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- 16 de maio de 2024
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Relato da contribuição do Instituto Linguístico de Verão (Summer Institute of Linguistics) para a preservação de línguas indígenas
Por Sarah Caroline Gudschinsky
Em abril de 1956, o Summer Institute of Linguistics recebeu um convite do Museu Nacional do Rio de Janeiro para cooperar tanto nas pesquisas científicas das línguas indígenas do Brasil, quanto na formação de linguistas brasileiros. Assim, o primeiro grupo de membros do Instituto, chegou no país em dezembro daquele mesmo ano, e, já em princípios de 1957, deu início às suas atividades encarregando uma equipe linguística de começar os estudos da língua Kaiwa, em Mato Grosso, muito embora a colaboração com o Museu Nacional só se tenha se formalizado através do Convênio Cultural firmado em 1959. Desde então, o Instituto executou os seus trabalhos linguísticos de campo, como também manteve uma equipe especializada para assistir o Museu Nacional, nos seus cursos de graduação em linguística.
Com a criação da Universidade de Brasília em 1962, o Instituto ampliou mais ainda as suas atividades, participando da ministração de linguística nos cursos da Universidade. Logo foi criado na mesma Universidade, o Centro de Estudos das Culturas e Línguas Indígenas (CECLI), e a cooperação do Instituto foi também formalizada por um Convênio Cultural.
Em obediência aos termos dos Convênios com o Museu Nacional do Rio de Janeiro e a Fundação da Universidade de Brasília, foram arquivados nas duas entidades, todo o material linguístico resultante das pesquisas de campo feitas pelo Summer Institute of Linguistics, e todo esse material ficou disponível tanto a cientistas quanto a estudantes de antropologia e linguística. Atualmente nesses arquivos, existe material referente a mais de 40 línguas brasileiras, incluindo estudos fonológicos, considerações preliminares de gramática, listas de palavras, textos, gravações, anotações antropológicas, etc.
Menção especial não podia deixar de ser feita à atuação do Serviço de Proteção aos Índios, hoje Fundação Nacional do Índio, possibilitando o desenvolvimento do trabalho de campo: não apenas pelas permissões que se dignou dar ao Instituto para a realização das pesquisas nas áreas indígenas, mas, pelas muitas vezes em que os encarregados dos Postos Indígenas possibilitaram às equipes linguísticas, generosa hospitalidade e vantagens que apressaram o conhecimento das línguas e culturas dos índios brasileiros.
O Summer Institute of Linguistics reconhece, também, seu débito para com o Museu Paraense Emílio Goeldi, de Belém, Estado do Pará, com o qual manteve cordiais e valiosas relações.
A presente edição1, objetiva comemorar a primeira década de existência do Summer Institute of Linguistics no Brasil, mesmo que a sua publicação tenha se delongado. Mas, considerando-se a dimensão geográfica, a variedade de línguas e o volume de temas, ela representa a primeira década. Pelos autores, representa também a existência de um estreito relacionamento com as instituições brasileiras: Roque de Barros Laraia, da Universidade de Brasília, e Protásio Frikel, do Museu Paraense Emílio Goeldi. Os outros autores são membros do Instituto.
Três das maiores famílias linguísticas do Brasil, se fazem presentes nesta publicação, ao lado de uma língua, o Maxakali, que ainda não foi classificada definitivamente. O tronco Tupi-guarani está representado pelo Tupi e Guarani, e pelo mais periférico membro da família, o Mundurucu. A família Caribe é representada pelo Apalaí e Kaxuyana. A família Jê se acha representada tanto pelo Xavante e Kaingáng, que de há muito foram designados para essa família, quanto pelo Ofaié, o qual aqui é identificado, e pela primeira vez, como sendo de fato uma língua Jê.
Esses grupos linguísticos estão, geograficamente, bem separados e assim podem retratar que o trabalho de campo é realizado em todas as partes do Brasil, O Apalaí e Kaxuyana são falados no norte do Pará e o Mundurucu, no sudoeste do mesmo Estado. A leste, o Maxakali é falado em Minas Gerais, próximo da fronteira com o Espírito Santo. Ao sul, o Kaingáng e Guarani são falados em São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. E a oeste, o Xavante é falado no Mato Grosso. Os elementos do idioma Ofaié, também foram coligidos em Mato Grosso, mas essa língua já não é falada ali. O informante era o último a falar o idioma, e seus filhos e sobrinhos usam quase que exclusivamente o português.
Uma série de responsabilidades científicas do Summer Institute of Linguistics, se acha demonstrada nesta edição. Assim sendo, já dois artigos sobre Fonologia: “Fonologia da língua Apalaí”, de Koehn, baseado na teoria Tagmêmica desenvolvida por Kenneth L. Pike; e “Duas análises das sílabas do Xavante”, de Burgess, contrasta a análise Tagmênica com a análise Prosódica, com base na teoria de J.R. Firth e desenvolvida por linguistas londrinos. Focalizando a Morfologia, há o artigo “Repeated morphs in Munduruku”, de Crofts. A semântica se faz presente por um único artigo: “Some relational post-positions of Guarani”, de Aaron e Gudschinsky. A reconstituição linguística é demonstrada em “Ofaié-Xavante, a Jê language”, de Gudschinsky. “The Sun and the Moon”, a Maxakali Text, de Popovich, representa uma contribuição folclórica. E, acrescendo o texto de Popovich, há três outros artigos sobre tópicos antropológicos: “Kaingang Basketry”, de Kindell, que observa uma fase de cultura material e econômica; “A mitologia solar e a filosofia de vida dos índios Kaxúyana”, de Frikel, que relaciona a mitologia com a visão do mundo; e “A estrutura do parentesco Tupi”, de Roque, que focaliza uma estrutura social.
Nota
1. A autora refere-se ao livro no livro Estudos sobre línguas e culturas indígenas publicado pelo Summer Institute of Linguistics (Instituto Linguístico de Verão), em 1971.
Resumo histórico, que consta como “Introdução” no livro Estudos sobre línguas e culturas indígenas, publicado pelo Summer Institute of Linguistics (Instituto Linguístico de Verão), em 1971.
REVISTA ULTIMATO | OS DESAFIOS ÉTICOS DAS NOVAS TECNOLOGIAS
O avanço da tecnologia nas últimas décadas é maior do que em qualquer outra época da história. Tal aumento se dá em muitas frentes e, mais significativo, confere um caráter tecnológico à vida contemporânea.
Quais são os desafios trazidos por esse avanço? A ética cristã é suficiente para responder aos aspectos relacionados às novas tecnologias? Como a igreja pode atuar nesse cenário tão desafiador?
É disso que trata a matéria de capa da edição 407 da revista Ultimato. Para assinar, clique aqui.
Saiba mais:
» A tradução da Bíblia como meio de preservação de línguas indígenas, por Raquel Villela Alves
» A história do Novo Testamento em Ninam, por Carole Lee Swain, Jacqueline dos Santos e Maria Rosa Monte
» O que não sabemos sobre os indígenas do Brasil
» História da Evangelização do Brasil – Dos jesuítas aos neopentecostais, Elben Magalhães Lenz César
» Evangelização ou Colonização? – O risco de fazer missão sem se importar com o outro, Analzira Nascimento
Em abril de 1956, o Summer Institute of Linguistics recebeu um convite do Museu Nacional do Rio de Janeiro para cooperar tanto nas pesquisas científicas das línguas indígenas do Brasil, quanto na formação de linguistas brasileiros. Assim, o primeiro grupo de membros do Instituto, chegou no país em dezembro daquele mesmo ano, e, já em princípios de 1957, deu início às suas atividades encarregando uma equipe linguística de começar os estudos da língua Kaiwa, em Mato Grosso, muito embora a colaboração com o Museu Nacional só se tenha se formalizado através do Convênio Cultural firmado em 1959. Desde então, o Instituto executou os seus trabalhos linguísticos de campo, como também manteve uma equipe especializada para assistir o Museu Nacional, nos seus cursos de graduação em linguística.
Com a criação da Universidade de Brasília em 1962, o Instituto ampliou mais ainda as suas atividades, participando da ministração de linguística nos cursos da Universidade. Logo foi criado na mesma Universidade, o Centro de Estudos das Culturas e Línguas Indígenas (CECLI), e a cooperação do Instituto foi também formalizada por um Convênio Cultural.
Em obediência aos termos dos Convênios com o Museu Nacional do Rio de Janeiro e a Fundação da Universidade de Brasília, foram arquivados nas duas entidades, todo o material linguístico resultante das pesquisas de campo feitas pelo Summer Institute of Linguistics, e todo esse material ficou disponível tanto a cientistas quanto a estudantes de antropologia e linguística. Atualmente nesses arquivos, existe material referente a mais de 40 línguas brasileiras, incluindo estudos fonológicos, considerações preliminares de gramática, listas de palavras, textos, gravações, anotações antropológicas, etc.
Menção especial não podia deixar de ser feita à atuação do Serviço de Proteção aos Índios, hoje Fundação Nacional do Índio, possibilitando o desenvolvimento do trabalho de campo: não apenas pelas permissões que se dignou dar ao Instituto para a realização das pesquisas nas áreas indígenas, mas, pelas muitas vezes em que os encarregados dos Postos Indígenas possibilitaram às equipes linguísticas, generosa hospitalidade e vantagens que apressaram o conhecimento das línguas e culturas dos índios brasileiros.
O Summer Institute of Linguistics reconhece, também, seu débito para com o Museu Paraense Emílio Goeldi, de Belém, Estado do Pará, com o qual manteve cordiais e valiosas relações.
A presente edição1, objetiva comemorar a primeira década de existência do Summer Institute of Linguistics no Brasil, mesmo que a sua publicação tenha se delongado. Mas, considerando-se a dimensão geográfica, a variedade de línguas e o volume de temas, ela representa a primeira década. Pelos autores, representa também a existência de um estreito relacionamento com as instituições brasileiras: Roque de Barros Laraia, da Universidade de Brasília, e Protásio Frikel, do Museu Paraense Emílio Goeldi. Os outros autores são membros do Instituto.
Três das maiores famílias linguísticas do Brasil, se fazem presentes nesta publicação, ao lado de uma língua, o Maxakali, que ainda não foi classificada definitivamente. O tronco Tupi-guarani está representado pelo Tupi e Guarani, e pelo mais periférico membro da família, o Mundurucu. A família Caribe é representada pelo Apalaí e Kaxuyana. A família Jê se acha representada tanto pelo Xavante e Kaingáng, que de há muito foram designados para essa família, quanto pelo Ofaié, o qual aqui é identificado, e pela primeira vez, como sendo de fato uma língua Jê.
Esses grupos linguísticos estão, geograficamente, bem separados e assim podem retratar que o trabalho de campo é realizado em todas as partes do Brasil, O Apalaí e Kaxuyana são falados no norte do Pará e o Mundurucu, no sudoeste do mesmo Estado. A leste, o Maxakali é falado em Minas Gerais, próximo da fronteira com o Espírito Santo. Ao sul, o Kaingáng e Guarani são falados em São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. E a oeste, o Xavante é falado no Mato Grosso. Os elementos do idioma Ofaié, também foram coligidos em Mato Grosso, mas essa língua já não é falada ali. O informante era o último a falar o idioma, e seus filhos e sobrinhos usam quase que exclusivamente o português.
Uma série de responsabilidades científicas do Summer Institute of Linguistics, se acha demonstrada nesta edição. Assim sendo, já dois artigos sobre Fonologia: “Fonologia da língua Apalaí”, de Koehn, baseado na teoria Tagmêmica desenvolvida por Kenneth L. Pike; e “Duas análises das sílabas do Xavante”, de Burgess, contrasta a análise Tagmênica com a análise Prosódica, com base na teoria de J.R. Firth e desenvolvida por linguistas londrinos. Focalizando a Morfologia, há o artigo “Repeated morphs in Munduruku”, de Crofts. A semântica se faz presente por um único artigo: “Some relational post-positions of Guarani”, de Aaron e Gudschinsky. A reconstituição linguística é demonstrada em “Ofaié-Xavante, a Jê language”, de Gudschinsky. “The Sun and the Moon”, a Maxakali Text, de Popovich, representa uma contribuição folclórica. E, acrescendo o texto de Popovich, há três outros artigos sobre tópicos antropológicos: “Kaingang Basketry”, de Kindell, que observa uma fase de cultura material e econômica; “A mitologia solar e a filosofia de vida dos índios Kaxúyana”, de Frikel, que relaciona a mitologia com a visão do mundo; e “A estrutura do parentesco Tupi”, de Roque, que focaliza uma estrutura social.
Nota
1. A autora refere-se ao livro no livro Estudos sobre línguas e culturas indígenas publicado pelo Summer Institute of Linguistics (Instituto Linguístico de Verão), em 1971.
Resumo histórico, que consta como “Introdução” no livro Estudos sobre línguas e culturas indígenas, publicado pelo Summer Institute of Linguistics (Instituto Linguístico de Verão), em 1971.
- Sarah Caroline Gudschinsky foi professora, consultora de linguística e alfabetização no Instituto Linguístico de Verão (SIL) no México e no Brasil. Pesquisadora, inovadora e estudiosa no campo especializado da introdução da alfabetização em sociedades pré-alfabetizadas. A primeira coordenadora internacional de alfabetização da SIL e a primeira mulher da SIL a ganhar um Ph.D. e ser eleita para o Conselho de Administração da organização.
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O avanço da tecnologia nas últimas décadas é maior do que em qualquer outra época da história. Tal aumento se dá em muitas frentes e, mais significativo, confere um caráter tecnológico à vida contemporânea.
Quais são os desafios trazidos por esse avanço? A ética cristã é suficiente para responder aos aspectos relacionados às novas tecnologias? Como a igreja pode atuar nesse cenário tão desafiador?
É disso que trata a matéria de capa da edição 407 da revista Ultimato. Para assinar, clique aqui.
Saiba mais:
» A tradução da Bíblia como meio de preservação de línguas indígenas, por Raquel Villela Alves
» A história do Novo Testamento em Ninam, por Carole Lee Swain, Jacqueline dos Santos e Maria Rosa Monte
» O que não sabemos sobre os indígenas do Brasil
» História da Evangelização do Brasil – Dos jesuítas aos neopentecostais, Elben Magalhães Lenz César
» Evangelização ou Colonização? – O risco de fazer missão sem se importar com o outro, Analzira Nascimento
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