certeza absoluta se a pessoa que deseja se apropriar de algum favor divino satisfez plenamente a condição imposta. Deus promete perdão e purificação “se confessarmos os nossos pecados” (1 Jo 1.9). Mesmo que o penitente diga que fez a confissão exigida, alguma coisa ainda fica no ar. E se a confissão dele for de boca para fora? Certamente não será perdoado nem purificado. Resta ainda a questão da soberania de Deus, que precisa ser respeitada. Não posso prometer cura a todo doente que, em nome de Jesus, pede para ser curado, porque “havia muitos leprosos em Israel no tempo de Eliseu, o profeta; todavia, nenhum deles foi purificado -- somente Naamã, o sírio” (Lc 4.27).

Promessas não cumpridas são uma desmoralização para o evangelho. Promessas irresponsáveis, mirabolantes, sensacionalistas e vulgares são a escola que forma céticos e ateus, e são muitos os que foram diplomados por ela. Quais são os culpados?

É muito prudente recolocar a palavra “talvez” em nosso vocabulário. Isso não significa falta de fé. Ao contrário, significa humildade e submissão.

A frequência do vocábulo em questão nas Escrituras Sagradas é impressionante.

Daniel disse a Nabucodonosor, rei de Babilônia: “Renuncia a teus pecados [...] e à tua maldade e tem compaixão dos necessitados. Talvez, então, continues a viver em paz” (Dn 4.27).

O capitão do navio prestes a naufragar entrou na cabine de Jonas e lhe disse: “Levante-se e clame ao seu deus! Talvez ele tenha piedade de nós e não morramos” (Jn 1.6).

Amós apelou a Israel: “Odeiem o mal, amem o bem; estabeleçam a justiça nos tribunais. Talvez o Senhor, o Deus dos Exércitos, tenha misericórdia do remanescente de José” (Am 5.15).

Sofonias fez a mesma exortação de Amós: “Busquem a justiça, busquem a humildade; talvez vocês tenham abrigo no dia da ira do Senhor” (Sf 2.3).

Pedro advertiu a Simão, o Mago, aquele que pretendeu comprar com dinheiro o poder de impor as mãos sobre os outros para receberem o Espírito Santo: “Arrependa-se dessa maldade e ore ao Senhor. Talvez ele lhe perdoe tal pensamento do seu coração” (At 8.22).

Vamos ter mais respeito com o santo nome de Deus e usar mais o formidável “talvez” em nossas conversas, em nossos atendimentos e em nossas pregações!


Nota

1. Textos retirados da Nova Versão Internacional.
Elben Magalhães Lenz César foi o fundador da Editora Ultimato e redator da revista Ultimato até a sua morte, em outubro de 2016. Fundador do Centro Evangélico de Missões e pastor emérito da Igreja Presbiteriana de Viçosa (IPV), é autor de, entre outros, Por Que (Sempre) Faço o Que Não Quero?, Refeições Diárias com Jesus, Mochila nas Costas e Diário na Mão, Para (Melhor) Enfrentar o Sofrimento, Conversas com Lutero, Refeições Diárias com os Profetas Menores, A Pessoa Mais Importante do Mundo, História da Evangelização do Brasil e Práticas Devocionais. Foi casado por sessenta anos com Djanira Momesso César, com quem teve cinco filhas, dez netos e quatro bisnetos.
  • Textos publicados: 117 [ver]

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