Opinião
- 30 de novembro de 2007
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Rótulos
Rodrigo de Lima Ferreira
Vivemos em um mundo frenético, em que as mudanças ocorrem em uma velocidade louca. Aquilo que era novidade na semana passada hoje pode estar defasado.
Não conseguimos nos habituar a isso. Precisamos, para suportar um pouco, de classificações e definições das coisas que mudam, ainda que tais definições e classificações sejam aleatórias e passageiras.
Quer um exemplo? Eu gosto muito de rock, é meu estilo musical favorito. Gosto de praticamente todas as vertentes dentro do rock. Mas é engraçado que aquilo que eu considerava como heavy metal há vinte anos hoje passa a ser classificado como hard rock. Aquilo que trazia desconforto para as igrejas hoje é suportável por se tratar não mais de um ritmo mundano, mas de um ritmo gospel.
Neste aspecto, fico pensando em como temos usado e abusado de rótulos para classificarmos uns aos outros. E o que é pior: aceitamos tais rótulos sem muito questionamento.
Durante o meu tempo de seminário, alguns pastores mais velhos do meu presbitério me alertavam, não sem um pouco de pavor na voz: “Cuidado com o que você vai ler! Cuidado com os liberais!”. Mas, para minha surpresa, li alguns autores ditos “liberais” e vi que eles eram mais consistentes com a doutrina bíblica do que os autodenominados “conservadores”.
Fui alertado, também, sobre outro mal: “Cuidado com o ecumenismo! Leva pro inferno!”. Mas na cidade onde desenvolvo meu ministério atual tenho grande afinidade com o padre, que posso afirmar, sem medo, se tratar de um homem de Deus. Vi que em nossa amizade há grandes possibilidades para a expansão do Reino.
E por aí vai. Podemos ser calvinistas (supralapsarianos e infralapsarianos) ou arminianos; carismáticos, pentecostais ou históricos; amilenistas, pré-milenistas ou pós-milenistas; pré, mid ou pós-tribulacionistas; cessionistas ou não; fundamentalistas ou liberais; ortodoxos ou pós-modernos.
Hoje vejo que tais rótulos são fruto da mentalidade mercantil de nosso protestantismo. São definições humanas que, à luz da Bíblia, têm pouca serventia. O evangelho, afinal de contas, é para o grego, o judeu, o bárbaro, o cita, o circuncidado, o incircunciso, o escravo, o livre (Cl 3.11).
Creio que posso aprender e crescer com o meu irmão que pensa diferente de mim. Afinal, o histórico de vida dele é diferente do meu, e sua percepção de mundo também, o que pode enriquecer a minha cosmovisão.
Assim, posso ser calvinista e entender que o homem não é uma mera marionete nas mãos de Deus; amilenista, entendendo que a minha esperança bendita ainda está para se revelar; ortodoxo, sabendo que devo continuar aprofundando meus estudos na Palavra, pois minha mentalidade afetada pelo pecado não consegue alcançar todas as nuanças das coisas de Deus; conservador, sabendo que não entendo tudo de Deus; não-cessionista, alertando contra os pecados do abuso dos dons espirituais.
A única classificação que devemos aceitar sem reservas é a classificação que Deus colocou sobre nós, que é a de seus filhos amados, independente das nossas questiúnculas pseudo-teológicas. Para Deus, e no fim das contas para nós, é isso o que realmente importa. O resto são rótulos, que ficam bem em produtos de supermercado, mas não em filhos de um Pai amoroso.
• Rodrigo de Lima Ferreira, casado, duas filhas, é pastor da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil desde 1997. Graduado em teologia e mestre em missões urbanas pela FTSA, hoje pastoreia a IPI de Serranópolis, GO.
Vivemos em um mundo frenético, em que as mudanças ocorrem em uma velocidade louca. Aquilo que era novidade na semana passada hoje pode estar defasado.
Não conseguimos nos habituar a isso. Precisamos, para suportar um pouco, de classificações e definições das coisas que mudam, ainda que tais definições e classificações sejam aleatórias e passageiras.
Quer um exemplo? Eu gosto muito de rock, é meu estilo musical favorito. Gosto de praticamente todas as vertentes dentro do rock. Mas é engraçado que aquilo que eu considerava como heavy metal há vinte anos hoje passa a ser classificado como hard rock. Aquilo que trazia desconforto para as igrejas hoje é suportável por se tratar não mais de um ritmo mundano, mas de um ritmo gospel.
Neste aspecto, fico pensando em como temos usado e abusado de rótulos para classificarmos uns aos outros. E o que é pior: aceitamos tais rótulos sem muito questionamento.
Durante o meu tempo de seminário, alguns pastores mais velhos do meu presbitério me alertavam, não sem um pouco de pavor na voz: “Cuidado com o que você vai ler! Cuidado com os liberais!”. Mas, para minha surpresa, li alguns autores ditos “liberais” e vi que eles eram mais consistentes com a doutrina bíblica do que os autodenominados “conservadores”.
Fui alertado, também, sobre outro mal: “Cuidado com o ecumenismo! Leva pro inferno!”. Mas na cidade onde desenvolvo meu ministério atual tenho grande afinidade com o padre, que posso afirmar, sem medo, se tratar de um homem de Deus. Vi que em nossa amizade há grandes possibilidades para a expansão do Reino.
E por aí vai. Podemos ser calvinistas (supralapsarianos e infralapsarianos) ou arminianos; carismáticos, pentecostais ou históricos; amilenistas, pré-milenistas ou pós-milenistas; pré, mid ou pós-tribulacionistas; cessionistas ou não; fundamentalistas ou liberais; ortodoxos ou pós-modernos.
Hoje vejo que tais rótulos são fruto da mentalidade mercantil de nosso protestantismo. São definições humanas que, à luz da Bíblia, têm pouca serventia. O evangelho, afinal de contas, é para o grego, o judeu, o bárbaro, o cita, o circuncidado, o incircunciso, o escravo, o livre (Cl 3.11).
Creio que posso aprender e crescer com o meu irmão que pensa diferente de mim. Afinal, o histórico de vida dele é diferente do meu, e sua percepção de mundo também, o que pode enriquecer a minha cosmovisão.
Assim, posso ser calvinista e entender que o homem não é uma mera marionete nas mãos de Deus; amilenista, entendendo que a minha esperança bendita ainda está para se revelar; ortodoxo, sabendo que devo continuar aprofundando meus estudos na Palavra, pois minha mentalidade afetada pelo pecado não consegue alcançar todas as nuanças das coisas de Deus; conservador, sabendo que não entendo tudo de Deus; não-cessionista, alertando contra os pecados do abuso dos dons espirituais.
A única classificação que devemos aceitar sem reservas é a classificação que Deus colocou sobre nós, que é a de seus filhos amados, independente das nossas questiúnculas pseudo-teológicas. Para Deus, e no fim das contas para nós, é isso o que realmente importa. O resto são rótulos, que ficam bem em produtos de supermercado, mas não em filhos de um Pai amoroso.
• Rodrigo de Lima Ferreira, casado, duas filhas, é pastor da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil desde 1997. Graduado em teologia e mestre em missões urbanas pela FTSA, hoje pastoreia a IPI de Serranópolis, GO.
Casado, duas filhas, é pastor da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil desde 1997. Graduado em teologia e mestre em missões urbanas pela FTSA, é autor de "Princípios Esquecidos" (Editora AGBooks).
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