Opinião
- 06 de agosto de 2009
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Sem vergonha de ser cristão, honesto e feliz
Derval Dasilio
“Qual o homem que não ama sua vida, procurando ser feliz todos os dias.” (Sl 34.13)
“Faz escuro, mas eu canto.” (Lutero)
No coração do evangelho vemos a centralidade da alegria de Jesus na missão de Deus. Um sentimento de alegria que gera festa: é o pastor que reencontra a ovelha perdida; é a mulher que exulta quando a moeda perdida é encontrada; é o pai que vai ao encontro do filho perdido para homenageá-lo com a graça, em festa e grande alegria; alegrai-vos comigo, diz Jesus a cada feito. “Viver e não ter a vergonha de ser feliz” (Gonzaguinha). Poetas e cantores proclamam a alegria de viver. Saint-Exupéry dizia: “O maior prazer é o prazer de conviver com os outros”. A ética do cuidado começa e finaliza, portanto, na alegria do bem, na felicidade e no prazer de participar do bem-estar de todos, na denúncia de privilégios de poucos e exclusão de muitos.
O que se deseja, no mais secreto do coração, como bem supremo é, de fato, ser “feliz”? Jesus Ben Sirac, o autor do Eclesiástico, ensinou que, afinal de contas, todos queremos ser felizes, e a felicidade é o grande fim em si mesmo, o grande desejo humano. Assim também dizia o salmista: “Qual o homem que não ama sua vida, procurando ser feliz todos os dia” (Sl 34.13).
Antes de contrair a doença mortal da ambição, quando o homem (humano) se sentia feliz, tranquilo e seguro, sem ganância de poder, sem pensar numa felicidade comercializável, que permite vender a graça como uma mercadoria num balcão, o salmista já dizia: “Pela tarde vem o pranto, e pela manhã gritos de alegria”. O mais alto ideal cristão está aqui: felicidade, bem-aventurança eterna. E Deus cuida de seus filhos e filhas por meio de nós. Sejamos felizes por isso.
A felicidade não se compra, mas é sempre buscada. Como uma “ave peregrina”, um passarinho que pousa às vezes em nossa janela, mas que escapa no momento exato em que queremos domesticá-lo, como nos lembra um ensinamento oriental. Damos muitas voltas pelo mundo: buscamos “ter”, “saber” e “poder”. Contudo, por meio desses poderosos verbos auxiliares da propriedade, da sabedoria corrompida, da potência, buscamos ser felizes (L.C.Susin). No entanto, dificilmente alcançamos esse fim. A manhã nunca chega por esses meios. Permanece a noite tenebrosa que assustava Lutero. Os corais angelicais já devem começar seu encantamento aqui na terra: “Faz escuro, mas eu canto”.
Concretamente, dá pra ser feliz num mundo sem compaixão? A felicidade está essencialmente ligada à alegria e ao prazer, ao sentimento jubiloso de gozo, à plenitude passageira, mas profunda, em que o prazer faz vibrar o ser humano na sensação positiva da vida em gozo pleno.
A felicidade está ligada ao prazer de um sorriso, como o da criança que brinca feliz com a areia sem pressentir que já é um esboço do que vai ser: “Homem (que) pode ver um mundo num grão de areia e um céu numa flor silvestre, segurar o infinito na palma da mão e a eternidade em uma hora” (William Blake). Tantos conteúdos para a “alegria de viver”! A ética mais rudimentar e mais sincera é a que envolve o prazer como forma de ser feliz. Aí está a primeira liberdade e o primeiro amor à vida, a primeira consciência da honestidade. Creio que Kant poderia ter dito isso, se não disse, em sua ética exigente de sinceridade, de verdade contra a hipocrisia ou a ambiguidade, da colocação do dever acima de tudo: é um prazer ser honesto! É um prazer não compartilhar com a corrupção reinante e não aceitar que um governante nos chame de “imbecis” e que seus aliados políticos sejam inatacáveis quando distribuem esmolas para o povo (Lula e Sarney).
Haverá outras formas de se expandir a felicidade, como, por exemplo, a felicidade de se dedicar a uma causa de justiça, de trabalhar em favor da cooperação e da solidariedade com os que não têm nada, de aprender da gente do povo, que vive feliz em sua sabedoria sem ganância, de fazer alguém feliz e até de sofrer pela gente amada. Porém são como que degraus sobre a estrutura básica do prazer. A primeira alegria é a de viver. O mais alto ideal ético, o de viver em comunhão, não dispensa, mas exige o prazer. Jesus ensinou, e nós devíamos assinar em baixo.
• Derval Dasilio é pastor da Igreja Presbiteriana Unida do Brasil. www.derv.wordpress.com
“Qual o homem que não ama sua vida, procurando ser feliz todos os dias.” (Sl 34.13)
“Faz escuro, mas eu canto.” (Lutero)
No coração do evangelho vemos a centralidade da alegria de Jesus na missão de Deus. Um sentimento de alegria que gera festa: é o pastor que reencontra a ovelha perdida; é a mulher que exulta quando a moeda perdida é encontrada; é o pai que vai ao encontro do filho perdido para homenageá-lo com a graça, em festa e grande alegria; alegrai-vos comigo, diz Jesus a cada feito. “Viver e não ter a vergonha de ser feliz” (Gonzaguinha). Poetas e cantores proclamam a alegria de viver. Saint-Exupéry dizia: “O maior prazer é o prazer de conviver com os outros”. A ética do cuidado começa e finaliza, portanto, na alegria do bem, na felicidade e no prazer de participar do bem-estar de todos, na denúncia de privilégios de poucos e exclusão de muitos.
O que se deseja, no mais secreto do coração, como bem supremo é, de fato, ser “feliz”? Jesus Ben Sirac, o autor do Eclesiástico, ensinou que, afinal de contas, todos queremos ser felizes, e a felicidade é o grande fim em si mesmo, o grande desejo humano. Assim também dizia o salmista: “Qual o homem que não ama sua vida, procurando ser feliz todos os dia” (Sl 34.13).
Antes de contrair a doença mortal da ambição, quando o homem (humano) se sentia feliz, tranquilo e seguro, sem ganância de poder, sem pensar numa felicidade comercializável, que permite vender a graça como uma mercadoria num balcão, o salmista já dizia: “Pela tarde vem o pranto, e pela manhã gritos de alegria”. O mais alto ideal cristão está aqui: felicidade, bem-aventurança eterna. E Deus cuida de seus filhos e filhas por meio de nós. Sejamos felizes por isso.
A felicidade não se compra, mas é sempre buscada. Como uma “ave peregrina”, um passarinho que pousa às vezes em nossa janela, mas que escapa no momento exato em que queremos domesticá-lo, como nos lembra um ensinamento oriental. Damos muitas voltas pelo mundo: buscamos “ter”, “saber” e “poder”. Contudo, por meio desses poderosos verbos auxiliares da propriedade, da sabedoria corrompida, da potência, buscamos ser felizes (L.C.Susin). No entanto, dificilmente alcançamos esse fim. A manhã nunca chega por esses meios. Permanece a noite tenebrosa que assustava Lutero. Os corais angelicais já devem começar seu encantamento aqui na terra: “Faz escuro, mas eu canto”.
Concretamente, dá pra ser feliz num mundo sem compaixão? A felicidade está essencialmente ligada à alegria e ao prazer, ao sentimento jubiloso de gozo, à plenitude passageira, mas profunda, em que o prazer faz vibrar o ser humano na sensação positiva da vida em gozo pleno.
A felicidade está ligada ao prazer de um sorriso, como o da criança que brinca feliz com a areia sem pressentir que já é um esboço do que vai ser: “Homem (que) pode ver um mundo num grão de areia e um céu numa flor silvestre, segurar o infinito na palma da mão e a eternidade em uma hora” (William Blake). Tantos conteúdos para a “alegria de viver”! A ética mais rudimentar e mais sincera é a que envolve o prazer como forma de ser feliz. Aí está a primeira liberdade e o primeiro amor à vida, a primeira consciência da honestidade. Creio que Kant poderia ter dito isso, se não disse, em sua ética exigente de sinceridade, de verdade contra a hipocrisia ou a ambiguidade, da colocação do dever acima de tudo: é um prazer ser honesto! É um prazer não compartilhar com a corrupção reinante e não aceitar que um governante nos chame de “imbecis” e que seus aliados políticos sejam inatacáveis quando distribuem esmolas para o povo (Lula e Sarney).
Haverá outras formas de se expandir a felicidade, como, por exemplo, a felicidade de se dedicar a uma causa de justiça, de trabalhar em favor da cooperação e da solidariedade com os que não têm nada, de aprender da gente do povo, que vive feliz em sua sabedoria sem ganância, de fazer alguém feliz e até de sofrer pela gente amada. Porém são como que degraus sobre a estrutura básica do prazer. A primeira alegria é a de viver. O mais alto ideal ético, o de viver em comunhão, não dispensa, mas exige o prazer. Jesus ensinou, e nós devíamos assinar em baixo.
• Derval Dasilio é pastor da Igreja Presbiteriana Unida do Brasil. www.derv.wordpress.com
É pastor emérito da Igreja Presbiteriana Unida do Brasil e autor de livros como “Pedagogia da Ganância" (2013) e "O Dragão que Habita em Nós” (2010).
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