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- 12 de fevereiro de 2016
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Realismo e esperança
Estamos no “clima” do tema do nosso lançamento do mês: O Evangelho em uma Sociedade Pluralista, de Lesslie Newbigin. Por isso, compartilhamos a seguir um trecho do livro que fala sobre realismo e esperança na vida cristã, a partir da centralidade de Cristo na história. Confira.
***
A ação significativa na história só é possível quando há certa visão do objetivo futuro. Mas o futuro está escondido de nós – nosso futuro pessoal e o futuro do mundo. A cortina da morte está no caminho.
A boa nova é que Jesus abriu um caminho pela cortina e veio para conduzir-nos pelo caminho que ele abriu e que é ele, o caminho que consiste em permanecermos nele, compartilharmos sua paixão para que possamos compartilhar sua vitória sobre a morte. Nossa vida ainda é vivida como sua vida encarnada foi vivida, num mundo em que o poder das trevas ainda está em ação. Quanto mais intensamente desafiamos esses poderes no nome de Jesus, com mais violência eles nos atacam. Mas exatamente quando esse ataque for mais violento e exatamente quando estivermos mais vulneráveis, serão dados os sinais da presença do reino, o poder do Espírito para falarmos a palavra que dá testemunho do poder real de Cristo e nos assegura de que a vitória é dele e não dos poderes das trevas.
Por fim, nós mesmos devemos morrer, e grande parte do que nos esforçamos para criar pode minguar e ser esquecida. Mas porque Jesus, aquele que foi rejeitado, crucificado, morto e sepultado, ressuscitou dentre os mortos e agora vive e reina, sabemos que o que parece estar perdido não está, mas está guardado em segurança para o dia da ressurreição.
O Novo Testamento contém várias metáforas para expressar tanto a continuidade como a descontinuidade entre o que agora fazemos e somos deste lado da morte e o que veremos e saberemos no final. Há a metáfora do grão de trigo que é enterrado na terra e aparentemente se perdeu, mas que dá uma colheita de muitos frutos. Há a metáfora do nascimento: a dor do parto sofrida pela mãe é esquecida com a alegria do nascimento do filho. E há a metáfora do edifício na qual os materiais inúteis são destruídos pelo fogo, mas o que é capaz de resistir ao fogo será preservado.
Essa fé permite que sejamos realistas e esperançosos ao mesmo tempo. Podemos ser realistas, sabendo que nenhum projeto humano pode eliminar os poderes das trevas enquanto agem na vida humana. Esse realismo livra-nos dos fanatismos utópicos que condenaram milhões de pessoas à infelicidade e à morte na causa de um futuro imaginado. Mas, ao mesmo tempo, podemos ser esperançosos, agindo com esperança em situações aparentemente perdidas, sem sonhar com uma perfeição absoluta deste lado da morte, mas praticando com firmeza aquele bem relativo que é possível agora, fazendo-o como uma oferta ao Senhor, que pode tomá-lo e mantê-lo para o reino perfeito que nos é prometido. Nesse sentido, usando uma expressão de Albert Schweitzer, nossas ações na vida pública do mundo são orações práticas pelo reino. Elas mesmas não levam diretamente ao reino. São orações práticas pela vinda do reino e, como tal, agem como sinais de sua realidade e, assim, permitem que outros ajam com esperança.
Quando os discípulos ficaram confusos sem conseguir entender por que Jesus iria deixá-los e seguir sozinho para sua morte, ele lhes disse que ele mesmo era o caminho pelo qual eles deveriam seguir (Jo 14.1-6). Podemos sempre viajar com esperança se houver um caminho confiável e um bom motivo para acreditarmos que ele nos levará ao nosso destino. O caminho no qual andamos é aquele que desaparece de vista antes de chegarmos ao destino. Podemos avistar o pico que pretendemos alcançar, mas não vemos o caminho que nos leva a ele. Ele se embrenha no vale da sombra da morte, e nós, com todas as nossas obras, tomamos esse caminho. Podemos avançar com confiança porque Jesus já fez esse caminho antes de nós e voltou do vale profundo. Se ele mesmo é o caminho, podemos avançar com confiança mesmo quando o futuro está escondido. Não estamos perdidos. Temos um caminho confiável.
• Lesslie Newbigin (1909-1998) foi pastor da Igreja Reformada Unida (Reino Unido), bispo da Igreja do Sul da Índia e secretário-geral do Conselho Mundial de Igrejas. Autor de O Evangelho em uma Sociedade Pluralista (nosso lançamento do mês).
Nota:
Trecho retirado de O Evangelho em uma Sociedade Pluralista, páginas 151-153.
Leia também
Surpreendido pela Esperança (N. T. Wright)
O Incomparável Cristo (John Stott)
A centralidade de Cristo está em declínio? (revista Ultimato 354)
Imagem: Richard McMillan / Freeimages.com
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A ação significativa na história só é possível quando há certa visão do objetivo futuro. Mas o futuro está escondido de nós – nosso futuro pessoal e o futuro do mundo. A cortina da morte está no caminho.
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Por fim, nós mesmos devemos morrer, e grande parte do que nos esforçamos para criar pode minguar e ser esquecida. Mas porque Jesus, aquele que foi rejeitado, crucificado, morto e sepultado, ressuscitou dentre os mortos e agora vive e reina, sabemos que o que parece estar perdido não está, mas está guardado em segurança para o dia da ressurreição.
O Novo Testamento contém várias metáforas para expressar tanto a continuidade como a descontinuidade entre o que agora fazemos e somos deste lado da morte e o que veremos e saberemos no final. Há a metáfora do grão de trigo que é enterrado na terra e aparentemente se perdeu, mas que dá uma colheita de muitos frutos. Há a metáfora do nascimento: a dor do parto sofrida pela mãe é esquecida com a alegria do nascimento do filho. E há a metáfora do edifício na qual os materiais inúteis são destruídos pelo fogo, mas o que é capaz de resistir ao fogo será preservado.
Essa fé permite que sejamos realistas e esperançosos ao mesmo tempo. Podemos ser realistas, sabendo que nenhum projeto humano pode eliminar os poderes das trevas enquanto agem na vida humana. Esse realismo livra-nos dos fanatismos utópicos que condenaram milhões de pessoas à infelicidade e à morte na causa de um futuro imaginado. Mas, ao mesmo tempo, podemos ser esperançosos, agindo com esperança em situações aparentemente perdidas, sem sonhar com uma perfeição absoluta deste lado da morte, mas praticando com firmeza aquele bem relativo que é possível agora, fazendo-o como uma oferta ao Senhor, que pode tomá-lo e mantê-lo para o reino perfeito que nos é prometido. Nesse sentido, usando uma expressão de Albert Schweitzer, nossas ações na vida pública do mundo são orações práticas pelo reino. Elas mesmas não levam diretamente ao reino. São orações práticas pela vinda do reino e, como tal, agem como sinais de sua realidade e, assim, permitem que outros ajam com esperança.
Quando os discípulos ficaram confusos sem conseguir entender por que Jesus iria deixá-los e seguir sozinho para sua morte, ele lhes disse que ele mesmo era o caminho pelo qual eles deveriam seguir (Jo 14.1-6). Podemos sempre viajar com esperança se houver um caminho confiável e um bom motivo para acreditarmos que ele nos levará ao nosso destino. O caminho no qual andamos é aquele que desaparece de vista antes de chegarmos ao destino. Podemos avistar o pico que pretendemos alcançar, mas não vemos o caminho que nos leva a ele. Ele se embrenha no vale da sombra da morte, e nós, com todas as nossas obras, tomamos esse caminho. Podemos avançar com confiança porque Jesus já fez esse caminho antes de nós e voltou do vale profundo. Se ele mesmo é o caminho, podemos avançar com confiança mesmo quando o futuro está escondido. Não estamos perdidos. Temos um caminho confiável.
• Lesslie Newbigin (1909-1998) foi pastor da Igreja Reformada Unida (Reino Unido), bispo da Igreja do Sul da Índia e secretário-geral do Conselho Mundial de Igrejas. Autor de O Evangelho em uma Sociedade Pluralista (nosso lançamento do mês).
Nota:
Trecho retirado de O Evangelho em uma Sociedade Pluralista, páginas 151-153.
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Imagem: Richard McMillan / Freeimages.com
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