Opinião
- 01 de março de 2018
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Quem vai ganhar o Oscar de melhor filme em 2018?
Por Carlos Caldas
Neste domingo, 04/03, a Academia de Hollywood anunciará os ganhadores do prestigioso prêmio Oscar, em diversas categorias. Destas, a mais cobiçada é a de Melhor filme. Por isto, nosso artigo comenta brevemente sobre os indicados a esta categoria que consegui assistir (bem que queria ter visto todos), e também sobre uma novidade na história de Hollywood, a indicação de um filme de super-heróis à categoria Melhor roteiro adaptado.
Para este ano, os indicados que consegui assistir são:
Dunkirk (Christopher Nolan)
Tendo como pano de fundo histórico a Segunda Guerra Mundial, "Dunkirk" é um filme diferente, porque não apresenta cenas de batalha convencionais em produções do gênero. A narrativa gira em torno da evacuação de um grupo de soldados britânicos encurralados pelo exército alemão. Neste filme, o herói é o homem comum, o cidadão simples. Em Dunkirk não há lugar para clichês que os norte-americanos adoram, de exércitos de um homem só. Muitíssimo pelo contrário: Dunkirk é a história de anônimos, que atendendo a um apelo do próprio Primeiro Ministro Winston Churchill, arriscaram suas vidas e utilizaram seus barcos de pesca no resgate dos seus soldados. Com atuações muito boas de Kenneth Branagh, Mark Rylance e do sempre bom Tom Hardy (versátil como poucos de sua geração), o filme foge do lugar comum. Talvez não leve a estatueta. Mas já marcou seu lugar na lista dos melhores filmes de guerra de todos os tempos.
A Forma da Água (Guillermo del Toro)
"A forma da água" tem a cara de Guillermo del Toro: uma fantasia com criaturas fantásticas. Impossível ver e não se lembrar de O labirinto do fauno, dos dois Hellboy, de Círculo de fogo e de Blade (estes dois últimos de qualidade bastante duvidosa). A história da paixão que une um híbrido de homem e de peixe e uma faxineira muda é uma espécie de “A bela e a fera” para adultos. Só que a fera no caso não é o homem-peixe, mas o cruel Coronel Richard Strickland (Michael Shannon), branco, racista, preconceituoso, mau até a medula. O Strickland de Shannon faz lembrar uma frase famosa de C. S. Lewis (dizer que uma frase de C. S. Lewis é famosa é ser pleonástico), quando ele disse que de todos os homens maus, os religiosos são os piores: o coronel cita a Bíblia várias vezes, mas é de uma perversidade abominável. Curiosamente, quem se posiciona contra ele são as pessoas a quem ele mais despreza: uma moça muda pobre, uma mulher negra e um homossexual. O filme é lindo, mas dificilmente ganhará, por ser uma fantasia, gênero desprezado pela Academia. O que é uma incoerência, porque, no limite, todo filme é uma fantasia. A não ser que se repita o feito de O Senhor dos Aneis: O retorno do rei, que faturou o prêmio de melhor filme em 2004.
O Destino de uma Nação (Joe Wright)
"O destino de uma nação" é o contraponto a Dunkirk. Ou melhor, o outro lado da história. Se Dunkirk mostra o que aconteceu na praia francesa e como os britânicos foram resgatados, O destino de uma nação mostra os bastidores políticos da decisão que levou Churchill a solicitar o envolvimento de civis na guerra para o resgate dos soldados ingleses. Mais que isso, o filme mostra as pressões que Churchill enfrentou, quando todo mundo queria que a Inglaterra capitulasse perante o avanço da Alemanha, até então imbatível em seu avanço na Europa. Contra tudo e contra todos, Churchill manteve-se firme, e teve coragem de dizer um sonoro “não” aos que optavam pela lei do menor esforço. O destaque óbvio deste filme é a atuação impecável de Gary Oldman, simplesmente perfeito interpretando Churchill. Será uma injustiça imensa se ele não ganhar o Oscar de melhor ator.
The Post – A Guerra Secreta (Steven Spielberg)
Como a Academia de Hollywood gosta de premiar filmes baseados em eventos históricos, "The Post" tem boas chances, pois conta a batalha envolvendo o jornal Washington Post e o governo de Richard Nixon em plena época da Guerra do Vietnã. O filme é um libelo poderoso a favor da liberdade de imprensa. Nixon não quer de modo algum que o jornal publique documentos que comprovam que o governo estava mentindo sobre o sucesso das tropas norte-americanas na guerra. Paradoxal e ironicamente, o ponto forte do filme é sua maior fraqueza: direção de Steven Spielberg, elenco contando com Tom Hanks e Meryl Streep, o que o faz “inflacionado”, por assim dizer, por quem já ganhou o Oscar.
Três Anúncios para um Crime (Martin McDongh)
"Três anúncios para um crime" é um drama com boas chances de levar o Oscar, nem tanto por ser o melhor filme propriamente, mas por circunstâncias: não tem acúmulo de super astros oscarizados como “The Post” e não é uma fantasia como “A forma da água”. É bem verdade que Frances McDormand já ganhou o Oscar no muito bom “Fargo”, em 1996. Mas as chances de Três anúncios são boas. A narrativa é tensa, densa e intensa: uma mulher divorciada quer justiça a todo custo, porque já se passou quase um ano desde que sua filha foi violentada e assassinada, e nenhuma prisão foi feita. Ebbing, a cidade do Missouri onde a trama acontece, é a típica cidadezinha “perfeita” dos Estados Unidos: limpa, organizada, todo mundo conhece todo mundo, mas por detrás desta aparente perfeição escondem-se monstruosidades. O filme ainda traz Woody Harrelson magnífico no papel do xerife da cidade. O final é simplesmente surpreendente.
Conforme explicado acima, esta lista não traz Corra (Jordan Peele), Lady Bird – É hora de voar (Greta Gerwig), Trama fantasma (Paul Thomas Anderson) e Me chame pelo seu nome (Luca Guadagnino). Mas apenas mais um comentário será feito, sobre uma novidade na história da Academia: uma aventura de super-heróis ser indicada para uma das categorias principais. No caso, Logan, de James Mangold, indicado para o Oscar de Melhor roteiro adaptado.
Logan
A narrativa é comovente: uma história de amizade, lealdade e confiança entre amigos com diferença de idade o bastante para serem pai e filho (ou talvez até avô e neto) e sobre as dificuldades do envelhecimento. Hugh Jackman fez o melhor Wolverine de sua carreira, e o veterano e shakespereano Patrick Stewart, o Professor Charles Xavier, foi injustiçado ao não ser indicado para a categoria Melhor ator coadjuvante. Dificilmente ganhará, mas o simples fato de ter sido indicado já é uma vitória, considerando o incompreensível desprezo que a Academia tem para com filmes de fantasia. Logan é um filme ousado e inteligente, porque desconstrói por completo clichês tradicionais de filmes de super aventuras de super heróis, mas o faz com seriedade e dramaticidade, e não de maneira “esculhambada” como o Deadpool, de 2016.
É muito difícil e arriscado fazer apostas sobre quem levará o prêmio de Melhor filme. Mas em poucos dias ficaremos sabendo. Quem viver verá.
Neste domingo, 04/03, a Academia de Hollywood anunciará os ganhadores do prestigioso prêmio Oscar, em diversas categorias. Destas, a mais cobiçada é a de Melhor filme. Por isto, nosso artigo comenta brevemente sobre os indicados a esta categoria que consegui assistir (bem que queria ter visto todos), e também sobre uma novidade na história de Hollywood, a indicação de um filme de super-heróis à categoria Melhor roteiro adaptado.
Para este ano, os indicados que consegui assistir são:
Dunkirk (Christopher Nolan)
Tendo como pano de fundo histórico a Segunda Guerra Mundial, "Dunkirk" é um filme diferente, porque não apresenta cenas de batalha convencionais em produções do gênero. A narrativa gira em torno da evacuação de um grupo de soldados britânicos encurralados pelo exército alemão. Neste filme, o herói é o homem comum, o cidadão simples. Em Dunkirk não há lugar para clichês que os norte-americanos adoram, de exércitos de um homem só. Muitíssimo pelo contrário: Dunkirk é a história de anônimos, que atendendo a um apelo do próprio Primeiro Ministro Winston Churchill, arriscaram suas vidas e utilizaram seus barcos de pesca no resgate dos seus soldados. Com atuações muito boas de Kenneth Branagh, Mark Rylance e do sempre bom Tom Hardy (versátil como poucos de sua geração), o filme foge do lugar comum. Talvez não leve a estatueta. Mas já marcou seu lugar na lista dos melhores filmes de guerra de todos os tempos.
A Forma da Água (Guillermo del Toro)
"A forma da água" tem a cara de Guillermo del Toro: uma fantasia com criaturas fantásticas. Impossível ver e não se lembrar de O labirinto do fauno, dos dois Hellboy, de Círculo de fogo e de Blade (estes dois últimos de qualidade bastante duvidosa). A história da paixão que une um híbrido de homem e de peixe e uma faxineira muda é uma espécie de “A bela e a fera” para adultos. Só que a fera no caso não é o homem-peixe, mas o cruel Coronel Richard Strickland (Michael Shannon), branco, racista, preconceituoso, mau até a medula. O Strickland de Shannon faz lembrar uma frase famosa de C. S. Lewis (dizer que uma frase de C. S. Lewis é famosa é ser pleonástico), quando ele disse que de todos os homens maus, os religiosos são os piores: o coronel cita a Bíblia várias vezes, mas é de uma perversidade abominável. Curiosamente, quem se posiciona contra ele são as pessoas a quem ele mais despreza: uma moça muda pobre, uma mulher negra e um homossexual. O filme é lindo, mas dificilmente ganhará, por ser uma fantasia, gênero desprezado pela Academia. O que é uma incoerência, porque, no limite, todo filme é uma fantasia. A não ser que se repita o feito de O Senhor dos Aneis: O retorno do rei, que faturou o prêmio de melhor filme em 2004.
O Destino de uma Nação (Joe Wright)
"O destino de uma nação" é o contraponto a Dunkirk. Ou melhor, o outro lado da história. Se Dunkirk mostra o que aconteceu na praia francesa e como os britânicos foram resgatados, O destino de uma nação mostra os bastidores políticos da decisão que levou Churchill a solicitar o envolvimento de civis na guerra para o resgate dos soldados ingleses. Mais que isso, o filme mostra as pressões que Churchill enfrentou, quando todo mundo queria que a Inglaterra capitulasse perante o avanço da Alemanha, até então imbatível em seu avanço na Europa. Contra tudo e contra todos, Churchill manteve-se firme, e teve coragem de dizer um sonoro “não” aos que optavam pela lei do menor esforço. O destaque óbvio deste filme é a atuação impecável de Gary Oldman, simplesmente perfeito interpretando Churchill. Será uma injustiça imensa se ele não ganhar o Oscar de melhor ator.
The Post – A Guerra Secreta (Steven Spielberg)
Como a Academia de Hollywood gosta de premiar filmes baseados em eventos históricos, "The Post" tem boas chances, pois conta a batalha envolvendo o jornal Washington Post e o governo de Richard Nixon em plena época da Guerra do Vietnã. O filme é um libelo poderoso a favor da liberdade de imprensa. Nixon não quer de modo algum que o jornal publique documentos que comprovam que o governo estava mentindo sobre o sucesso das tropas norte-americanas na guerra. Paradoxal e ironicamente, o ponto forte do filme é sua maior fraqueza: direção de Steven Spielberg, elenco contando com Tom Hanks e Meryl Streep, o que o faz “inflacionado”, por assim dizer, por quem já ganhou o Oscar.
Três Anúncios para um Crime (Martin McDongh)
"Três anúncios para um crime" é um drama com boas chances de levar o Oscar, nem tanto por ser o melhor filme propriamente, mas por circunstâncias: não tem acúmulo de super astros oscarizados como “The Post” e não é uma fantasia como “A forma da água”. É bem verdade que Frances McDormand já ganhou o Oscar no muito bom “Fargo”, em 1996. Mas as chances de Três anúncios são boas. A narrativa é tensa, densa e intensa: uma mulher divorciada quer justiça a todo custo, porque já se passou quase um ano desde que sua filha foi violentada e assassinada, e nenhuma prisão foi feita. Ebbing, a cidade do Missouri onde a trama acontece, é a típica cidadezinha “perfeita” dos Estados Unidos: limpa, organizada, todo mundo conhece todo mundo, mas por detrás desta aparente perfeição escondem-se monstruosidades. O filme ainda traz Woody Harrelson magnífico no papel do xerife da cidade. O final é simplesmente surpreendente.
Conforme explicado acima, esta lista não traz Corra (Jordan Peele), Lady Bird – É hora de voar (Greta Gerwig), Trama fantasma (Paul Thomas Anderson) e Me chame pelo seu nome (Luca Guadagnino). Mas apenas mais um comentário será feito, sobre uma novidade na história da Academia: uma aventura de super-heróis ser indicada para uma das categorias principais. No caso, Logan, de James Mangold, indicado para o Oscar de Melhor roteiro adaptado.
Logan
A narrativa é comovente: uma história de amizade, lealdade e confiança entre amigos com diferença de idade o bastante para serem pai e filho (ou talvez até avô e neto) e sobre as dificuldades do envelhecimento. Hugh Jackman fez o melhor Wolverine de sua carreira, e o veterano e shakespereano Patrick Stewart, o Professor Charles Xavier, foi injustiçado ao não ser indicado para a categoria Melhor ator coadjuvante. Dificilmente ganhará, mas o simples fato de ter sido indicado já é uma vitória, considerando o incompreensível desprezo que a Academia tem para com filmes de fantasia. Logan é um filme ousado e inteligente, porque desconstrói por completo clichês tradicionais de filmes de super aventuras de super heróis, mas o faz com seriedade e dramaticidade, e não de maneira “esculhambada” como o Deadpool, de 2016.
É muito difícil e arriscado fazer apostas sobre quem levará o prêmio de Melhor filme. Mas em poucos dias ficaremos sabendo. Quem viver verá.
É professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da PUC Minas, onde coordena o GPRA – Grupo de Pesquisa Religião e Arte.
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