Opinião
- 30 de novembro de 2010
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Só o Evangelho realiza reconciliações
“Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo...” 2 Co 5.19
Este foi o verso bíblico exposto em inúmeros banners, nas mais diversas línguas, pelos corredores do megaespaço do centro de conferência na Cidade do Cabo, África do Sul, na conferência de Lausanne 3. Traduzir o que foi o congresso, ou melhor, o movimento Lausanne naqueles dias, não é uma tarefa fácil nem rápida, requer tempo e reflexão para assimilarmos os múltiplos temas e assuntos que atravessaram as plenárias e as diversas exposições divididas entre palestras, testemunhos, vídeos, danças, músicas, poemas, teatro e orações, além das discussões muito ricas nas mesas de debate.
Obviamente o tema principal do congresso girava em torno da evangelização do mundo, mas aquilo que nos parecia a princípio tão óbvio se desdobrou numa complexidade de formas e ideias tão diversas quanto o número de países e línguas ali representados. Contudo, a direção dada através do estudo do livro de Efésios conduziu, num certo tom espiritualista, uma reflexão acerca de um evangelho estritamente cristocêntrico e das manifestações e atuação que esse evangelho causa na vida humana como um todo. O evangelho é, então, dimensionado como a figura do próprio “mistério”, nas palavras do apóstolo Paulo, e dimensionado na própria imagem de Cristo, naquele ao qual ainda não temos acesso como um todo, mas do qual podemos vivenciar e situar suas manifestações e benevolências em nossas vidas através de sua graça.
Então, dentre os aspectos tratados acerca do evangelho, como a integridade da igreja, a transformação do mundo e dos valores humanos, a reconciliação foi, a partir do meu olhar de psicólogo, o tema que provocou a maior reflexão e comoção no auditório, por meio de testemunhos impactantes sobre o desafio da reconciliação entre histórias, povos e pessoas ao redor do mundo. Embora em nosso contexto social e histórico não tenhamos questões tão relevantes para pensarmos a reconciliação numa esfera social, por exemplo, como entre países em constantes conflitos no Oriente Médio, o tema nos afeta tão diretamente quanto a qualquer povo ou nação do mundo. Desta forma, um dos testemunhos mais comoventes em Lausanne 3 foi o encontro entre uma moça palestina e um rapaz judeu. Ambos, agora convertidos, testemunham e vivenciam como evangelho de Cristo uma reconciliação que ultrapassa as barreiras sociopolíticas dos seus povos; ambos testemunham de um evangelho que reconcilia os sentimentos mais internos de rejeição e ódio que aprenderam a cultivar e nutrir dentro de si mesmos em relação um ao outro. Um sentimento, antes de ser aprendido e manifesto como cultura social em uma nação, é originado e mantido na identidade e no caráter de uma pessoa. Isso, para mim, foi o ponto nevrálgico da reflexão sobre uma das dimensões e atuação do evangelho de Cristo em nós; somos por natureza filhos da ira, irreconciliáveis conosco mesmo, passíveis de nutrir e sustentar uma inimizade com aqueles que nos rodeiam. Por isso o evangelho de Cristo que transforma o mundo inicia-se no interior de uma subjetividade, reconcilia a estrutura psíquica de uma pessoa atravessada e povoada por inúmeros sentimentos contraditórios e perversos com o sentimento de amor proveniente do próprio caráter de Deus.
O evangelho de Cristo reconcilia histórias pessoais, reconcilia pai com filho, esposa com esposo, reconcilia famílias, cidades, reconcilia sentimentos históricos que separam e trazem inimizades entre nações e continentes. Em um encontro ocorrido, inusitadamente, entre africanos e brasileiros, movido por uma carta de pedido de perdão pela história da escravidão no Brasil, uma mulher de um país africano representando todas as mães africanas que tiveram seus filhos e esposos capturados e levados pelo mercado de escravos, expressou o sentimento de dor e angústia daquelas mulheres por uma prática tão desumana e perversa. De imediato, todos nós naquele momento pudemos vivenciar aquele sentimento de dor e desespero daquelas mulheres que se transmitia e perpetuava através da cultura e sociedade africana. A proferição de perdão através daquela mulher comoveu todos os presentes naquele lugar; entre muitas lágrimas, todos se aglomeraram e se entrelaçaram num grande grupo, e, num coro de oração, clamavam a Deus por uma graça especial, por uma reconciliação, paz, sobre aquele sentimento compartilhado.
Isso não tem dimensão, trata-se do puro mistério de Deus para nós; para isso não temos como planejar, pensar ou manipular o evangelho de Cristo. O evangelho é para ser vivido, praticado, rotinizado em nossa conduta diária. Mais do que isso, o evangelho de Cristo promove o fazer as pazes conosco mesmo, a nos perdoar e, consequentemente, fazer o mesmo com aquele que nos rodeia. O evangelho de Cristo confronta os sentimentos indesejáveis e mais profundos da nossa natureza e, concomitantemente, todas as questões que atravessam a humanidade, como a pobreza, a orfandade, entre muitos outros. Pois, no fechamento dos tempos, todas as coisas, todos os sentimentos, todas as relações, todos os povos serão reconciliados, convertidos e convergidos em Deus, por intermédio de Cristo, tanto no tempo futuro quanto na temporalidade de uma vida pessoal.
Este foi o verso bíblico exposto em inúmeros banners, nas mais diversas línguas, pelos corredores do megaespaço do centro de conferência na Cidade do Cabo, África do Sul, na conferência de Lausanne 3. Traduzir o que foi o congresso, ou melhor, o movimento Lausanne naqueles dias, não é uma tarefa fácil nem rápida, requer tempo e reflexão para assimilarmos os múltiplos temas e assuntos que atravessaram as plenárias e as diversas exposições divididas entre palestras, testemunhos, vídeos, danças, músicas, poemas, teatro e orações, além das discussões muito ricas nas mesas de debate.
Obviamente o tema principal do congresso girava em torno da evangelização do mundo, mas aquilo que nos parecia a princípio tão óbvio se desdobrou numa complexidade de formas e ideias tão diversas quanto o número de países e línguas ali representados. Contudo, a direção dada através do estudo do livro de Efésios conduziu, num certo tom espiritualista, uma reflexão acerca de um evangelho estritamente cristocêntrico e das manifestações e atuação que esse evangelho causa na vida humana como um todo. O evangelho é, então, dimensionado como a figura do próprio “mistério”, nas palavras do apóstolo Paulo, e dimensionado na própria imagem de Cristo, naquele ao qual ainda não temos acesso como um todo, mas do qual podemos vivenciar e situar suas manifestações e benevolências em nossas vidas através de sua graça.
Então, dentre os aspectos tratados acerca do evangelho, como a integridade da igreja, a transformação do mundo e dos valores humanos, a reconciliação foi, a partir do meu olhar de psicólogo, o tema que provocou a maior reflexão e comoção no auditório, por meio de testemunhos impactantes sobre o desafio da reconciliação entre histórias, povos e pessoas ao redor do mundo. Embora em nosso contexto social e histórico não tenhamos questões tão relevantes para pensarmos a reconciliação numa esfera social, por exemplo, como entre países em constantes conflitos no Oriente Médio, o tema nos afeta tão diretamente quanto a qualquer povo ou nação do mundo. Desta forma, um dos testemunhos mais comoventes em Lausanne 3 foi o encontro entre uma moça palestina e um rapaz judeu. Ambos, agora convertidos, testemunham e vivenciam como evangelho de Cristo uma reconciliação que ultrapassa as barreiras sociopolíticas dos seus povos; ambos testemunham de um evangelho que reconcilia os sentimentos mais internos de rejeição e ódio que aprenderam a cultivar e nutrir dentro de si mesmos em relação um ao outro. Um sentimento, antes de ser aprendido e manifesto como cultura social em uma nação, é originado e mantido na identidade e no caráter de uma pessoa. Isso, para mim, foi o ponto nevrálgico da reflexão sobre uma das dimensões e atuação do evangelho de Cristo em nós; somos por natureza filhos da ira, irreconciliáveis conosco mesmo, passíveis de nutrir e sustentar uma inimizade com aqueles que nos rodeiam. Por isso o evangelho de Cristo que transforma o mundo inicia-se no interior de uma subjetividade, reconcilia a estrutura psíquica de uma pessoa atravessada e povoada por inúmeros sentimentos contraditórios e perversos com o sentimento de amor proveniente do próprio caráter de Deus.
O evangelho de Cristo reconcilia histórias pessoais, reconcilia pai com filho, esposa com esposo, reconcilia famílias, cidades, reconcilia sentimentos históricos que separam e trazem inimizades entre nações e continentes. Em um encontro ocorrido, inusitadamente, entre africanos e brasileiros, movido por uma carta de pedido de perdão pela história da escravidão no Brasil, uma mulher de um país africano representando todas as mães africanas que tiveram seus filhos e esposos capturados e levados pelo mercado de escravos, expressou o sentimento de dor e angústia daquelas mulheres por uma prática tão desumana e perversa. De imediato, todos nós naquele momento pudemos vivenciar aquele sentimento de dor e desespero daquelas mulheres que se transmitia e perpetuava através da cultura e sociedade africana. A proferição de perdão através daquela mulher comoveu todos os presentes naquele lugar; entre muitas lágrimas, todos se aglomeraram e se entrelaçaram num grande grupo, e, num coro de oração, clamavam a Deus por uma graça especial, por uma reconciliação, paz, sobre aquele sentimento compartilhado.
Isso não tem dimensão, trata-se do puro mistério de Deus para nós; para isso não temos como planejar, pensar ou manipular o evangelho de Cristo. O evangelho é para ser vivido, praticado, rotinizado em nossa conduta diária. Mais do que isso, o evangelho de Cristo promove o fazer as pazes conosco mesmo, a nos perdoar e, consequentemente, fazer o mesmo com aquele que nos rodeia. O evangelho de Cristo confronta os sentimentos indesejáveis e mais profundos da nossa natureza e, concomitantemente, todas as questões que atravessam a humanidade, como a pobreza, a orfandade, entre muitos outros. Pois, no fechamento dos tempos, todas as coisas, todos os sentimentos, todas as relações, todos os povos serão reconciliados, convertidos e convergidos em Deus, por intermédio de Cristo, tanto no tempo futuro quanto na temporalidade de uma vida pessoal.
É psicólogo e membro da 8ª Igreja Presbiteriana de Belo Horizonte. É casado com Rosa e pai de três filhos. Além de manter seu consultório de atendimento, João Marcos presta assistência a missionários ligados a diversas agências.
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