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- 29 de setembro de 2015
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Surpresas de uma fé com obras
EDITORIAL
O que pode acontecer quando reunimos gente que não somente crê, mas também pratica sua fé no caminho da compaixão cristã (Tg 2.26)? Certamente, há benções das mais variadas. Entre elas, a sensação de que a Igreja de Cristo é mais do que nossas teorias presumem. Ela está mais viva do que nosso pessimismo cínico é capaz de nos convencer. Ela é mais santa do que os maus exemplos podem nos fazer duvidar.
Na semana passada (de quinta à sábado), nos reunimos para mais um Encontro RENAS, desta vez no Vale da Benção na pequena Araçariguama, em São Paulo. Ultimato não somente esteve lá, como também desde o início tem ajudado a organizar os Encontros Nacionais da RENAS (Rede Evangélica Nacional de Ação Social). Ajudamos a traçar o programa, a organizar a comunicação do evento, a aproximar pessoas e organizações e a modelar suas ênfases.
Isso porque enxergamos a reunião da RENAS como uma das maiores riquezas da Igreja de Cristo. Gente engajada com a missão se dispõe a servir ao Senhor, não somente nos salões com ar condicionado, mas nas vielas e nas esquinas das periferias do Brasil – em meio à violência, pobreza e ausência do Estado. É incrível ver que o que dominou nossas conversas naqueles dias não foram lamúrias gratuitas, mas alegria sincera e coragem profética.
>> veja uma seleção de imagens do 10° Encontro RENAS
É verdade que a RENAS não responde todas as perguntas teológicas do momento que a Igreja precisa ouvir, mas ela supre uma necessidade fundamental: lembrar que há gente que vive o Evangelho num país que, mais do que nunca, precisa de cristãos que testemunham do amor de Deus no contexto em que vivem e que estão dispostos a ir mais além dos púlpitos.
A complexidade das questões sociais no Brasil atual nos desafia a buscar o Senhor Jesus como fonte de inspiração e de padrões éticos. Não é fácil encontrar tal discernimento, mas uma boa forma de começar é dispor-se a olhar novamente para o “autor e consumador da nossa fé” (Hb 12.2) e a ouvir outros irmãos e irmãs que vivem no “fio da navalha” da fé cristã. Fazendo isso, podemos nos surpreender com algumas coisas:
1. Os modelos eclesiásticos não devem ser limitantes. Ao contrário, podem ser alegres trilhas passíveis de serem reinventadas a medida que o Senhor nos conduz a becos e situações que a igreja pouco alcança. É o caso da Igreja de Cristo em Fortaleza (CE) que, por unanimidade, decidiu não construir seu prédio no terreno adquirido, mas sim doá-lo para que fosse construída uma escola pública. Eles se reúnem num espaço alugado de outra igreja e também ajudam as crianças do bairro.
2. Os modelos de serviço e missão não precisam ser isolados e verticais. Diante de gigantescos problemas, é necessário construir modelos de trabalho em rede, onde se pratica a unidade e onde se potencializa talentos com baixos custos. Já passou da hora de a igreja abrir-se para repensar seus modelos pastorais.
3. A ética da compaixão não deve se limitar ao assistencialismo. Nem sempre o assistencialismo é a única resposta. Ele pode ser importante em algum momento, mas não deve tornar-se norma, já que os problemas sociais exigem mais do que ajuda imediata. Precisam de transformações estruturais que deixam de exaltar somente quem ajuda, mas que colocam os ajudados no centro da transformação.
4. O serviço cristão deve ser irremediavelmente sustentado pela fé em Cristo. Isso não significa dogmatismo, proselitismo ou exclusivismo religioso. Mas ficou claro durante o Encontro que o que nos move e nos faz perseverar é o olhar para Cristo – não o Cristo “mito”, mas o Senhor. Olhar para Cristo não somente sustenta nossa fé, mas nos faz enxergar melhor a realidade social do Brasil.
5. Precisamos elaborar pastorais para todas as faixas etárias e gêneros. A igreja deve ser uma humilde referência para todos. Precisamos nos mover criativamente ao ponto de criar projetos que acolham e ajudem gente de todas as idades e situações. Assim, as ajudaremos a confiar em Cristo e a serem restauradas na dignidade intrínseca dada pelo Criador.
6. A desigualdade não deve ser banalizada. Afora as discussões filosóficas abstratas, a verdade é que muitos não se libertam do estado de pobreza porque lhes foram negadas oportunidades de transformação, enquanto outros as têm de sobra. Se não enfrentarmos estes fatores, estaremos, na verdade, perpetuando a miséria, mesmo que não admitamos isso. Precisamos ser “sal e luz” neste cenário. Precisamos de coragem para enfrentar a realidade desigual do nosso país.
O 10° Encontro Nacional da RENAS reuniu mais de 220 pessoas de 17 estados brasileiros. A maior parte (72%) dos participantes eram mulheres. Mais de dez redes de cooperação filiadas à RENAS estavam presentes. A programação baseou-se no tema “Seguir a Jesus: ver, sentir e agir – igrejas e organizações sociais em rede por uma vida plena”. O versículo-chave foi Marcos 8.34: “Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me”.
Editores da Ultimato
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O que pode acontecer quando reunimos gente que não somente crê, mas também pratica sua fé no caminho da compaixão cristã (Tg 2.26)? Certamente, há benções das mais variadas. Entre elas, a sensação de que a Igreja de Cristo é mais do que nossas teorias presumem. Ela está mais viva do que nosso pessimismo cínico é capaz de nos convencer. Ela é mais santa do que os maus exemplos podem nos fazer duvidar.
Na semana passada (de quinta à sábado), nos reunimos para mais um Encontro RENAS, desta vez no Vale da Benção na pequena Araçariguama, em São Paulo. Ultimato não somente esteve lá, como também desde o início tem ajudado a organizar os Encontros Nacionais da RENAS (Rede Evangélica Nacional de Ação Social). Ajudamos a traçar o programa, a organizar a comunicação do evento, a aproximar pessoas e organizações e a modelar suas ênfases.
Isso porque enxergamos a reunião da RENAS como uma das maiores riquezas da Igreja de Cristo. Gente engajada com a missão se dispõe a servir ao Senhor, não somente nos salões com ar condicionado, mas nas vielas e nas esquinas das periferias do Brasil – em meio à violência, pobreza e ausência do Estado. É incrível ver que o que dominou nossas conversas naqueles dias não foram lamúrias gratuitas, mas alegria sincera e coragem profética.
>> veja uma seleção de imagens do 10° Encontro RENAS
É verdade que a RENAS não responde todas as perguntas teológicas do momento que a Igreja precisa ouvir, mas ela supre uma necessidade fundamental: lembrar que há gente que vive o Evangelho num país que, mais do que nunca, precisa de cristãos que testemunham do amor de Deus no contexto em que vivem e que estão dispostos a ir mais além dos púlpitos.
A complexidade das questões sociais no Brasil atual nos desafia a buscar o Senhor Jesus como fonte de inspiração e de padrões éticos. Não é fácil encontrar tal discernimento, mas uma boa forma de começar é dispor-se a olhar novamente para o “autor e consumador da nossa fé” (Hb 12.2) e a ouvir outros irmãos e irmãs que vivem no “fio da navalha” da fé cristã. Fazendo isso, podemos nos surpreender com algumas coisas:
1. Os modelos eclesiásticos não devem ser limitantes. Ao contrário, podem ser alegres trilhas passíveis de serem reinventadas a medida que o Senhor nos conduz a becos e situações que a igreja pouco alcança. É o caso da Igreja de Cristo em Fortaleza (CE) que, por unanimidade, decidiu não construir seu prédio no terreno adquirido, mas sim doá-lo para que fosse construída uma escola pública. Eles se reúnem num espaço alugado de outra igreja e também ajudam as crianças do bairro.
2. Os modelos de serviço e missão não precisam ser isolados e verticais. Diante de gigantescos problemas, é necessário construir modelos de trabalho em rede, onde se pratica a unidade e onde se potencializa talentos com baixos custos. Já passou da hora de a igreja abrir-se para repensar seus modelos pastorais.
3. A ética da compaixão não deve se limitar ao assistencialismo. Nem sempre o assistencialismo é a única resposta. Ele pode ser importante em algum momento, mas não deve tornar-se norma, já que os problemas sociais exigem mais do que ajuda imediata. Precisam de transformações estruturais que deixam de exaltar somente quem ajuda, mas que colocam os ajudados no centro da transformação.
4. O serviço cristão deve ser irremediavelmente sustentado pela fé em Cristo. Isso não significa dogmatismo, proselitismo ou exclusivismo religioso. Mas ficou claro durante o Encontro que o que nos move e nos faz perseverar é o olhar para Cristo – não o Cristo “mito”, mas o Senhor. Olhar para Cristo não somente sustenta nossa fé, mas nos faz enxergar melhor a realidade social do Brasil.
5. Precisamos elaborar pastorais para todas as faixas etárias e gêneros. A igreja deve ser uma humilde referência para todos. Precisamos nos mover criativamente ao ponto de criar projetos que acolham e ajudem gente de todas as idades e situações. Assim, as ajudaremos a confiar em Cristo e a serem restauradas na dignidade intrínseca dada pelo Criador.
6. A desigualdade não deve ser banalizada. Afora as discussões filosóficas abstratas, a verdade é que muitos não se libertam do estado de pobreza porque lhes foram negadas oportunidades de transformação, enquanto outros as têm de sobra. Se não enfrentarmos estes fatores, estaremos, na verdade, perpetuando a miséria, mesmo que não admitamos isso. Precisamos ser “sal e luz” neste cenário. Precisamos de coragem para enfrentar a realidade desigual do nosso país.
O 10° Encontro Nacional da RENAS reuniu mais de 220 pessoas de 17 estados brasileiros. A maior parte (72%) dos participantes eram mulheres. Mais de dez redes de cooperação filiadas à RENAS estavam presentes. A programação baseou-se no tema “Seguir a Jesus: ver, sentir e agir – igrejas e organizações sociais em rede por uma vida plena”. O versículo-chave foi Marcos 8.34: “Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me”.
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