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- 14 de agosto de 2018
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Símbolo do cristianismo ameaçado de extinção
Em determinada ocasião, Pedro e seus colegas haviam pescado a noite toda, mas não tinham pegado nada, até que de madrugada apareceu Jesus na praia e disse: “Pedro, joga do outro lado do barco!”.
Dito e feito, a rede veio tão cheia de peixes que quase rasgou. Os pescadores precisaram chamar outros colegas para ajudar. Depois disso, comeram um peixinho assado na brasa com pão e algum tempero oriental. Certamente, Pedro não imaginava que um dia aquela fartura pudesse acabar.
O peixe é tão presente no cristianismo que virou a logomarca dos cristãos do primeiro século e até hoje anda colado na traseira dos “carros evangélicos”. Só que a situação atual dos peixes não está boa. Praticamente todas as espécies exploradas comercialmente estão sofrendo uma diminuição populacional. Em 2014 o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) fez uma lista de 475 espécies de peixes e outros animais marinhos ameaçados de extinção, e a pesca de quinze delas será proibida. Por pressão do setor pesqueiro, a lista ficou suspensa até 2016 e os efeitos da proibição foram adiados para abril de 2018. Se a pesca desses peixes continuar sendo feita de forma predatória, suas populações se reduzirão a um ponto irreversível, levando-as à extinção, que é para sempre – não tem volta.
Recentemente o Brasil criou uma das maiores unidades de conservação marinhas do mundo, ultrapassando as metas do acordo de Aichi, assinado por mais 192 países. Nesse acordo o Brasil se comprometeu a proteger 10% do seu mar territorial, equivalente à soma das áreas de Minas Gerais e Goiás. Com a criação dessa reserva, saímos de 1,5% para 25% de águas protegidas. Essas áreas deveriam incluir totalmente as ilhas oceânicas de Trindade e Martin Vaz, o monte submarino Columbia, os três montes no Espírito Santo e o arquipélago de São Pedro e São Paulo em Pernambuco, verdadeiros oásis de biodiversidade em meio ao oceano profundo, que é um deserto. Contraditoriamente, essas áreas ficaram de fora da reserva. Assim, a efetividade dessa enorme unidade de conservação ficou restrita a proteger apenas água salgada, uma vez que as áreas oceânicas são naturalmente pobres em peixes. Mais uma vez os interesses de poucos se sobrepuseram ao interesse de toda a humanidade, a qual se beneficiaria com a proteção dessas ilhas.
Fico imaginando que, se Jesus viesse hoje, ele encontraria muitos outros “Pedros”, pescadores, cansados de passar a noite pescando em vão.
Por Marcelo Renan D. Santos.
Conteúdo originalmente publicado na seção Mais que Notícias da edição 371 da revista Ultimato.
Leia mais:
Portaria Ibama 445/2014
Sobre a criação das unidades de conservação nas ilhas oceânicas brasileiras
Dito e feito, a rede veio tão cheia de peixes que quase rasgou. Os pescadores precisaram chamar outros colegas para ajudar. Depois disso, comeram um peixinho assado na brasa com pão e algum tempero oriental. Certamente, Pedro não imaginava que um dia aquela fartura pudesse acabar.
O peixe é tão presente no cristianismo que virou a logomarca dos cristãos do primeiro século e até hoje anda colado na traseira dos “carros evangélicos”. Só que a situação atual dos peixes não está boa. Praticamente todas as espécies exploradas comercialmente estão sofrendo uma diminuição populacional. Em 2014 o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) fez uma lista de 475 espécies de peixes e outros animais marinhos ameaçados de extinção, e a pesca de quinze delas será proibida. Por pressão do setor pesqueiro, a lista ficou suspensa até 2016 e os efeitos da proibição foram adiados para abril de 2018. Se a pesca desses peixes continuar sendo feita de forma predatória, suas populações se reduzirão a um ponto irreversível, levando-as à extinção, que é para sempre – não tem volta.
Recentemente o Brasil criou uma das maiores unidades de conservação marinhas do mundo, ultrapassando as metas do acordo de Aichi, assinado por mais 192 países. Nesse acordo o Brasil se comprometeu a proteger 10% do seu mar territorial, equivalente à soma das áreas de Minas Gerais e Goiás. Com a criação dessa reserva, saímos de 1,5% para 25% de águas protegidas. Essas áreas deveriam incluir totalmente as ilhas oceânicas de Trindade e Martin Vaz, o monte submarino Columbia, os três montes no Espírito Santo e o arquipélago de São Pedro e São Paulo em Pernambuco, verdadeiros oásis de biodiversidade em meio ao oceano profundo, que é um deserto. Contraditoriamente, essas áreas ficaram de fora da reserva. Assim, a efetividade dessa enorme unidade de conservação ficou restrita a proteger apenas água salgada, uma vez que as áreas oceânicas são naturalmente pobres em peixes. Mais uma vez os interesses de poucos se sobrepuseram ao interesse de toda a humanidade, a qual se beneficiaria com a proteção dessas ilhas.
Fico imaginando que, se Jesus viesse hoje, ele encontraria muitos outros “Pedros”, pescadores, cansados de passar a noite pescando em vão.
Por Marcelo Renan D. Santos.
Conteúdo originalmente publicado na seção Mais que Notícias da edição 371 da revista Ultimato.
Leia mais:
Portaria Ibama 445/2014
Sobre a criação das unidades de conservação nas ilhas oceânicas brasileiras
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