Opinião
- 24 de outubro de 2016
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“Reformai” – o grito da igreja às vésperas dos 500 anos
“E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação de vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Rm 12.2).
Comemoramos no próximo dia 31 de outubro os 499 anos da Reforma Luterana que devido aos seus desdobramentos, ficou também conhecida como Reforma Protestante, isso porque, para além da Alemanha e da liderança direta de Martinho Lutero, outras regiões sob outros líderes também aderiram aos ventos vindos de Wittemberg. Todavia, o movimento respeitou o contexto, a índole, a condição de cada igreja, país e líder à frente do processo.
O princípio que deu a coesão e a unidade necessária nos essenciais da fé, além é claro da direção do Espírito Santo, foi a estima e o apreço pelas Escrituras como única regra de fé e prática, o desejo de uma volta às fontes do cristianismo mais puro possível, a comum redescoberta das doutrinas da salvação pela fé somente e da justificação pela graça e é claro, as justas acusações contra a igreja instituída da época e suas muitas corrupções. Entretanto, o título deste artigo traduz bem o que deve significar a celebração desta data. É um imperativo para a igreja evangélica brasileira um tempo de profunda reforma e necessária transformação.
Vivemos um tempo estranho, há crescimento numérico espantoso, novas comunidades e novas lideranças despontam a cada dia. Não há realidade humana onde a presença evangélica não chegue perto de ser maioria ou que possa passar desapercebida. Da política à educação, das artes ao mundo virtual, há sempre uma presença evangélica, nem sempre bem-sucedida, nem sempre coerente e nem sempre sincera, mas que pode ser facilmente sentida. Todavia, esse mesmo crescimento tem se revelado perverso.
A igreja evangélica brasileira dentre outras defecções, cresce pari passu com a ignorância bíblica e a revivescência de prática abomináveis, supersticiosas e quase mágicas (para não ofender falando em feitiçaria). Muitas igrejas e comunidades abandonam quase por completo o estudo sistemático e a investigação criteriosa das Escrituras e não fazem uma leitura que respeite o cânon, o contexto, a intenção autoral etc. Partem de uma suposta “revelação” particular, especial, dada diretamente do Deus e usam a Bíblia como pretexto para as suas intenções. E a primeira consequência da ignorância bíblica é a existência de um culto antropocêntrico, pensado e executado orientando-se pela lógica do mercado de consumo e do entretenimento, buscando apenas fidelizar a clientela e nunca o dar prazer a Deus, a quem o culto deveria ser prestado com exclusividade.
E, como Deus não pode ser comprado e fidelizado, ao homem então, se oferece toda sorte de expedientes para capturar as suas afeições e vontades caídas. Por isso as campanhas de vitória, curas e milagres. Por isso os cajados de Moisés, as águas bentas do rio Jordão, os óleos consagrados das oliveiras de Jerusalém. Sem falar nas aberrações do sabonete ungido para lavar e abençoar ou o poderoso detergente abençoado para desintegrar toda e qualquer maldição. As letras das canções gospel já não falam de um ‘Tu’ que atribua à Trindade a glória devida. Antes, falam de um ‘Eu’ que tem pressa e não quer esperar pela bênção que acha ter direito, falam de um ‘Eu’ exigente e impaciente com a demora de um ‘Deus mordomo’.
A outra consequência inevitável dessa ignorância ou deste desprestígio bíblico é o padrão ético público e privado tão baixo entre os evangélicos. A “bancada evangélica” não se cansa de envergonhar-nos. Mas, já foi o tempo em que os evangélicos eram tidos por mais respeitáveis, pessoas criteriosas e éticas, zelosas no serviço e em seus compromissos. Também o índice de casamentos inconsistentes e divórcios banais é digno (indigno) de nota entre nós. São inúmeras as adesões aos róis de membros de muitas igrejas sem arrependimento, sem mudança de disposição mental, sem transformação do coração. Quase não se ouve pregar sobre santificação, confissão, arrependimento e abandono do pecado e emenda de vida, confiada na Graça e no auxílio do Espírito Santo. E a consequência? Pessoas que dizem “ser de Jesus” e que não estão dispostas a abandonar um estilo de vida mundano, profano, secularista e na prática, ateísta, isto é, no fundo vivem como se Deus não existisse.
Mas o que dizer das igrejas que se dizem históricas ou tradicionais? Embora haja um apreço a ser considerado pelas Escrituras, muitas estão cedendo à tentação daquilo que funciona ou faz sucesso. Preocupadas com a “concorrência” que não para de crescer, acabam capitulando ao espírito da época e introduzem lentamente, na liturgia e em suas atividades, algumas dessas práticas. Também, negociam com adolescentes, jovens, novos convertidos e até pessoas mais experimentadas, um programa de Escola Dominical ou treinamentos, mais “light” mais “gourmet”, sem muita densidade ou profundidade. Geralmente temas que se justificariam em outro ambiente ou em outra atividade da mesma igreja, mas que nunca deveria substituir o ensino formal das Escrituras e de como aplicá-las à vida concreta. Reformai, é o brado que deve ser gritado ao coração da Igreja nesse 31 de outubro de 2016.
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O princípio que deu a coesão e a unidade necessária nos essenciais da fé, além é claro da direção do Espírito Santo, foi a estima e o apreço pelas Escrituras como única regra de fé e prática, o desejo de uma volta às fontes do cristianismo mais puro possível, a comum redescoberta das doutrinas da salvação pela fé somente e da justificação pela graça e é claro, as justas acusações contra a igreja instituída da época e suas muitas corrupções. Entretanto, o título deste artigo traduz bem o que deve significar a celebração desta data. É um imperativo para a igreja evangélica brasileira um tempo de profunda reforma e necessária transformação.
Vivemos um tempo estranho, há crescimento numérico espantoso, novas comunidades e novas lideranças despontam a cada dia. Não há realidade humana onde a presença evangélica não chegue perto de ser maioria ou que possa passar desapercebida. Da política à educação, das artes ao mundo virtual, há sempre uma presença evangélica, nem sempre bem-sucedida, nem sempre coerente e nem sempre sincera, mas que pode ser facilmente sentida. Todavia, esse mesmo crescimento tem se revelado perverso.
A igreja evangélica brasileira dentre outras defecções, cresce pari passu com a ignorância bíblica e a revivescência de prática abomináveis, supersticiosas e quase mágicas (para não ofender falando em feitiçaria). Muitas igrejas e comunidades abandonam quase por completo o estudo sistemático e a investigação criteriosa das Escrituras e não fazem uma leitura que respeite o cânon, o contexto, a intenção autoral etc. Partem de uma suposta “revelação” particular, especial, dada diretamente do Deus e usam a Bíblia como pretexto para as suas intenções. E a primeira consequência da ignorância bíblica é a existência de um culto antropocêntrico, pensado e executado orientando-se pela lógica do mercado de consumo e do entretenimento, buscando apenas fidelizar a clientela e nunca o dar prazer a Deus, a quem o culto deveria ser prestado com exclusividade.
E, como Deus não pode ser comprado e fidelizado, ao homem então, se oferece toda sorte de expedientes para capturar as suas afeições e vontades caídas. Por isso as campanhas de vitória, curas e milagres. Por isso os cajados de Moisés, as águas bentas do rio Jordão, os óleos consagrados das oliveiras de Jerusalém. Sem falar nas aberrações do sabonete ungido para lavar e abençoar ou o poderoso detergente abençoado para desintegrar toda e qualquer maldição. As letras das canções gospel já não falam de um ‘Tu’ que atribua à Trindade a glória devida. Antes, falam de um ‘Eu’ que tem pressa e não quer esperar pela bênção que acha ter direito, falam de um ‘Eu’ exigente e impaciente com a demora de um ‘Deus mordomo’.
A outra consequência inevitável dessa ignorância ou deste desprestígio bíblico é o padrão ético público e privado tão baixo entre os evangélicos. A “bancada evangélica” não se cansa de envergonhar-nos. Mas, já foi o tempo em que os evangélicos eram tidos por mais respeitáveis, pessoas criteriosas e éticas, zelosas no serviço e em seus compromissos. Também o índice de casamentos inconsistentes e divórcios banais é digno (indigno) de nota entre nós. São inúmeras as adesões aos róis de membros de muitas igrejas sem arrependimento, sem mudança de disposição mental, sem transformação do coração. Quase não se ouve pregar sobre santificação, confissão, arrependimento e abandono do pecado e emenda de vida, confiada na Graça e no auxílio do Espírito Santo. E a consequência? Pessoas que dizem “ser de Jesus” e que não estão dispostas a abandonar um estilo de vida mundano, profano, secularista e na prática, ateísta, isto é, no fundo vivem como se Deus não existisse.
Mas o que dizer das igrejas que se dizem históricas ou tradicionais? Embora haja um apreço a ser considerado pelas Escrituras, muitas estão cedendo à tentação daquilo que funciona ou faz sucesso. Preocupadas com a “concorrência” que não para de crescer, acabam capitulando ao espírito da época e introduzem lentamente, na liturgia e em suas atividades, algumas dessas práticas. Também, negociam com adolescentes, jovens, novos convertidos e até pessoas mais experimentadas, um programa de Escola Dominical ou treinamentos, mais “light” mais “gourmet”, sem muita densidade ou profundidade. Geralmente temas que se justificariam em outro ambiente ou em outra atividade da mesma igreja, mas que nunca deveria substituir o ensino formal das Escrituras e de como aplicá-las à vida concreta. Reformai, é o brado que deve ser gritado ao coração da Igreja nesse 31 de outubro de 2016.
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Luiz Fernando dos Santos (1970-2022), foi ministro presbiteriano e era casado com Regina, pai da Talita e professor de teologia no Seminário Presbiteriano do Sul e no Seminário Teológico Servo de Cristo.
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