Prateleira
- 08 de março de 2007
- Visualizações: 5279
- 1 comentário(s)
- +A
- -A
- compartilhar
Ser mulher é ser missionária da ternura
Para celebrar a semana da mulher, Prateleira traz ao leitor uma série de artigos publicados pela revista Ultimato sobre o tema. Todos os dias, com exclusividade, você vai ler aqui um novo artigo.
São poucas as mulheres com quem convivo que lidam bem com os papéis de profissional, mãe, dona-de-casa e amante. Elas são profissionais com carreiras definidas e em ascensão, mães cuidadosas, filhas zelosas e amantes dispostas. Porém, o que vejo, e me incluo nisso, é que boa parte de nós perdeu a significação da missão. Afinal, como falar em missão diante da necessidade de ser co-responsável pelo sustento da casa? Essa já não seria a missão?
Sou jornalista e, para minhas reportagens, busco histórias interessantes, que personifiquem a necessidade de um mundo menos desigual, resgatem a cidadania e a solidariedade perdidas. Tenho dois filhos — uma menina de 7 anos e um garoto de 9 —, especializados em quase me enlouquecer com tantos por quê?, e meu marido é pastor. No relacionamento conjugal temos de fazer constantes exercícios de dissociação de papéis, para que nosso casamento não seja extensão da igreja (no pior sentido) ou um apêndice da mesma. Não gosto que me tomem como exemplo. Não sou nem sirvo para ser modelo para ninguém... Mas aonde quero chegar com essas confissões? Em Paul Tournier: ele me proporcionou a delícia de saber que eu, mulher, possuo o sentido da pessoa mais do que o homem. Não sirvo como exemplo, mas tenho uma missão.
Por causa da missão de ser uma pessoa plena para ajudar outros a resgatarem esse sentido, não devo temer o que é verdadeiramente pessoal para mim: amor, fé, tristeza, alegria, culpa, sucesso, revés. Minha vida não deve ser determinada por modelos, quer sejam tradicionais ou feministas, mas pela minha própria humanidade!
A leitura do livro me fez entender que a missão não tem a ver com opções pessoais, nem com a clássica guerra dos sexos. Não estou, nem quero estar, em disputa com os homens. Afinal, quem disse que o padrão da mulher é ter conflito entre a intimidade familiar e o espaço social? Decidi acreditar que todas as posturas são determinadas pela missão. Homem e mulher produzem. No trabalho, eu produzo; em seu ministério, meu marido produz; por anos tendo dado aulas, minha mãe produziu; meu pai, como representante comercial, produz. A diferença é que o homem conta a produção pelas coisas produzidas; a mulher, pelo desfrutar das coisas produzidas.
Percebi que nós, mulheres, não trabalhamos por alguma coisa, mas por alguém. Fazer uma receita de bolo elaborada, trabalhosa, e até mesmo cara, só faz sentido quando as crianças batem palmas de apreciação. Busco no meu trabalho jornalístico, que exige uma grande dose objetividade, temperá-lo com porções de subjetividade, que levam à síntese e à união. A opção apenas pela objetividade — característica masculina — leva à análise e à separação. Então, minha missão como mulher é temperar o mundo — não somente o jornalismo, mas principalmente minhas relações interpessoais — com generosas pitadas de subjetividade.
Reconheço que nem sempre pensei assim. Por muito tempo levei a sério a promoção da mulher, a disputa, a luta pelo poder e pelo controle. E posso dizer, sem medo, que dessa forma a promoção feriu a todas nós. Acabamos nos impondo uma (in)capacidade de administrar a jornada dupla, um padrão de beleza tirano e um desgaste tremendo na relação com os homens, para quem somos confusas e difíceis demais.
A verdadeira promoção é nos reconhecermos mulheres com inteiras responsabilidades por nossas escolhas, respeitando nossas liberdades. Minha missão não é determinada pelo meu casamento, ou pela minha vida profissional, ou pelo sucesso dos meus filhos como crianças obedientes e estudiosas. Sou, independente de minha condição. O que dá sentido à vida é essa consciência. Como é bom saber que Jesus, que me motiva a trabalhar por um outro mundo possível, levou as mulheres a sério. Basta observar sua conversa com a mulher samaritana ou o anúncio de sua ressurreição a Maria Madalena, para vermos a estima e a confiança dadas a nós — mas também as mesmas exigências e promessas. De tudo isso tirei uma lição: Ser mulher é ser uma pessoa plena, por existir, e influenciar para transformar, sendo uma missionária da ternura.
• Nilza Valéria é jornalista da Visão Mundial, mãe e esposa, por acaso, de pastor.
Leia o livro
• A Missão da Mulher, de Paul Tournier
São poucas as mulheres com quem convivo que lidam bem com os papéis de profissional, mãe, dona-de-casa e amante. Elas são profissionais com carreiras definidas e em ascensão, mães cuidadosas, filhas zelosas e amantes dispostas. Porém, o que vejo, e me incluo nisso, é que boa parte de nós perdeu a significação da missão. Afinal, como falar em missão diante da necessidade de ser co-responsável pelo sustento da casa? Essa já não seria a missão?
Sou jornalista e, para minhas reportagens, busco histórias interessantes, que personifiquem a necessidade de um mundo menos desigual, resgatem a cidadania e a solidariedade perdidas. Tenho dois filhos — uma menina de 7 anos e um garoto de 9 —, especializados em quase me enlouquecer com tantos por quê?, e meu marido é pastor. No relacionamento conjugal temos de fazer constantes exercícios de dissociação de papéis, para que nosso casamento não seja extensão da igreja (no pior sentido) ou um apêndice da mesma. Não gosto que me tomem como exemplo. Não sou nem sirvo para ser modelo para ninguém... Mas aonde quero chegar com essas confissões? Em Paul Tournier: ele me proporcionou a delícia de saber que eu, mulher, possuo o sentido da pessoa mais do que o homem. Não sirvo como exemplo, mas tenho uma missão.
Por causa da missão de ser uma pessoa plena para ajudar outros a resgatarem esse sentido, não devo temer o que é verdadeiramente pessoal para mim: amor, fé, tristeza, alegria, culpa, sucesso, revés. Minha vida não deve ser determinada por modelos, quer sejam tradicionais ou feministas, mas pela minha própria humanidade!
A leitura do livro me fez entender que a missão não tem a ver com opções pessoais, nem com a clássica guerra dos sexos. Não estou, nem quero estar, em disputa com os homens. Afinal, quem disse que o padrão da mulher é ter conflito entre a intimidade familiar e o espaço social? Decidi acreditar que todas as posturas são determinadas pela missão. Homem e mulher produzem. No trabalho, eu produzo; em seu ministério, meu marido produz; por anos tendo dado aulas, minha mãe produziu; meu pai, como representante comercial, produz. A diferença é que o homem conta a produção pelas coisas produzidas; a mulher, pelo desfrutar das coisas produzidas.
Percebi que nós, mulheres, não trabalhamos por alguma coisa, mas por alguém. Fazer uma receita de bolo elaborada, trabalhosa, e até mesmo cara, só faz sentido quando as crianças batem palmas de apreciação. Busco no meu trabalho jornalístico, que exige uma grande dose objetividade, temperá-lo com porções de subjetividade, que levam à síntese e à união. A opção apenas pela objetividade — característica masculina — leva à análise e à separação. Então, minha missão como mulher é temperar o mundo — não somente o jornalismo, mas principalmente minhas relações interpessoais — com generosas pitadas de subjetividade.
Reconheço que nem sempre pensei assim. Por muito tempo levei a sério a promoção da mulher, a disputa, a luta pelo poder e pelo controle. E posso dizer, sem medo, que dessa forma a promoção feriu a todas nós. Acabamos nos impondo uma (in)capacidade de administrar a jornada dupla, um padrão de beleza tirano e um desgaste tremendo na relação com os homens, para quem somos confusas e difíceis demais.
A verdadeira promoção é nos reconhecermos mulheres com inteiras responsabilidades por nossas escolhas, respeitando nossas liberdades. Minha missão não é determinada pelo meu casamento, ou pela minha vida profissional, ou pelo sucesso dos meus filhos como crianças obedientes e estudiosas. Sou, independente de minha condição. O que dá sentido à vida é essa consciência. Como é bom saber que Jesus, que me motiva a trabalhar por um outro mundo possível, levou as mulheres a sério. Basta observar sua conversa com a mulher samaritana ou o anúncio de sua ressurreição a Maria Madalena, para vermos a estima e a confiança dadas a nós — mas também as mesmas exigências e promessas. De tudo isso tirei uma lição: Ser mulher é ser uma pessoa plena, por existir, e influenciar para transformar, sendo uma missionária da ternura.
• Nilza Valéria é jornalista da Visão Mundial, mãe e esposa, por acaso, de pastor.
Leia o livro
• A Missão da Mulher, de Paul Tournier
- 08 de março de 2007
- Visualizações: 5279
- 1 comentário(s)
- +A
- -A
- compartilhar
QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU ATÉ AQUI.
Ultimato quer falar com você.
A cada dia, mais de dez mil usuários navegam pelo Portal Ultimato. Leem e compartilham gratuitamente dezenas de blogs e hotsites, além do acervo digital da revista Ultimato, centenas de estudos bíblicos, devocionais diárias de autores como John Stott, Eugene Peterson, C. S. Lewis, entre outros, além de artigos, notícias e serviços que são atualizados diariamente nas diferentes plataformas e redes sociais.
PARA CONTINUAR, precisamos do seu apoio. Compartilhe conosco um cafezinho.
Leia mais em Prateleira
Opinião do leitor
Para comentar é necessário estar logado no site. Clique aqui para fazer o login ou o seu cadastro.
Escreva um artigo em resposta
Para escrever uma resposta é necessário estar cadastrado no site. Clique aqui para fazer o login ou seu cadastro.
Ainda não há artigos publicados na seção "Palavra do leitor" em resposta a este texto.
Assuntos em Últimas
- 500AnosReforma
- Aconteceu Comigo
- Aconteceu há...
- Agenda50anos
- Arte e Cultura
- Biografia e História
- Casamento e Família
- Ciência
- Devocionário
- Espiritualidade
- Estudo Bíblico
- Evangelização e Missões
- Ética e Comportamento
- Igreja e Liderança
- Igreja em ação
- Institucional
- Juventude
- Legado e Louvor
- Meio Ambiente
- Política e Sociedade
- Reportagem
- Resenha
- Série Ciência e Fé Cristã
- Teologia e Doutrina
- Testemunho
- Vida Cristã
Revista Ultimato
+ lidos
- Corpos doentes [fracos, limitados, mutilados] também adoram
- Pesquisa Força Missionária Brasileira 2025 quer saber como e onde estão os missionários brasileiros
- Perigo à vista ! - Vulnerabilidades que tornam filhos de missionários mais suscetíveis ao abuso e ao silêncio
- As 97 teses de Martinho Lutero
- Lutar pelos sonhos é possível após os 60. Sempre pela bondade do Senhor
- A urgência da reconciliação: Reflexões a partir do 4º Congresso de Lausanne, um ano após o 7 de outubro
- Para fissurados por controle, cancelamento é saída fácil
- Diálogos de Esperança: nova temporada conversa sobre a Igreja e Lausanne 4
- A última revista do ano
- Vem aí "The Connect Faith 2024"