Opinião
- 21 de março de 2024
- Visualizações: 1704
- comente!
- +A
- -A
- compartilhar
Que marcha você usa nos 60+?
Por Nancy Gonçalves Dusilek
Entendo que a vida é feita de fases. Começamos com total dependência para comer, vestir, etc. Depois, vem a fase de andar, falar, brincar, com todos os direitos sem precisar trabalhar para ter o dinheiro para sustento e diversão. Aprendemos a ler e a escrever e aumentamos nossos relacionamentos além-família, com novos amigos. Uma fase com gasto de muita energia física. Podemos correr, cair e nem se machucar.
Depois vem a adolescência, quando não sabemos se somos crianças ou adultos. Se fazemos tal coisa, dizem que a gente não é criança para tal, mas se queremos outra, nos dizem que ainda é cedo: “Você é muito criança”. A passagem da infância para adolescência é uma fase difícil, tanto para os filhos como para os pais.
Mas, seguimos em frente e vem a fase jovem. Preparo profissional, casamento, filhos chegam juntos nos desafiando para saber até onde somos capazes de dar conta de tudo ao mesmo tempo. Precisamos de muita energia nessa etapa.
Os filhos chegam, tomam espaço na barriga da mãe e gastam o que tem no bolso do pai sem pedir licença. Investimos tudo o que temos e depois eles tomam seus rumos e nos deixam. É a vez do corte umbilical emocional. O primeiro é físico ao nascer, este é quando buscam seus caminhos.
Mas vem uma fase muito boa que são os netos. Não temos dor, preocupação, gastos, atenção, a gente só curte. Como dizem, “neto é a cereja do bolo todo caramelado”.
Então, chega a última fase, a chamada “terceira idade”, que se inicia aos 60 anos. É quando o casal está junto revivendo o passado e as doces alegrias que marcaram a vida nessa caminhada. Mas muitos ficam sós. A perda do cônjuge pode nos trazer tristeza e depressão e nos fazer esquecer que ainda com vida podemos renovar. No caso dos solteiros, eles também perdem familiares e amigos chegados e, igualmente, enfrentam o desafio da solidão. Sempre pode haver um começo, depende de cada um de nós.
Na terceira idade, os limites, especialmente os físicos, chegam. Não tem como renovar a máquina. O que fazíamos com mais facilidade aos 30, já não conseguimos aos 60, 70 anos. Alguns enfrentam doenças degenerativas e lutam ainda mais com as limitações.
Penso no seguinte princípio: “Do pescoço pra cima, eu só ando em quarta e quinta marchas; do pescoço pra baixo, em primeira e ré”. O corpo apresenta a natural limitação, mas enquanto a cabeça funciona, temos tempo para criar. Gosto de escrever e de bordar. Escrevo buscando inspiração em Deus e atender a necessidade de meus leitores. Gosto de bordar enquanto “escuto” televisão. Faço as duas coisas numa boa, sem problemas. Assim, presenteio amigas com meus trabalhos.
Em Provérbios 20.29 lemos: “A beleza dos jovens está na sua força e o enfeite dos velhos são os seus cabelos brancos”. Cabelo branco significa que vivemos todas as fases e chegamos até aqui. Vamos aproveitar fazendo o que nos dá alegria e prazer, ajudando outros e, principalmente, totalmente comprometidos com Deus. Pois, nessa fase podemos ter nossos momentos de leitura bíblica e comunhão com Deus sem interferência alguma, pois o tempo é nosso e podemos aproveitá-lo da melhor maneira possível. Quanto mais estamos colados ao nosso Deus, menos o sentimento de solidão nos atinge.
E lembrando que, mesmo com as limitações naturais, podemos ser bênção para nossos filhos e netos; sempre intercedendo por eles e comprometidos com Deus, vamos em frente até o último dia. Que Deus nos dê força mental e emocional até lá.
Mais um pouco para compartilhar
Na terceira idade também é tempo para realizar alguns sonhos que foram impedidos no passado por vários fatores. O corpo não obedece mais, mas a cabeça funciona muito bem. Tive uma amiga, a quem eu chamava de mãe, que aos 60 anos fez o curso de direito e se formou. Era um sonho antigo que ela realizou quando pode. Filhos e netos estavam presente para compartilhar da alegria e vitória dessa idosa.
Outra amiga, também nessa fase de idade, sempre sonhou fazer medicina e quando se viu só com o marido fez o vestibular e continua se preparando. É muito respeitada pelos jovens colegas e creio que a verei doutora. Aproveitando a capacidade mental para realizar sonhos acalentados há anos.
Se você tem um sonho guardado, não desista. Vá em frente. Você pode. O corpo pode dar uma freadas, mas a cabeça está ativa. Triste e difícil é quando o corpo funciona bem e a cabeça não. Ruim para a pessoa e para quem cuida também. Mas se a cabeça está boa, vá em frente e faça o que sempre quis fazer e seja feliz.
Ouve-se bastante “minha mãe/meu pai, depois que ficou velha/velho, ficou chata/chato.” Aprendi que ninguém fica chato depois de velho, essa pessoa sempre foi chata mas se protegia, agora na velhice, ela não precisa de autoblindagem e revela quem sempre foi. Uma pessoa que sempre mandou e, agora precisa obedecer, fica difícil para todos, tanto para o idoso como para quem convive com ele.
- Nancy Gonçalves Dusilek, 80 anos, foi casada com o pastor Darci Dusilek (1969-2007), é mãe de Sérgio Ricardo (pastor) e Heloisa Helena (graduada em comércio exterior). É autora de sete livros e escreve em várias revistas denominacionais sobre liderança, família, mulher e igreja. Ocupa a Cadeira 8 da Academia Evangélica de Letras do Brasil.
Versão ampliada do artigo Que marcha você usa nos 60+?, publicado na edição 406 de Ultimato.
REVISTA ULTIMATO | GRATIDÃO – “O QUE VOCÊ TEM QUE NÃO TENHA RECEBIDO?”
Nem bens materiais nem espirituais – vida, família, igreja, recursos, formação, reconhecimento do pecado e da necessidade de Deus, fé, dons – são gerados a partir de nós. Em nada temos mérito. Tudo o que temos foi recebido. E a fonte, a inspiração primeira, o doador, é Deus.
O exercício constante de gratidão pela graça de Deus operando em nós transforma a igreja internamente, desdobra-se em outras virtudes e direciona ações para o mundo. Crentes gratos podem fazer a diferença em larga escala.
Saiba mais:
» Aprender a Envelhecer, Paul Tournier
» Encorajamento Que Vem do Alto – A vida nova que só Deus pode dar, Robert Liang Koo
» Liderança feminina na igreja, por Nancy G. Dusilek
- 21 de março de 2024
- Visualizações: 1704
- comente!
- +A
- -A
- compartilhar
QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU ATÉ AQUI.
Ultimato quer falar com você.
A cada dia, mais de dez mil usuários navegam pelo Portal Ultimato. Leem e compartilham gratuitamente dezenas de blogs e hotsites, além do acervo digital da revista Ultimato, centenas de estudos bíblicos, devocionais diárias de autores como John Stott, Eugene Peterson, C. S. Lewis, entre outros, além de artigos, notícias e serviços que são atualizados diariamente nas diferentes plataformas e redes sociais.
PARA CONTINUAR, precisamos do seu apoio. Compartilhe conosco um cafezinho.
Leia mais em Opinião
Opinião do leitor
Para comentar é necessário estar logado no site. Clique aqui para fazer o login ou o seu cadastro.
Ainda não há comentários sobre este texto. Seja o primeiro a comentar!
Escreva um artigo em resposta
Para escrever uma resposta é necessário estar cadastrado no site. Clique aqui para fazer o login ou seu cadastro.
Ainda não há artigos publicados na seção "Palavra do leitor" em resposta a este texto.
Assuntos em Últimas
- 500AnosReforma
- Aconteceu Comigo
- Aconteceu há...
- Agenda50anos
- Arte e Cultura
- Biografia e História
- Casamento e Família
- Ciência
- Devocionário
- Espiritualidade
- Estudo Bíblico
- Evangelização e Missões
- Ética e Comportamento
- Igreja e Liderança
- Igreja em ação
- Institucional
- Juventude
- Legado e Louvor
- Meio Ambiente
- Política e Sociedade
- Reportagem
- Resenha
- Série Ciência e Fé Cristã
- Teologia e Doutrina
- Testemunho
- Vida Cristã
Revista Ultimato
+ lidos
- Descobrindo o potencial da diáspora: um chamado à igreja brasileira
- Trabalho sob a perspectiva do reino de Deus
- Jesus [não] tem mais graça
- Onde estão as crianças?
- Não confunda o Natal com Papai Noel — Para celebrar o verdadeiro Natal
- Uma cidade sitiada - Uma abordagem literária do Salmo 31
- C. S. Lewis, 126 anos
- Ultimato recebe prêmio Areté 2024
- Exalte o Altíssimo!
- Paciência e determinação: virtudes essenciais para enfrentar a realidade da vida