Opinião
- 27 de maio de 2016
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Qual o tamanho da sua fé?
ESPECIAL MMO
O artigo abaixo é baseado no estudo bíblico do teólogo James Gilbert publicado no Guia de Oração 2016 do 21º Mutirão Mundial de Oração Por Crianças Socialmente Vulneráveis (MMO). O texto busca explorar a primeira parte do capítulo 17 de Mateus e refletir, principalmente, sobre a observação memorável de Jesus comparando a fé dos discípulos com um grão de mostarda. Esta observação no evangelho de Mateus acontece momentos depois da libertação de um menino oprimido por espíritos malignos. A pergunta que fica é: qual o impacto da sua fé sobre as crianças que sofrem hoje no mundo?
***
Por James Gilbert
Moisés desceu do monte e encontrou um povo corrompido. Um povo que, na ausência de seu líder, cria um bezerro de ouro para lhe prestar culto. Arão, ao apresentar o bezerro de ouro (e possivelmente outros ídolos menores) disse: “Eis aí os seus deuses, ó Israel, que tiraram vocês do Egito!”. Então ele anuncia que no dia seguinte teriam “uma festa dedicada ao Senhor” (Êxodo 32.4,5).
Nós, que nos consideramos modernos, achamos isto tudo muito bizarro, fútil, irracional e infantil. Progredimos e superamos a idolatria. Mas no contexto dos israelitas o Testamento as coisas eram bem diferentes. A adoração a bezerros de ouro era praticada pelos povos mais avançados e poderosos da antiguidade, da Babilônia ao Egito, incluindo os hititas, os cananeus, os fenícios e outros. Os israelitas não estavam se propondo a adorar o deus dos egípcios, Ptah ou Ra, afinal, este deus era partidário dos egípcios. O Deus que os libertara do Egito não era Ptah ou Ra, mas sim Jeová.
Então, introduzir em seu culto imagens de ouro para adorar não foi uma invenção original. Eles queriam se conformar às normas culturais de seus dias. Eles tinham o desejo de ser guiados por deuses que se pareciam com os deuses de todos os povos que os cercavam, o que significava, inclusive, continuar cultuando a Jeová. “Venha, faça para nós deuses que nos conduzam, pois a esse Moisés, o homem que nos tirou do Egito, não sabemos o que lhe aconteceu”. (32:1). Em outras palavras, como nós, eles queriam a segurança de algo visível, sólido, presente, poderoso, bonito e envolvente. Um Deus misterioso e selvagem como o Deus de Moisés não era tão atraente. Os deuses precisavam ser domesticados!
O profeta Jesus, também encontrou Deus, o Pai, na montanha durante o evento conhecido como a transfiguração (Mt 17.5). O rosto de Jesus assim como o de Moisés, brilhou devido à manifestação da glória de Deus e ambos encontraram uma geração má ao descerem das duas respectivas montanhas . Não, desta vez os israelitas não tinham construído um bezerro de ouro. A multidão estava lá para ver, ouvir e receber bênçãos de Jesus. Com certeza muitos ali tinham vindo de longe, muitos eram tementes a Deus, outros buscavam a fé, eram religiosos. Então por que Jesus os chama de incrédulos e perversos?
Jesus se encontra com um pai que intercede por seu filho, pede para que Jesus o liberte dos espíritos malignos que o oprimem (17.16). Jesus não acusa nem o pai, nem o filho. Ao contrário, ele denuncia toda aquela geração, incluindo a multidão ao seu redor. Moisés encontrou o bezerro de ouro, o fruto do desejo do coração e obra das mãos da comunidade. Jesus, no entanto, encontra um menino possuído por demônio.
Será que a referência comum à possessão demoníaca nos tempos de Jesus é um eco das citações a ídolos também comuns na história antiga de Israel? Se Israel pós-Babilônia proíbe a adoração a ídolos de pedra ou pau, pode esta nação também regular de fato os ídolos internos que se formam no coração das pessoas? Jesus apenas expõe o coração de seus ouvintes. Os desejos ocultos deste povo tinham se tornado portas abertas para a atividade demoníaca na vida de crianças!
Assim como no relato da descida de Moisés do Monte Sinai, Jesus confronta toda a geração: “Ó geração incrédula e perversa, até quando estarei com vocês? Até quando terei que suportá-los?” (17.17). A repetição serve para enfatizar o seu pesar diante de geração tão má. A comunidade é culpada pela situação do menino, não necessariamente a criança ou seu pai. Nossa tendência é pensar que a pessoa possuída por demônios é culpada de sua situação. Esta pessoa deve ter feito algo para convidar o atrair a atuação demoníaca. Jesus não explica, ele simplesmente responsabiliza a “genea”, palavra grega que significa raça, família, geração. Ele se compadece da criança e se ira com a multidão.
Hoje, ficamos tão felizes quando os bancos de nossas igrejas se enchem. Nos sentimos abençoados ao percebermos que pessoas percorreram um caminho longo para nos ouvir. Monitoramos o número de pessoas que curtem nossos conteúdos na internet. Grandes números significam sucesso! Nos alegramos muito quando é grande o número de pedidos de oração ou conselho. Diante de uma multidão, nivelamos nossas mensagens para que atendam aos anseios da maioria. Anunciamos a todos que Jesus os ama e tentamos diminuir sua ansiedade afirmando que no final tudo dará certo. No dia seguinte agradecemos a Deus pelo seu mover na multidão, por tantos interessados, por tantas conversões. Gostamos de focar no trabalho de trazer todos para debaixo de nossas tendas.
Mas a ótica de Jesus é outra. No meio da multidão ele enxerga uma criança oprimida, queimada, atormentada. Os olhos de Jesus não priorizam as massas e sim o pequenino, subjugado pelo mal. E ao invés de ver a multidão como benção, ele a denuncia como incrédula e corrupta. Será que Jesus se identifica com o menino que como criança carrega as marcas e o sofrimento decorrentes de uma sociedade corrupta? A mesma sociedade que logo mais crucificará um homem inocente ao mesmo tempo em que libertará um criminoso?
Fico impressionado com a forma como Jesus condena toda sua geração, uma geração muito religiosa! Ele não destacou alguns pecadores nas ruas ou colocou a culpa naqueles que moram em favelas, mas “nesta geração”!
A avaliação de Jesus em relação aos discípulos é só um pouco melhor. Estes homens de fé, que deixaram tudo para segui-lo, já tinham sido enviados para expelir demônios, curar os doentes, e anunciar o evangelho do reino. E agora, confrontados com uma criança oprimida pelos demônios presentes em uma geração corrupta, eles fracassam. A fé deles estava pequena demais. Jesus avaliou o seu tamanho: era menor que um grão de mostarda.
Não se trata aqui de uma valorização da pequenez. Jesus usa o grão de mostarda para mostrar que a fé, ainda que pequena, pode mover montanhas. Para mim não parece forçado pensar que Jesus via sua geração perversa como uma grande montanha a ser removida! Uma sociedade que permitia que suas crianças fossem abusadas, atormentadas e até possuídas por espíritos malignos. Uma geração que apesar de correr atrás de Jesus, exibia incredulidade e maldade suficientes para machucar os pequeninos e até destruí-los.
Qual seria a percepção de Jesus em relação à nossa nação, hoje? Será que se alegraria grandemente com o crescimento da igreja evangélica? Todo o mercado evangélico de música, livros, vídeos – coisas boas – o faria feliz? Ou seus olhos se voltariam para os pequeninos nas calçadas, os que estão perdidos, sem teto, vendendo objetos furtados, comercializando drogas e seus próprios corpos para sobreviver? Será que ele nos diria que não levamos a sério suas palavras em Mateus 18.6-11?
Quando vejo os números relativos ao sofrimento das crianças fico pensativo. Será que nossa fé é tão pequena que não é capaz de mover a nossa geração para se importar com as crianças?
• James Gilbert é pastor, missionário e fotógrafo, com a missão de registrar a realidade de famílias socialmente vulneráveis no Brasil.
ESTUDO BÍBLICO
Leia e imprima o estudo bíblico sobre Mateus 17.1-21.
21º MMO
Participe do 21º Mutirão Mundial de Oração Pelas Crianças e Adolescentes Socialmente Vulneráveis! Saiba mais.
Imagem: Aleš Čerin/Freeimages.com
O artigo abaixo é baseado no estudo bíblico do teólogo James Gilbert publicado no Guia de Oração 2016 do 21º Mutirão Mundial de Oração Por Crianças Socialmente Vulneráveis (MMO). O texto busca explorar a primeira parte do capítulo 17 de Mateus e refletir, principalmente, sobre a observação memorável de Jesus comparando a fé dos discípulos com um grão de mostarda. Esta observação no evangelho de Mateus acontece momentos depois da libertação de um menino oprimido por espíritos malignos. A pergunta que fica é: qual o impacto da sua fé sobre as crianças que sofrem hoje no mundo?
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Por James Gilbert
Moisés desceu do monte e encontrou um povo corrompido. Um povo que, na ausência de seu líder, cria um bezerro de ouro para lhe prestar culto. Arão, ao apresentar o bezerro de ouro (e possivelmente outros ídolos menores) disse: “Eis aí os seus deuses, ó Israel, que tiraram vocês do Egito!”. Então ele anuncia que no dia seguinte teriam “uma festa dedicada ao Senhor” (Êxodo 32.4,5).
Nós, que nos consideramos modernos, achamos isto tudo muito bizarro, fútil, irracional e infantil. Progredimos e superamos a idolatria. Mas no contexto dos israelitas o Testamento as coisas eram bem diferentes. A adoração a bezerros de ouro era praticada pelos povos mais avançados e poderosos da antiguidade, da Babilônia ao Egito, incluindo os hititas, os cananeus, os fenícios e outros. Os israelitas não estavam se propondo a adorar o deus dos egípcios, Ptah ou Ra, afinal, este deus era partidário dos egípcios. O Deus que os libertara do Egito não era Ptah ou Ra, mas sim Jeová.
Então, introduzir em seu culto imagens de ouro para adorar não foi uma invenção original. Eles queriam se conformar às normas culturais de seus dias. Eles tinham o desejo de ser guiados por deuses que se pareciam com os deuses de todos os povos que os cercavam, o que significava, inclusive, continuar cultuando a Jeová. “Venha, faça para nós deuses que nos conduzam, pois a esse Moisés, o homem que nos tirou do Egito, não sabemos o que lhe aconteceu”. (32:1). Em outras palavras, como nós, eles queriam a segurança de algo visível, sólido, presente, poderoso, bonito e envolvente. Um Deus misterioso e selvagem como o Deus de Moisés não era tão atraente. Os deuses precisavam ser domesticados!
O profeta Jesus, também encontrou Deus, o Pai, na montanha durante o evento conhecido como a transfiguração (Mt 17.5). O rosto de Jesus assim como o de Moisés, brilhou devido à manifestação da glória de Deus e ambos encontraram uma geração má ao descerem das duas respectivas montanhas . Não, desta vez os israelitas não tinham construído um bezerro de ouro. A multidão estava lá para ver, ouvir e receber bênçãos de Jesus. Com certeza muitos ali tinham vindo de longe, muitos eram tementes a Deus, outros buscavam a fé, eram religiosos. Então por que Jesus os chama de incrédulos e perversos?
Jesus se encontra com um pai que intercede por seu filho, pede para que Jesus o liberte dos espíritos malignos que o oprimem (17.16). Jesus não acusa nem o pai, nem o filho. Ao contrário, ele denuncia toda aquela geração, incluindo a multidão ao seu redor. Moisés encontrou o bezerro de ouro, o fruto do desejo do coração e obra das mãos da comunidade. Jesus, no entanto, encontra um menino possuído por demônio.
Será que a referência comum à possessão demoníaca nos tempos de Jesus é um eco das citações a ídolos também comuns na história antiga de Israel? Se Israel pós-Babilônia proíbe a adoração a ídolos de pedra ou pau, pode esta nação também regular de fato os ídolos internos que se formam no coração das pessoas? Jesus apenas expõe o coração de seus ouvintes. Os desejos ocultos deste povo tinham se tornado portas abertas para a atividade demoníaca na vida de crianças!
Assim como no relato da descida de Moisés do Monte Sinai, Jesus confronta toda a geração: “Ó geração incrédula e perversa, até quando estarei com vocês? Até quando terei que suportá-los?” (17.17). A repetição serve para enfatizar o seu pesar diante de geração tão má. A comunidade é culpada pela situação do menino, não necessariamente a criança ou seu pai. Nossa tendência é pensar que a pessoa possuída por demônios é culpada de sua situação. Esta pessoa deve ter feito algo para convidar o atrair a atuação demoníaca. Jesus não explica, ele simplesmente responsabiliza a “genea”, palavra grega que significa raça, família, geração. Ele se compadece da criança e se ira com a multidão.
Hoje, ficamos tão felizes quando os bancos de nossas igrejas se enchem. Nos sentimos abençoados ao percebermos que pessoas percorreram um caminho longo para nos ouvir. Monitoramos o número de pessoas que curtem nossos conteúdos na internet. Grandes números significam sucesso! Nos alegramos muito quando é grande o número de pedidos de oração ou conselho. Diante de uma multidão, nivelamos nossas mensagens para que atendam aos anseios da maioria. Anunciamos a todos que Jesus os ama e tentamos diminuir sua ansiedade afirmando que no final tudo dará certo. No dia seguinte agradecemos a Deus pelo seu mover na multidão, por tantos interessados, por tantas conversões. Gostamos de focar no trabalho de trazer todos para debaixo de nossas tendas.
Mas a ótica de Jesus é outra. No meio da multidão ele enxerga uma criança oprimida, queimada, atormentada. Os olhos de Jesus não priorizam as massas e sim o pequenino, subjugado pelo mal. E ao invés de ver a multidão como benção, ele a denuncia como incrédula e corrupta. Será que Jesus se identifica com o menino que como criança carrega as marcas e o sofrimento decorrentes de uma sociedade corrupta? A mesma sociedade que logo mais crucificará um homem inocente ao mesmo tempo em que libertará um criminoso?
Fico impressionado com a forma como Jesus condena toda sua geração, uma geração muito religiosa! Ele não destacou alguns pecadores nas ruas ou colocou a culpa naqueles que moram em favelas, mas “nesta geração”!
A avaliação de Jesus em relação aos discípulos é só um pouco melhor. Estes homens de fé, que deixaram tudo para segui-lo, já tinham sido enviados para expelir demônios, curar os doentes, e anunciar o evangelho do reino. E agora, confrontados com uma criança oprimida pelos demônios presentes em uma geração corrupta, eles fracassam. A fé deles estava pequena demais. Jesus avaliou o seu tamanho: era menor que um grão de mostarda.
Não se trata aqui de uma valorização da pequenez. Jesus usa o grão de mostarda para mostrar que a fé, ainda que pequena, pode mover montanhas. Para mim não parece forçado pensar que Jesus via sua geração perversa como uma grande montanha a ser removida! Uma sociedade que permitia que suas crianças fossem abusadas, atormentadas e até possuídas por espíritos malignos. Uma geração que apesar de correr atrás de Jesus, exibia incredulidade e maldade suficientes para machucar os pequeninos e até destruí-los.
Qual seria a percepção de Jesus em relação à nossa nação, hoje? Será que se alegraria grandemente com o crescimento da igreja evangélica? Todo o mercado evangélico de música, livros, vídeos – coisas boas – o faria feliz? Ou seus olhos se voltariam para os pequeninos nas calçadas, os que estão perdidos, sem teto, vendendo objetos furtados, comercializando drogas e seus próprios corpos para sobreviver? Será que ele nos diria que não levamos a sério suas palavras em Mateus 18.6-11?
Quando vejo os números relativos ao sofrimento das crianças fico pensativo. Será que nossa fé é tão pequena que não é capaz de mover a nossa geração para se importar com as crianças?
• James Gilbert é pastor, missionário e fotógrafo, com a missão de registrar a realidade de famílias socialmente vulneráveis no Brasil.
ESTUDO BÍBLICO
Leia e imprima o estudo bíblico sobre Mateus 17.1-21.
21º MMO
Participe do 21º Mutirão Mundial de Oração Pelas Crianças e Adolescentes Socialmente Vulneráveis! Saiba mais.
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