Opinião
- 10 de agosto de 2020
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Qual o lugar da missão da igreja na pandemia?
Por Luiz Fernando dos Santos
“Como são belos nos montes os pés daqueles que anunciam boas novas, que proclamam a paz, que trazem boas notícias, que proclamam salvação, que dizem a Sião: O seu Deus reina!” (Isaías 52.7).
A pandemia, exatamente devido ao seu caráter de calamidade, é um contexto mais que oportuno para as missões cristãs. É verdade também que muito da vida prática e efetiva se torna mais difícil, como o levantamento de sustento ou a manutenção do mesmo, os deslocamentos, os encontros, os treinamentos etc. Graças a Deus, o Espírito do Senhor, que é o maior interessado, o verdadeiro promotor e realizador da Missão, desperta no seu povo grande criatividade para nesses dias não permitir que um espírito de desalento, paralisia e deserção tome conta do seu povo missionário.
Graças a Deus pelas ‘lives’ que arrecadaram sustento para as famílias em missão que se viram prejudicadas de uma hora para outra com a perda de alguns de seus parceiros. Louvamos o Senhor pelos inúmeros ‘webnários’, videoconferências e cursos regulares e intensivos que não deixaram apagar a chama; eu mesmo leciono em um curso de pós-graduação em missiologia. Isto prova tanto a vitalidade da igreja no presente quanto a sua esperança indestrutível para o futuro.
Também tenho recebido notícias de que ao redor do planeta muitos cristãos estão sendo mobilizados e se engajando no combate da COVID-19 e seus efeitos colaterais. São muitos os nossos irmãos que mobilizam verdadeiras redes de solidariedade para atender as necessidades imediatas de alimentos, água potável, produtos de higiene, remédios e outros. Pastores, tanto em contexto local urbano, quanto transcultural, têm oferecido um indispensável trabalho de assistência pastoral para consolar os que perderam os seus entes queridos, confortar os que estão acometidos pela doença e encorajar a todos na esperança cristã. A igreja que ‘fica’, isto significa dizer exatamente a que se ocupa em fazer missões no contexto em que está plantada, também deve ter entre as prioridades de sua agenda a preocupação com a igreja em contexto transcultural e, de maneira especial, a igreja que sofre.
A pandemia piorou e muito as condições dos cristãos em lugares onde são não só uma minoria em proporção ao contingente da população, mas ainda por cima uma minoria odiada e perseguida. Não podemos nos esquecer deles, não agora, não na pandemia. Muitas destas comunidades, apesar de minúsculas muitas vezes, já são autóctones. A sua liderança é nativa e o apoio que ainda recebem é no treinamento continuado ou na recepção de subsídios e material para a obra. Mas liderar pelo serviço amoroso e testemunhar com coragem são tarefas já assumidas e assimiladas definitivamente.
Não bastasse a já conhecida perseguição institucionalizada, a marginalização social e a alienação cultural, têm que conviver ainda com o efetivo preterimento das autoridades locais quando o assunto é a pandemia. Muitos cristãos não têm direito ou acesso garantido a médicos e hospitais para o socorro e o tratamento, caso venham a contrair a doença. Se houver uma distribuição de remédios ou quando a vacina chegar, certamente serão os últimos da fila. Então, como podemos atuar de maneira que esses nossos irmãos não permaneçam invisíveis aos nossos olhos? O que podemos fazer para que amanhã o Senhor não peça contas do fruto do nosso amor e nos apresentemos de mãos vazias?
Em primeiro lugar, é necessário tomar conhecimento dessa realidade. Os pastores e os líderes de missões têm a obrigação moral de informar à igreja local o que acontece na igreja global. Somos partes de um mesmo e único corpo, não podemos simplesmente ignorar. Existem sites e publicações diversas que nos dão conta de como as coisas estão ao redor do mundo. É preciso que a igreja seja ‘sensibilizada’ para a condição desumana a que seus irmãos estão sendo submetidos em muitos contextos inimagináveis por nós. Sei que a missão aqui também não está fácil e que as demandas da nossa comunidade local também são urgentes e exigem esforço. Mas uma coisa não anula a outra. Uma realidade, na verdade, inspira a outra. Se podemos aqui, podemos lá. Se nos incomodamos aqui, é certo que jamais estaremos confortáveis com o que acontece lá. Contudo, também em missões, informação faz a diferença.
Um outro passo é manter de maneira criativa, mas igualmente efetiva, as atividades de arrecadação financeira para missionários e agências idôneas que farão chegar os recursos onde as demandas forem mais urgentes. Não podemos dar qualquer desculpa aqui. É sempre possível, com as muitas ferramentas tecnológicas, oferecer a oportunidade para a efetiva e afetiva contribuição em missões.
Outra maneira poderosa, se não a mais poderosa, de participar do movimento missionário nessa hora é convocar a igreja e manter uma agenda permanente de orações. É preciso criar nas famílias um ambiente propício às orações. Preparar subsídios para que orem diante de um mapa-múndi, distribuir entre as famílias da igreja fotografias de missionários ou a lista de países perseguidos. Criar uma sala virtual de orações específicas por missões. O fato é que a pandemia é uma oportunidade e não somente um desafio. O desafio é permanecer no estado permanente de missões!
>> Conheça o livro Missionários Feridos, de Antonia Leonora van der Meer
Luiz Fernando dos Santos (1970-2022), foi ministro presbiteriano e era casado com Regina, pai da Talita e professor de teologia no Seminário Presbiteriano do Sul e no Seminário Teológico Servo de Cristo.
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