Opinião
- 19 de maio de 2017
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Qual é a sua beleza?
Por Rute Heckert
A pergunta contém dois pressupostos: primeiro, são tantos os referenciais para o que se considera belo que só lançando a pergunta individualmente; e, segundo, cada ser é potencialmente dotado de beleza.
Ainda assim, o mercado da beleza, com seus produtos e procedimentos estéticos, vende e pouco se abala com a crise econômica sofrida pelo país. Talvez porque somos muitas vezes guiados e seduzidos por ideais de beleza conforme padrões instituídos socialmente. Tais belezas cumprem propósitos individuais, mas também sociais. Expondo a beleza atraio, faço-me interessante ao outro, e talvez até convença o outro de que atenderei suas expectativas. Quem vai procurar emprego veste-se para causar uma boa impressão. Também quem vai a um encontro social ou romântico. Precisamos da beleza. Abre oportunidades e nos traz bem estar e segurança. Porém se a beleza apenas veste o corpo, o ser pode eventualmente perder o brilho.
O que a aparente beleza vem, eventualmente, camuflar? Inseguranças? Incompetências?
Há "feiuras" que queremos esconder porque podem revelar algo de nós. Aqueles defeitos e dificuldades que julgamos ter e que acreditamos que podem denunciar algo que nos desagrada e que talvez desagradem o outro. Nesse jogo de "figura e fundo"¹, corremos o risco de descuidar desse nosso lado mais indesejado, mantendo-o abafado, esquecido. Somos complexos. O cuidar-se de modo integral, buscando conhecer a nós mesmos em nossa totalidade, é desafiador e difícil, mas fundamental.
Somos muito mais do que o nossa aparência mostra; somos sentimentos, sonhos, desejos, habilidades, mais ou menos desenvolvidos. Somos uma história que vai se fazendo todos os dias, e assim a riqueza do ser pode se perder sob a avaliação exclusiva do referencial da beleza física, ou ao buscarmos ser apenas reconhecidos por esta beleza. Mas beleza maior é a de saber-se história, a "de ser um eterno aprendiz"², de entender que incluindo na vida a perspectiva de termos um passado e um futuro podemos cuidar melhor de quem somos, deixando-nos também ser cuidados, e assim viver vida abundante, vida que é bela e embeleza.
Notas:
1. Figura e fundo: modo de percepção em que nossa atenção capta uma parte da imagem (figura) deixando de perceber outra parte da totalidade (fundo).
2. Da música “O que é, o que é?”, de Gonzaguinha.
• Rute Heckert Viriato é psicóloga e psicoterapeuta, com experiência na área de reabilitação para pessoas com deficiência. Estuda temas como: espiritualidade, luto e morte, dor, deficiências, envelhecimento, relacionamentos e escolha profissional. É editora do blog Contemplação do Ser.
Leia mais
O que os olhos não veem
Tudo é vaidade e correr atrás do vento
Ser mulher é ser missionária da ternura
Ser é o Bastante [Carlos P. Queiroz]
A pergunta contém dois pressupostos: primeiro, são tantos os referenciais para o que se considera belo que só lançando a pergunta individualmente; e, segundo, cada ser é potencialmente dotado de beleza.
Ainda assim, o mercado da beleza, com seus produtos e procedimentos estéticos, vende e pouco se abala com a crise econômica sofrida pelo país. Talvez porque somos muitas vezes guiados e seduzidos por ideais de beleza conforme padrões instituídos socialmente. Tais belezas cumprem propósitos individuais, mas também sociais. Expondo a beleza atraio, faço-me interessante ao outro, e talvez até convença o outro de que atenderei suas expectativas. Quem vai procurar emprego veste-se para causar uma boa impressão. Também quem vai a um encontro social ou romântico. Precisamos da beleza. Abre oportunidades e nos traz bem estar e segurança. Porém se a beleza apenas veste o corpo, o ser pode eventualmente perder o brilho.
O que a aparente beleza vem, eventualmente, camuflar? Inseguranças? Incompetências?
Há "feiuras" que queremos esconder porque podem revelar algo de nós. Aqueles defeitos e dificuldades que julgamos ter e que acreditamos que podem denunciar algo que nos desagrada e que talvez desagradem o outro. Nesse jogo de "figura e fundo"¹, corremos o risco de descuidar desse nosso lado mais indesejado, mantendo-o abafado, esquecido. Somos complexos. O cuidar-se de modo integral, buscando conhecer a nós mesmos em nossa totalidade, é desafiador e difícil, mas fundamental.
Somos muito mais do que o nossa aparência mostra; somos sentimentos, sonhos, desejos, habilidades, mais ou menos desenvolvidos. Somos uma história que vai se fazendo todos os dias, e assim a riqueza do ser pode se perder sob a avaliação exclusiva do referencial da beleza física, ou ao buscarmos ser apenas reconhecidos por esta beleza. Mas beleza maior é a de saber-se história, a "de ser um eterno aprendiz"², de entender que incluindo na vida a perspectiva de termos um passado e um futuro podemos cuidar melhor de quem somos, deixando-nos também ser cuidados, e assim viver vida abundante, vida que é bela e embeleza.
Notas:
1. Figura e fundo: modo de percepção em que nossa atenção capta uma parte da imagem (figura) deixando de perceber outra parte da totalidade (fundo).
2. Da música “O que é, o que é?”, de Gonzaguinha.
• Rute Heckert Viriato é psicóloga e psicoterapeuta, com experiência na área de reabilitação para pessoas com deficiência. Estuda temas como: espiritualidade, luto e morte, dor, deficiências, envelhecimento, relacionamentos e escolha profissional. É editora do blog Contemplação do Ser.
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