Opinião
- 29 de agosto de 2011
- Visualizações: 6816
- 1 comentário(s)
- +A
- -A
- compartilhar
Religiosidade cheia, discipulado vazio
“Vão, e façam discípulos de todas as nações.” (Mt 28.19)
O conhecido e respeitado sociólogo cristão Paul Freston afirmou em um dos seminários dos 40 anos da Revista Ultimato que a Igreja Evangélica brasileira jamais seria a maioria religiosa e confessional no Brasil. Evidentemente que não foi uma afirmação leviana. Ele sustentou a sua tese com a clareza, didática e fundamento próprios de um docente.
Nesta semana, o subsídio São Paulo da Revista Isto É traz uma reportagem de capa interessante sobre a diversidade da religiosidade brasileira constatada no censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O pluralismo chegou para ficar, é um grande desafio e também uma oportunidade para a missão integral e relevante da Igreja. A revista apresenta alguns dados surpreendentes:
1º - O Islã recebe novos adeptos a cada dia, as mesquitas e as comunidades islâmicas de muitos lugares no Brasil já possuem 85% de membros “nativos” convertidos, de brasileiros que aderiram à nova fé.
2º - Hoje, no Brasil, algo em torno de 4 milhões de nascidos em berços evangélicos se declaram crentes não praticantes e outros tantos se declaram cristãos, mas não querem nenhum envolvimento com Igreja ou Comunidade de fé.
3º - A migração entre neopentecostais e pentecostais, e a insustentável infidelidade dos membros a estas expressões cristãs, começam a apresentar sinais de saturação manifestados em dois movimentos excludentes entre si:
a) Muitos pentecostais e neopentecostais começam a procurar guarida nas Igrejas históricas e mais alinhadas com a Reforma Protestante: Presbiterianas, Metodistas, Batistas etc. O que as atrai é o estudo diligente das Escrituras, a ética, a moral e os valores do Reino difundidos e defendidos por estas instituições.
b) O outro fenômeno, surpreendente para dizer o mínimo, é que muitos egressos do ramo neopentecostal passam a freqüentar a umbanda e o candomblé, exatamente pelas muitas semelhanças cúlticas como transes, gritos e grunhidos, possessões, busca de soluções mágicas, usos de objetos sagrados e por aí vai.
4º - Os sem religião e sem Deus também já figuram entre os grupos de destaque nas pesquisas. Mas será que Deus comissionou a Igreja para esta tarefa tão difícil sem aparelhá-la com os devidos instrumentos? Evidentemente que não. Além dos dons espirituais e a própria presença e ministério do Espírito Santo e as Escrituras, o Senhor indicou também estratégias para que a Igreja desempenhasse com êxito a sua missão e dentre estas estratégias podemos destacar o imprescindível e permanente mandato do discipulado.
O grande êxito alcançado pela Igreja Primitiva e Antiga deveu-se ao grande investimento feito no discipulado pessoal e comunitário dos novos convertidos e das novas lideranças. Na Igreja Antiga o Catecumanato, com suas catequeses, escrutíneos e provas num processo formativo nunca inferior a três anos, era o grande divisor de águas entre os membros da Igreja e os pagãos. Depois havia ainda as didascalias, verdadeiros centros de treinamentos para a vida cristã. São famosas as escolas de Alexandria, Constantinopla, Roma, Lião, Antioquia e Cartago.
Com o advento dos acontecimentos de 313, 325 e 375, quando a Igreja é oficializada no Império Romano e depois estatizada pelo Imperador, as massas agora entram na Igreja sem o devido discipulado, recebem apenas os sacramentos sem nenhuma instrução (são sacramentalizados, mas não cristianizados) e rapidamente as deteriorações moral, espiritual e ética corrompem a Igreja a tal ponto de os cristãos comprometerem a sua mensagem, doutrina e liturgia. Como efeito, progressivamente a Igreja foi sendo deformada no século XVI.
É bem verdade que Deus nunca deixou a sua Igreja desprovida de grandes líderes que continuaram apostando no discipulado formal e sistemático para preservar exatamente a herança dos santos: Ambrósio, Cipriano, João Crisóstomo, Agostinho, Irineu, Justino, Cirilo de Alexandria etc. A Reforma protestante foi, sem dúvida, uma volta ao discipulado e a instrução bíblica para a vida. Os catecismos de Lutero, Calvino, Bullinger e outros provam isto.
Na semana que vem continuaremos a refletir sobre o lugar, a natureza e a necessidade do discipulado, personalizado e em pequenos grupos para a formação de cristãos autênticos e maduros e o surgimento de uma Igreja relevante e cheia de poder.
Nota
Esta é a primeira parte do artigo. Ainda nesta semana publicaremos sua segunda parte.
Leia também
Pátria amada, idolatrada e questionada
O Discípulo Radical
Fábrica de Missionários
O conhecido e respeitado sociólogo cristão Paul Freston afirmou em um dos seminários dos 40 anos da Revista Ultimato que a Igreja Evangélica brasileira jamais seria a maioria religiosa e confessional no Brasil. Evidentemente que não foi uma afirmação leviana. Ele sustentou a sua tese com a clareza, didática e fundamento próprios de um docente.
Nesta semana, o subsídio São Paulo da Revista Isto É traz uma reportagem de capa interessante sobre a diversidade da religiosidade brasileira constatada no censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O pluralismo chegou para ficar, é um grande desafio e também uma oportunidade para a missão integral e relevante da Igreja. A revista apresenta alguns dados surpreendentes:
1º - O Islã recebe novos adeptos a cada dia, as mesquitas e as comunidades islâmicas de muitos lugares no Brasil já possuem 85% de membros “nativos” convertidos, de brasileiros que aderiram à nova fé.
2º - Hoje, no Brasil, algo em torno de 4 milhões de nascidos em berços evangélicos se declaram crentes não praticantes e outros tantos se declaram cristãos, mas não querem nenhum envolvimento com Igreja ou Comunidade de fé.
3º - A migração entre neopentecostais e pentecostais, e a insustentável infidelidade dos membros a estas expressões cristãs, começam a apresentar sinais de saturação manifestados em dois movimentos excludentes entre si:
a) Muitos pentecostais e neopentecostais começam a procurar guarida nas Igrejas históricas e mais alinhadas com a Reforma Protestante: Presbiterianas, Metodistas, Batistas etc. O que as atrai é o estudo diligente das Escrituras, a ética, a moral e os valores do Reino difundidos e defendidos por estas instituições.
b) O outro fenômeno, surpreendente para dizer o mínimo, é que muitos egressos do ramo neopentecostal passam a freqüentar a umbanda e o candomblé, exatamente pelas muitas semelhanças cúlticas como transes, gritos e grunhidos, possessões, busca de soluções mágicas, usos de objetos sagrados e por aí vai.
4º - Os sem religião e sem Deus também já figuram entre os grupos de destaque nas pesquisas. Mas será que Deus comissionou a Igreja para esta tarefa tão difícil sem aparelhá-la com os devidos instrumentos? Evidentemente que não. Além dos dons espirituais e a própria presença e ministério do Espírito Santo e as Escrituras, o Senhor indicou também estratégias para que a Igreja desempenhasse com êxito a sua missão e dentre estas estratégias podemos destacar o imprescindível e permanente mandato do discipulado.
O grande êxito alcançado pela Igreja Primitiva e Antiga deveu-se ao grande investimento feito no discipulado pessoal e comunitário dos novos convertidos e das novas lideranças. Na Igreja Antiga o Catecumanato, com suas catequeses, escrutíneos e provas num processo formativo nunca inferior a três anos, era o grande divisor de águas entre os membros da Igreja e os pagãos. Depois havia ainda as didascalias, verdadeiros centros de treinamentos para a vida cristã. São famosas as escolas de Alexandria, Constantinopla, Roma, Lião, Antioquia e Cartago.
Com o advento dos acontecimentos de 313, 325 e 375, quando a Igreja é oficializada no Império Romano e depois estatizada pelo Imperador, as massas agora entram na Igreja sem o devido discipulado, recebem apenas os sacramentos sem nenhuma instrução (são sacramentalizados, mas não cristianizados) e rapidamente as deteriorações moral, espiritual e ética corrompem a Igreja a tal ponto de os cristãos comprometerem a sua mensagem, doutrina e liturgia. Como efeito, progressivamente a Igreja foi sendo deformada no século XVI.
É bem verdade que Deus nunca deixou a sua Igreja desprovida de grandes líderes que continuaram apostando no discipulado formal e sistemático para preservar exatamente a herança dos santos: Ambrósio, Cipriano, João Crisóstomo, Agostinho, Irineu, Justino, Cirilo de Alexandria etc. A Reforma protestante foi, sem dúvida, uma volta ao discipulado e a instrução bíblica para a vida. Os catecismos de Lutero, Calvino, Bullinger e outros provam isto.
Na semana que vem continuaremos a refletir sobre o lugar, a natureza e a necessidade do discipulado, personalizado e em pequenos grupos para a formação de cristãos autênticos e maduros e o surgimento de uma Igreja relevante e cheia de poder.
Nota
Esta é a primeira parte do artigo. Ainda nesta semana publicaremos sua segunda parte.
Leia também
Pátria amada, idolatrada e questionada
O Discípulo Radical
Fábrica de Missionários
Luiz Fernando dos Santos (1970-2022), foi ministro presbiteriano e era casado com Regina, pai da Talita e professor de teologia no Seminário Presbiteriano do Sul e no Seminário Teológico Servo de Cristo.
- Textos publicados: 105 [ver]
- 29 de agosto de 2011
- Visualizações: 6816
- 1 comentário(s)
- +A
- -A
- compartilhar
QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU ATÉ AQUI.
Ultimato quer falar com você.
A cada dia, mais de dez mil usuários navegam pelo Portal Ultimato. Leem e compartilham gratuitamente dezenas de blogs e hotsites, além do acervo digital da revista Ultimato, centenas de estudos bíblicos, devocionais diárias de autores como John Stott, Eugene Peterson, C. S. Lewis, entre outros, além de artigos, notícias e serviços que são atualizados diariamente nas diferentes plataformas e redes sociais.
PARA CONTINUAR, precisamos do seu apoio. Compartilhe conosco um cafezinho.
Leia mais em Opinião
Opinião do leitor
Para comentar é necessário estar logado no site. Clique aqui para fazer o login ou o seu cadastro.
Escreva um artigo em resposta
Para escrever uma resposta é necessário estar cadastrado no site. Clique aqui para fazer o login ou seu cadastro.
Ainda não há artigos publicados na seção "Palavra do leitor" em resposta a este texto.
Assuntos em Últimas
- 500AnosReforma
- Aconteceu Comigo
- Aconteceu há...
- Agenda50anos
- Arte e Cultura
- Biografia e História
- Casamento e Família
- Ciência
- Devocionário
- Espiritualidade
- Estudo Bíblico
- Evangelização e Missões
- Ética e Comportamento
- Igreja e Liderança
- Igreja em ação
- Institucional
- Juventude
- Legado e Louvor
- Meio Ambiente
- Política e Sociedade
- Reportagem
- Resenha
- Série Ciência e Fé Cristã
- Teologia e Doutrina
- Testemunho
- Vida Cristã
Revista Ultimato
+ lidos
- Em janeiro: CIMA 2025 - Cumpra seu destino
- Corpos doentes [fracos, limitados, mutilados] também adoram
- Cheiro de graça no ar
- Vem aí o Congresso ALEF 2024 – “Além dos muros – Quando a igreja abraça a cidade”
- Todos querem Ser milionários
- A visão bíblica sobre a velhice
- Vem aí o Congresso AME: Celebremos e avancemos no Círculo Asiático
- A colheita da fé – A semente caiu em boa terra, e deu fruto
- IV Encontro do MC 60+ reúne idosos de todo o país – Um espaço preferencial
- A era inconclusa