Por Escrito
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Seja leve
Um Dia de Cada Vez
Por Sonia Couto
Nas boas conversas que tinha com meu pai, não me esqueço de um dos seus conselhos que traduziam bem quem eu era e quem eu podia ser:
— Filha, tente viver a vida com mais leveza.
Eu me excedia nas preocupações. Colocava muita carga sobre minhas responsabilidades. E ele me lembrava que a responsabilidade podia caminhar lado a lado com a leveza, com a tranquilidade das escolhas feitas e das próprias consequências delas.
Já faz nove anos que meu pai foi ao encontro do nosso Pai Celeste. E, seu conselho ainda soa no meu coração e na minha vida. Se, por um lado, reflete que eu ainda não aprendi a segui-lo plenamente, por outro, me mostra que estou em uma jornada longa, galgada dia a dia, e que sempre precisa de fôlego novo. Meu pai me conhecia bem, sabia que era necessário relembrar um conselho tão precioso. Como os conselhos, vindos de quem ama, podem ser curativos e nos levar a uma melhor qualidade de vida!
Ao longo do tempo, fui acumulando bons símbolos de leveza. Admirava-os. Invejava-os. Quase perseguia esse estado tão próprio da natureza, e tão custoso em minha vida pessoal. Uma folha, que com ritmo próprio, caía no chão. Uma gota que escolhia seu caminho após uma tempestade. Um pássaro que pousava na varanda. Um dente-de-leão, no meio da grama, levado pelo vento... Esse último, era meu passatempo em qualquer lugar que o encontrasse. Alegrava-me em poder pegá-lo pela mão e, cuidadosamente, soprá-lo e acompanhar seu trajeto, espalhando-se ao redor. Como a natureza pode ser assim tão expressiva e completa em ambientes que nós, humanos, temos tanta dificuldade de transitar?
Assim, por muitas vezes, nos meus pesadelos mais medonhos, pareço como um gigante – o que é o oposto do que realmente sou. Um gigante fixo na terra, enraizado no campo das circunstâncias. Ele é adubado pelo perfeccionismo e pelas palavras que zombam de mim: “Seria isso, porventura, suficiente?”. Vive cercado pelos montes da dúvida e pelo vale do medo. O gigante é vaidoso com todo seu peso, mesmo que este o faça inerte. Assim como o gigante, pareço também o cristão, de O Peregrino, que carrega um grande fardo nas costas, sem meios de tirá-lo. Quando indagado sobre o fardo, cristão responde: “Mas não posso tirá-lo sozinho, e em minha cidade não há ninguém capaz de ajudar-me. Sigo esse caminho em busca de um lugar onde possa me livrar dele” (O Peregrino, John Bunyan, p.37).
Sigo pensando nas mesmas palavras do meu pai: encontre leveza, minha filha. Seja leve. E, nesses dias, lembrando dessas palavras, encontrei de outra forma com a mensagem de Jesus: “Os deveres que eu exijo de vocês são fáceis, e a carga que eu ponho sobre vocês é leve”, Mateus 11.30 (NTLH). Conhecendo bem ao certo toda nossa humanidade, Jesus nos faz um convite à leveza, ao frescor, à singeleza. O que ele queria dizer com essas palavras? Para qual perspectiva ele apontava com esse amável convite? “Venham a mim todos vocês que estão cansados de carregar as suas pesadas cargas, e eu lhes darei descanso”, versículo 28, do mesmo capítulo. O descanso pressupõe a leveza. A leveza é a graça. Em nenhum outro lugar, por mais belo e paradisíaco que seja, pode-se achar tal leveza. Tal virtude. "Venha, aproxime-se, busque o refrigério em mim", diz o Senhor Jesus. Enquanto me esvazio do peso desnecessário, ele me preenche com toda sua leveza eterna! O cristão encontra aos pés da cruz o alívio do fardo pesado que carrega. Sem carga, nem sobrecarga. Assim acontece comigo e com você enquanto peregrinamos em direção à cidade celestial.
• Sonia Couto, viúva, mãe do Mateus e do Tiago. Coordenadora de comunicação na Interserve Brasil, reside em Viçosa, MG.
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