Opinião
- 09 de setembro de 2010
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Sim à violência intrafamiliar, diz pastor congressista
Derval Dasilio
Temos uma discussão importantíssima sobre a família. O discipulado cristão, em exigências para os filhos da fé, exige o rompimento com a "família" violenta enquanto estrutura de domínio. Igrejas, tantas vezes apontadas como "famílias da fé", defrontam-se com a necessidade de construção de uma alternativa de vida sem patriarcalismo, como a proposta por Jesus na comunidade de seguidores e seguidoras, discípulos e discípulas? A Bíblia denuncia a violência intrafamiliar. Assim como toda forma de violência social e exclusão. A experiência do “Abbá” em Jesus evoca indubitáveis ressonâncias da ternura, do cuidado, através do idioma aramaico bíblico (Queiruga). Porque a segurança em Deus, em sua profundidade mais abissal, em sua interioridade mais entranhada, é de um Deus paternal. Mas certo congressista evangélico faz campanha para reeleição com citações bíblicas, afirmando rejeição à lei que impedirá os pais violentos de continuarem a castigar fisicamente seus filhos. Esquece que, na dureza das leis humanas, no Êxodo, também se autoriza a venda das filhas adolescentes (Êx 21.7). Algumas vezes, filhas desonradas por estupro deveriam ser queimadas (Lv 21.9).
Prega ele, também, a maioridade penal antecipada, como se vivêssemos nos tempos do Império (cf. “Casa Grande e Senzala”, Gilberto Freire). Retorna ao tempo em que a justiça civil não tomava conhecimento tanto da violência intrafamiliar quanto da sevícia, abuso e trabalho forçado, e escravidão da criança. Para Jesus, porém, a família é um dos bens mais preciosos da humanidade. É difícil não concordar com essa afirmação, pois até mesmo não-religiosos, ou não-cristãos, pessoas que seguem outras religiões, também consideram a família como um lugar que assemelha-se a um ninho, onde todos se abrigam desde o nascimento. O primeiro e último amparo é encontrado no ambiente caloroso e aconchegante da família. Se imaginarmos que Deus é um grande inventor de coisas boas, o projeto da família, desde o início, é como um laboratório do amor, do cuidado, da fraternidade e da solidariedade.
Os valores da vida, os sonhos na direção de Deus, são recebidos, reproduzidos e transmitidos pela família. A Bíblia nunca aprova propostas de homófobos e agressores intrafamiliares, espancadores, violentadores de mulheres e crianças, em seu nome. As leis racistas e discriminatórias pertencem à dureza dos corações (Mt 19.8). A lei permite, mas Deus não criou homens e mulheres para tanto. O exemplo, inclusive, de que o castigo físico afasta da violência, do crime e das drogas é desmentido pelos próprios fatos: adolescentes e jovens envolvidos com o crime são originários de famílias extremamente violentas, segundo analistas comportamentais.
Definitivamente o parlamentar aqui citado ignora que a intimidade e a ternura não são coisas banais na família – mesmo a carente de direitos fundamentais, quanto à saúde, escola de qualidade, saneamento básico, habitação e trabalho condigno –, quando ele e vários depoentes evangélicos, em sua propaganda eleitoral, babam pelos cantos da boca sobre o direito patriarcal “bíblico” de continuar o que pais violentos fizeram com eles, em nome da Bíblia.
A pedofilia, o abuso sexual, a violência contra a criança, começam no ambiente familiar distorcido e desobediente às leis de proteção da criança. A instabilidade familiar, o ambiente da miséria, a opressão, a inquietude quanto ao futuro, a fome e desnutrição, espetáculos de destruição, de morte violenta, são traumas que acompanham a criança desassistida e violentada, ignorada na campanha política. Merecem a mesma atenção ou não? Inegavelmente há espancadores de homossexuais, mulheres e crianças no meio evangélico favorável à eleição desses políticos. Esqueceram o Novo Testamento.
Se temos dificuldades em identificar nossas famílias no compartilhamento desse perfil agradável, amoroso, respeitoso e carinhoso, devemos abrir nossos olhos para não nos identificarmos com os "projetos" humanos em desacordo com o que recebemos por herança desde a experiência de Deus. Através da história social do povo bíblico, reconhecemos, sim, que nossas famílias recebem também influências perversas, parecendo viver na contramão da história da fé. O Novo Testamento apresenta Jesus como um novo redentor da família. As conquistas modernas referentes aos direitos fundamentais, direitos jurídicos de proteção da família, demonstram porque Jesus estava em confronto permanente com a religião e a sociedade do seu tempo. Nas urnas, a escolha é nossa...
• Derval Dasilio é pastor da Igreja Presbiteriana Unida do Brasil. www.derv.wordpress.com
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Temos uma discussão importantíssima sobre a família. O discipulado cristão, em exigências para os filhos da fé, exige o rompimento com a "família" violenta enquanto estrutura de domínio. Igrejas, tantas vezes apontadas como "famílias da fé", defrontam-se com a necessidade de construção de uma alternativa de vida sem patriarcalismo, como a proposta por Jesus na comunidade de seguidores e seguidoras, discípulos e discípulas? A Bíblia denuncia a violência intrafamiliar. Assim como toda forma de violência social e exclusão. A experiência do “Abbá” em Jesus evoca indubitáveis ressonâncias da ternura, do cuidado, através do idioma aramaico bíblico (Queiruga). Porque a segurança em Deus, em sua profundidade mais abissal, em sua interioridade mais entranhada, é de um Deus paternal. Mas certo congressista evangélico faz campanha para reeleição com citações bíblicas, afirmando rejeição à lei que impedirá os pais violentos de continuarem a castigar fisicamente seus filhos. Esquece que, na dureza das leis humanas, no Êxodo, também se autoriza a venda das filhas adolescentes (Êx 21.7). Algumas vezes, filhas desonradas por estupro deveriam ser queimadas (Lv 21.9).
Prega ele, também, a maioridade penal antecipada, como se vivêssemos nos tempos do Império (cf. “Casa Grande e Senzala”, Gilberto Freire). Retorna ao tempo em que a justiça civil não tomava conhecimento tanto da violência intrafamiliar quanto da sevícia, abuso e trabalho forçado, e escravidão da criança. Para Jesus, porém, a família é um dos bens mais preciosos da humanidade. É difícil não concordar com essa afirmação, pois até mesmo não-religiosos, ou não-cristãos, pessoas que seguem outras religiões, também consideram a família como um lugar que assemelha-se a um ninho, onde todos se abrigam desde o nascimento. O primeiro e último amparo é encontrado no ambiente caloroso e aconchegante da família. Se imaginarmos que Deus é um grande inventor de coisas boas, o projeto da família, desde o início, é como um laboratório do amor, do cuidado, da fraternidade e da solidariedade.
Os valores da vida, os sonhos na direção de Deus, são recebidos, reproduzidos e transmitidos pela família. A Bíblia nunca aprova propostas de homófobos e agressores intrafamiliares, espancadores, violentadores de mulheres e crianças, em seu nome. As leis racistas e discriminatórias pertencem à dureza dos corações (Mt 19.8). A lei permite, mas Deus não criou homens e mulheres para tanto. O exemplo, inclusive, de que o castigo físico afasta da violência, do crime e das drogas é desmentido pelos próprios fatos: adolescentes e jovens envolvidos com o crime são originários de famílias extremamente violentas, segundo analistas comportamentais.
Definitivamente o parlamentar aqui citado ignora que a intimidade e a ternura não são coisas banais na família – mesmo a carente de direitos fundamentais, quanto à saúde, escola de qualidade, saneamento básico, habitação e trabalho condigno –, quando ele e vários depoentes evangélicos, em sua propaganda eleitoral, babam pelos cantos da boca sobre o direito patriarcal “bíblico” de continuar o que pais violentos fizeram com eles, em nome da Bíblia.
A pedofilia, o abuso sexual, a violência contra a criança, começam no ambiente familiar distorcido e desobediente às leis de proteção da criança. A instabilidade familiar, o ambiente da miséria, a opressão, a inquietude quanto ao futuro, a fome e desnutrição, espetáculos de destruição, de morte violenta, são traumas que acompanham a criança desassistida e violentada, ignorada na campanha política. Merecem a mesma atenção ou não? Inegavelmente há espancadores de homossexuais, mulheres e crianças no meio evangélico favorável à eleição desses políticos. Esqueceram o Novo Testamento.
Se temos dificuldades em identificar nossas famílias no compartilhamento desse perfil agradável, amoroso, respeitoso e carinhoso, devemos abrir nossos olhos para não nos identificarmos com os "projetos" humanos em desacordo com o que recebemos por herança desde a experiência de Deus. Através da história social do povo bíblico, reconhecemos, sim, que nossas famílias recebem também influências perversas, parecendo viver na contramão da história da fé. O Novo Testamento apresenta Jesus como um novo redentor da família. As conquistas modernas referentes aos direitos fundamentais, direitos jurídicos de proteção da família, demonstram porque Jesus estava em confronto permanente com a religião e a sociedade do seu tempo. Nas urnas, a escolha é nossa...
• Derval Dasilio é pastor da Igreja Presbiteriana Unida do Brasil. www.derv.wordpress.com
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É pastor emérito da Igreja Presbiteriana Unida do Brasil e autor de livros como “Pedagogia da Ganância" (2013) e "O Dragão que Habita em Nós” (2010).
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