Opinião
- 03 de agosto de 2016
- Visualizações: 11245
- comente!
- +A
- -A
- compartilhar
Príncipe Caspian e o Reino de Deus
Paralelamente ao lançamento dos meus últimos dois livros, O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa e a Bíblia, que é uma versão melhorada e ampliada de Pedagogia Cristã na obra de C.S. Lewis; e Monteiro Lobato em Dom Quixote das Crianças, que é basicamente sobre a imaginação e seu uso por Lobato nessa obra, e outros temas, principalmente éticos, estou me dedicando à continuação de Magia das Crônicas de Nárnia, falando agora de Príncipe Caspian. (O lançamento será realizado em São Paulo, previsivelmente no dia 13 de agosto de 2016 e será divulgado nesse site).
Como no caso do primeiro Magia, sobre O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa, trata-se de um manual de estudos da obra em pequenos grupos, sejam familiares, de igreja ou de empresa. A seguir, vou lançar algumas ideias básicas do manual.
Primeiro, a obra trata de heroísmo, amizade e fidelidade a um grupo, patriotismo, política e ética, mas o tema guarda-chuva de todos os outros são as histórias ou narrativas (stories) e seu sentido mais profundo. Esse era um dos temas favoritos, tanto de Lewis, quanto de J.R.R. Tolkien e também era um dos que mais eles discutiam entre si, inspirados por G.K. Chesterton, principalmente no seu capítulo, “A ética da Elfolândia”, de Ortodoxia, a respeito dos contos de fada.
E esse tema aparece logo de início. Tudo começa, em Príncipe Caspian, com diálogos entre Caspian e seu guia, um mago, meio anão, meio homem, que lhe conta as histórias da Antiga Nárnia, como fazia a sua ama, despedida por esse crime. Seus personagens, seres sobreviventes à tirania do tio de Caspian, Rei Miraz, encontram-se banidos na floresta negra. O Rei não admite essas histórias de animais falantes e de Aslam, que são todas descartadas como “contos da carochinha”, sem fundamento na realidade. Ao mesmo tempo, há muitas superstições em torno da floresta negra, da qual ninguém se atreve a se aproximar, por causa da crença de que haveriam poderes malignos pairando por lá.
Mas qual a função e verdadeira relação dos mitos, contos de fada e clássicos da literatura brasileira, como a obra de Monteiro Lobado, e da literatura mundial, como D. Quixote? A maioria das pessoas os descarta como sendo meras fantasias, baseadas em superstições, que servem apenas para ludibriar e que, para muitos, têm poderes ocultos e diabólicos, principalmente, quando envolvem feiticeiras e seres mitológicos pagãos.
C.S. Lewis e J.R.R. Tolkien acreditavam que os mitos e contos de fada (bem como clássicos da literatura mundial) abrigam uma mensagem, um sentido transcendente que vai além da interpretação literal e que aponta para o divino real. Os mitos, que contam a respeito de um mal que acomete a humanidade, um herói-deus ou deus-herói que se sacrifica para a salvação dessa humanidade e do processo de purga que acontece depois que esse herói ressurge da morte, fazendo os salvos ascenderem para a eternidade, são uma sombra da realidade da cruz.
As histórias que são contadas sobre os seres narnianos, animais falantes, os seres humanos que vieram em tempos longínquos e Aslam, que salvou o mundo de Nárnia, são crivadas de distorções e repletas de superstições, mas elas abrigam várias verdades, quando bem interpretadas e, em última instância, apontam para Aslam.
Príncipe Caspian é a história sobre como as lendas de Nárnia revelam o seu fundo de verdade a todos os povos daquele mundo. Isso não tem muita semelhança com o querigma e todo o processo de expansão do cristianismo, graças à Grande Comissão, que nos foi atribuída por Deus?
Nesse sentido, acredito que o livro também abrigue uma interpretação escatológica, como aliás, todos os contos de Nárnia permitem, de uma forma mais ou menos intensa. Ele nos mostra como será o dia em que todos os povos e nações conhecerão o verdadeiro sentido por trás de todas as histórias, quer seja de forma explícita, como no caso das Crônicas de Nárnia, quer inconsciente, como no dos mitos e da literatura clássica, que é Cristo mesmo e a instauração do seu Reino na Terra.
Leia Também
A “subcriação“ de Tolkien e a criação de Deus
O natural e o sobrenatural de um milagre
A encarnação de Cristo, por C. S. Lewis
Foto: Príncipe Caspian / Recorte da capa do Filme
Como no caso do primeiro Magia, sobre O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa, trata-se de um manual de estudos da obra em pequenos grupos, sejam familiares, de igreja ou de empresa. A seguir, vou lançar algumas ideias básicas do manual.
Primeiro, a obra trata de heroísmo, amizade e fidelidade a um grupo, patriotismo, política e ética, mas o tema guarda-chuva de todos os outros são as histórias ou narrativas (stories) e seu sentido mais profundo. Esse era um dos temas favoritos, tanto de Lewis, quanto de J.R.R. Tolkien e também era um dos que mais eles discutiam entre si, inspirados por G.K. Chesterton, principalmente no seu capítulo, “A ética da Elfolândia”, de Ortodoxia, a respeito dos contos de fada.
E esse tema aparece logo de início. Tudo começa, em Príncipe Caspian, com diálogos entre Caspian e seu guia, um mago, meio anão, meio homem, que lhe conta as histórias da Antiga Nárnia, como fazia a sua ama, despedida por esse crime. Seus personagens, seres sobreviventes à tirania do tio de Caspian, Rei Miraz, encontram-se banidos na floresta negra. O Rei não admite essas histórias de animais falantes e de Aslam, que são todas descartadas como “contos da carochinha”, sem fundamento na realidade. Ao mesmo tempo, há muitas superstições em torno da floresta negra, da qual ninguém se atreve a se aproximar, por causa da crença de que haveriam poderes malignos pairando por lá.
Mas qual a função e verdadeira relação dos mitos, contos de fada e clássicos da literatura brasileira, como a obra de Monteiro Lobado, e da literatura mundial, como D. Quixote? A maioria das pessoas os descarta como sendo meras fantasias, baseadas em superstições, que servem apenas para ludibriar e que, para muitos, têm poderes ocultos e diabólicos, principalmente, quando envolvem feiticeiras e seres mitológicos pagãos.
C.S. Lewis e J.R.R. Tolkien acreditavam que os mitos e contos de fada (bem como clássicos da literatura mundial) abrigam uma mensagem, um sentido transcendente que vai além da interpretação literal e que aponta para o divino real. Os mitos, que contam a respeito de um mal que acomete a humanidade, um herói-deus ou deus-herói que se sacrifica para a salvação dessa humanidade e do processo de purga que acontece depois que esse herói ressurge da morte, fazendo os salvos ascenderem para a eternidade, são uma sombra da realidade da cruz.
As histórias que são contadas sobre os seres narnianos, animais falantes, os seres humanos que vieram em tempos longínquos e Aslam, que salvou o mundo de Nárnia, são crivadas de distorções e repletas de superstições, mas elas abrigam várias verdades, quando bem interpretadas e, em última instância, apontam para Aslam.
Príncipe Caspian é a história sobre como as lendas de Nárnia revelam o seu fundo de verdade a todos os povos daquele mundo. Isso não tem muita semelhança com o querigma e todo o processo de expansão do cristianismo, graças à Grande Comissão, que nos foi atribuída por Deus?
Nesse sentido, acredito que o livro também abrigue uma interpretação escatológica, como aliás, todos os contos de Nárnia permitem, de uma forma mais ou menos intensa. Ele nos mostra como será o dia em que todos os povos e nações conhecerão o verdadeiro sentido por trás de todas as histórias, quer seja de forma explícita, como no caso das Crônicas de Nárnia, quer inconsciente, como no dos mitos e da literatura clássica, que é Cristo mesmo e a instauração do seu Reino na Terra.
Leia Também
A “subcriação“ de Tolkien e a criação de Deus
O natural e o sobrenatural de um milagre
A encarnação de Cristo, por C. S. Lewis
Foto: Príncipe Caspian / Recorte da capa do Filme
É mestre e doutora em educação (USP) e doutora em estudos da tradução (UFSC). É autora de O Senhor dos Anéis: da fantasia à ética e tradutora de Um Ano com C.S. Lewis e Deus em Questão. Costuma se identificar como missionária no mundo acadêmico. É criadora e editora do site www.cslewis.com.br
- Textos publicados: 68 [ver]
- 03 de agosto de 2016
- Visualizações: 11245
- comente!
- +A
- -A
- compartilhar
QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU ATÉ AQUI.
Ultimato quer falar com você.
A cada dia, mais de dez mil usuários navegam pelo Portal Ultimato. Leem e compartilham gratuitamente dezenas de blogs e hotsites, além do acervo digital da revista Ultimato, centenas de estudos bíblicos, devocionais diárias de autores como John Stott, Eugene Peterson, C. S. Lewis, entre outros, além de artigos, notícias e serviços que são atualizados diariamente nas diferentes plataformas e redes sociais.
PARA CONTINUAR, precisamos do seu apoio. Compartilhe conosco um cafezinho.
Leia mais em Opinião
Opinião do leitor
Para comentar é necessário estar logado no site. Clique aqui para fazer o login ou o seu cadastro.
Ainda não há comentários sobre este texto. Seja o primeiro a comentar!
Escreva um artigo em resposta
Para escrever uma resposta é necessário estar cadastrado no site. Clique aqui para fazer o login ou seu cadastro.
Ainda não há artigos publicados na seção "Palavra do leitor" em resposta a este texto.
Assuntos em Últimas
- 500AnosReforma
- Aconteceu Comigo
- Aconteceu há...
- Agenda50anos
- Arte e Cultura
- Biografia e História
- Casamento e Família
- Ciência
- Devocionário
- Espiritualidade
- Estudo Bíblico
- Evangelização e Missões
- Ética e Comportamento
- Igreja e Liderança
- Igreja em ação
- Institucional
- Juventude
- Legado e Louvor
- Meio Ambiente
- Política e Sociedade
- Reportagem
- Resenha
- Série Ciência e Fé Cristã
- Teologia e Doutrina
- Testemunho
- Vida Cristã
Revista Ultimato
+ lidos
- Descobrindo o potencial da diáspora: um chamado à igreja brasileira
- Trabalho sob a perspectiva do reino de Deus
- Jesus [não] tem mais graça
- Onde estão as crianças?
- Não confunda o Natal com Papai Noel — Para celebrar o verdadeiro Natal
- Uma cidade sitiada - Uma abordagem literária do Salmo 31
- C. S. Lewis, 126 anos
- Ultimato recebe prêmio Areté 2024
- Exalte o Altíssimo!
- Paciência e determinação: virtudes essenciais para enfrentar a realidade da vida