Opinião
- 17 de agosto de 2010
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Tá doendo
Jorge Camargo
Na década de 90, um dos muitos livros do Caio Fábio, uma referência em se tratando de espiritualidade cristã no país, foi lançado e tinha como título “O Privilégio de Poder Simplesmente Dizer ‘Tá Doendo’”. Lembro-me da arte da capa, com um “band-aid” em relevo pra ilustrar uma dor sob tratamento.
Eu e você vivemos num mundo forrado de feridas. É tanta gente dolorida... e as razões para isso são as mais diversas: a perda de um ente querido ainda na infância ou de uma referência familiar até mesmo na vida adulta, os desencontros no amor, a falta de ânimo, a ausência de perspectiva, uma doença sorrateira e inesperada, um medo inexplicável e insistente. Dores no corpo, dores com emoção, dores de alma.
Eu me incluo humildemente na lista dos doloridos. Em parte pelas razões acima, em parte pelas próprias feridas que eu mesmo causei ou que me foram causadas por terceiros; não importa, as dores não escolhem direção nem guarida. Elas são o que são e estão onde estão pelo tempo que lhes convier. Simples assim.
Digo humildemente, porque já desisti de querer viver sem a presença enriquecedora e purificadora da dor. E mesmo que não quisesse viver sem ela, de nada importa. Ela é parte de minha condição humana, de meus limites, de minha finitude. Viver é também doer.
Mas, pensando bem, o que seria de nossa vida sem a possibilidade da cura para a dor? Haveria outro chamado para a esperança?
E talvez, de todas as perguntas a que não quer calar: como suportar a dor com dignidade?
Para tentar respondê-la, lanço mão da força da poesia, num verso de nosso compositor maior, Chico Buarque: “Amar é iluminar a dor, como um missionário...”. Ou da bela estrofe de um grande amigo e parceiro, Gladir Cabral:
Deixe-se levar pelo amor
Deixe-se molhar pelo mar
Deixe o sal tocar sua dor
Deixe a luz do sol consolar...
• Jorge Camargo é músico e compositor.
Siga-nos no Twitter!
Na década de 90, um dos muitos livros do Caio Fábio, uma referência em se tratando de espiritualidade cristã no país, foi lançado e tinha como título “O Privilégio de Poder Simplesmente Dizer ‘Tá Doendo’”. Lembro-me da arte da capa, com um “band-aid” em relevo pra ilustrar uma dor sob tratamento.
Eu e você vivemos num mundo forrado de feridas. É tanta gente dolorida... e as razões para isso são as mais diversas: a perda de um ente querido ainda na infância ou de uma referência familiar até mesmo na vida adulta, os desencontros no amor, a falta de ânimo, a ausência de perspectiva, uma doença sorrateira e inesperada, um medo inexplicável e insistente. Dores no corpo, dores com emoção, dores de alma.
Eu me incluo humildemente na lista dos doloridos. Em parte pelas razões acima, em parte pelas próprias feridas que eu mesmo causei ou que me foram causadas por terceiros; não importa, as dores não escolhem direção nem guarida. Elas são o que são e estão onde estão pelo tempo que lhes convier. Simples assim.
Digo humildemente, porque já desisti de querer viver sem a presença enriquecedora e purificadora da dor. E mesmo que não quisesse viver sem ela, de nada importa. Ela é parte de minha condição humana, de meus limites, de minha finitude. Viver é também doer.
Mas, pensando bem, o que seria de nossa vida sem a possibilidade da cura para a dor? Haveria outro chamado para a esperança?
E talvez, de todas as perguntas a que não quer calar: como suportar a dor com dignidade?
Para tentar respondê-la, lanço mão da força da poesia, num verso de nosso compositor maior, Chico Buarque: “Amar é iluminar a dor, como um missionário...”. Ou da bela estrofe de um grande amigo e parceiro, Gladir Cabral:
Deixe-se levar pelo amor
Deixe-se molhar pelo mar
Deixe o sal tocar sua dor
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