Opinião
- 28 de abril de 2017
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Qual é o nosso senso de justiça?
Por Antônio C. Costa
Vejo o meu país declarar que celebra o triunfo da justiça sobre a corrupção. Diz que um novo tempo chegou. Milhões aplaudem a prisão de criminosos do colarinho branco, saúdam a atuação destemida de um magistrado e aguardam ansiosos pelo fim definitivo da carreira de políticos profissionais, cujas iniquidades são expostas diariamente nas primeiras páginas dos nossos jornais. Vivemos de fato momento inédito na nossa história. Rico indo para a cadeia. Poder econômico e político sendo confrontados.
Observo, contudo, estranha falta de simetria nesse conceito de justiça professado por nós brasileiros.
Vejo o meu país, em nome da governabilidade, tolerar a permanência no cargo de presidente da República alguém eleito através do uso de verba pública que poderia ter sido usada para construção de escolas e hospitais.
Vejo o meu país não se manifestar contra o massacre de favelados e policiais pobres, que todos os dias têm suas vidas interrompidas em tiroteios despropositados.
Vejo o meu país nada falar sobre presídios superlotados, onde jazem 600 mil detentos, 40% dos quais sem terem ainda sido julgados pela justiça, nos quais se pratica o que nações desenvolvidas baniram do seu sistema prisional, por ser desumano, contraproducente e imoral.
Vejo o meu país aplaudir execuções extrajudiciais, expressando sua propensão histórica a acreditar mais na repressão violenta praticada ao arrepio da lei do que na prevenção inteligente capaz de agir profilaticamente, a fim de que não vivamos em modelos de sociedade que extraiam do ser humano aquilo que ele tem de perverso.
Vejo o meu país não se perturbar com desigualdade social, com a qual não há paralelo entre nações desenvolvidas, que faz os que varrem nossas ruas, limpam nossas casas, carregam nas costas nossa economia, voltem no final do dia para seus barracos, cujas paredes de tábua não são páreo para tiro de fuzil, que perpassa também cabeça de meninos e meninas pobres.
Lamento dizer, temos um longo caminho a percorrer até que o nosso compromisso com a justiça seja tão profundo a ponto de candidato político não explorar o que temos de pior para se eleger.
• Antônio C. Costa, jornalista, teólogo e fundador da ONG Rio de Paz
Leia mais
Batalha contra a incivilidade
Nação mais justa. Igreja mais fiel
Justiça e serenidade
Imagem: Pixabay.com.
Vejo o meu país declarar que celebra o triunfo da justiça sobre a corrupção. Diz que um novo tempo chegou. Milhões aplaudem a prisão de criminosos do colarinho branco, saúdam a atuação destemida de um magistrado e aguardam ansiosos pelo fim definitivo da carreira de políticos profissionais, cujas iniquidades são expostas diariamente nas primeiras páginas dos nossos jornais. Vivemos de fato momento inédito na nossa história. Rico indo para a cadeia. Poder econômico e político sendo confrontados.
Observo, contudo, estranha falta de simetria nesse conceito de justiça professado por nós brasileiros.
Vejo o meu país, em nome da governabilidade, tolerar a permanência no cargo de presidente da República alguém eleito através do uso de verba pública que poderia ter sido usada para construção de escolas e hospitais.
Vejo o meu país não se manifestar contra o massacre de favelados e policiais pobres, que todos os dias têm suas vidas interrompidas em tiroteios despropositados.
Vejo o meu país nada falar sobre presídios superlotados, onde jazem 600 mil detentos, 40% dos quais sem terem ainda sido julgados pela justiça, nos quais se pratica o que nações desenvolvidas baniram do seu sistema prisional, por ser desumano, contraproducente e imoral.
Vejo o meu país aplaudir execuções extrajudiciais, expressando sua propensão histórica a acreditar mais na repressão violenta praticada ao arrepio da lei do que na prevenção inteligente capaz de agir profilaticamente, a fim de que não vivamos em modelos de sociedade que extraiam do ser humano aquilo que ele tem de perverso.
Vejo o meu país não se perturbar com desigualdade social, com a qual não há paralelo entre nações desenvolvidas, que faz os que varrem nossas ruas, limpam nossas casas, carregam nas costas nossa economia, voltem no final do dia para seus barracos, cujas paredes de tábua não são páreo para tiro de fuzil, que perpassa também cabeça de meninos e meninas pobres.
Lamento dizer, temos um longo caminho a percorrer até que o nosso compromisso com a justiça seja tão profundo a ponto de candidato político não explorar o que temos de pior para se eleger.
• Antônio C. Costa, jornalista, teólogo e fundador da ONG Rio de Paz
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