Opinião
- 23 de julho de 2014
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Quem explica o Pentecostes?
A mensagem de Pedro no Pentecostes (At 2.14-36) foi uma poderosa explicação do que acabara de ocorrer, através de uma interpretação fiel do texto de Joel 2.28-32. Ele utilizou-se do que já havia aprendido com seu Mestre durante aqueles prévios três anos de treinamento intensivo. A caminhada com Jesus foi seu treinamento para o ministério, seu “seminário”, podemos assim dizer. Sua mensagem, após uma breve introdução, esclarecendo aos seus ouvintes que aqueles falando em línguas variadas não estavam bêbados, foi entregue baseada em um texto que se cumpria naquele vero dia, a profecia da descida do Espírito Santo sobre toda a carne, proferida por Joel, entregue a um povo que havia retornado do exílio. A mensagem que vai trazer a devida renovação constante da Igreja tem que ser fundamentada na Palavra de Deus. Não pode faltar compromisso nesta área; por mais atraentes que certas mensagens possam ser, se não foram tiradas de uma exegese bíblica, as mesmas não passarão de iscas espiritualizadas para atrair pessoas que estão prontas a ouvir somente o que lhes possam agradar.
A mensagem de Pedro foi uma explicação do que aquele evento significava para todos os presentes, mas também para as gerações futuras. Ao interpretar o texto de Joel, Pedro fez a devida interpretação do tempo para o cumprimento da mesma. Ao invés de utilizar-se das palavras faladas na época da apresentação daquele oráculo divino, Pedro situou a mensagem no momento escatológico que ali estava sendo afirmado diante do povo, e diante de todos os que viriam a crer em Jesus até o Dia do Juízo Final. Joel havia dado o seu horizonte profético como sendo “depois disso”, o que cabia perfeitamente no seguimento profético do que ele ali estava pronunciando. Aqui, porém, Pedro vê que o pronunciamento de Joel se cumpria e lançava o programa salvífico de Deus para “os últimos dias”, isto é, o decorrer escatológico desde aquele dia em Jerusalém até o retorno de Jesus Cristo em sua glória.
O foco central da mensagem de Pedro era apresentar Jesus Cristo como Senhor e Messias. Aquele homem de Nazaré, levado à cruz, ressuscitou dos mortos e foi declarado Senhor e Messias pelo Pai (cf. At 2.22-23). Ele traz o veredito final, a palavra de validação de tal senhorio nas seguintes palavras, “Portanto, que todo o Israel fique certo disto: Este Jesus, a quem vocês crucificaram, Deus o fez Senhor e Cristo” (At 2.36).
Uma divisão geral dos versos 17-21 será bem recebida aqui, mesmo que brevemente. Como já explicado, o verso 17 aponta para a redefinição escatológica da profecia, como que sendo o seu cumprimento nos últimos dias. Assim, podemos firmemente entender que tal profecia se cumpriu no Dia de Pentecostes; porém, continua a ter seu efeito atravessando o tempo até o retorno de Jesus Cristo.
Há muitos que disputam a temporariedade desta profecia. Uns querem sugerir que a mesma está ainda incompleta, pois há sinais portentosos que ainda não aconteceram, tais quais as “maravilhas em cima, no céu, e sinais em baixo, na terra: sangue, fogo e nuvens de fumaça”, a mudança de cor do sol e da lua, e assim por diante. Outros há que afirmam que os sonhos, falar em línguas, profecias, assim como outros fenômenos miraculosos mencionados na Bíblia, cessaram tão logo o cânon sagrado (isto é, toda a Bíblia) fosse fechado. O fato é que Pedro nada disse a respeito de um ou de outro em sua mensagem. Entendo que tal profecia tem seu efeito temporal dentro do que, inspirado pelo Espírito Santo, Pedro colocou verbalmente e que, posteriormente fora narrado, pela mesma inspiração, por Lucas. Desta forma, tal profecia continua a ter sua função escatológica até a segunda vinda de Cristo. Um fato a notar é que Calvino parece aceitar certa continuidade para alguns fatos e, ao mesmo tempo, ser favorável à cessação de outros fatos no decorrer do tempo escatológico. Evidentemente, este assunto não pertence a esta reflexão no momento.
Os sinais portentosos que vemos neste texto podem ser divididos em duas partes. A primeira (vv. 17b-18) são para ser interpretados como sendo a contínua explicação da obra de salvação oferecida por Deus. Calvino entende ser aqui o “entendimento” da graça salvadora de Deus. De fato, utilizando o contexto vétero-testamentário, os profetas recebiam as palavras de Deus através de sonhos e de visões. O fato de se mencionar jovens e velhos, filhos e filhas, servos e servas, mostra que Deus estava aqui mostrando que tal entendimento será dado a todos, sem distinções. Assim, profetizar neste sentido não é projetar o futuro, mas, antes, trazer a mensagem de salvação a todos os que a ouvirem. Os sinais prodigiosos, são, como Calvino aponta, “avisos” a respeito do fim, dos últimos dias. Tais avisos são constantemente vistos através dos séculos: tribulações, pestilências, guerras, morticínio, tudo aquilo que vem a apontar para o poder destruidor do Dia do Juízo.
Finalmente, a profecia de Joel termina com um apelo ao povo para que veja em Deus a sua grande misericórdia e amor: “E todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo” (v. 21). Há uma grande latitude do amor de Deus que não podemos compreender por todo; mas, a verdade é que Deus sempre deixa a porta aberta para aqueles que querem procurá-lo, invocando o seu nome. Paulo se lembrou dessas palavras ao escrever aos romanos, “Não há diferença entre judeus e gentios, pois o mesmo Senhor é Senhor de todos e abençoa ricamente todos os que o invocam, porque ‘todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo’” (Rm 10.12-13).
A resposta de Pedro e a extensão da promessa (vv. 37-41)
Inicialmente, o fenômeno das línguas gerou uma pergunta: “Que significa isto?” Agora, no final de seu sermão, o povo ali presente, tocado pelas palavras de Pedro faz uma pergunta ainda mais profunda, desta vez de caráter, mesmo que no coletivo, profundamente pessoal: “Irmãos, que faremos?” Devemos nos lembrar que a salvação é pessoal, não individualizada, como vemos nestes dias de hoje. Há uma grande diferença entre o que é pessoal, que claramente pertence ao indivíduo em seu íntimo, e o que individualista, gerado pelo egocentrismo. A salvação jamais é egocêntrica. Mesmo sendo individual, ela é pessoal e por ser pessoal, ela é inserida em contextos sociais tais como a família, o grupo étnico, até mesmo o contexto nacional. Nestes contextos variados, vemos a extensão da promessa, apresentada por Pedro, “Pois a promessa é para vocês, para os seus filhos e para todos os que estão longe, para todos quantos o Senhor, o nosso Deus, chamar” (At 2.39).
A mensagem de Pedro tem três respostas para aquela pergunta. A primeira, a mensagem traz a necessidade de arrependimento, sem a qual não há remissão de pecados. Pedro foi recipiente de tal ensino e plano de salvação apresentados por Jesus Cristo pouco antes de sua ascensão: “Está escrito que o Cristo haveria de sofrer e ressuscitar dos mortos no terceiro dia, e que em seu nome seria pregado o arrependimento para perdão de pecados a todas as nações, começando por Jerusalém” (Lc 24.46-47). Anos depois, Paulo, ao ser convertido na Estrada de Damasco, recebeu tais ordens de Jesus Cristo, “Eu o livrarei do seu próprio povo e dos gentios, aos quais eu o envio para abrir-lhes os olhos e convertê-los das trevas para a luz, e do poder de Satanás para Deus, a fim de que recebam o perdão dos pecados e herança entre os que são santificados pela fé em mim” (At 26.17-18).
A segunda coisa a acontecer, em resposta ao que perguntaram a Pedro, é o recebimento do batismo “em nome de Jesus Cristo” (v. 38b). Aqui não há contradição com a fórmula dada por Jesus na chamada Grande Comissão, onde especificamente ele comanda que os novos discípulos sejam batizados em nome da Trindade. Neste caso, o momento traz a afirmação da diferença que há entre o batismo de João e o de Jesus (cf. At 1.5). O primeiro, mesmo focando no arrependimento, era feito com água, o segundo, que acabara de acontecer foi o cumprimento do Batismo com o Espírito Santo. Dali por diante, não mais haveria o batismo de João, e, sim, o de Jesus. De forma clara, Jesus se tornara ali, no Pentecostes, o “Batizador”, de quem o seu nome seria lembrado. Ligado a esta segunda parte da resposta, acha-se a última: “receberão o dom do Espírito Santo”. Pedro está aqui enfatizando mais uma vez que tal dom fora derramado, naquela manhã, e que todos os que respondessem por fé ao chamado de Deus, iriam receber tal dom. Assim, o dom do Espírito Santo já estava disponível a quem cresse; não haveria mais um “segundo pentecostes”. Entendo que os seguintes casos em que o Espírito Santo fora derramado na narrativa de Atos tem o propósito de demonstrar que o Espírito Santo está “disponível” a todos os povos (primeiro aos judeus, em Jerusalém, aos judeus fora de Jerusalém, depois aos samaritanos, e finalmente gentios, o que aconteceu na casa de Cornélio). O caso dos discípulos de João, que moravam em Éfeso e nunca haviam ouvido da primeira vinda de Jesus, sua morte e ressurreição, e consequentemente do Espírito Santo, atrevo-me, nesta altura de minhas investigações, dizer que tal evento possa ilustrar a necessidade de muitos cristãos que não tenham ainda ouvido da obra restauradora do Espírito Santo, da Promessa do Pai, a qual Jesus enviou no Dia do Pentecostes.
De volta à extensão da Promessa, ela não parou em Jerusalém como Pedro disse aos seus ouvintes. Ela é para aqueles, para seus filhos, mas também para “todos quantos o Senhor, o nosso Deus, chamar” (v. 39). A equação parece não ser muito difícil a esta altura: se a profecia de Joel é para os últimos dias, até a segunda vinda de Cristo, esta promessa é para todos nós hoje e também para os que ainda hão de ser chamados por Deus através do testemunho missionário da Igreja. Não que o evento do Pentecostes vá se repetir em sua forma, como já mencionado anteriormente, mas o dom do Espírito Santo está disponível a todos os que recebem Jesus Cristo como seu Senhor e Salvador. Da mesma forma que recebemos nossa justificação em Cristo pela fé (cf. Rm 3.21-28), aceitamos o batismo vindo de Jesus, o Espírito Santo pela mesma fé (Rm 5.5). Talvez seja esta a maior necessidade que temos para que haja um verdadeiro avivamento em nós mesmos, e também na Igreja de Jesus Cristo hoje.
Soli Deo Gloria!
• Ehud Marques Garcia é PhD em Estudos Interculturais pelo Seminário Teológico Fuller, Pasadena, Califórnia (EUA). É pastor evangélico presbiteriano e serviu como missionário nos Estados Unidos, Canadá e Rússia. Atualmente, é diretor acadêmico do Centro Evangélico de Missões (CEM).
Nota:
Esta é a segunda parte do artigo. A primeira parte comentou o fenômeno do Pentecostes e o seu significado para a Igreja de Cristo. Leia-a aqui.
Leia também
O Espírito Santo em movimento
O Espírito Santo não ofusca Jesus
A Igreja Autêntica
A mensagem de Pedro foi uma explicação do que aquele evento significava para todos os presentes, mas também para as gerações futuras. Ao interpretar o texto de Joel, Pedro fez a devida interpretação do tempo para o cumprimento da mesma. Ao invés de utilizar-se das palavras faladas na época da apresentação daquele oráculo divino, Pedro situou a mensagem no momento escatológico que ali estava sendo afirmado diante do povo, e diante de todos os que viriam a crer em Jesus até o Dia do Juízo Final. Joel havia dado o seu horizonte profético como sendo “depois disso”, o que cabia perfeitamente no seguimento profético do que ele ali estava pronunciando. Aqui, porém, Pedro vê que o pronunciamento de Joel se cumpria e lançava o programa salvífico de Deus para “os últimos dias”, isto é, o decorrer escatológico desde aquele dia em Jerusalém até o retorno de Jesus Cristo em sua glória.
O foco central da mensagem de Pedro era apresentar Jesus Cristo como Senhor e Messias. Aquele homem de Nazaré, levado à cruz, ressuscitou dos mortos e foi declarado Senhor e Messias pelo Pai (cf. At 2.22-23). Ele traz o veredito final, a palavra de validação de tal senhorio nas seguintes palavras, “Portanto, que todo o Israel fique certo disto: Este Jesus, a quem vocês crucificaram, Deus o fez Senhor e Cristo” (At 2.36).
Uma divisão geral dos versos 17-21 será bem recebida aqui, mesmo que brevemente. Como já explicado, o verso 17 aponta para a redefinição escatológica da profecia, como que sendo o seu cumprimento nos últimos dias. Assim, podemos firmemente entender que tal profecia se cumpriu no Dia de Pentecostes; porém, continua a ter seu efeito atravessando o tempo até o retorno de Jesus Cristo.
Há muitos que disputam a temporariedade desta profecia. Uns querem sugerir que a mesma está ainda incompleta, pois há sinais portentosos que ainda não aconteceram, tais quais as “maravilhas em cima, no céu, e sinais em baixo, na terra: sangue, fogo e nuvens de fumaça”, a mudança de cor do sol e da lua, e assim por diante. Outros há que afirmam que os sonhos, falar em línguas, profecias, assim como outros fenômenos miraculosos mencionados na Bíblia, cessaram tão logo o cânon sagrado (isto é, toda a Bíblia) fosse fechado. O fato é que Pedro nada disse a respeito de um ou de outro em sua mensagem. Entendo que tal profecia tem seu efeito temporal dentro do que, inspirado pelo Espírito Santo, Pedro colocou verbalmente e que, posteriormente fora narrado, pela mesma inspiração, por Lucas. Desta forma, tal profecia continua a ter sua função escatológica até a segunda vinda de Cristo. Um fato a notar é que Calvino parece aceitar certa continuidade para alguns fatos e, ao mesmo tempo, ser favorável à cessação de outros fatos no decorrer do tempo escatológico. Evidentemente, este assunto não pertence a esta reflexão no momento.
Os sinais portentosos que vemos neste texto podem ser divididos em duas partes. A primeira (vv. 17b-18) são para ser interpretados como sendo a contínua explicação da obra de salvação oferecida por Deus. Calvino entende ser aqui o “entendimento” da graça salvadora de Deus. De fato, utilizando o contexto vétero-testamentário, os profetas recebiam as palavras de Deus através de sonhos e de visões. O fato de se mencionar jovens e velhos, filhos e filhas, servos e servas, mostra que Deus estava aqui mostrando que tal entendimento será dado a todos, sem distinções. Assim, profetizar neste sentido não é projetar o futuro, mas, antes, trazer a mensagem de salvação a todos os que a ouvirem. Os sinais prodigiosos, são, como Calvino aponta, “avisos” a respeito do fim, dos últimos dias. Tais avisos são constantemente vistos através dos séculos: tribulações, pestilências, guerras, morticínio, tudo aquilo que vem a apontar para o poder destruidor do Dia do Juízo.
Finalmente, a profecia de Joel termina com um apelo ao povo para que veja em Deus a sua grande misericórdia e amor: “E todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo” (v. 21). Há uma grande latitude do amor de Deus que não podemos compreender por todo; mas, a verdade é que Deus sempre deixa a porta aberta para aqueles que querem procurá-lo, invocando o seu nome. Paulo se lembrou dessas palavras ao escrever aos romanos, “Não há diferença entre judeus e gentios, pois o mesmo Senhor é Senhor de todos e abençoa ricamente todos os que o invocam, porque ‘todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo’” (Rm 10.12-13).
A resposta de Pedro e a extensão da promessa (vv. 37-41)
Inicialmente, o fenômeno das línguas gerou uma pergunta: “Que significa isto?” Agora, no final de seu sermão, o povo ali presente, tocado pelas palavras de Pedro faz uma pergunta ainda mais profunda, desta vez de caráter, mesmo que no coletivo, profundamente pessoal: “Irmãos, que faremos?” Devemos nos lembrar que a salvação é pessoal, não individualizada, como vemos nestes dias de hoje. Há uma grande diferença entre o que é pessoal, que claramente pertence ao indivíduo em seu íntimo, e o que individualista, gerado pelo egocentrismo. A salvação jamais é egocêntrica. Mesmo sendo individual, ela é pessoal e por ser pessoal, ela é inserida em contextos sociais tais como a família, o grupo étnico, até mesmo o contexto nacional. Nestes contextos variados, vemos a extensão da promessa, apresentada por Pedro, “Pois a promessa é para vocês, para os seus filhos e para todos os que estão longe, para todos quantos o Senhor, o nosso Deus, chamar” (At 2.39).
A mensagem de Pedro tem três respostas para aquela pergunta. A primeira, a mensagem traz a necessidade de arrependimento, sem a qual não há remissão de pecados. Pedro foi recipiente de tal ensino e plano de salvação apresentados por Jesus Cristo pouco antes de sua ascensão: “Está escrito que o Cristo haveria de sofrer e ressuscitar dos mortos no terceiro dia, e que em seu nome seria pregado o arrependimento para perdão de pecados a todas as nações, começando por Jerusalém” (Lc 24.46-47). Anos depois, Paulo, ao ser convertido na Estrada de Damasco, recebeu tais ordens de Jesus Cristo, “Eu o livrarei do seu próprio povo e dos gentios, aos quais eu o envio para abrir-lhes os olhos e convertê-los das trevas para a luz, e do poder de Satanás para Deus, a fim de que recebam o perdão dos pecados e herança entre os que são santificados pela fé em mim” (At 26.17-18).
A segunda coisa a acontecer, em resposta ao que perguntaram a Pedro, é o recebimento do batismo “em nome de Jesus Cristo” (v. 38b). Aqui não há contradição com a fórmula dada por Jesus na chamada Grande Comissão, onde especificamente ele comanda que os novos discípulos sejam batizados em nome da Trindade. Neste caso, o momento traz a afirmação da diferença que há entre o batismo de João e o de Jesus (cf. At 1.5). O primeiro, mesmo focando no arrependimento, era feito com água, o segundo, que acabara de acontecer foi o cumprimento do Batismo com o Espírito Santo. Dali por diante, não mais haveria o batismo de João, e, sim, o de Jesus. De forma clara, Jesus se tornara ali, no Pentecostes, o “Batizador”, de quem o seu nome seria lembrado. Ligado a esta segunda parte da resposta, acha-se a última: “receberão o dom do Espírito Santo”. Pedro está aqui enfatizando mais uma vez que tal dom fora derramado, naquela manhã, e que todos os que respondessem por fé ao chamado de Deus, iriam receber tal dom. Assim, o dom do Espírito Santo já estava disponível a quem cresse; não haveria mais um “segundo pentecostes”. Entendo que os seguintes casos em que o Espírito Santo fora derramado na narrativa de Atos tem o propósito de demonstrar que o Espírito Santo está “disponível” a todos os povos (primeiro aos judeus, em Jerusalém, aos judeus fora de Jerusalém, depois aos samaritanos, e finalmente gentios, o que aconteceu na casa de Cornélio). O caso dos discípulos de João, que moravam em Éfeso e nunca haviam ouvido da primeira vinda de Jesus, sua morte e ressurreição, e consequentemente do Espírito Santo, atrevo-me, nesta altura de minhas investigações, dizer que tal evento possa ilustrar a necessidade de muitos cristãos que não tenham ainda ouvido da obra restauradora do Espírito Santo, da Promessa do Pai, a qual Jesus enviou no Dia do Pentecostes.
De volta à extensão da Promessa, ela não parou em Jerusalém como Pedro disse aos seus ouvintes. Ela é para aqueles, para seus filhos, mas também para “todos quantos o Senhor, o nosso Deus, chamar” (v. 39). A equação parece não ser muito difícil a esta altura: se a profecia de Joel é para os últimos dias, até a segunda vinda de Cristo, esta promessa é para todos nós hoje e também para os que ainda hão de ser chamados por Deus através do testemunho missionário da Igreja. Não que o evento do Pentecostes vá se repetir em sua forma, como já mencionado anteriormente, mas o dom do Espírito Santo está disponível a todos os que recebem Jesus Cristo como seu Senhor e Salvador. Da mesma forma que recebemos nossa justificação em Cristo pela fé (cf. Rm 3.21-28), aceitamos o batismo vindo de Jesus, o Espírito Santo pela mesma fé (Rm 5.5). Talvez seja esta a maior necessidade que temos para que haja um verdadeiro avivamento em nós mesmos, e também na Igreja de Jesus Cristo hoje.
Soli Deo Gloria!
• Ehud Marques Garcia é PhD em Estudos Interculturais pelo Seminário Teológico Fuller, Pasadena, Califórnia (EUA). É pastor evangélico presbiteriano e serviu como missionário nos Estados Unidos, Canadá e Rússia. Atualmente, é diretor acadêmico do Centro Evangélico de Missões (CEM).
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Esta é a segunda parte do artigo. A primeira parte comentou o fenômeno do Pentecostes e o seu significado para a Igreja de Cristo. Leia-a aqui.
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