Opinião
- 10 de maio de 2013
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Salve mamães, cheias de graça!
À Ivny, Milena, Soninha, Miriã, Kelen...
Há poucos dias, uma amiga jornalista enviou-me um e-mail à procura de super-mães para uma de suas matérias. Ela tratou logo de explicar aos leitores de sua mensagem: “Ok, para você, a sua mãe é super. Porém, preciso de histórias realmente diferentes”. Quando li, abri aquele sorrisinho; não pelo alvo da matéria, mas por nós filhos acharmos de imediato a história das nossas mães de fato super, ainda que a mídia não a considere tanto assim...
Cheguei a pensar por que não propunham uma matéria um pouco inversa para celebrar o dia das mães, na qual o super é o corriqueiro, o ordinário. Semelhante àquela música do Chico que, em outro contexto, diz: “Todo dia ela faz tudo sempre igual, me sacode às 6 horas da manhã...”. Quem sabe o heroísmo de nossas mães não estaria simplesmente no que há de mais simples e complexo no dia a dia. Sim, eu sei, isso não dá ibope.
Não, eu também não falarei sobre este tema neste texto. Deixo o leitor rememorar ou desenhar em sua mente os doces e amargos, ou o agridoce, que é bem mais saboroso, do seu cotidiano com sua super-mãe: o modo como por diversas vezes ela o acordou, o ninou, o corrigiu, o aplaudiu, o criticou, cozinhou, coseu, trabalhou, esteve presente, faltou, cantou, gritou, aconselhou, teimou, insistiu, desistiu, orou, se cansou, se mostrou, se calou, sorriu, chorou, o mimou, o deixou, acertou, falhou, partilhou, nada entendeu, foi, é, ou quem sabe você a imaginou esta mulher, esta menina, divina e tão gente, mãe.
Por ser tudo isso tão universal e a um só tempo tão particular, abandone-se com vagar sobre estes verbos. Para eles, não há observação maior que a emoção, o afeto. Quero te levar com estas linhas para algo não mais científico, mas, ao menos, mais analisável. Para um meu olhar para as jovens mamães.
Em nossa comunidade, é impressionante notar como tantas floresceram a um só tempo. Como uma entusiasta da maternidade, vibro com cada notícia de gravidez, demoro-me a escutá-las em seus dilemas, mudanças corporais, leituras variadas, conselhos trocados. Adoro perguntar sobre os nomes, ver o enxoval, entender as dores, ler os sorrisos e, até inconvenientemente (confesso!), reforçar com meu leve carinho que barriga de grávida é espaço público! Não, não me contenho diante de uma jovem mãe.
Há quem diga que, ao nos colocar uma criança nos braços, Deus nos mostra que continua acreditando em nós, seres humanos. Acho que ele nos dá igualmente mais uma amostra para que acreditemos nele, Deus. Se a epístola de Romanos nos leva a refletir sobre a imensidão do Criador diante dos grandes feitos exteriores a nós, a maternidade nos leva ao interior, ao modo assombrosamente maravilhoso pelo qual somos criados.
É tão complexo um ser humano! Lembro-me das aulas de biologia na escola, na qual estudávamos o coração e o bombeamento sanguíneo. Apenas uma parte desta maquinaria. Somos arquitetamente planejados. Sem falar no psiquismo, nos desejos de alma e espírito, na vocação tão única de cada ser. Um bebê carrega tudo isso consigo. Admiravelmente assustador, eu diria.
Reflito ainda nas tantas variáveis que permitem ou não uma gravidez. Algumas destas mamães relatam mesmo o milagre que viveram ao conceber. Outras, contam do difícil dilema de ter de lidar com alguma anormalidade inexplicável do filho concebido. E há ainda aquelas que explicam como tudo foi tão simples, e mesmo planejado.
Chego à pergunta que tão bem nos fazem as crianças em certo momento: “de onde vim?”; e contemplo o que vem antes da narração de todas essas histórias: a beleza de ter Deus escolhido não um ovo, uma célula solitária que se multiplica, mas a relação de amor entre um homem e uma mulher para dar origem a uma nova vida.
Sim, tudo isso é mistério, é graça. Ressoa em meus ouvidos a voz do anjo: “Salve, Maria, cheia de graça!”. É isso que cada uma delas carrega dentro de si: graça, muita graça! Graça que transborda, que testifica, que inspira, que insiste em se fazer palavra quando é só contemplação e deleite no Senhor da graça. Que Deus as abençoe, mamães cheias de graça. Ele de certo é com vocês.
_______
Mariana Furst é mestre em teoria literária e professora de francês na Universidade Federal de Viçosa.
Leia mais
Caminhos da graça
Deixem que elas mesmas falem
A missão da mulher
Há poucos dias, uma amiga jornalista enviou-me um e-mail à procura de super-mães para uma de suas matérias. Ela tratou logo de explicar aos leitores de sua mensagem: “Ok, para você, a sua mãe é super. Porém, preciso de histórias realmente diferentes”. Quando li, abri aquele sorrisinho; não pelo alvo da matéria, mas por nós filhos acharmos de imediato a história das nossas mães de fato super, ainda que a mídia não a considere tanto assim...
Cheguei a pensar por que não propunham uma matéria um pouco inversa para celebrar o dia das mães, na qual o super é o corriqueiro, o ordinário. Semelhante àquela música do Chico que, em outro contexto, diz: “Todo dia ela faz tudo sempre igual, me sacode às 6 horas da manhã...”. Quem sabe o heroísmo de nossas mães não estaria simplesmente no que há de mais simples e complexo no dia a dia. Sim, eu sei, isso não dá ibope.
Não, eu também não falarei sobre este tema neste texto. Deixo o leitor rememorar ou desenhar em sua mente os doces e amargos, ou o agridoce, que é bem mais saboroso, do seu cotidiano com sua super-mãe: o modo como por diversas vezes ela o acordou, o ninou, o corrigiu, o aplaudiu, o criticou, cozinhou, coseu, trabalhou, esteve presente, faltou, cantou, gritou, aconselhou, teimou, insistiu, desistiu, orou, se cansou, se mostrou, se calou, sorriu, chorou, o mimou, o deixou, acertou, falhou, partilhou, nada entendeu, foi, é, ou quem sabe você a imaginou esta mulher, esta menina, divina e tão gente, mãe.
Por ser tudo isso tão universal e a um só tempo tão particular, abandone-se com vagar sobre estes verbos. Para eles, não há observação maior que a emoção, o afeto. Quero te levar com estas linhas para algo não mais científico, mas, ao menos, mais analisável. Para um meu olhar para as jovens mamães.
Em nossa comunidade, é impressionante notar como tantas floresceram a um só tempo. Como uma entusiasta da maternidade, vibro com cada notícia de gravidez, demoro-me a escutá-las em seus dilemas, mudanças corporais, leituras variadas, conselhos trocados. Adoro perguntar sobre os nomes, ver o enxoval, entender as dores, ler os sorrisos e, até inconvenientemente (confesso!), reforçar com meu leve carinho que barriga de grávida é espaço público! Não, não me contenho diante de uma jovem mãe.
Há quem diga que, ao nos colocar uma criança nos braços, Deus nos mostra que continua acreditando em nós, seres humanos. Acho que ele nos dá igualmente mais uma amostra para que acreditemos nele, Deus. Se a epístola de Romanos nos leva a refletir sobre a imensidão do Criador diante dos grandes feitos exteriores a nós, a maternidade nos leva ao interior, ao modo assombrosamente maravilhoso pelo qual somos criados.
É tão complexo um ser humano! Lembro-me das aulas de biologia na escola, na qual estudávamos o coração e o bombeamento sanguíneo. Apenas uma parte desta maquinaria. Somos arquitetamente planejados. Sem falar no psiquismo, nos desejos de alma e espírito, na vocação tão única de cada ser. Um bebê carrega tudo isso consigo. Admiravelmente assustador, eu diria.
Reflito ainda nas tantas variáveis que permitem ou não uma gravidez. Algumas destas mamães relatam mesmo o milagre que viveram ao conceber. Outras, contam do difícil dilema de ter de lidar com alguma anormalidade inexplicável do filho concebido. E há ainda aquelas que explicam como tudo foi tão simples, e mesmo planejado.
Chego à pergunta que tão bem nos fazem as crianças em certo momento: “de onde vim?”; e contemplo o que vem antes da narração de todas essas histórias: a beleza de ter Deus escolhido não um ovo, uma célula solitária que se multiplica, mas a relação de amor entre um homem e uma mulher para dar origem a uma nova vida.
Sim, tudo isso é mistério, é graça. Ressoa em meus ouvidos a voz do anjo: “Salve, Maria, cheia de graça!”. É isso que cada uma delas carrega dentro de si: graça, muita graça! Graça que transborda, que testifica, que inspira, que insiste em se fazer palavra quando é só contemplação e deleite no Senhor da graça. Que Deus as abençoe, mamães cheias de graça. Ele de certo é com vocês.
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Mariana Furst é mestre em teoria literária e professora de francês na Universidade Federal de Viçosa.
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