Opinião
- 21 de novembro de 2022
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Sobre materialismo disfarçado de espiritualidade cristã
Por Ivan Abreu Figueiredo
Amanheço com sede de volta à Palavra, aos escritos do apóstolo do amor, este sujeito chamado João.
Esse que passou à história como apóstolo do amor, não sem passagens constrangedoras em sua vida. Porque no início de seu relacionamento com Jesus fazia uma dobradinha com seu irmão Tiago, com quem compunha a dupla chamada sugestivamente de "filhos do trovão" por Jesus quando lhe perguntaram se poderiam fazer descer fogo do céu sobre a aldeia que os rejeitara (sugestão rejeitada de pronto). Seu procedimento nessa fase passa pelo nepotismo descarado acionando até a mãe para pedir ao Mestre lugares de destaque em seu reino. Nesse episódio revelador da petulância de duas gerações da mesma família, reconheço o semear tão frequente agora da divisão entre aqueles chamados a se tratarem como irmãos, o solo fértil para a inveja e a discórdia, ciúmes e despeitos.
A repreensão de Jesus, dita aos doze mais próximos, foi registrada nos evangelhos de Mateus e Marcos, escritos anos depois por pessoas transformadas pelo convívio com o Filho de Deus: "Vocês sabem que os governantes das nações as dominam, e as pessoas importantes exercem poder sobre elas. Não será assim entre vocês. Ao contrário, quem quiser tornar-se importante entre vocês deverá ser servo, e quem quiser ser o primeiro deverá ser escravo; como o Filho do homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos" (Mt 8.25 a 28).
João levou essa lapada e foi aprender a ser gente decente. Seus escritos posteriores transbordam de afeto, amor prático, associados a uma energia reminiscente de sua juventude imatura, agora bem direcionada. Afirmando sem rodeios ser mentira dizer que se ama a Deus quando se odeia o irmão, "pois quem não ama a seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê "(1Jo 4.19). Deixa assim em frangalhos uma espiritualidade falsa, dissociada do envolvimento intencional com as pessoas. Na mesma carta, capítulo 2, versos 15 a 17, faz uma advertência sensacional de tão atual e pertinente: "Não amem o mundo nem o que nele há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele. Pois tudo o que há no mundo - a cobiça da carne, a cobiça dos olhos e a ostentação dos bens - não provém do Pai, mas do mundo. O mundo e a sua cobiça passam, mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre".
A denúncia do materialismo disfarçado de religião e defesa da fé não poderia encontrar palavras mais contundentes.
É tempo de contrição, de arrependimento. De voltar ao primeiro amor, voltar aos princípios da Palavra que desafia, confronta, desnuda pensamentos e intenções que por vezes tentamos disfarçar.
Envergonhado pelo péssimo testemunho de tantos ditos cristãos, especialmente os da linha evangélica à qual pertenço.
Reafirmando a continuidade da luta pela vivência leal ao evangelho, coisa sublime que permeia todas as dimensões da vida, todos os relacionamentos, todos os projetos. Muito acima da sujeira de jogos de poder travestidos de defesa da fé.
Tem misericórdia de nós todos, amado Senhor!
Saiba mais:
Ivan Abreu Figueiredo, médico, professor universitário, membro da Igreja Batista Plenitude, São Luís, MA.
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