Opinião
- 30 de julho de 2021
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Sem coração, sem virtude e sem moral: a morte da razão e a razão da loucura
Por Paulo Ribeiro
A negação da ciência, a indiferença com o extermínio nos dias que correm, a insensibilidade com a dor alheia, a quebra explicita dos valores morais universais de direitos humanos e a ausência de sanidade mental, nos leva a perguntar o que aconteceu com boa parte dos brasileiros, inclusive aqueles que se chamam cristãos.
Tudo isso me faz lembrar um livro publicado em 1944, A Abolição do Homem1, de C. S. Lewis, sobre o estado da educação britânica e suas implicações para a sociedade. Acredito que sua abordagem nos ajude a entender melhor a razão da loucura que nos rodeia, e aqui faço um pequeno resumo e comentários.
Homens sem coração
O primeiro capítulo, “Homens sem Peito/Coração”, fala sobre nossas capacidades intelectuais, representadas pela cabeça; capacidades morais, representadas pelo peito/coração; e capacidades emocionais e estéticas, representadas pelo estômago.
Na perspectiva clássica, o que nos torna humanos não é o intelecto, visto que os seres celestiais o possuíam, nem nossos apetites, que compartilhamos com os animais; o que nos torna humanos é um componente intermediário que faz a mediação entre as duas coisas. Os sentimentos morais são os que mais caracterizam o que significa ser humano. No entanto, Lewis observou que a educação moderna estava separando a cabeça dos apetites ao redefinir o conhecimento apenas em termos de fatos cientificamente verificados. Por que era suposto que fatos como “2 + 2 = 4” não tem valor, e que sua validade transcende o sistema de valores; eles não têm significado moral.
Com essa redução moderna do mundo apenas por meio de fatos, Lewis estava preocupado em ensinar aos alunos que o mundo inerentemente sem sentido tem o efeito de destruir o conceito de virtude.
A negação da virtude
Virtude no mundo clássico envolvia ordenar nossos amores, organizar nossos sentimentos, para refletir a economia de bens de autoria divina no mundo. No entanto, Lewis estava preocupado com o fato de que qualquer educação que negasse tal economia de bens negaria a própria base para a formação da virtude.
A educação britânica estava criando uma geração de jovens desprovidos de qualquer meio de agrupar suas cabeças cheias de fatos com seus apetites cheios de sentimento e instinto; eles estavam criando “pessoas sem peito/coração”.
O segundo capítulo, intitulado “O Caminho”, examina três teorias éticas que considera alternativas à noção clássica de uma economia divina de bens. Para demonstrar o significado transcultural dos valores objetivos, Lewis usa o termo chinês, o Tao, para denotar a concepção de significado intrínseco e valor no mundo.
Como tal, Lewis “relativiza o relativizador”; ele acusa os céticos modernos por serem seletivos em seus ceticismos. O terceiro capítulo, “A abolição do homem”, expõe a visão de como seria um mundo completamente governado por fatos cientificamente comprovados e desprovido de qualquer concepção do Tao.
Uma sociedade que rejeita a lei moral e está enraizada na manipulação inspirada na tecnologia deve, por definição, se organiza em duas classes de pessoas: manipuladores e manipulados, ou condicionadores e condicionados. As sociedades tecnológicas são bem-sucedidas ao convencer as massas de que sua maior felicidade e liberdade são encontradas em sua confiança em uma classe de especialistas e técnicos que têm a competência e especialização para ajustar o mundo aos seus desejos e ambições.
A razão da loucura
Quando toda a realidade for reduzida à mera natureza, sendo entendida apenas por meio de fatos científicos, então até a própria humanidade será vista como nada mais do que mera natureza. E se a natureza existe para ser manipulada de acordo com as necessidades e desejos dos outros, então, inevitavelmente, a vasta maioria da humanidade seria vulnerável à manipulação científica e tecnológica de acordo com as necessidades da elite tecnológica.
E então, quando o homem pensar que finalmente conquistou a natureza, a natureza terá conquistado o homem, pois o homem como tal deixaria de existir; surgirá uma nova ordem social que inclui a vasta maioria da humanidade na categoria de natureza impessoal que, de fato, redefine a humanidade como inerentemente sem significado; daí o título de seu terceiro capítulo e do livro publicado, "A Abolição do Homem".
Resumindo, a loucura que observamos hoje não é muito diferente da Grande Bretanha dos anos 1940 e tem pelo menos três bases fundamentais:
- A Falta de Coração
- A Educação Sem Virtude
- A Rejeição da Lei Moral
E, como consequência, essa insanidade e alienação que vemos continuará a destruição da sociedade civil em que vivemos. Essa é a razão da loucura – a morte do coração, da virtude e da razão.
Nota:
1. A Abolição do Homem, C.S. Lewis, 1944, Thomas Nelson Brasil; 1ª edição, 2017.
A negação da ciência, a indiferença com o extermínio nos dias que correm, a insensibilidade com a dor alheia, a quebra explicita dos valores morais universais de direitos humanos e a ausência de sanidade mental, nos leva a perguntar o que aconteceu com boa parte dos brasileiros, inclusive aqueles que se chamam cristãos.
Tudo isso me faz lembrar um livro publicado em 1944, A Abolição do Homem1, de C. S. Lewis, sobre o estado da educação britânica e suas implicações para a sociedade. Acredito que sua abordagem nos ajude a entender melhor a razão da loucura que nos rodeia, e aqui faço um pequeno resumo e comentários.
Homens sem coração
O primeiro capítulo, “Homens sem Peito/Coração”, fala sobre nossas capacidades intelectuais, representadas pela cabeça; capacidades morais, representadas pelo peito/coração; e capacidades emocionais e estéticas, representadas pelo estômago.
Na perspectiva clássica, o que nos torna humanos não é o intelecto, visto que os seres celestiais o possuíam, nem nossos apetites, que compartilhamos com os animais; o que nos torna humanos é um componente intermediário que faz a mediação entre as duas coisas. Os sentimentos morais são os que mais caracterizam o que significa ser humano. No entanto, Lewis observou que a educação moderna estava separando a cabeça dos apetites ao redefinir o conhecimento apenas em termos de fatos cientificamente verificados. Por que era suposto que fatos como “2 + 2 = 4” não tem valor, e que sua validade transcende o sistema de valores; eles não têm significado moral.
Com essa redução moderna do mundo apenas por meio de fatos, Lewis estava preocupado em ensinar aos alunos que o mundo inerentemente sem sentido tem o efeito de destruir o conceito de virtude.
A negação da virtude
Virtude no mundo clássico envolvia ordenar nossos amores, organizar nossos sentimentos, para refletir a economia de bens de autoria divina no mundo. No entanto, Lewis estava preocupado com o fato de que qualquer educação que negasse tal economia de bens negaria a própria base para a formação da virtude.
A educação britânica estava criando uma geração de jovens desprovidos de qualquer meio de agrupar suas cabeças cheias de fatos com seus apetites cheios de sentimento e instinto; eles estavam criando “pessoas sem peito/coração”.
O segundo capítulo, intitulado “O Caminho”, examina três teorias éticas que considera alternativas à noção clássica de uma economia divina de bens. Para demonstrar o significado transcultural dos valores objetivos, Lewis usa o termo chinês, o Tao, para denotar a concepção de significado intrínseco e valor no mundo.
Como tal, Lewis “relativiza o relativizador”; ele acusa os céticos modernos por serem seletivos em seus ceticismos. O terceiro capítulo, “A abolição do homem”, expõe a visão de como seria um mundo completamente governado por fatos cientificamente comprovados e desprovido de qualquer concepção do Tao.
Uma sociedade que rejeita a lei moral e está enraizada na manipulação inspirada na tecnologia deve, por definição, se organiza em duas classes de pessoas: manipuladores e manipulados, ou condicionadores e condicionados. As sociedades tecnológicas são bem-sucedidas ao convencer as massas de que sua maior felicidade e liberdade são encontradas em sua confiança em uma classe de especialistas e técnicos que têm a competência e especialização para ajustar o mundo aos seus desejos e ambições.
A razão da loucura
Quando toda a realidade for reduzida à mera natureza, sendo entendida apenas por meio de fatos científicos, então até a própria humanidade será vista como nada mais do que mera natureza. E se a natureza existe para ser manipulada de acordo com as necessidades e desejos dos outros, então, inevitavelmente, a vasta maioria da humanidade seria vulnerável à manipulação científica e tecnológica de acordo com as necessidades da elite tecnológica.
E então, quando o homem pensar que finalmente conquistou a natureza, a natureza terá conquistado o homem, pois o homem como tal deixaria de existir; surgirá uma nova ordem social que inclui a vasta maioria da humanidade na categoria de natureza impessoal que, de fato, redefine a humanidade como inerentemente sem significado; daí o título de seu terceiro capítulo e do livro publicado, "A Abolição do Homem".
Resumindo, a loucura que observamos hoje não é muito diferente da Grande Bretanha dos anos 1940 e tem pelo menos três bases fundamentais:
- A Falta de Coração
- A Educação Sem Virtude
- A Rejeição da Lei Moral
E, como consequência, essa insanidade e alienação que vemos continuará a destruição da sociedade civil em que vivemos. Essa é a razão da loucura – a morte do coração, da virtude e da razão.
Nota:
1. A Abolição do Homem, C.S. Lewis, 1944, Thomas Nelson Brasil; 1ª edição, 2017.
Doutor em Engenharia Elétrica pela Universidade de Manchester, na Inglaterra, foi Professor em Universidades nos Estados Unidos, Nova Zelândia e Holanda, e Pesquisador em Centros de Pesquisa (EPRI, NASA). Atualmente é Professor Titular Livre na Universidade Federal de Itajubá, MG. É originário do Vale do Pajeú e torcedor do Santa Cruz.
>> http://lattes.cnpq.br/2049448948386214
>> https://scholar.google.com/citations?user=38c88BoAAAAJ&hl=en&oi=ao
Pesquisa publicada recentemente aponta os cientistas destacados entre o “top” 2% dos pesquisadores de maior influência no mundo, nas diversas áreas do conhecimento. Destes, 600 cientistas são de Instituições Brasileiras. O Professor Paulo F. Ribeiro foi incluído nesta lista relacionado a área de Engenharia Elétrica.
>> http://lattes.cnpq.br/2049448948386214
>> https://scholar.google.com/citations?user=38c88BoAAAAJ&hl=en&oi=ao
Pesquisa publicada recentemente aponta os cientistas destacados entre o “top” 2% dos pesquisadores de maior influência no mundo, nas diversas áreas do conhecimento. Destes, 600 cientistas são de Instituições Brasileiras. O Professor Paulo F. Ribeiro foi incluído nesta lista relacionado a área de Engenharia Elétrica.
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