Opinião
- 20 de novembro de 2023
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Para combater o racismo - portas e corações abertos
Painel
Por Carlos “Cacau” Marques, Jacira Monteiro, Luciana Falcão, Marco Davi de Oliveira, Milka Santos, Ziel J. O. Machado
As pessoas que se engajam numa luta em favor da justiça, inspirados pela Palavra de Deus, fazem isto tendo como base a esperança de mudanças. A visão de dias melhores - mais próximos daquilo que Deus desejou para a humanidade - alimenta a esperança e renova as forças, trazendo resiliência frente às dificuldades.
A luta contra o racismo no Brasil - por parte dos cristãos - cresceu nos últimos anos. Ultimato fez a seguinte pergunta a várias pessoas: Você percebe algum avanço – menos discriminação, mais integração, reconciliação, reparação – nas igrejas e em outros espaços evangélicos nos últimos anos em que se passou a falar mais sobre racismo?
A seguir você encontra as respostas. Em síntese, elas indicam que houve alguns avanços, mas que ainda há um longo caminho a percorrer.
Ultimato se alegra com a oportunidade de mais uma vez incentivar que as portas permaneçam abertas para falar e pensar em formas de combate ao racismo nos ambientes evangélicos.
--
Estou na igreja desde minha infância. Nasci na baixada fluminense do Rio de Janeiro, com minha família fomos membros de igrejas de periferia. Nestas igrejas havia uma participação de negros e negras de forma muito efetiva, lembro que a minha melhor professora de escola bíblica dominical era negra. Meu pai era pastor e sua esposa, minha mãe, era negra. Assim como na família, nas várias igrejas por onde passei, havia um profundo silêncio sobre a questão do racismo. Na igreja havia muitos negros e negras que se destacavam sobretudo na música, na evangelização e nas atividades esportivas (nas equipes de atletismo e de futebol da cidade). Nos espaços de liderança, a presença negra era menor, tomando em comparação a presença negra no total da membresia, mas não se falava de racismo. No início da adolescência comecei a presenciar aquilo que hoje se chama de racismo recreativo, as piadas depreciativas. Lembro-me de que o racismo recreativo era quase que um “rito de entrada” em alguns grupos, inclusive praticado por negros em relação a outros negros. No final da adolescência me deparei com o racismo declarado na igreja com a “famosa explicação” sobre os filhos de Noé. Como adulto, não mais em igrejas de periferia, vejo que a presença negra nestas igrejas é menor. Nestes 62 anos na igreja vejo como avanço o fato de que, hoje, já conseguimos chamar racismo pelo nome, contudo este é apenas o primeiro passo. Será necessário fazer um esforço intencional de integrar nossa teologia com a história, entender as razões para o longo silencio e, em alguns casos, confessar a conivência e adesão acrítica ao racismo. Ainda são episódicos os casos de integração e reconciliação e não conheço nenhuma experiência onde tenha sido identificado a necessidade de reparação. Temos um longo caminho para trilhar.
- Ziel J. O. Machado
Acredito que tenho conseguido conscientizar os pastores e líderes com relação a temática do racismo à luz da Bíblia. Tenho me alegrado com o acolhimento das pessoas e de grandes lideranças que têm aberto espaço em suas igrejas e suas plataformas para falar sobre o assunto e para se pensar em formas de combate ao racismo. Graças ao Senhor pelo que Ele tem feito na igreja brasileira, apesar de mim. Acredito que pelo fato de o assunto antes ter sido tratado apenas por grupos político-partidários, as pessoas nas igrejas tinham uma certa resistência. Ainda a resistência permanece, mas percebo que há uma abertura maior pelo aparecimento de uma outra proposta de se entender e combater o racismo. De um outro lado, tenho visto pessoas negras se sentindo encorajadas e compartilhando experiências comigo dos seus processos pessoais de encontrar suas identidades em Cristo. Tem sido muito encantador ver o que Deus tem feito, em restaurar autoimagens deformadas. Que o Senhor continue a abençoar a igreja brasileira e nos guiando no caminho da reconciliação e justiça bíblica com relação ao pecado do racismo e com relação aos pecados sociais como um todo, para glória de Deus e para o bem comum.
- Jacira Monteiro
Percebo, nesses anos, que é possível ver mais pessoas nas igrejas refletindo o racismo. O que é muito bom. Entretanto, ainda há um certo receio em debater sobre racismo nas igrejas porque muitos líderes colocam a temática na conta da esquerda política para fugirem do problema em suas comunidades de fé.
Sempre houve reconciliação, harmonia entre os irmãos, nas igrejas. Mas os conflitos aparecem quando assuntos que incomodam alguns são pontuados.
Ao comparar os dias atuais com aqueles em que começamos a falar sobre racismo, há algumas décadas, noto que hoje é mais simples e há mais liberdade, embora ainda seja um entrave para algumas igrejas.
Deixar de falar sobre os problemas não é o melhor caminho. Pois, sabemos que a verdade liberta mentes, corpos e relações.
- Marco Davi de Oliveira
A primeira vez que ouvi de fato falar sobre o racismo e o papel da igreja foi na Conferência Nacional: Negritude & Evangélicos, com a presença do Reverendo John Perkins, em novembro de 2014, no Seminário Batista do Sul do Brasil, Rio de Janeiro e a Ultimato apoiou esse evento.
Fiquei muito impressionada com tudo que vi e ouvi. O racismo nunca tinha sido pautado em qualquer igreja que fui membro e nem mesmo quando estudei teologia. A maioria dos presentes eram nossos irmãos pretos e cheios de sabedoria e amor, para nos conduzir nesse processo de reconhecimento do racismo como pecado nas igrejas e dentro de cada um de nós.
Hoje percebo que estamos falando mais sobre o racismo, e agora como pecado e como crime. Nos aconselhamentos do Projeto Calçada, ainda estamos ouvindo as crianças, adolescentes e jovens compartilhando as dores causadas pelo racismo. Mas é notória a mudança nas relações pessoais, inclusive nas igrejas. Sim, o politicamente correto chegou também nas igrejas. Não tenho ouvido mais a depreciação como antes dos cabelos crespos, especialmente das mulheres. Não tenho ouvido mais as piadas com o intuito de humilhar as pessoas de pele preta. Até mesmo percebo um processo de autoconhecimento e autodeclaração de irmãos e irmãs como pessoas negras e a beleza que isso carrega. E eu me incluo nesse processo. Há vozes cristãs brasileiras que foram levantadas por Deus para profetizar sobre o pecado do racismo e que estão dispostas a promoverem reconciliação. Esse assunto é parte importante da agenda de Deus. Ainda temos muito a percorrer como cristãos: a igreja deve assumir a prática cristã do respeito à dignidade humana; pois somos um em Cristo, corpo de Cristo, segundo a multiforme graça de dons e tons de pele.
- Luciana Falcão
Infelizmente apesar de tantos avanços experimentados, em relação a diversos temas, a impressão que ainda paira é de que o tema do racismo permanece “invisível”, não se fala sobre ele na igreja, como se fosse algo que “não existisse”.
Ainda percebo ações e atitudes discriminatórias sutis que aparecem quando olhamos para cargos de liderança nas igrejas, com alto poder decisório sem a representação de pessoas negras, essa ausência de representatividade afeta diretamente os passos de mais integração, reconciliação e reparação nas igrejas.
- Milka Santos
Creio que o fato de falarmos mais nesse assunto já seja um avanço, ainda que irrisório perto de toda dívida histórica que ainda temos que resolver sobre isso. O avanço em falar ainda é tímido perto da necessidade de fazer, mas já produz alguns reflexos. Em primeiro lugar, certas conversas, termos, piadas e até opiniões já são descartadas e consideradas totalmente inadequadas em nossos ambientes eclesiásticos. Também há uma tímida preocupação com diversidade racial na composição de lideranças de igrejas, convenções e participações em congressos e conferências. Outro efeito positivo é hermenêutico. A publicação de livros como o Uma leitura negra: uma interpretação bíblica como exercício de esperança, de Esau McCaulley, em português, chama a atenção para a necessidade de uma diversidade de olhares sobre o texto bíblico, o que nos leva a desafiar leituras consagradas que não levam em consideração a realidade dos que sofrem racismo e seus efeitos.
Ainda que esses avanços sejam positivos, estão num ritmo lento em comparação à sociedade secular e chegam em um número reduzido de igrejas. Precisamos falar mais e fazer muito mais. E, para isso, precisamos realizar uma ação anterior: a de ouvir mais. Ainda paira sobre os nossos irmãos negros uma desconfiança por parte de elites intelectuais evangélicas, que temem algum tipo de corrupção da doutrina quando lidamos com assuntos sociais. O que não percebem é que o fechamento desses canais de proclamação já é corrupção da fé cristã. Se queremos uma igreja mais diversa, não podemos temer a diversidade de teólogos e de teologias. Os muitos olhares sobre a Palavra de Deus impedem que a carnalidade de um indivíduo ou de um grupo privilegiado corrompa a proclamação. Moisés nunca reformaria a lei sobre mulheres herdeiras se não ouvisse as filhas de Zelofeade. Os apóstolos nunca desobrigariam os convertidos da circuncisão se não contassem com a experiência da igreja de Antioquia com os gentios. Precisamos ouvir mais e ouvir o que não é dito nos círculos costumeiros de produção teológica.
- Carlos "Cacau" Marques
--
Carlos “Cacau” Marques, casado com Natália, é pastor da Igreja Batista Vida Nova em Nova Odessa, SP, professor na Faculdade Teológica Batista de Campinas e integrante da equipe do Bibotalk. @cacaupmarques.
Jacira Monteiro, autora de O Estigma da Cor. Mestranda em Educação, Arte e História da Cultura (Mackenzie). Pós-graduanda em Teologia Bíblica e Exegética do NT (Faculdade Internacional Cidade Viva). @jacirapvm.
Luciana Falcão, coordenadora do Projeto Calçada no Brasil, pastora na Primeira Igreja Batista das Palmeiras (São Gonçalo, RJ), graduanda do curso de serviço social na UNIRIO.
Marco Davi de Oliveira, teólogo, mestre em ciências da religião, história. Autor dos livros: A Religião Mais Negra do Brasil: Porque os negros fazem opção pelo pentecostalismo e Caminhos da Favela: fé e transformação social. Fundador do movimento negro evangélico. Pastor da Nossa igreja Brasileira - Igreja Batista. Comunicador e palestrante. Locutor do programa Papo de Crente. Membro da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito. @marcodavideoliveira.
Milka Santos, teóloga e bacharela em serviço social, é membro do Conselho Zonal de Escravidão Moderna e Tráfico de Pessoa da América Latina e secretária nacional de obra social do Exército de Salvação.
Ziel J. O. Machado, vice reitor do Seminário Servo de Cristo- SP e pastor na Igreja Metodista Livre-SP. @zielj.machado.
REVISTA ULTIMATO | ENVELHECEMOS: A ARTE DE CONTINUAR
Não são todos os que alcançam a longevidade. Precisamos assimilar que a velhice é uma estação tão natural quanto às estações do ano e que cada fase da vida tem suas especificidades e belezas próprias. Ao publicar esta matéria de capa, Ultimato deseja encorajar um novo olhar para a velhice: um novo olhar dos idosos para eles mesmos e um novo olhar para os idosos por parte da igreja e da sociedade.
É disso que trata a matéria de capa da edição 404 da revista Ultimato. Para assinar, clique aqui.
Saiba mais:
» Racismo – A Bíblia, a igreja e uma conversa que nasce da dor, edição 385 da Ultimato
» A Religião Mais Negra do Brasil – Por que os negros fazem opção pelo pentecostalismo?, Marco Davi de Oliveira
» Brasil: Um retrato em preto e branco ou em branco e preto?
Por Carlos “Cacau” Marques, Jacira Monteiro, Luciana Falcão, Marco Davi de Oliveira, Milka Santos, Ziel J. O. Machado
As pessoas que se engajam numa luta em favor da justiça, inspirados pela Palavra de Deus, fazem isto tendo como base a esperança de mudanças. A visão de dias melhores - mais próximos daquilo que Deus desejou para a humanidade - alimenta a esperança e renova as forças, trazendo resiliência frente às dificuldades.
A luta contra o racismo no Brasil - por parte dos cristãos - cresceu nos últimos anos. Ultimato fez a seguinte pergunta a várias pessoas: Você percebe algum avanço – menos discriminação, mais integração, reconciliação, reparação – nas igrejas e em outros espaços evangélicos nos últimos anos em que se passou a falar mais sobre racismo?
A seguir você encontra as respostas. Em síntese, elas indicam que houve alguns avanços, mas que ainda há um longo caminho a percorrer.
Ultimato se alegra com a oportunidade de mais uma vez incentivar que as portas permaneçam abertas para falar e pensar em formas de combate ao racismo nos ambientes evangélicos.
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Estou na igreja desde minha infância. Nasci na baixada fluminense do Rio de Janeiro, com minha família fomos membros de igrejas de periferia. Nestas igrejas havia uma participação de negros e negras de forma muito efetiva, lembro que a minha melhor professora de escola bíblica dominical era negra. Meu pai era pastor e sua esposa, minha mãe, era negra. Assim como na família, nas várias igrejas por onde passei, havia um profundo silêncio sobre a questão do racismo. Na igreja havia muitos negros e negras que se destacavam sobretudo na música, na evangelização e nas atividades esportivas (nas equipes de atletismo e de futebol da cidade). Nos espaços de liderança, a presença negra era menor, tomando em comparação a presença negra no total da membresia, mas não se falava de racismo. No início da adolescência comecei a presenciar aquilo que hoje se chama de racismo recreativo, as piadas depreciativas. Lembro-me de que o racismo recreativo era quase que um “rito de entrada” em alguns grupos, inclusive praticado por negros em relação a outros negros. No final da adolescência me deparei com o racismo declarado na igreja com a “famosa explicação” sobre os filhos de Noé. Como adulto, não mais em igrejas de periferia, vejo que a presença negra nestas igrejas é menor. Nestes 62 anos na igreja vejo como avanço o fato de que, hoje, já conseguimos chamar racismo pelo nome, contudo este é apenas o primeiro passo. Será necessário fazer um esforço intencional de integrar nossa teologia com a história, entender as razões para o longo silencio e, em alguns casos, confessar a conivência e adesão acrítica ao racismo. Ainda são episódicos os casos de integração e reconciliação e não conheço nenhuma experiência onde tenha sido identificado a necessidade de reparação. Temos um longo caminho para trilhar.
- Ziel J. O. Machado
Acredito que tenho conseguido conscientizar os pastores e líderes com relação a temática do racismo à luz da Bíblia. Tenho me alegrado com o acolhimento das pessoas e de grandes lideranças que têm aberto espaço em suas igrejas e suas plataformas para falar sobre o assunto e para se pensar em formas de combate ao racismo. Graças ao Senhor pelo que Ele tem feito na igreja brasileira, apesar de mim. Acredito que pelo fato de o assunto antes ter sido tratado apenas por grupos político-partidários, as pessoas nas igrejas tinham uma certa resistência. Ainda a resistência permanece, mas percebo que há uma abertura maior pelo aparecimento de uma outra proposta de se entender e combater o racismo. De um outro lado, tenho visto pessoas negras se sentindo encorajadas e compartilhando experiências comigo dos seus processos pessoais de encontrar suas identidades em Cristo. Tem sido muito encantador ver o que Deus tem feito, em restaurar autoimagens deformadas. Que o Senhor continue a abençoar a igreja brasileira e nos guiando no caminho da reconciliação e justiça bíblica com relação ao pecado do racismo e com relação aos pecados sociais como um todo, para glória de Deus e para o bem comum.
- Jacira Monteiro
Percebo, nesses anos, que é possível ver mais pessoas nas igrejas refletindo o racismo. O que é muito bom. Entretanto, ainda há um certo receio em debater sobre racismo nas igrejas porque muitos líderes colocam a temática na conta da esquerda política para fugirem do problema em suas comunidades de fé.
Sempre houve reconciliação, harmonia entre os irmãos, nas igrejas. Mas os conflitos aparecem quando assuntos que incomodam alguns são pontuados.
Ao comparar os dias atuais com aqueles em que começamos a falar sobre racismo, há algumas décadas, noto que hoje é mais simples e há mais liberdade, embora ainda seja um entrave para algumas igrejas.
Deixar de falar sobre os problemas não é o melhor caminho. Pois, sabemos que a verdade liberta mentes, corpos e relações.
- Marco Davi de Oliveira
A primeira vez que ouvi de fato falar sobre o racismo e o papel da igreja foi na Conferência Nacional: Negritude & Evangélicos, com a presença do Reverendo John Perkins, em novembro de 2014, no Seminário Batista do Sul do Brasil, Rio de Janeiro e a Ultimato apoiou esse evento.
Fiquei muito impressionada com tudo que vi e ouvi. O racismo nunca tinha sido pautado em qualquer igreja que fui membro e nem mesmo quando estudei teologia. A maioria dos presentes eram nossos irmãos pretos e cheios de sabedoria e amor, para nos conduzir nesse processo de reconhecimento do racismo como pecado nas igrejas e dentro de cada um de nós.
Hoje percebo que estamos falando mais sobre o racismo, e agora como pecado e como crime. Nos aconselhamentos do Projeto Calçada, ainda estamos ouvindo as crianças, adolescentes e jovens compartilhando as dores causadas pelo racismo. Mas é notória a mudança nas relações pessoais, inclusive nas igrejas. Sim, o politicamente correto chegou também nas igrejas. Não tenho ouvido mais a depreciação como antes dos cabelos crespos, especialmente das mulheres. Não tenho ouvido mais as piadas com o intuito de humilhar as pessoas de pele preta. Até mesmo percebo um processo de autoconhecimento e autodeclaração de irmãos e irmãs como pessoas negras e a beleza que isso carrega. E eu me incluo nesse processo. Há vozes cristãs brasileiras que foram levantadas por Deus para profetizar sobre o pecado do racismo e que estão dispostas a promoverem reconciliação. Esse assunto é parte importante da agenda de Deus. Ainda temos muito a percorrer como cristãos: a igreja deve assumir a prática cristã do respeito à dignidade humana; pois somos um em Cristo, corpo de Cristo, segundo a multiforme graça de dons e tons de pele.
- Luciana Falcão
Infelizmente apesar de tantos avanços experimentados, em relação a diversos temas, a impressão que ainda paira é de que o tema do racismo permanece “invisível”, não se fala sobre ele na igreja, como se fosse algo que “não existisse”.
Ainda percebo ações e atitudes discriminatórias sutis que aparecem quando olhamos para cargos de liderança nas igrejas, com alto poder decisório sem a representação de pessoas negras, essa ausência de representatividade afeta diretamente os passos de mais integração, reconciliação e reparação nas igrejas.
- Milka Santos
Creio que o fato de falarmos mais nesse assunto já seja um avanço, ainda que irrisório perto de toda dívida histórica que ainda temos que resolver sobre isso. O avanço em falar ainda é tímido perto da necessidade de fazer, mas já produz alguns reflexos. Em primeiro lugar, certas conversas, termos, piadas e até opiniões já são descartadas e consideradas totalmente inadequadas em nossos ambientes eclesiásticos. Também há uma tímida preocupação com diversidade racial na composição de lideranças de igrejas, convenções e participações em congressos e conferências. Outro efeito positivo é hermenêutico. A publicação de livros como o Uma leitura negra: uma interpretação bíblica como exercício de esperança, de Esau McCaulley, em português, chama a atenção para a necessidade de uma diversidade de olhares sobre o texto bíblico, o que nos leva a desafiar leituras consagradas que não levam em consideração a realidade dos que sofrem racismo e seus efeitos.
Ainda que esses avanços sejam positivos, estão num ritmo lento em comparação à sociedade secular e chegam em um número reduzido de igrejas. Precisamos falar mais e fazer muito mais. E, para isso, precisamos realizar uma ação anterior: a de ouvir mais. Ainda paira sobre os nossos irmãos negros uma desconfiança por parte de elites intelectuais evangélicas, que temem algum tipo de corrupção da doutrina quando lidamos com assuntos sociais. O que não percebem é que o fechamento desses canais de proclamação já é corrupção da fé cristã. Se queremos uma igreja mais diversa, não podemos temer a diversidade de teólogos e de teologias. Os muitos olhares sobre a Palavra de Deus impedem que a carnalidade de um indivíduo ou de um grupo privilegiado corrompa a proclamação. Moisés nunca reformaria a lei sobre mulheres herdeiras se não ouvisse as filhas de Zelofeade. Os apóstolos nunca desobrigariam os convertidos da circuncisão se não contassem com a experiência da igreja de Antioquia com os gentios. Precisamos ouvir mais e ouvir o que não é dito nos círculos costumeiros de produção teológica.
- Carlos "Cacau" Marques
--
Carlos “Cacau” Marques, casado com Natália, é pastor da Igreja Batista Vida Nova em Nova Odessa, SP, professor na Faculdade Teológica Batista de Campinas e integrante da equipe do Bibotalk. @cacaupmarques.
Jacira Monteiro, autora de O Estigma da Cor. Mestranda em Educação, Arte e História da Cultura (Mackenzie). Pós-graduanda em Teologia Bíblica e Exegética do NT (Faculdade Internacional Cidade Viva). @jacirapvm.
Luciana Falcão, coordenadora do Projeto Calçada no Brasil, pastora na Primeira Igreja Batista das Palmeiras (São Gonçalo, RJ), graduanda do curso de serviço social na UNIRIO.
Marco Davi de Oliveira, teólogo, mestre em ciências da religião, história. Autor dos livros: A Religião Mais Negra do Brasil: Porque os negros fazem opção pelo pentecostalismo e Caminhos da Favela: fé e transformação social. Fundador do movimento negro evangélico. Pastor da Nossa igreja Brasileira - Igreja Batista. Comunicador e palestrante. Locutor do programa Papo de Crente. Membro da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito. @marcodavideoliveira.
Milka Santos, teóloga e bacharela em serviço social, é membro do Conselho Zonal de Escravidão Moderna e Tráfico de Pessoa da América Latina e secretária nacional de obra social do Exército de Salvação.
Ziel J. O. Machado, vice reitor do Seminário Servo de Cristo- SP e pastor na Igreja Metodista Livre-SP. @zielj.machado.
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Não são todos os que alcançam a longevidade. Precisamos assimilar que a velhice é uma estação tão natural quanto às estações do ano e que cada fase da vida tem suas especificidades e belezas próprias. Ao publicar esta matéria de capa, Ultimato deseja encorajar um novo olhar para a velhice: um novo olhar dos idosos para eles mesmos e um novo olhar para os idosos por parte da igreja e da sociedade.
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» Racismo – A Bíblia, a igreja e uma conversa que nasce da dor, edição 385 da Ultimato
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