Prateleira
- 12 de agosto de 2010
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Quem disse que política e religião não se discute?
Imagine que a sua casa está com problemas, digamos, hidráulicos. Para ser mais específico, imagine que o seu vaso sanitário entupiu. Um desespero, uma correria.
Todos à caça de um bombeiro hidráulico, um marido de aluguel, um quebra-galho, qualquer um que nos livre dessa enrascada. Surge o milagreiro, o santo. Pronto, todos podem, literalmente, respirar aliviados. Cafezinho, um acerto de contas fácil e uma troca de cartões de visita com aquele desconhecido que, a partir de agora, passa a ocupar um lugar nobre na nossa agenda de endereços.
Ninguém perguntou a religião do nosso “convidado”. Não sabemos se ele é contra ou a favor do aborto. Nem se é espírita, macumbeiro ou frequenta as noites de descarrego. Na verdade, nossa procura era “objetiva”: competência, habilidades com escoamento de fluidos e com as mais avançadas tecnologias hidráulicas. E, claro, acima de tudo, experiência.
Por que não fazemos o mesmo quando vamos “à caça” de um deputado, um governador ou um presidente? Nesse caso, saem os critérios hidráulicos e entram os critérios políticos. Simples assim. Nem sempre. Nesses tempos eleitorais, começa a esquizofrenia dos evangélicos: “Ele foi coroinha na infância, andou frequentando terreiros de umbanda e, na semana passada, comungou em Aparecida”. Quase uma autópsia da peregrinação espiritual do candidato de plantão.
No próximo dia 3 de outubro, não vamos escolher pastores ou diáconos para as nossas igrejas. Claro, seria ótimo aliar habilidade e gestão política com espiritualidade. E, aqui, volto ao título da Prateleira. Sim, religião e política se misturam. A nossa prática devocional, as verdades bíblicas, podem e devem nos levar à participação política. Neemias, entre outros, é um exemplo bastante didático: “Quando fui nomeado governador, durante doze anos, nem eu nem meus irmãos comemos a comida destinada ao governador. Mas os governantes anteriores, aqueles que me precederam, puseram um peso sobre o povo [...]. Mas, por temer a Deus, não agi dessa maneira. Ao contrário [...], pois eram demasiadas as exigências que pesavam sobre o povo” (Ne 5.14-18).
É interessante perceber que Neemias sabia que a solução para a má política (dos seus antecessores) é a boa política. No entanto, não precisamos fugir do campo político para buscar o Deus bíblico. Ele está em todas as áreas da vida e, talvez, o nosso desafio seja juntar a ação política com a piedade, a participação no espaço público com o cultivo da espiritualidade, o engajamento com a devoção pessoal.
Se religião e política se misturam, Igreja e Estado, não. Não é papel do Estado promover uma determinada igreja ou religião — o estado deve ser não-confessional —, algo de que os evangélicos se lembram sempre que a Igreja Católica se arvora em ditar usos e costumes para a plebe. Mais, sabemos que amor ao próximo ou castidade não são matérias de governo. Ao mesmo tempo, a ética bíblica e a esperança dos novos céus e nova terra, “onde habita a justiça”, devem nos inspirar naquilo que fazemos hoje.
Todos à caça de um bombeiro hidráulico, um marido de aluguel, um quebra-galho, qualquer um que nos livre dessa enrascada. Surge o milagreiro, o santo. Pronto, todos podem, literalmente, respirar aliviados. Cafezinho, um acerto de contas fácil e uma troca de cartões de visita com aquele desconhecido que, a partir de agora, passa a ocupar um lugar nobre na nossa agenda de endereços.
Ninguém perguntou a religião do nosso “convidado”. Não sabemos se ele é contra ou a favor do aborto. Nem se é espírita, macumbeiro ou frequenta as noites de descarrego. Na verdade, nossa procura era “objetiva”: competência, habilidades com escoamento de fluidos e com as mais avançadas tecnologias hidráulicas. E, claro, acima de tudo, experiência.
Por que não fazemos o mesmo quando vamos “à caça” de um deputado, um governador ou um presidente? Nesse caso, saem os critérios hidráulicos e entram os critérios políticos. Simples assim. Nem sempre. Nesses tempos eleitorais, começa a esquizofrenia dos evangélicos: “Ele foi coroinha na infância, andou frequentando terreiros de umbanda e, na semana passada, comungou em Aparecida”. Quase uma autópsia da peregrinação espiritual do candidato de plantão.
No próximo dia 3 de outubro, não vamos escolher pastores ou diáconos para as nossas igrejas. Claro, seria ótimo aliar habilidade e gestão política com espiritualidade. E, aqui, volto ao título da Prateleira. Sim, religião e política se misturam. A nossa prática devocional, as verdades bíblicas, podem e devem nos levar à participação política. Neemias, entre outros, é um exemplo bastante didático: “Quando fui nomeado governador, durante doze anos, nem eu nem meus irmãos comemos a comida destinada ao governador. Mas os governantes anteriores, aqueles que me precederam, puseram um peso sobre o povo [...]. Mas, por temer a Deus, não agi dessa maneira. Ao contrário [...], pois eram demasiadas as exigências que pesavam sobre o povo” (Ne 5.14-18).
É interessante perceber que Neemias sabia que a solução para a má política (dos seus antecessores) é a boa política. No entanto, não precisamos fugir do campo político para buscar o Deus bíblico. Ele está em todas as áreas da vida e, talvez, o nosso desafio seja juntar a ação política com a piedade, a participação no espaço público com o cultivo da espiritualidade, o engajamento com a devoção pessoal.
Se religião e política se misturam, Igreja e Estado, não. Não é papel do Estado promover uma determinada igreja ou religião — o estado deve ser não-confessional —, algo de que os evangélicos se lembram sempre que a Igreja Católica se arvora em ditar usos e costumes para a plebe. Mais, sabemos que amor ao próximo ou castidade não são matérias de governo. Ao mesmo tempo, a ética bíblica e a esperança dos novos céus e nova terra, “onde habita a justiça”, devem nos inspirar naquilo que fazemos hoje.
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