Opinião
- 20 de abril de 2015
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Qualquer forma de arte vale a pena
Estive, por esses dias, às voltas com um de meus temas prediletos: a linguagem estética e a arte. Não preciso dizer o quanto a tarefa me deu prazer, já que é um campo pelo qual transito já há algum tempo.
A estética é uma parte da filosofia que se ocupa da beleza presente na arte. Mas o que é belo? Certamente não aquilo que é ditado pelos padrões de beleza de hoje, que, principalmente no Brasil, a associam à imagem de mulheres, que muitas vezes são magérrimas, beirando a anorexia. Também a associamos ao carro do ano, ao design em geral (gráfico, de interiores, etc.), mas muito pouco à arte.
A beleza certamente é mais do que aquilo que a mídia nos faz crer. Ela é a expressão de algo sublime, que encanta e embevece. Uma das frases famosas de Simone Weil é: “O Belo é a prova experimental de que a encarnação é possível”. Como entender isso?
De certa forma, a beleza tem a ver com o que vemos: a imagem. Mas a imagem não é apenas o que vemos com os olhos físicos. Certamente os olhos que veem a amada e o amado no livro de Cantares e sua formosura são os olhos da alma mais do que os do corpo. Mas atenção: mais e não menos (devemos lembrar que o corpo e sua beleza também são valorizados na Bíblia).
Vemos a imagem também com os olhos da imaginação. Por isso, ela é os olhos, ouvidos e a boca da linguagem estética. A imaginação, que é um diferencial do ser humano entre os animais, é também a marca registrada do que há de mais humano no homem e na mulher.
E a própria imaginação vem de uma imagem, uma impressão arquetípica, que está presente no ser humano desde a criação. Diz a Bíblia que o ser humano é imagem e semelhança de Deus. Portanto, a prática da criação é algo que está impregnada em nós e nos é intrínseca.
Mas é claro que a criação divina não se compara. Mas tem outro detalhe interessante no relato da criação: qual foi a primeira coisa que Deus viu, quando soprou a vida em sua estátua de barro (da mesma forma como quando criou o universo todo pela sua Palavra)? Viu que era bom.
De acordo com a filosofia antiga e medieval, a bondade, que é uma característica atrelada ao ser, à sua existência enquanto tal, encerra em si outros traços do ser, que são os seus transcendentais, ou seja o que vai além do ser, formando a sua essência. Os filósofos costumavam dizer que o que é bom, tem um quê a mais e é ao mesmo tempo uno (formando um todo harmônico), verdadeiro, real e... belo.
Vou dar um exemplo de como esses seis atributos ou transcendentais do ser coincidem na sabedoria popular: quando o trabalho de um artista, por exemplo, foi bem feito, exclamamos: Isso é que é trabalho! Esse é o trabalho (uno)! É uma verdadeira obra-prima! Ela realmente supera tudo! Em resumo, dizemos: Que belo trabalho!
Pois bem: quando Deus disse que sua criação era boa, ele disse ao mesmo tempo que ela era única, que tinha um quê a mais, que era verdadeira, real e que era bela.
Portanto, a beleza está em todas as coisas criadas, inclusive no homem. A diferença no homem é que ele, além de ser belo, também é capaz de criar a beleza. Ele é um ser, em outras palavras, capaz de criar arte por si mesmo. No dizer de J.R.R. Tolkien, somos todos subcriadores e como tais, chamados a criar e apreciar a arte dentro dos nossos limites de seres decaídos e subordinados a Deus.
Então, essa beleza é uma encarnação, ou seja, a concretização ou realização daquilo que foi imaginado. Por isso é que a mensagem da cruz (além de terrível) é tão bela: é a narrativa ou romance da concretização na história daquilo que todo artista prenuncia em sua obra: a encarnação.
E a beleza da arte não existe sem o outro, sem a apreciação, sem o louvor a ela mesma. Por isso é que é tão importante que o cristão tenha desenvolvido o senso estético e o gosto pela arte, se quiser ser um cristão completo.
Então, qualquer forma de arte vale a pena, desde que autêntica, pois ela emana, em última instância, ainda que de forma limitada e decaída, do próprio Criador e volta para Ele em forma de louvor e adoração.
Leia também
A arte moderna e a morte de uma cultura
A arte não precisa de justificativa
Cristo e a criatividade
A estética é uma parte da filosofia que se ocupa da beleza presente na arte. Mas o que é belo? Certamente não aquilo que é ditado pelos padrões de beleza de hoje, que, principalmente no Brasil, a associam à imagem de mulheres, que muitas vezes são magérrimas, beirando a anorexia. Também a associamos ao carro do ano, ao design em geral (gráfico, de interiores, etc.), mas muito pouco à arte.
A beleza certamente é mais do que aquilo que a mídia nos faz crer. Ela é a expressão de algo sublime, que encanta e embevece. Uma das frases famosas de Simone Weil é: “O Belo é a prova experimental de que a encarnação é possível”. Como entender isso?
De certa forma, a beleza tem a ver com o que vemos: a imagem. Mas a imagem não é apenas o que vemos com os olhos físicos. Certamente os olhos que veem a amada e o amado no livro de Cantares e sua formosura são os olhos da alma mais do que os do corpo. Mas atenção: mais e não menos (devemos lembrar que o corpo e sua beleza também são valorizados na Bíblia).
Vemos a imagem também com os olhos da imaginação. Por isso, ela é os olhos, ouvidos e a boca da linguagem estética. A imaginação, que é um diferencial do ser humano entre os animais, é também a marca registrada do que há de mais humano no homem e na mulher.
E a própria imaginação vem de uma imagem, uma impressão arquetípica, que está presente no ser humano desde a criação. Diz a Bíblia que o ser humano é imagem e semelhança de Deus. Portanto, a prática da criação é algo que está impregnada em nós e nos é intrínseca.
Mas é claro que a criação divina não se compara. Mas tem outro detalhe interessante no relato da criação: qual foi a primeira coisa que Deus viu, quando soprou a vida em sua estátua de barro (da mesma forma como quando criou o universo todo pela sua Palavra)? Viu que era bom.
De acordo com a filosofia antiga e medieval, a bondade, que é uma característica atrelada ao ser, à sua existência enquanto tal, encerra em si outros traços do ser, que são os seus transcendentais, ou seja o que vai além do ser, formando a sua essência. Os filósofos costumavam dizer que o que é bom, tem um quê a mais e é ao mesmo tempo uno (formando um todo harmônico), verdadeiro, real e... belo.
Vou dar um exemplo de como esses seis atributos ou transcendentais do ser coincidem na sabedoria popular: quando o trabalho de um artista, por exemplo, foi bem feito, exclamamos: Isso é que é trabalho! Esse é o trabalho (uno)! É uma verdadeira obra-prima! Ela realmente supera tudo! Em resumo, dizemos: Que belo trabalho!
Pois bem: quando Deus disse que sua criação era boa, ele disse ao mesmo tempo que ela era única, que tinha um quê a mais, que era verdadeira, real e que era bela.
Portanto, a beleza está em todas as coisas criadas, inclusive no homem. A diferença no homem é que ele, além de ser belo, também é capaz de criar a beleza. Ele é um ser, em outras palavras, capaz de criar arte por si mesmo. No dizer de J.R.R. Tolkien, somos todos subcriadores e como tais, chamados a criar e apreciar a arte dentro dos nossos limites de seres decaídos e subordinados a Deus.
Então, essa beleza é uma encarnação, ou seja, a concretização ou realização daquilo que foi imaginado. Por isso é que a mensagem da cruz (além de terrível) é tão bela: é a narrativa ou romance da concretização na história daquilo que todo artista prenuncia em sua obra: a encarnação.
E a beleza da arte não existe sem o outro, sem a apreciação, sem o louvor a ela mesma. Por isso é que é tão importante que o cristão tenha desenvolvido o senso estético e o gosto pela arte, se quiser ser um cristão completo.
Então, qualquer forma de arte vale a pena, desde que autêntica, pois ela emana, em última instância, ainda que de forma limitada e decaída, do próprio Criador e volta para Ele em forma de louvor e adoração.
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É mestre e doutora em educação (USP) e doutora em estudos da tradução (UFSC). É autora de O Senhor dos Anéis: da fantasia à ética e tradutora de Um Ano com C.S. Lewis e Deus em Questão. Costuma se identificar como missionária no mundo acadêmico. É criadora e editora do site www.cslewis.com.br
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