Opinião
- 13 de fevereiro de 2017
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Somos uma sociedade contida, não somos uma sociedade de paz
Vivemos na Grande Vitória, que envolve cinco municípios (Vitória, Vila Velha, Serra, Cariacica e Viana), uma semana muito difícil e triste.
Por Usiel Souza
A crise instalada pelo aquartelamento da Polícia Militar do estado expôs a população a um quadro de violência que se espalhou rapidamente. Roubos de carros, invasões e saques a lojas, assaltos e muitos assassinatos. Em uma semana os registros oficiais apontaram mais de cem mortes. Este número não inclui os prováveis assassinatos ocorridos em bairros mais periféricos, com maiores índices de violência, pois não houve o trabalho de atendimento de ocorrências. Há fortes suspeitas de que, assim como em tantos outros locais, também neles, aproveitando-se das condições, rivais do crime buscaram eliminar os desafetos. O número de mortes, neste caso, talvez ainda seja divulgado e certamente será muito maior que o registrado.
As igrejas
As ruas, como noticiado, ficaram desertas durante praticamente toda a semana. Especialmente ao entardecer. Isso impediu que muitas igrejas realizassem seus cultos. As igrejas dos bairros, em que os membros residem nas proximidades, tiveram um pouco mais de facilidade. As igrejas de perfil mais metropolitano foram mais impactadas. Em nosso caso, cancelamos o culto.
Por todos os meios, igrejas convocaram seus membros para oração. As igrejas batistas, por meio da Convenção Estadual, promoveram encorajamento pelas redes sociais e uniram-se a outras entidades na promoção de uma Caminhada pela Paz no Espírito Santo, marcada para dia 12, domingo, às nove da manhã na praia de Camburi.
Esses dias difíceis ressaltaram algumas realidades que devemos considerar. Revelaram uma face que muitas vezes ignoramos: somos uma sociedade contida, mas longe de sermos uma sociedade em paz. Somos pecadores e o maligno tem sido bem sucedido em promover a desigualdade, a injustiça e toda forma de males. Como bem nos disse o Senhor: “O ladrão vem para matar, roubar e destruir” (Jo 10.10a) e o faz também por meio de pessoas. Algumas usam armas, outras a influência e o poder que têm. Se a declaração de Jesus parasse por aí, não haveria esperança para nós. Mas Ele complementou: “Eu vim para que vocês tenham vida e vida plena!”(Jo 10.10b). E a vida que veio trazer é manifestada também por meio de pessoas!
A democratização da violência
Um padre de um dos bairros de Vitória postou:
"Estou aqui pensando: há quase oito anos estou em São Pedro e tem sido assim, com constantes tiroteios de dia e de noite, e tropeçando em corpos estirados nas ruas, becos e escadarias. Com greve ou sem greve da PM, a segurança pública nunca fez parte do cotidiano das periferias e não vai fazer depois que a greve da PM acabar. A greve da PM só democratizou a violência e está mostrando para todo mundo que o governo e a policia militar estão pouco se lixando com a carnificina e tenho certeza que boa parte da sociedade também estaria se não tivesse correndo riscos. Enquanto os jovens, pretos, pobres e favelados estavam sendo exterminados, estava tudo certo e o ES era modelo de gestão e segurança para o país. Agora que a violência afetou todo mundo..."
Como bem alertou o padre, o que estamos vendo é o que sempre existiu, mas que nem todos nós percebíamos. Muitas vezes nosso conforto nos cega para a dor e a miséria que se acumulam dentro de muitas pessoas e no contexto em que muitas delas vivem. Tudo isso questiona-nos enquanto igreja. Somos uma igreja cristã para servirmos como agentes do Reino de Deus. Muitos só conhecem o poder destruidor do que é inspirado pelo “ladrão”. Devemos ser portadores da notícia e do poder vivificador do que Jesus fez! Devemos manifestar a presença do Reino de Deus fazendo o que Jesus veio fazer: semeando vida! Em meio à crise, as igrejas podem e devem protagonizar soluções.
Coisas boas que estão acontecendo e de que devemos tomar parte:
Há fornecedores (de vidros, de expositores para lojas, etc.) dispondo-se a oferecer produtos a preço de custo para os que tiveram seu estabelecimento depredado;
Há pessoas oferecendo-se para ajudar a limpar e organizar lojas saqueadas;
Há psicólogos oferecendo ajuda gratuita para quem sofreu traumas;
Há palestrantes oferecendo-se para falar a equipes e motivá-las diante das dificuldades por perdas no negócio.
Neste momento, toda ajuda pode promover a vida que foi tão ferida nos últimos dias! Sempre há algo que se pode fazer! Em breve nosso estado estará de volta à normalidade desejada. Quanto à paz de que precisa, o caminho é mais longo! Passa pela Cruz de Cristo e pelo ministério (serviço) de pessoas que amam a Deus. Que cada igreja seja uma agente dessa paz que tanto faz falta.
• Usiel Carneiro de Souza é pastor da Igreja Batista da Praia do Canto, em Vila Velha, ES. É mestre em teologia e também graduado em Administração pela Universidade Federal do Espírito Santo.
Por Usiel Souza
A crise instalada pelo aquartelamento da Polícia Militar do estado expôs a população a um quadro de violência que se espalhou rapidamente. Roubos de carros, invasões e saques a lojas, assaltos e muitos assassinatos. Em uma semana os registros oficiais apontaram mais de cem mortes. Este número não inclui os prováveis assassinatos ocorridos em bairros mais periféricos, com maiores índices de violência, pois não houve o trabalho de atendimento de ocorrências. Há fortes suspeitas de que, assim como em tantos outros locais, também neles, aproveitando-se das condições, rivais do crime buscaram eliminar os desafetos. O número de mortes, neste caso, talvez ainda seja divulgado e certamente será muito maior que o registrado.
As igrejas
As ruas, como noticiado, ficaram desertas durante praticamente toda a semana. Especialmente ao entardecer. Isso impediu que muitas igrejas realizassem seus cultos. As igrejas dos bairros, em que os membros residem nas proximidades, tiveram um pouco mais de facilidade. As igrejas de perfil mais metropolitano foram mais impactadas. Em nosso caso, cancelamos o culto.
Por todos os meios, igrejas convocaram seus membros para oração. As igrejas batistas, por meio da Convenção Estadual, promoveram encorajamento pelas redes sociais e uniram-se a outras entidades na promoção de uma Caminhada pela Paz no Espírito Santo, marcada para dia 12, domingo, às nove da manhã na praia de Camburi.
Esses dias difíceis ressaltaram algumas realidades que devemos considerar. Revelaram uma face que muitas vezes ignoramos: somos uma sociedade contida, mas longe de sermos uma sociedade em paz. Somos pecadores e o maligno tem sido bem sucedido em promover a desigualdade, a injustiça e toda forma de males. Como bem nos disse o Senhor: “O ladrão vem para matar, roubar e destruir” (Jo 10.10a) e o faz também por meio de pessoas. Algumas usam armas, outras a influência e o poder que têm. Se a declaração de Jesus parasse por aí, não haveria esperança para nós. Mas Ele complementou: “Eu vim para que vocês tenham vida e vida plena!”(Jo 10.10b). E a vida que veio trazer é manifestada também por meio de pessoas!
A democratização da violência
Um padre de um dos bairros de Vitória postou:
"Estou aqui pensando: há quase oito anos estou em São Pedro e tem sido assim, com constantes tiroteios de dia e de noite, e tropeçando em corpos estirados nas ruas, becos e escadarias. Com greve ou sem greve da PM, a segurança pública nunca fez parte do cotidiano das periferias e não vai fazer depois que a greve da PM acabar. A greve da PM só democratizou a violência e está mostrando para todo mundo que o governo e a policia militar estão pouco se lixando com a carnificina e tenho certeza que boa parte da sociedade também estaria se não tivesse correndo riscos. Enquanto os jovens, pretos, pobres e favelados estavam sendo exterminados, estava tudo certo e o ES era modelo de gestão e segurança para o país. Agora que a violência afetou todo mundo..."
Como bem alertou o padre, o que estamos vendo é o que sempre existiu, mas que nem todos nós percebíamos. Muitas vezes nosso conforto nos cega para a dor e a miséria que se acumulam dentro de muitas pessoas e no contexto em que muitas delas vivem. Tudo isso questiona-nos enquanto igreja. Somos uma igreja cristã para servirmos como agentes do Reino de Deus. Muitos só conhecem o poder destruidor do que é inspirado pelo “ladrão”. Devemos ser portadores da notícia e do poder vivificador do que Jesus fez! Devemos manifestar a presença do Reino de Deus fazendo o que Jesus veio fazer: semeando vida! Em meio à crise, as igrejas podem e devem protagonizar soluções.
Coisas boas que estão acontecendo e de que devemos tomar parte:
Há fornecedores (de vidros, de expositores para lojas, etc.) dispondo-se a oferecer produtos a preço de custo para os que tiveram seu estabelecimento depredado;
Há pessoas oferecendo-se para ajudar a limpar e organizar lojas saqueadas;
Há psicólogos oferecendo ajuda gratuita para quem sofreu traumas;
Há palestrantes oferecendo-se para falar a equipes e motivá-las diante das dificuldades por perdas no negócio.
Neste momento, toda ajuda pode promover a vida que foi tão ferida nos últimos dias! Sempre há algo que se pode fazer! Em breve nosso estado estará de volta à normalidade desejada. Quanto à paz de que precisa, o caminho é mais longo! Passa pela Cruz de Cristo e pelo ministério (serviço) de pessoas que amam a Deus. Que cada igreja seja uma agente dessa paz que tanto faz falta.
• Usiel Carneiro de Souza é pastor da Igreja Batista da Praia do Canto, em Vila Velha, ES. É mestre em teologia e também graduado em Administração pela Universidade Federal do Espírito Santo.
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